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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

11.08.21

Aquilo de que não falamos


Luís Alves de Fraga

 

Raramente os nossos noticiários, tanto de televisão como de rádio ‒ dos jornais e revistas nem falo ‒ dedicam tempo a explorar, informar, esclarecer, opinar ou reflectir sobre o que se passa, o que se legisla, o que se intriga, o que se discute, o que se pensa nos corredores da União Europeia (UE).

Qualquer noticiário televisivo gasta largos minutos a informar sobre desporto, acontecendo o mesmo na emissora radiofónica pública (Antena 1) que, a cada meia hora, despende cerca de dez a quinze minutos a falar de actividades desportivas, em especial futebol. A RTP consagra um canal ao que se passa no Parlamento, tal e qual como as coscuvilheiras usam o parapeito das janelas para darem conta do que se passa na rua, embora se estejam nas tintas para o que ocorre na cidade.

 

Explorando o sítio da UE dei com uma série de coisas sobre as quais gostaria de me debruçar, começando sobre aquilo que a instituição diz de si mesma. Vou transcrever:

 

«Os europeus unidos na diversidade

A União Europeia (UE) é uma família de países democráticos europeus, com um projecto comum de paz e prosperidade. Não se trata de um Estado que pretende substituir Estados existentes, mas vai além de qualquer outra organização internacional. A UE é, neste aspecto, única. Os Estados Membros criaram instituições comuns a que delegam parte da sua soberania por forma a que as decisões sobre questões específicas de interesse comum possam ser tomadas democraticamente a nível europeu.

A Europa é um continente com muitas tradições e línguas diferentes, mas também com valores comuns. A UE defende estes valores. Reforça a cooperação entre os povos da Europa, promovendo a unidade ao mesmo tempo que preserva a diversidade e garante que as decisões sejam tomadas tão perto quanto possível dos cidadãos.

No mundo cada vez mais interdependente do século XXI, será cada vez mais necessário que os cidadãos europeus cooperem com os povos de outros países num espírito de curiosidade, tolerância e solidariedade.» (Os sublinhados são da minha autoria).

 

Por favor, detenham-se um pouco no fim de cada período gramatical e tentem perceber as contradições expressas do início até ao fim desta definição da UE.

Vejamos, aquilo que para mim, está em oposição.

 

A União Europeia não se trata de um Estado, porque é uma família de países democráticos, mas vai além de qualquer outra organização internacional.

Fixemo-nos nesta afirmação. A União Europeia não é, de facto, uma união, porque, para sê-lo, à semelhança de um homem e uma mulher que casam, teria de formar uma família, comportando-se como um todo único. Ora, a verdade, é que, reconhecendo soberania parcelar a cada país, não existe família! Poderá existir uma junção de famílias em regime de vivência em condomínio e nada mais do que isso.

Assim, esse algo de novo, no plano das relações internacionais, começa a ganhar contornos de Estado quando aceita receber parte da soberania dos Estados «por forma a que as decisões sobre questões específicas de interesse comum possam ser tomadas democraticamente a nível europeu»!

Grave, mas mesmo muito grave, é que não estão definidas as «questões específicas de interesse comum», nem está preceituado a forma de democraticidade referida.

 

O parágrafo seguinte, então, ronda a total contradição, pois, reconhecendo diferenças entre Estados da Europa, pretende promover a unidade na diversidade, ou seja, quer juntar no mesmo meridiano o pólo Norte e o Equador!

Grave é a afirmação de que a UE «garante que as decisões sejam tomadas ‘tão perto quanto possível’ dos cidadãos»!

‒ O que é ou o quanto é este perto dos cidadãos?

Pela amostra nacional, é o mais distante possível!

 

Por fim, o último parágrafo constitui a afirmação de alienação total dos cidadãos europeus, pois o «tão perto quanto possível» antes exposto demonstra que a desejada cooperação se faz aos níveis que, livre e arbitrariamente, os órgãos dirigentes da UE decidirem, porque não se vê, não se ouve falar, não se adivinha nos Estados membros os «cidadãos europeus» ‒ essa ficção criada nos papéis assinados nos gabinetes distantes do homem da rua ‒ qualquer manifestação de agrado ou de desagrado respeitante à cooperação com os povos de outros países e, quando, relativamente aos movimentos migratórios se faz ouvir alguma reserva, logo as instâncias europeias vêm definir a posição politicamente correcta.

 

Prometo voltar a este assunto polémico, aceitando a contradição, que é tão bem-vinda como a afirmação de apoio.