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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

21.02.24

A importância das coisas


Luís Alves de Fraga

 

É sabido que sou coronel de Administração Aeronáutica e que a segunda metade da minha vida de oficial a fiz somente como professor entre o Instituto de Altos Estudos da Força Aérea e a Academia da Força Aérea. Assim, no tempo inicial, fui administrador financeiro ou em unidades operacionais ou na Direcção de Finanças.

Ora, regressado eu de uma colocação como administrador de uma base aérea, sem grande experiência na Repartição de Orçamento do ramo, eis que ali sou colocado, capitão ainda, com todo o meu “saber” governar o pequeno orçamento de uma unidade e sem a mínima noção dos números com que se lidava na nova situação.

Um ou dois dias após ter tomado conta da minha secretária sou confrontado com um pedido escrito, de um conselho administrativo de uma base aérea, solicitando um reforço extraordinário de uma rubrica, o qual justificava com base em médias dos gastos dos meses já vencidos. Por já não me recordar dos números da altura exemplifico com actuais. Suponhamos que o reforço pedido era de sete mil euros, estando nós em Outubro e que a média de gasto mensal era de três mil euros. Ora, deste modo estavam a ser solicitados mil euros a mais. Claro, na minha resposta ao tal conselho administrativo, concedi somente novecentos euros! O ofício foi para o chefe da Repartição e ele, lendo todo o processo, chamou-me e inquiriu-me sobre a razão da minha decisão. Expliquei-a com a lógica ditada pelas contas simples que fizera. A resposta foi esta, que nunca mais esqueci:

‒ Oh Fraga, nós aqui lidamos com milhares e milhões, quando estávamos nos conselhos administrativos é que nos cingíamos às dezenas e centenas. Mande emendar o ofício e dê lá os sete mil que foram pedidos!

Moral da história: para cada ser humano a dimensão do muito ou do pouco dinheiro resulta do quanto está habituado a gerir. Guardei este princípio para toda a vida.

 

O meu objectivo para contar a história anterior é poder dizer que Pedro Nuno Santos tem muita razão quando apontou repetidas vezes a Luís Montenegro a sua inexperiência governativa e tem recordado a todos nós que Portugal está em obras de norte a sul; é que uma casa não fica construída ou reconstruída com o gesto mágico de uma varinha de condão, leva meses e, às vezes, anos. O ponto de vista de quem anda pelas cadeiras mais altas do poder de decisão não é ‒ nem pode ser ‒ igual ao do vulgar homem da rua nem ao de quem nunca passou pelas experiências de estar em baixo e em cima.

Há dias, li algures uma crítica a Pedro Nuno Santos sobre a criação de uma comissão ou entidade colectiva cuja finalidade era projectar e pôr em execução as obras de casas e, dizia o autor em tom muito crítico: «Gastaram-se oito milhões de euros em ordenados de funcionários e os dois ou três concursos públicos ficaram desertos». Parei a leitura e quedei-me a sorrir. Sorrir por dois motivos: primeiro, por causa da importância dada aos oito milhões gastos em salários ‒ oito milhões é o custo de todos os apartamentos de dois ou três prédios com sessenta anos de construção na zona de Benfica! Isto é alguma coisa comparada com os milhares de milhões que representam as obras que foram postas a concurso? Depois sorri porque o ficar deserto um concurso público resulta de uma de duas hipóteses: ou as margens de lucro para os empreiteiros são muito pequenas ou as exigências dos cadernos de encargos são muito grandes, não dando oportunidade ao uso de materiais baratos que permitam um lucro chorudo!

 

Informar não é despejar o que nos impressiona para um órgão de comunicação social; é saber do assunto e ter experiência para dele falar com argumentação válida e, mais do que tudo, usar de bom senso.