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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

26.03.21

A bomba de neutrões


Luís Alves de Fraga

 

Há já algum tempo que não vejo, nos grandes órgãos de comunicação social, referência à arma mais terrível do arsenal nuclear: a bomba de neutrões. É terrível, porque tem a particularidade de, depois de lançada, não destruir nada, absolutamente nada que seja material, para além, está claro, de matar os seres vivos. Todos. Especialmente, os humanos.

Quando surgiu, a bomba de neutrões estava pensada para ser uma arma táctica de teatro de operações e não uma arma estratégica como são os mísseis intercontinentais. Aqui, a diferença entre táctico e estratégico está delimitada pela quantidade de inutilização militar que a arma pode provocar. Uma ou várias explosões atómicas, para além das mortes e incapacidades, destrói todo o tecido fabril e económico, ou seja, afecta a capacidade de resistência em todos os domínios, ganhando, deste modo, a qualificação estratégica. Mas, se a arma nuclear for de pequena potência e se destinar a ser lançada sobre um teatro de operações limitado, estamos, então face a uma intervenção táctica.

 

Pois bem, esta introdução foi propositada para estabelecer a comparação entre a actual pandemia e um ataque com uma imensa bomba de neutrões, só que, para poder ser o mais próximo possível da realidade essa agressão teria de obedecer a dois parâmetros: ser efectuada por gente de outro planeta, de modo a não sofrer as consequências, e utilizar uma arma em tudo semelhante à bomba de neutrões, ou seja, matar sem destruir as infra-estruturas existentes.

Imaginemos esse cenário, para percebermos o que vai ser o futuro próximo ‒ entenda-se os cinco ou dez anos que estão para a frente ‒ depois de, supostamente, se ter conseguido controlar o vírus e as suas sucessivas mutações.

 

Se agora o mundo já está dividido entre países muito ricos e países muito pobres e, em todos eles, dividido também entre gente rica e gente pobre ou meramente remediada, amanhã acrescentará uma outra divisão: a dos Estados com capacidade para vacinar e manter vacinada a maioria esmagadora da sua população e os Estados sem possibilidades para tal. Deixem-me perguntar:

‒ E qual o efeito de mais essa divisão?

A resposta salta à vista de quem quiser ver: as fronteiras vão fechar-se para a entrada e saída de gente proveniente dos países sanitariamente perigosos, do mesmo modo que viajar pelo mundo de mochila às costas, calças de ganga, t-shirt, botas nos pés, algum (pouco) dinheiro e sem vacinas em dia de modo a não propagar o vírus da Covid 19 ou das suas variantes, vai ser impossível. As companhias aéreas de baixo-custo estão acabadas durante vários anos e as restantes não vão estabelecer rotas exóticas para zonas exóticas económicas onde os pobres são explorados para servirem gente de fracas posses financeiras que os visitam (como acontecia até há dois anos).

Mas, se o turismo e tudo o mais que a ele está ligado vai ser a grande vítima, não se julgue que o comércio continuará igual ao que foi. Só vão resistir de portas abertas as lojas que tenham por trás de si um forte respaldo financeiro e, nestas condições, só estão as grandes marcas, que vendem produtos a elevados custos. A consequência é que, para os grupos sociais de médios e fracos rendimentos, restarão formas menos elaboradas e menos sofisticadas de produtos, se é que, comprar com marca (mesmo sem renome), não vai ser algo considerado luxo!

 

E não se creia no poder miraculoso da bazuca europeia, não só porque o problema vai para além da Europa, porque todos os Estados do mundo estão a viver de dívidas públicas. Assim, a banca internacional não tem onde encontrar respaldo suficiente e, necessariamente, vai cortar o crédito ou, elevando o juro, torna-o impossível. A retoma da economia tem de se fazer a partir de dentro, isto é, começando por refazer as células económicas mais primárias de modo a gerar rendimentos que possibilitem fracos consumos, mas suficientes para gerar emprego.

 

Todos nós estamos incapacitados de perceber o cenário atrás descrito, porque a má realidade surge tão negra que a única hipótese de subsistir é negá-la. Chamo a isto o síndrome judeu (era tão horrível aceitar que os nazis estavam a exterminar judeus que estes, negando a maldade germânica, deixaram-se matar passivamente).

 

Catastrofista? Não me parece. Se calhar, estou a ser, ainda, bastante optimista.