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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

28.02.12

A AUSTERIDADE O VÍTOR E O PAUL


Luís Alves de Fraga

 

Como diz o Eng. Aquilino Ribeiro Machado, austeridade lembrava, até aqui há poucos meses, alguém que tivesse um porte austero, rigoroso, severo. Mas agora austeridade é sinónimo de miséria (não de miséria de espírito, pois dessa andam por aí uns quantos, há muito tempo, quase nus), de pobreza financeira imposta por terceiros e não por incapacidade de ganhar a vida. Austeridade é sinónimo de desemprego, de carência de assistência sanitária, de fome de comida (há outras fomes que grassam por aí, mas para as quais não há remédio, pois para a indigência intelectual não há quem tenha paciência). Austeridade tornou-se, pois, numa palavra de ordem com significado diferente do comum.

 

Austeridade, tal como é entendida hoje, tem uma acepção económica: contenção de gastos, aumento de impostos, redução de consumo e, consequentemente, função da lógica do mercado, redução da produção, diminuição da oferta.

 

Quando, há trinta e dois anos, ensinei macroeconomia e ainda se falava de sociedade de abundância (algum tempo antes de se dar início à euforia das teses neoliberais) tinha-se a certeza de que, a uma redução da demanda, correspondia uma quebra mais acentuada na produção e que, para se encontrar de novo o equilíbrio, havia que injectar no mercado meios financeiros que reanimassem a procura para, por efeito quase “miraculoso”, reanimar a produção e assim ampliar-se a oferta. E a injecção de meios financeiros podia fazer-se por duas vias (nem sempre simultâneas): ou facilitando o crédito (processo quase sempre difícil em situação de recessão) ou aumentando o número de compradores através de os subsidiar. E onde estavam os compradores carentes de subsídios? Está bom de ver que entre os desempregados e as classes inactivas (os reformados).

Tratava-se de uma fórmula que vinha sendo praticada desde os anos subsequentes aos da “Grande Depressão”. O Estado era, assumidamente, um agente regulador das irregularidades do mercado e, porque o era, permitia-se inflacionar a moeda para aumentar a capacidade exportadora das indústrias de todo o tipo que se dedicavam, mesmo que marginalmente, à exportação. O Estado desejava o bem-estar das populações e tinha como meta uma sociedade onde a abundância fosse a rainha e a palavra de ordem. Apostava-se na criação de uma classe média estável e estabilizada. O défice orçamental do Estado bem gerido era mais um instrumento ao serviço da economia. Austeridade… só no vestir e nos comportamentos sociais!

 

Hoje, em Lisboa, Paul Krugman recebeu o título de Doutor “Honoris Causa” e disse que Portugal tinha 75% de probabilidades de se manter no euro e não ter um destino tão fatal como aquele que está reservado à Grécia. Triste prognóstico! Só 75% de possibilidades, depois de tanta austeridade! E disse mais… É que já chegava de austeridade. Ele continua a acreditar numa sociedade de abundância na qual o Estado tem um papel a desempenhar como regulador do bem-estar social. Ele acredita que o Estado é o principal agente regulador da economia. O Estado tem uma vocação social activa e não passiva como era comum no século XIX.

Claro que o grande problema se coloca na União Europeia – e especialmente na zona euro – quando se não tem um Estado Europeu e se tem uma moeda única que não impõe solidariedade, mas equilíbrio orçamental e, acima de tudo, quando não há uma soberania única que defenda o bem-estar das populações, mas que, afinal, luta pelo bem-estar dos “mercados” (entenda-se: mercados financeiros ou banca internacional).

 

Portugal (leia-se: os políticos portugueses), ao arrepio da sua história, apostou tudo num só “número” nesta roleta europeia: a adesão descontrolada, sem objectivos estratégicos bem definidos e sempre querendo emparceirar com os Estados do “pelotão” da frente. Errou! Perdeu! Porque não, dar a oportunidade ao Doutor Paul Krugman de assessorar o nosso Primeiro-ministro durante uns meses? Deixá-lo ser o mentor de Passos Coelho e arredar da feira das vaidades nacionais esses economistas de “trazer por casa”!!! Dê-se férias ao Vítor e fiquemos com o Paul se ele aceitar…