Amigos
Ontem, de uma assentada, tive oportunidade de ver, abraçar e cumprimentar um significativo “punhado” de amigos de juventude e esse facto deu-me para, depois, ficar a pensar sobre o assunto.
Desses companheiros de sete anos de convívio diário ficaram-me excelentes amizades, daquelas que são para toda a vida; outras que foram magníficas e, em dado momento, por este ou aquele motivo, esmoreceram e passaram a um limbo asséptico, comparável a um frasco de formol, onde repousam com as mesmas características que tiveram há mais de cinquenta anos; outras, ainda, como certos vinhos, “viraram” vinagre e só resta a “garrafa”, ou seja, a aparência de uma amizade, alterada numa incompatibilidade de entendimentos; por fim, outras transformadas, com o passar dos anos, em meros conhecimentos, sem possibilidade de “recuperação” para além de aperto de mão, do “estás mais velho”, ou do “estás mais barrigudo”, ou de “o que tens feito?”.
As amizades regam-se, cultivam-se, alimentam-se e só assim se conservam ou crescem. Mas, tudo isto, dentro e respeitando as características comportamentais de cada um. Há momentos nos quais se percebe que, por muitos esforços feitos, a vida, as mudanças sociais, profissionais ou familiares interferem no crescimento e aprofundamento da amizade. Recordo dois companheiros desse tempo juvenil que, mantendo a amizade até quase aos trinta anos de idade, depois de casarem, talvez influenciados pelas respectivas consortes, se afastaram de todos os convívios, acabando por transformar a nossa amizade numa simples lembrança deslaçada de toda a realidade actual. E rememoro o caso de alguém que, por se centrar excessivamente à volta do seu umbigo, gerou incompatibilidades quase impensáveis e uma delas foi comigo.
Felizmente, houve amigos que, ano após ano, souberam manter os laços de união e acabámos por os aprofundar a um ponto tal que “subiram” do patamar da amizade para o da familiaridade. E, a um desses, apresentava eu, hoje, telefonicamente, o meu pedido de desculpas por algo que se passou ontem – coisa sem importância de maior, mas suficiente para gerar pequeno melindre – e recebi de resposta a condenação das minhas desculpas, porque eu apresentar-lhas é que o magoava. Generoso, como sempre, esse meu amigo teve de concordar comigo quando lhe respondi que o meu cuidado era ditado pela amizade, porque esta alimenta-se de pequenos gestos. Não se trata de boa-educação; trata-se cuidados.
Felizmente, tenho bons amigos.