A insanidade do senhor alferes
Foi há dias que o dr. Nuno Melo, natural de Famalicão, licenciado em Direito pela Universidade Portucalense (não sei exactamente com que idade) lançou para o ar uma singular ideia sobre como se devia engrossar o recrutamento de “voluntários” nas nossas Forças Armadas. Tal ideia, quando o ouvi expô-la no ecrã da minha televisão, fez-me dar um pulo no cadeirão onde, normalmente, me sento para sofrer a minha dose diária de estupidificação informativa. E saltei por uma só razão: Luís Montenegro havia escolhido para ministro da Defesa Nacional um tipo que ronda a proximidade da “loucura mansa” (tal como diz um outro “perigoso pensador”, que sempre foi reaccionário, a quem agora se dá palco e visão, que assim classifica certas atitudes próximas do ensandecimento)! É que o senhor ministro, vindo do CDS, recuou aos tempos dos Descobrimentos, quando, faltando voluntários para embarcar como marinheiros nos atrevidos navios que partiam para o desconhecido, as tropas da Ordem Militar de Cristo, faziam batidas nas tabernas e nos esconderijos campestres da região destinada a providenciar a guarnição de tais embarcações. Não havendo bêbados (julgo eu!) por aí em cada esquina, o senhor ministro optou por colocar como “hipótese académica” a possibilidade de se obrigar os jovens autores de “pequenos delitos” a ingressar nas fileiras onde aprenderiam a “andar na linha”.
Por acaso, eu que andei na Academia Militar para conseguir seguir a carreira castrense ‒ bem sei que foi há muitos anos, no tempo em que não havia “rapazes maus” ‒, não tenho lembrança de me ter sido ministrada qualquer unidade curricular (vulgo cadeira ou disciplina) onde aprendesse a “domesticar” jovens autores de pequenos delitos. Não sei se, como oficial miliciano, o licenciado Nuno Melo andou perto de qualquer presídio militar ou se o pelotão que comandou era constituído por mafarricos de mau porte capazes de justificar a sua “académica” proposta ou sugestão!
Por amor de Deus, por sina ou vocação, quase todos ou mesmo todos os ministros da Defesa têm sido de uma incompetência assustadora, venham eles da direita ou da esquerda política, mas, agora, que as nossas Forças Armadas chegaram ao limite extremo das carências totais e que nuvens carregadas de belicismo cobrem a Europa, é tempo de olhar com atenção para o nosso parco aparelho de dissuasão militar e dar-lhe mais do que “especialistas” em pequenos delitos.
Senhor ministro, treine em casa, a posição de sentido, quando se coloca em frente de uma força armada e oiça quem o sabe e pode aconselhar em matéria tão melindrosa como a da nossa defesa enquanto Estado e enquanto país membro de colectivos onde podemos vir a ser chamados para colaborar muito activamente. Não brinque com a tropa como se estivesse a comandar um exército de soldadinhos de chumbo.