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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

03.01.22

António Costa Pinto e o Livre


Luís Alves de Fraga

 

Ontem tive oportunidade de ver, na RTP 1, o debate entre António Costa e Rui Tavares e, na RTP 3, os comentários de António Costa Pinto ao que se passou no outro canal.

Começando pelo debate perceberam-se (ou percebi eu) várias coisas:

António Costa está apostado em conseguir a maioria parlamentar, ou seja, 51% das cadeiras disponíveis;

Quer convencer o eleitorado de que a estabilidade só se conquista com uma maioria, negando, desta forma, todo o seu passado de negociador entre partidos de esquerda;

Cristalizou, por completo, no modelo partidário prevalecente no Parlamento até 2015, não dando pela mudança ‒ ou desprezando-a ‒ que ocorreu em 2019 com a chegada de novos partidos ao hemiciclo.

 

Todo o discurso de António Costa centrou-se numa incapacidade de resposta a Rui Tavares, que, sem o afirmar explicitamente, veio mostrar a viragem em curso no seio do tecido partidário nacional.

Com efeito, o líder do Livre chamou a atenção para a importância dos pequenos partidos, que Costa parece menosprezar. Todavia, não foi só para o ainda Primeiro-ministro que o aviso de Rui Tavares passou despercebido; António Costa Pinto, numa postura demasiado distante daquilo que faz falta ao comum cidadão espectador dos debates e das explicações subsequentes, reduziu o Livre a um pequeno apêndice, descartável ou absorvível, do ou pelo Partido Socialista (não se escusou de tentar lembrar outras tendência passadas, que acabaram engolidas pelo partido de Mário Soares). Esqueceu-se ‒ e “vestindo” a fatiota de comentador, isto é grave ‒ de que os contextos de absorção desses pequenos partidos, movimentos ou tendências políticas foram outros e em épocas bem diferentes das actuais.

 

Rui Tavares ‒ um político, um historiador e um jornalista bem informado ‒ por várias vezes apelou a que António Costa olhasse para a Espanha ‒ e não foi por acaso que o fez ‒, focando-se no problema salarial, mas, para um entendedor atento, aquela “meia-palavra” chegava para lembrar a viragem política ocorrida aqui ao lado, quando os partidos tradicionais foram confrontados com novos partidos muito aguerridos e com capacidade para explorar os desencantos dos eleitores. A António Costa Pinto esta chamada de atenção não deveria ter escapado.

 

Desde o PAN ao Chega, passando pela Iniciativa Liberal e pelo Livre o peso do quadro partidário português pode alterar-se, dado o completo desvanecimento do CDS, a confusão do PSD, o desgaste e envelhecimento do PCP (inadmissivelmente apegado, agora, a uma teimosia ortodoxa quase repentina), a desilusão no BE que, até ao momento, só cativou a classe média descontente, vai levar, na minha opinião, a duas situações concomitantes: mais um aumento da abstenção e a uma votação nos pequenos partidos (espero que não muito significativa no Chega), deixando o PS quase sozinho, sem maioria, a ter de se entender, com esses partidos, que, na ala esquerda parlamentar, são o PCP, o BE, o PAN e o Livre. Ora, uma excelente alternativa para quem estiver cansado dos estafados partidos da esquerda tradicional, surge no Livre e no PAN, já que os Verdes não se descolam do PCP.

 

Do meu ponto de vista, António Costa Pinto ‒ comentador político, professor e investigador ‒ perdeu uma excelente oportunidade de, mostrando independência, ter dado aos Portugueses uma visão mais completa de um futuro que não se apresenta risonho, porque Rui Tavares, pelo menos ele, vai fazer finca-pé na necessidade de transparência política, num tempo em que, por força dos dinheiros de Bruxelas, queremos evitar as negociatas do passado e os nepotismos a que alguns partidos “tradicionais” nos habituaram.