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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

22.08.07

Os nomes nos blogs


Luís Alves de Fraga

 
Há dias fiz uma passagem completa por todos os blogs guardados nos “meus favoritos”. Depois, fui rever todos os comentários deixados nas minhas postagens e verifiquei uma constante muito curiosa: só há dois tipos de autores de blogs, tal como só há, também, dois tipos de comentadores dos blogs alheios: os anónimos e os não anónimos.
 
Realmente há entre autores e comentadores aqueles que deixam o seu verdadeiro nome bem visível para que todo e qualquer internauta os possam identificar; alguns, até publicitam a sua fotografia. Eu sou desses.
Não é por ser desses, mas tenho de classificá-los com o epíteto de “corajosos”; dão-se a conhecer e não têm medo do que dizem nem das consequências do que dizem. Assumem-se por inteiro.
Para esses, valeu a pena fazer-se o 25 de Abril no ano de 1974. São cidadãos responsáveis que não temem, nem a Justiça do Estado nem a justiça dos homens. Encaram a sociedade de consciência tranquila.
 
Depois vem os anónimos. Sem rebuço de qualquer espécie, classifico-os de “medricas” e de “medrosos”.
“Medricas” são todos os que escolhem um pseudónimo e se escondem atrás dessa identidade não identificável, tornando-se, de repente, “corajosos”! Cheios de uma falsa coragem, evidentemente!
Fazem-me lembrar aquela frase que se dizia quando eu andava na instrução primária e algum lingrinhas vinha acompanhado de um matulão ameaçar-nos; respondíamos: — Com as calças do meu pai, até eu era homem!
Na verdade, escondido atrás de um pseudónimo, todo o cidadão pode ser corajoso, pois sabe que, pelo menos, por processos comuns, não é identificável. Diz o que quer, mas esquiva-se de poder ser incomodado. E se for, por força de algum comentário mais desabrido, está sempre incógnito. Lembra-me todos quantos iam às “manifestações espontâneas” de apoio a Salazar, mas levavam a aba do chapéu baixa para não lhe identificarem a cara; no dia seguinte, no café do bairro, podiam dizer baixinho que Salazar era um fascista, depois de terem, na repartição, assegurado ao chefe que estavam inteiramente de acordo com o Estado Novo.
“Medricas”, porque têm medo e nem aceitam que o têm.
 
“Medrosos” são os que, pelo menos com coerência, não assumem identidade de espécie alguma. Esses, no tempo do Estado Novo, não iam à manifestação, mas, em privado, muito em privado, juravam ao chefe total fidelidade à “situação”, a Salazar, à Santa Madre Igreja e a tudo e todos… Até usavam o emblema da Mocidade Portuguesa, mas escondido pelo lado de dentro da lapela do casaco!
 
A mentalidade dos “medricas” e dos “medrosos” já vem muito de trás. Tem séculos de existência entre nós. Deve-se à Inquisição e ao Tribunal do Santo Ofício.
Nesses tempos recuados, essa terrífica instituição, que zelava pela pureza da religião Católica, aceitava a denúncia anónima dos trânsfugas. Anónima para a sociedade e para o pobre denunciado, mas identificada pelos esbirros da Inquisição. Identificada para o denunciante poder receber a parte que lhe competia dos bens do denunciado!
 
Foi este padrão comportamental que ganhou raízes entre nós. Desta laia saíram os bufos que alimentavam os arquivos da PIDE/DGS, desta laia saem os autores dos blogs e dos comentários que se assinam com pseudónimos ou se mantêm anónimos.
Voltasse a haver Tribunal do Santo Ofício e vê-los-íamos em fila, embuçados, pela calada da noite, ir entregar a sua denúncia aos pressurosos defensores da fé de Roma.
 
Se têm medo, acho que os “medricas” e os “medrosos” faziam um favor a todos nós e à blogosfera se deixassem de sobrecarregá-la com as suas palavras. Se deixassem de proclamar o direito ao contraditório — que contraditório? Aquele onde não se sabe quem se contradita? — Deixem de escrever. Ao menos, aprendiam com todos os que, arrostando com ventos e tempestades, assinam com o seu nome e mostram a cara nos blogs que alimentam!
 
Realmente, faz falta uma revolução cultural! Uma revolução que ensine que o medo é a mais traiçoeira arma que pode ser usada contra quem se couraçou com o peitoral da coragem e é apunhalado pelas costas.
 
Claro que estão isentos desta dura acusação todos quantos sustentam blogs literários, onde se cultiva meramente a arte de escrever em prosa ou em verso, mas já não fogem ao meu gládio os que mantêm blogs humorísticos, pois é sabido que o humor pode ser tão corrosivo como uma longa página de sérias críticas.
 
Agora, estou de bem com a minha consciência, por isso, se calhar, de mal com os homens. Pelo menos, com alguns homens.

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