A Revolução Francesa e Muro de Berlim
A Revolução Francesa foi a concretização de uma insatisfação que se vivia já naquele país havia vários anos mesmo algumas dezenas , correspondendo à explosão de um desejo de Liberdade que o Despotismo, dito Esclarecido, impunha a toda a sociedade e, em particular, à burguesia limitando-lhe os anseios de protagonismo político e ao Povo limitando-lhe a sobrevivência com a carga de impostos e obrigações que o impediam de sair da sua mísera condição. Mas a Revolução Francesa foi mais do que esse quebrar de grilhetas. Com efeito, alterou a relação da sociedade com o Estado e com o Poder Político, querendo que todos (um «todos» algo limitado) partilhassem das responsabilidades governativas, ainda que de uma forma indirecta. Proclamou o princípio da igualdade de oportunidades assente no princípio da liberdade de expressão do pensamento, de reunião e de associação. Foi nestes dois pilares que encontrou esteio o princípio liberal de poder explorar os trabalhadores primeiro, ainda aceitando a ideia de fraternidade, contudo, pouco depois, relegando-a para o lugar da solidariedade social «a minha liberdade e a minha oportunidade acabam na liberdade e oportunidade do outro». Deste modo, «quanto mais extensa for a minha oportunidade mais curta será a do outro, logo, maior a minha liberdade». O fosso entre ricos e pobres deixou de ter como muralhas os aristocratas e a ralé, mas a burguesia e o proletariado.
Foi ao compasso da Revolução Francesa que prosperou o capitalismo até ao eclodir da Grande Guerra, mais tarde chamada 1.ª Guerra Mundial. Nesse conflito, acima das ideologias, estiveram frente a frente interesses burgueses que pretendiam subordinar completamente a facção que se lhes opunha.
Da guerra surgiu uma nova realidade: a tentativa de construção de uma sociedade mais justa pela prática de um modelo social, económico e político assente noutros princípios: a distribuição do salário far-se-á em concordância com a necessidade e com o trabalho desenvolvido, por um lado, e, por outro, pela apropriação de todo o tipo de bens capazes de socialmente alterarem a regra anterior. Assim nasceu a União Soviética com um novo tipo de democracia.
As dificuldades de socialização (politologicamente entendida como a prática do socialismo) levantadas enquanto Lenine conduziu o processo apoiado nos diferentes sovietes, foi ultrapassada pela «estatização», no tempo de Stalin. A União Soviética passou a ser uma ditadura onde, supostamente, se procurava a prática do bem-estar e da protecção social, baseando tudo isto num sistema educativo e sanitário amplo e gratuito.
Após a 2.ª Guerra Mundial o mundo ficou dividido em duas grandes «fatias» que rapidamente proclamaram a existência de um estado de guerra «fria» entre si: a parte onde imperava o capitalismo, agora chamado de economia de mercado, e a parte onde dominava o socialismo (comummente designado por comunismo). Pairando entre ambas ficou um «Terceiro Mundo» que se desejava descomprometido para poder beneficiar dos dois lados, escapando, supostamente, às respectivas influências. O panorama assim definido subsistiu de 1945 a 1989, ano em que o mítico muro de Berlim foi derrubado, indicador do fim da denominada «guerra fria».
A «guerra fria», mais do que toda a política armamentista que por trás dela se foi gerando em escalada avassaladora, representou um método de contenção do desenvolvimento de um capitalismo anárquico no mundo de economia de mercado. O receio da revolução socialista, da denúncia feita pelos partidos comunistas, da organização de greves e actos de revolta por parte dos trabalhadores levou a que houvesse lugar para a existência do «substituto» do comunismo também chamado socialismo científico ou seja, para a possibilidade de se manter um sistema «capitalista atenuado» que ganhou a designação genérica de socal-democracia.
Caído o muro de Berlim, desfeito o bloco comunista, desaparecidos os receios da «guerra fria» passar a «quente» na Europa, quiçá na Terra, concretizada a «revolução capitalista», enfim, desaparecida a grande potência bipolarizadora, perdida a esperança de os partidos comunistas poderem vir a conduzir qualquer processo revolucionário nas próximas décadas, eis que a super-potência restante os Estados Unidos se permite assumir o controlo político do mundo, tentando gerir os conflitos que lhes convinham. Ao fazê-lo, ou para o fazer, um nova via, afinal velha, tem de ser aberta: a da globalização. Não se trata de reduzir o mundo a uma escala de inter-ligação e conhecimento instantâneos isso é uma consequência , mas de globalizar, sem fronteiras nem peias de nenhuma espécie, os meios financeiros que se rentabilizam mais onde para eles houver melhores condições, ou seja, onde o trabalho puder ser pior remunerado e os assalariados estiverem mais disponíveis a venderem-se sem contra-partidas, onde os Estados forem menos exigentes na defesa da Natureza.
Essa foi a consequência da queda do muro de Berlim e da falência de um sonho que muitos julgaram poder ser o paraíso dos trabalhadores.
Agora não há partidos que organizem as oposições no interesse dos mais desfavorecidos. Resta-lhes a revolta civil, descontrolada, cega, raivosa que obriga a democracia a mostrar o seu lado mais feio, colocando polícias e militares a reprimir aqueles a quem roubaram a voz.
Em Portugal, o Governo do Eng. Sócrates, maioritário no Parlamento, socialista por enquadrar superiormente o PS, tem feito uma política fixamente colada à direita. Esperará ele e os seus ministros que no momento da revolta civil quando ela chegar, porque há-de chegar as polícias, a GNR e, até, as Forças Armadas se transformem em guarda pretoriana dos interesses capitalistas? Será que se transformam?