Os compadrios continuam...
Nos jornais de hoje vem a notícia da assinatura de um protocolo entre o Ministério da Administração Interna e um tal Instituto Português de Relações Internacionais da Universidade Nova (IPRI-UN), com vista a propor um novo modelo de segurança interna nacional. Este estudo custar-nos-á a módica quantia de 72.500 euros, qualquer coisa como 14.000 contos em moeda antiga. À frente dos trabalhos vai estar Severiano Teixeira antigo ministro da Administração Interna, no tempo do Governo Guterres, e actual porta-voz da candidatura de Mário Soares e com ele vão colaborar Nelson Lourenço e Nuno Piçarra. É trabalho para durar um ano.
Se isto não fosse triste, dava para nos rir-mos a bandeiras despregadas. Mas é triste e revoltante, por vários motivos. Eu passo a expor.
Em que conceito tem o senhor ministro António Costa os estados-maiores da GNR, da PSP e os comandos/direcções das diversas polícias existentes? Pelos vistos, considera-os um bando de inúteis. Ou inútil será o senhor ministro, por não saber dirigir superiormente os órgãos de planeamento, estudo e apoio de que dispõe?
Qual é, ou será, a reacção do Senhor general comandante da GNR? Estará o seu estado-maior impossibilitado de nomear um grupo de trabalho para apresentar propostas de um novo modelo de segurança interna, sem dispêndio de um cêntimo para a fazenda pública?
E no Instituto de Defesa Nacional não seria possível coordenar-se um grupo de trabalho que reunisse especialistas das diferentes áreas para, mais uma vez, sem dispêndio, se estudar o importante modelo de segurança interna?
O SIS não tem condições para fazer estudos desta natureza, mesmo que integrando elementos de outras forças e polícias?
O Estado-Maior da Armada, que superintende na Polícia Marítima, não poderia coordenar um conjunto de elementos que representassem todas as forças de segurança interna?
Porque não, na dependência do Gabinete do ministro da Administração Interna, formar-se um grupo de estudo para solucionar este magno problema?
Não, não podia ser aceite nenhuma das ideias anteriores, porque isso impossibilitava a oportunidade de dar a ganhar uns cobres a certas entidades e/ou estabelecimentos (se é que o IPRI-UN constitui um estabelecimento!).
É a isto que se chama desgoverno e/ou compadrio.
Compadrio, porque dos 14.000 contos alguns, poucos, destinar-se-ão a aquisição de equipamentos para esse tal IPRI-UN, uns quantos para compra de livros e, o resto, será dividido de forma desigual, cabendo pequenas partes aos indivíduos envolvidos na execução da pesquisa para elaboração do relatório final e a parte de leão irá direitinho para o bolso do coordenador do projecto. É sempre assim, tal como, no passado recente, foi sempre assim e continuará a ser assim no futuro.
Analisemos, agora, a «coisa» sob outro ângulo.
Porque raio terá sido escolhido o IPRI-UN recordo, Instituto Português de Relações Internacionais para elaborar um modelo de segurança interna?
Todos nós sabemos que hoje, cada vez mais, as ameaças à segurança interna com maior grau de perigosidade preparam-se no exterior, mas isso, só por si, não justifica que seja um organismo vocacionado segundo a sua designação para as relações internacionais a ser escolhido para estudar e propor um modelo de segurança interna. A justificação só pode encontrar-se no compadrio. Por este andar, o ministro da Defesa ainda encomenda a um qualquer instituto, inserido ou não numa universidade, o estudo do modelo de defesa nacional!
Este protocolo, de tão ridículo e tão descaradamente abusivo da forma como se gastam os dinheiros públicos, ofende os Portugueses que percebem como funcionam os estados-maiores das forças de segurança e das Forças Armadas. Nunca como agora está mais certo o adágio popular: «Poupa-se na farinha para gastar no farelo».
Senhores ministros, tenham vergonha e não façam dos Portugueses gente parva e ignorante!