No domingo passado, numa demonstração pública, um sargento de 28 anos de idade, do 3.º Regimento de Pára-quedistas de Marinha, de França, em Carcassonne, disparou a sua arma com munições verdadeiras contra a assistência quando deveria ter usado munições de salva ou bala simulada. Ficaram feridas dezassete pessoas, duas das quais em estado grave.
Os jornais franceses de hoje dão, com grande destaque, a notícia do pedido de demissão do Chefe do Estado-Maior do Exército, general Bruno Cuche, porque o ministro da Defesa lhe havia exigido «sanções imediatas» mesmo sem estarem concluídos nem se atender aos resultados dos inquéritos e investigações mandados fazer pelas entidades responsáveis (a notícia pode ser consultada seguindo este
link).
Já se sabe há tempos que, em França, os Chefes dos Estados-Maiores dos Ramos das Forças Armadas andam de candeias às avessas com o ministro da Defesa e com o Presidente da República por causa das alterações orgânicas que se pretendem fazer ao nível do Ministério da Defesa. O general Cuche fez saber em comunicado que a sua demissão resulta somente do desastre de Carcassonne e, assim sendo, mais se evidencia a verticalidade do comandante do Exército de França quando não cede a uma exigência política indiscriminada e meramente populista do ministro da Defesa.
Esta atitude tem um nome: verticalidade.
Entre nós, felizmente, nunca ocorreu um acidente com armas de fogo tão grave, mas têm acontecido pequenos grandes incidentes que afectam a operacionalidade das Forças Armadas e o seu pessoal. O rol vai desde o corte dos direitos sanitários dos militares até à aquisição de material operacional sem sobressalentes, fornecimento de viaturas que não satisfazem aos termos contratuais, atrasos na entrega de material, pagamentos de vencimentos e de comparticipações que se retardam, enfim, um sem número de ocorrências que já deveriam ter dado origem a várias demissões se os nossos Chefes de Estados-Maiores fossem franceses…
O importante a reter da atitude do general Cuche é que a demissão de um Chefe de Estado-Maior, para além de ser um dano colateral, é sempre uma lição de civismo e de verticalidade que a classe castrense dá à classe política. Assim, conclui-se que falta sentido pedagógico aos nossos militares mais graduados. Estarei enganado?