Está em mudança o paradigma político?
Desde os anos 80 do século XX que o modelo neoliberal de economia foi lançado, primeiro, quase a título experimental, pela Grã-Bretanha e pelos EUA e, depois da queda do Bloco de Leste, com grande velocidade pela Europa e restantes Estados com capacidade para tal. O modelo veio mostrar que a política era, de facto, dominada pela alta finança e não o contrário. Hoje, depois da crise financeira que estalou há três anos, todos sabemos que os políticos comprometidos com o neoliberalismo não comandam os acontecimentos, porque são comandados, porque são joguetes, na mão dos financeiros do mundo. Assim sendo, pode dizer-se que o modelo ou paradigma neoliberal mostrou toda a sua face e nada mais tem a esconder. Esgotou-se. Só nele pode acreditar quem dele colhe benefícios. Ora, a maioria da população mundial não ganha nada com o neoliberalismo. Então, poder-se-á perguntar: — É tempo de mudar o paradigma político?
A resposta só pode ser afirmativa. Mas mudar como e para onde? Regressar ao Estado-providência? Como, se foram muitos dos políticos que o defendiam quem pactuou com o neoliberalismo? Parece que essa via está fechada! Ir repescar as ideias marxistas e relançá-las novamente como solução? Poderia ser, todavia, a grande maioria da população politicamente esclarecida do mundo, sabe que o modelo marxista faliu com a implosão da URSS e dos Estados que a acompanharam ideologicamente. Por outro lado, os Estados que restam, dizendo-se socialistas, mostram uma face ditatorial ou para-ditatorial que não agrada a quem está habituado a viver a democracia herdada do século XIX ou, até mesmo, da Revolução Francesa: uma democracia que respeita os direitos privados e individuais. Então, também esta via parece fechar-se. Embora absurda, a solução passaria por modelos políticos ditatoriais inspirados no fascismo ou nos seus derivados? É evidente que o mundo e os cidadãos dos Estados querem liberdade, tal como vem sendo proclamado — viciadamente ou não — pelos povos do Norte de África. Já se não desejam ditaduras como solução para opor ao neoliberalismo. O que resta, como paradigma político possível? Nada mais! Esgotaram-se as soluções conhecidas e recebidas do passado.
A materialização da vida quotidiana, o afogamento pelas e nas novas tecnologias, não tem permitido reflexões inovadoras. Sabemos identificar os males do passado, mas estamos perante um buraco negro em relação ao futuro. Os condicionalismos sociais e laborais do século XIX alteraram-se completamente. É absurdo falar em proletariado no século XXI, porque a proletarização, saindo da classe operária e do campesinato, expandiu-se aos serviços e sedimentou-se nas classes médias. O novo paradigma político tem de passar, exactamente, pelas classes médias, satisfazendo os seus anseios e os seus desejos. Anseios e desejos que se identificam com os fundamentos burgueses de uma sociedade habituada ao consumo. É, por conseguinte, absurdo falar de burguesia e de aburguesamento numa perspectiva marxista, porque essa é a meta de todo o ser humano: desfrutar do bem-estar que a sociedade de consumo trouxe através das evoluções tecnológicas. É absurdo falar de poder popular, porque o poder hoje pode exercer-se através da Internet, do computador, do telemóvel. Não é na rua, com pedras, que se definem caminhos e rumos políticos. A rua só serve para mostrar o número, mas o número também se mostra nas redes sociais, nas petições electrónicas.
Estaremos perante uma incapacidade inovadora? Terá, realmente, chegado o fim da História? Terá a alta finança ganho a corrida e estaremos condenados a uma servidão controlada entre o trabalho e um salário que seja meramente suficiente para manter os níveis de produção que garantem os fluxos financeiros que atravessam as novas tecnologias e desembocam nos cofres dos bancos e nos bolsos dos grandes accionistas? Que nova revolução se pode delinear para dar resposta a um paradigma que, parece, se esgotou?