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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

09.01.22

A definição da política nacional


Luís Alves de Fraga

 

No fim do mês há eleições para definir a composição do parlamento nacional, contudo, nunca como hoje estivemos tão perto do bipartidarismo.

Pode a afirmação anterior causar estranheza nos meus leitores, contudo, é fácil de explicar e nem demora muito tempo, exigindo, simplesmente, “vontade” de compreender. Vamos a isto.

 

Em 1975, quando Mário Soares “meteu na gaveta” o marxismo do Partido Socialista (PS) “separou as águas” entre a esquerda e a direita, “inventando” o centro, pois possibilitou que o, então, PPD viesse a tornar-se no PSD de hoje em clara e manifesta rivalidade com o PS.

Rivalidade de princípio, mas não de fim, pois aquele que poderia ser social-democrata ‒ por já não ser marxista ‒ era o PS. Foi deste modo que o entendeu, até certa altura, a Internacional Socialista onde preponderavam os alemães e os suecos. Eles não estavam enganados, pois o nosso PSD tinha como fim último agradar mais aos empresários do que aos portugueses e isso foi sendo visível ao longo do percurso, que culminou com Passos Coelho ao fazer guinar o partido para a via neoliberal. Com tal manobra, retirou espaço político e ideológico ao CDS e, porque o percebeu a tempo, Paulo Portas “saltou” fora da presidência do partido que se dizia democrata-cristão, mas, na verdade, era neoliberal vocacionado para o preenchimento do espaço ideológico da direita radical.

 

Acabamos de ver que dois “puxões do leme” ideológico de dois partidos ‒ o do PS e o do PSD ‒, em momentos diferentes e distantes ‒ 1975 e 2011 ‒ fizeram cambar a política nacional para a direita sem que o eleitorado suspeitasse destas manobras ideológicas. Tudo iria continuar assim, em 2015, se António Costa, num golpe magistral (em termos de ajuste político, que visou colocar os resultados eleitorais e parlamentares no rumo certo e real) não tivesse invocado a maioria de esquerda que existia dentro do parlamento. Ou seja, o PS “abriu a gaveta” fechada por Mário Soares e deixou que “lá dentro” as “correntes de ar marxistas” pudessem facilitar um entendimento com o PCP e o BE.

Tal actuação veio, em seis anos, mostrar a toda a gente que quis ver e quis perceber, que, afinal não havia “centro”, mas sim uma esquerda com gradações diferentes e uma direita que, diversa entre si, tinha de se reencontrar, reorganizando-se.

E bastou esta meia dúzia de anos para a direita se desarticular, partindo da desarticulação interna do PSD e a desorganização, quase total do CDS.

 

Com grande sentido de oportunidade surgiram, em 2015, à direita, dois partidos residuais cheios de esperanças neste “desmanchar de feira”: o Chega ‒ pronto a fazer um discurso radical com base em slogans que se alimentam da ignorância política dos portugueses mal esclarecidos e incapazes de perceber as “guinadas de timão” dos líderes partidários ‒ e o que dá pelo nome de Iniciativa Liberal (IL) ‒ pronto a agarrar os “restos” do CDS e do PSD para definir uma linha democrática dentro do neoliberalismo, assumindo que o Estado tem peso excessivo na vida e vontade dos Portugueses, ou seja, um Chega que, para chegar onde quer, está disposto a fazer o que for preciso e uma IL pronta a dar a mão ao PSD ou ao CDS, caso este tivesse possibilidades governativas. Também à esquerda surge, como “hífen” entre o PS, o PCP e o BE, o partido Livre, que reforça, num outro sentido, a ação do PAN.

 

Como se vê, uma simples acção do PS, em tempos diferentes e distantes, fez deslocar todo o cenário político-partidário, mas, desta feita, aquilo que aconteceu em 2015, veio provar que não há centros político-ideológicos e que, agora, de um modo muito claro, o eleitorado, ao escolher, vai fazê-lo separando-se entre direita e esquerda.

Ganhe o PS ‒ seja qual for a percentagem de votos ‒ ou ganhe o PSD o que vamos ter é a definição de um Portugal (tudo depende do valor da abstenção) de esquerda ou de direita, pois, é na bipolarização entre estes partidos que se vão definir os arranjos parlamentares para viabilizar o governo da Nação, o que não invalida que, pontualmente, direita e esquerda estejam de acordo. Estamos, por conseguinte, face a um bipartidarismo.

Finalmente, está bem claro que o centro foi e é uma ficção política entre dois partidos que se diziam ideologicamente muito próximos, mas que, na verdade, optam por caminhos distintos para favorecer objectivos bem diferentes.

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