Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

24.11.19

28 de Maio ‒ Os sovietes de tenentes


Luís Alves de Fraga

 

Já pouca gente sabe que, por trás dos generais golpista, de 28 de Maio de 1926, estava uma turba imensa de tenentes do Exército a incitá-los e a apoiá-los para a revolta. A ditadura partiu, efectivamente, do descontentamento dos tenentes, que conspiravam sob a forma de juntas militares. O maior núcleo situava-se no Norte.

 

Perguntar-nos-emos, nos tempos que correm, qual a razão profunda deste descontentamento entre oficiais jovens.

A resposta vai-se encaixar num acontecimento relativamente recente, na época: a participação de Portugal na Grande Guerra e o consolado de Sidónio Pais. Vejamos, para compreendermos.

 

Quando Portugal entrou na guerra, em 1916, teve de acelerar a formação de oficiais na Escola do Exército e, ao mesmo tempo, incorporar oficiais milicianos ‒ novidade entre nós ‒ para suprir as faltas de subalternos (alferes e tenentes), especialmente de infantaria, engenharia e médicos. Mas, a entrada na guerra não foi, de todo, bem aceite aos diferentes níveis e estratos sociais, incluindo as fileiras do Exército. Essa foi a razão pela qual, por exemplo, Sidónio Pais, aquando da preparação do golpe que o levou ao poder, contou com o integral apoio dos cadetes da Escola do Exército. Na época, havia uma alienação política, que levava a acreditar no auxílio desinteressado da Grã-Bretanha e nas boas intenções da sua política externa. Era um mero engano, era um querer acreditar naquilo que se não devia acreditar. Assim, desde os oficiais aos soldados, a ida para França foi uma imposição não compreendida.

Mas o pior veio depois do fim da guerra. Os quadros permanentes do Exército ficaram cheios de oficiais e a progressão na carreira tornou-se impossível. Os tenentes só iriam passar desse posto ao cabo de muitos anos, assim como os capitães. Beneficiados com a guerra foram os oficiais com graduações iguais ou superiores a capitão; desses, a quase maioria chegou a coronel e bastantes a general.

 

Os tenentes queriam uma mudança da situação política e, porque também a desejavam largos sectores da população urbana, o golpe de 28 de Maio de 1926 teve sucesso. O grave, no meio de tudo isto, é que, na realidade, não eram os generais quem, na prática, tomava as decisões políticas mais importantes, mas sim os sovietes de tenentes, que se reuniam nos quartéis ‒ em Lisboa, no Regimento de Caçadores n.º 5 ‒ e em certos cafés da Baixa lisboeta. Era aos gritos que propunham soluções ou inviáveis ou inapropriadas. Todas elas apontavam para a imposição de um regime conservador e, naturalmente, autoritário, desde que a autoridade fosse imposta pelo Exército.

 

Esta situação só conseguiu ser revertida e modificada ao cabo de dois anos e tal, quando Salazar foi chamado para ficar à frente do Ministério das Finanças e aceitou, em Abril de 1928. Todavia, persistiram ainda fortes influências dos tenentes até que foi indigitado para formar governo. Nessa altura, os tenentes já estavam dominados.