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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

31.01.10

Dia nacional do Sargento


Luís Alves de Fraga

 

 
Hoje, 31 de Janeiro, é o dia nacional do Sargento português.
Não se trata de um acaso sem significado histórico a escolha desta data. Ela foi seleccionada, porque, neste dia, em 1891, na cidade do Porto, os sargentos da guarnição militar, acompanhados de dois ou três oficiais de baixa graduação, fizeram sair para a rua uma revolta militar destinada a proclamar — como, aliás, foi proclamada — a República como regime em Portugal. Foram eles, os Sargentos, quem “limpou” a honra do Exército contra a afronta ocorrida um ano antes, quando a Inglaterra enxovalhou internacionalmente a Monarquia portuguesa, obrigando-a a transmitir ordens para Moçambique, fazendo recuar uma pequena força militar que ocupava territórios que, segundo Londres, estavam sob a protecção soberana da coroa britânica. Foi o célebre Ultimatum de 1890. Foi o começo do fim de uma Monarquia que já não tinha nem glória nem dignidade para representar uma Nação. O Sargentos foram os primeiros a pressentirem e a manifestarem o sentimento de revolta das Forças Armadas. Foram ingénuos no modo como executaram a tentativa revolucionária, deixando-se arrastar por um romantismo que socialmente vivia à flor da pele. Mas essa ingenuidade só provou o lado bom dos Sargentos, despindo-os de interesseiras intenções. Só queriam o que julgavam ser o regime mais representativo, mais democrático e mais justo para Portugal. Muitos pagaram com a vida, com a prisão e o degredo a ousadia de levarem pela frente um desejo que ainda não estava suficientemente maduro no seio da sociedade nacional. Mas o exemplo ficou e frutificou em 5 de Outubro de 1910.
 
Foi depois de outra libertação — a de 25 de Abril de 1974 — que os Sargentos, por iniciativa de uns quantos, num 31 de Janeiro de um ano que já não recordo, resolveram juntar-se num almoço para arvorarem essa data no dia da sua classe. Ainda não se falava em associativismo militar e, muito menos, em Associação Nacional de Sargentos. Mais uma vez, eles, com a força da sua vontade, de peito aberto, saíram a terreiro e, sem o apoio de nenhuma instituição castrense, proclamaram que tinham o direito a ter o seu dia, um dia glorioso, não por celebrar uma vitória, mas por recordar o sonho da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade.
 
O meu Pai, primeiro sargento enfermeiro da Armada, já nessa época distante, na situação de reserva, embora na efectividade de serviço, respondeu à chamada dos seus camaradas e lá foi, salvo erro, para Almada, Cacilhas ou Laranjeiro, comemorar o dia nacional do Sargento.
Confesso que foi com orgulho que o vi tomar essa iniciativa, porque, estando ele há muitos anos na situação de reserva, poderia sentir-se desligado das obrigações morais que tinha para com os seus camaradas. Mas o meu Pai, humanista e estudioso da política nacional e internacional, culto, dado à poesia e ao jornalismo, julgou que a classe militar de onde provinha pudesse precisar dos seus serviços e prontamente se apresentou, marcando presença e engrossando a cadeia humana que se estava a formar. No orgulho que senti floresceu o exemplo com que sempre me havia ele balizado a existência.
 
Os anos sucederam-se uns atrás dos outros; estou próximo de ser mais um septuagenário militar a quem resta o orgulho de ter servido a Pátria onde, quando e nas condições por ela ditadas. A minha arma hoje é a palavra. Esgrimo-a com a mesma vontade com que, há quase cinquenta anos, escolhi a carreira castrense para ser útil à sociedade. Recordar o meu Pai, a classe de Sargentos e o 31 de Janeiro são obrigações que assumo com prazer e alegria, porque, quanto mais o tempo passa, mais próximo me sinto das minhas origens familiares.

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