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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

19.09.22

A semana de quatro dias


Luís Alves de Fraga

 

Finalmente, parece, vamos dar mais um passo em frente: reduzir a semana de trabalho para quatro dias. A polémica vai estalar na sociedade nacional: uns serão favoráveis e outros discordarão.

 

Numa primeira análise, não concordarão com a medida os patrões, em especial os das grandes e os das pequenas empresas (nem sei se deva excluir os das médias, embora contrarie toda a lógica), porque, menos dias de trabalho, por trabalhador, não quer dizer menos tempo de comércio ou de produção.

Imagine o leitor a loja de um centro comercial que tem quatro empregados divididos em turnos de dois, em cada seis horas (das dez da manhã às quatro da tarde e dois das quatro às dez da noite); com a semana de sete dias de trabalho (inclui o domingo) o empregador consegue dar um dia de folga por semana aos quatro, mas, para dar dois dias, ele terá de contratar mais dois trabalhadores, pelo menos. Se pensarmos numa grande fábrica que labora de segunda a sexta, para conseguir produzir o mesmo, em quatro dias de trabalho, tem de estender o horário diário por mais horas e admitir mais trabalhadores para os organizar por turnos de modo a poder encerrar sexta, sábado e domingo.

Como se vê, agradando aos trabalhadores, amplia-se a empregabilidade, reduzindo o desemprego.

 

Mas o busílis está no facto de, em quase todo o tipo de trabalho, desde o oficinal ao administrativo, os empregadores confundirem horas de trabalho com horas de presença no local de trabalho.

Qual o motivo para que tal aconteça? Excesso de autoritarismo e resquícios do trabalho escravo. Os nossos empregadores, com raríssimas excepções, não aprenderam a separar as horas desses dois elementos.

Entre trabalhar e estar no emprego há um factor fundamental para a gestão: a produtividade. Esta traduz-se na quantidade de trabalho que se executa durante as horas laborais. Mas há ainda um pequeno “requinte” quando se fala de rentabilidade: é que o trabalho produzido tem de servir um objectivo rentável, caso contrário é desperdício.

Ora, são estes elementos básicos que a maioria dos nossos empregadores desconhece. Desconhece, porque não sabe estabelecer duas diferenças essenciais: objectivos rentáveis e desdobramento de tarefas.

O empregador ‒ seja numa fábrica, num escritório ou numa loja ‒ tem de ter a clara noção da razão de ser da sua actividade, ou seja tem de definir objectivos, que formam uma cadeia que conduz ao objectivo fundamental da actividade da sua empresa, cuja dimensão pode ser pequena, média ou grande.

Para realizar a cadeia de objectivos tem de ter empregados, que podem ir desde técnicos altamente especializados até simples carregadores de material. Depois de definidos os objectivos gerais e parcelares da empresa, ou seja, depois de a organizar segundo sectores que contribuem para o fim da mesma, é importante definir as tarefas que competem a cada funcionário, de modo a que não haja sobreposições de trabalho, nem “trabalho” que, parecendo sê-lo, não o é.

Na definição das tarefas tem de haver realismo, pois não se podem sobredimensionar, tornando-as impossíveis de executar dentro do horário de trabalho, nem subdimensionar, dando ao trabalhador espaço para, não fazendo nada, distrair os outros empregados das suas actividades. É fundamental que cada funcionário saiba o que faz e para que serve o que faz ao mesmo tempo que sabe quem completa a função que ele executa.

 

Os meus leitores estão a ver algum empreendimento organizado desta forma, para além daqueles que trabalham segundo linhas de montagem, provavelmente, com apoios robotizados?

Nas empresas onde o trabalho é essencialmente de natureza administrativa (só se “mexe” com “papéis”) é de toda a conveniência que o empregador tenha a noção de que, do tempo de presença nas instalações, só resulta em verdadeiro trabalho cerca de 25 a 30% desse período, pois todo o restante é gasto em tudo, menos na execução da ou das tarefas do trabalhador! Fantástico, não é?

 

Assim, temos que se o empregado for devidamente motivado através de compensações de toda a ordem, nomeadamente, menos tempo no local de trabalho, maior poderá ser a produtividade e, por conseguinte, mais e melhores podem ser os objectivos da empresa.

Como, em Portugal, se aprende quase tudo nas universidades, menos aquilo que realmente é fundamental para o desempenho das tarefas que se podem esperar do estudante quando mudar para o estatuto de empregado, pode ser que, através da imposição da semana de quatro dias, os gestores aprendam que não é só com fórmulas matemáticas que se gerem as empresas, mas, acima de tudo, com uma organização das funções e das tarefas executadas pelos humanos, para quem trabalhar é uma obrigação pesada, aborrecida e pouco compensadora.

Será desta e assim que chegamos à modernidade?