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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

08.09.08

Onda de violência


Luís Alves de Fraga

 

 
Poderia, há mais tempo, ter comentado a onda de violência que parece atravessar o país de lés a lés, mas de propósito não o fiz. Não atribuo à vivência democrática a culpa da violência, contudo, julgo que os órgãos de comunicação social são uma excelente caixa de ressonância para provocar dois efeitos simultâneos: a ânsia de protagonismo por parte de quem faz uso da violência no seu dia a dia e gerar receios nos pacatos cidadãos. Este último pode configurar um atentado à Democracia, pois, perante um aumento da violência, è natural que se comecem a exigir condutas das forças de segurança cada vez mais repressivas e esse é o caminho por onde marcham as botas dos ditadores. O tratamento público da violência deve ser feito com grandes cautelas: empolar a sua dimensão produz ondas de choque sociais difíceis de controlar as quais só servem a quem quer tirar proveito dos actos violentos. Isto, os profissionais da informação e os responsáveis pelos canais informativos deveriam saber.
 
Repare-se na atitude do Governo perante a difusão de notícias sobre violência pública: fez aprovar medidas legislativas que não garantem eficácia na redução da violência — só aumentam o nível de sufocação — e fez disparar o esforço de controlo aparente da segurança com acções de polícia que não vão direitas ao cerne da problemática que está na origem das acções violentas. Numa palavra, entrou-se pela via da repressão em vez de se lançarem pontes para detecção dos motivos que levam aos assaltos e à onda de violência existente. Prefere-se o imediato e fácil ao mediato e difícil.
 
O que o Governo não quer ver são as causas profundas da violência que se consuma em assaltos à mão armada. Não é a crise quem tem a responsabilidade. Não. A responsabilidade tem-na o Governo, porque não sabe, não quer ou, até, já não pode atalhar as distorções sociais que a crise gerou. Mas não me refiro só a esta crise económica que atravessamos! A crise de que falo é uma outra, estrutural e fundamentalmente portuguesa. Uma crise que se arrasta desde os primeiros Governos constitucionais a seguir ao 25 de Abril de 1974.
 
A reforma do ensino, nas escolas, não foi feita tendo como pilar de apoio a Liberdade, mas a permissividade, a facilitação, a irresponsabilidade; o enriquecimento não teve como esteio o trabalho e a justa retribuição do empenhamento do capital, mas a falcatrua, o oportunismo, a esperteza “saloia”; os graus académicos foram sendo obtidos à custa da redução dos parâmetros de avaliação e de bolsas capazes de “comprar” cartas de curso ou diplomas; esbateram-se por completo as barreiras sociais que separavam as elites intelectuais das camadas mais broncas, pondo todos ao nível de uma pseudo-igualdade que se generalizou no tratamento indiscriminado por “você”; o oportunismo político tomou foros de boa razão para alcançar um patamar económico estável, bastando para tanto saber fazer uma carreira onde se escolham as “estrelas” em ascensão.
Poderia enunciar mais, muito mais, mas o que fica é já suficiente para definir a crise tal como a vejo. A crise é de valores que determinam comportamentos e, consequentemente,  reflecte-se no plano económico e social.
Ainda está por fazer a verdadeira reforma do ensino e da educação em Portugal! Mas essa obriga à identificação dos pontos fracos da nossa sociedade e passa por reforçar não a Liberdade, mas a Autoridade em liberdade, colocando cada um no escalão que lhe pertence pelo mérito realmente demonstrado. Na ânsia de saltar de um regime autoritário para um democrático esqueceu-se que a liberdade também tem limites e impõe obrigações.
Para se salvar alguma coisa, depois de mais de 30 anos de democracia libertina, tem de haver uma grande vaga de fundo que reponha a Verdade social entre nós; e essa vaga de fundo só pode nascer e crescer dentro de cidadãos conscientes de que não são as fórmulas repetidas e gastas que solucionam os problemas novos que se nos apresentam… Não é a ditadura, mas a democracia valorada que tem de ser erguida, partindo da base. Quando tal for conseguido a violência reduzir-se-á para uma escala bem menor e mais capaz de ser controlada.

 

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