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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

03.07.19

A guerra de África


Luís Alves de Fraga

 

Hesitei no título desta reflexão, pois estive para usar “Guerra Colonial” em oposição a “Guerra do Ultramar”. Optei pelo que está, para não provocar engulhos logo de início, mas, julgo, vai sendo tempo de pegar neste assunto de uma maneira séria e tão independente quanto possível. É o que vou tentar fazer.

 

Antes do mais, é preciso perceber que de 1910 ‒ ano da implantação da República ‒ a 1974 ‒ ano do fim da ditadura e começo do retorno à democracia ‒ ocorreu uma profunda mudança na “utilização” a dar às colónias em todos os países do mundo ‒ coloniais e colonizados.

Com efeito, foram as duas Guerras Mundiais que marcaram essa mudança; a primeira, porque a Europa aceitou a orientação para a definição da paz dada pelo presidente dos EUA, criando a Sociedade das Nações e gerando a noção de “protectorado” em substituição de colónia; a segunda, porque, indubitavelmente, a vitória na Europa se ficou a dever aos EUA, ex-colónia britânica, agora já em posição de grande potência mundial e com força suficiente para impor a sua “ordem”, necessariamente, uma ordem anticolonial em coerência com o seu “destino”. Assim se explica a mutação das posições britânicas e francesas face aos seus “impérios” coloniais ainda bem firmados nos anos 30 do século XX.

 

Em Portugal, o primeiro sobressalto indiciador da mudança, deu-se em Abril de 1961, quando quadros superiores militares, face à eclosão do conflito em Angola, pretenderam, através do afastamento de Salazar, encontrar uma solução política para a disputa colonial que se havia iniciado. Salazar foi mais rápido; demitiu-os dos respectivos cargos e adoptou uma posição contra o tempo, indo radicar a “defesa” do colonialismo português nos errados valores ‒ porque alterados pela propaganda do facismo ‒ do século XV, que acima do interesse económico colocavam a evangelização. Salazar ultrapassou, pela direita, os velhos democratas da República, defensores do colonialismo e fez acreditar ‒ falsa e oportunisticamente ‒ que fundamentava a sua política na luta anticomunista, então em grande voga por se estar a viver a “Guerra Fria”.

 

Em 1961, depois dos bárbaros ataques da UPA, no Norte de Angola, todos nós, os que éramos vivos, então, acreditámos em dois tipos de razões para defender as colónias, nomeadamente Angola: nos apregoados pelos velhos republicanos e, principalmente, na impositiva propaganda salazarista e fascista, que nos impregnava o cérebro desde os tempos da instrução primária. África era pedaços da nossa História, era a nossa “independência”, era a nossa “missão civilizadora”!

Ir para África defender o “nosso” património era a “prova dos nove” dessa “operação aritmética” aprendida de cor nas histórias contadas pelos avós, que por lá tinham combatido nas guerras de “pacificação”, e na escola orientada por princípios fascistas corporativos. Contudo, África vivida no tempo da guerra, e na guerra, era a “prova real” do engano dos nossos antepassados e da falsa propaganda de Salazar.

África era a fonte de riqueza das grandes empresas coloniais portuguesas, que não mandavam para a guerra os filhos dos seus accionistas, e a falseada miragem de boa vida de uns colonos imigrantes e fugidos da miséria de uma “metrópole” atrasada várias dezenas de anos se comparada com a Europa desse tempo.

 

Foi para essa guerra que marcharam ignorantes milhares de jovens. Uns morreram por lá, outros tentaram mudar de vida, radicando-se por lá, e a grande maioria voltou para contar um de dois tipos de histórias: as práticas “heróicas” na guerra ou o desencanto com a política colonial do salazarismo.

 

Prometo que vou voltar a este assunto.