A repensar
Desde que se formou o entendimento parlamentar entre o PS, o PCP e o BE tenho sido um fiel defensor deste procedimento, porque, declaradamente, Portugal ganhou com tal táctica política.
Nunca me interessou se ganhava um dos partidos referidos; interessou-me o que nós todos podíamos ganhar. Por conseguinte, fica bem claro que não estou a defender nenhum dos três agrupamentos políticos. Estou interessado na continuidade da solução encontrada. Mas isso pressupõe cedências entre os três. Cedências que não se verificaram – algumas – no passado e não se estão a verificar no presente.
Sei o suficiente de macroeconomia para perceber a importância das medidas adoptadas para garantir a manutenção dos grandes indicadores de uma saudável gestão nacional. Mas também sei da existência de uma coisa chamada inflação – fenómeno resultante de atitudes internas e de acções externas – que faz reduzir, em cada mês, o poder de compra de todos nós. E sei que, entre outros processos, a inflação pode ser combatida de uma de duas maneiras: aumentando os salários – método galopante, solucionando o problema no momento, mas arrastando-o para o futuro com mais gravidade – ou redução dos impostos, em especial, os indirectos – processo capaz de fazer aumentar o consumo e, consequentemente, melhorar a economia, pois as famílias passarão a poder gastar mais.
A última solução, parece-me, seria a mais indicada para Portugal, dada a elevada carga fiscal que recai, cegamente, sobre todos os consumidores, prejudicando, em especial, os que têm menores rendimentos.
Os sinais dados pelo Governo vão no sentido de aumentar a função pública para, por arrasto, obrigar ao aumento dos salários no sector privado, mas mantendo a mesma carga fiscal. Ou seja, a inflação não é travada, mas convidam-se os agentes económicos a aumentá-la, por via do aumento salarial.
Vamos a um exemplo.
Quando foi decidido baixar o custo dos passes sociais as famílias fizeram um “encaixe” financeiro que lhes deu margem para outros gastos; repare-se no valor do “encaixe” se se baixassem ou os escalões de IRS e os escalões de IVA; as famílias iriam sentir mais disponibilidade e, consequentemente, mais capacidade para todo o tipo de consumo.
Não adoptando estas medidas, ou semelhantes nos seus efeitos, o Governo começa a obrigar-me a repensar a minha posição de simpatia, levando-me a ter de ponderar a possibilidade de o criticar mais sistematicamente, porque há uma coisa que se nota todos os dias: o aumento do valor deixado no supermercado, nos chamados serviços mínimos, na saúde e na educação. E não me obriguem a criticar o aumento de turismo, porque, parece-me, a inflação está a crescer, em consequência de certos agentes económicos verem no aumento dos produtos mais uma forma de satisfazer a sua gula lucrativa.
A continuar assim, parece-me, António Costa, Centeno e os restantes membros do Governo perdem um simpatizante. Ai perdem, perdem!