As Forças Armadas em números
Numa feliz iniciativa o diário Correio da Manhã, nos últimos dias do ano passado, publicou três artigos sobre os três Ramos das nossas Forças Armadas. Percebeu-se que foi dada a liberdade para cada qual realçar o que melhor entendeu. Todavia, em comum, vieram os números relativos ao pessoal e referências ao material operado.
Seria interessante se igual iniciativa fosse tomada com outros Ministérios que dão corpo ao aparelho do Estado. Talvez assim ficássemos a saber um pouco mais por onde se escoam os impostos pagos pelos cidadãos. Quantos milhares de funcionários terá o Ministério das Finanças? E o da Saúde? E o da Educação? E o da Justiça? E o do Administração Interna? E o das Obras Públicas? E o da Agricultura e Pescas?
Pois as Forças Armadas deste país totalizam qualquer coisa como, em números exactos, 46.928 pessoas, das quais 7.422 são civis. Assim, temos, que militares ou militarizados são 39.506. É sobre este «punhado» de cidadãos que a mão pesada do Governo caiu a roubar parcas regalias detidas por quem se obriga a estar disponível 24 horas em cada dia e a dar a vida, se preciso for, para cumprir o «contrato de trabalho»!
Dirão os mais atentos e rigorosos dos meus leitores: Sobre esses e todos os outros que estão já na situação de reserva e reforma!
Dizem uma meia verdade, porque, destes trinta e nove milhares e meio de almas só têm direito a regalias vitalícias os graduados do quadro permanente. Ora, se assumirmos que os números fornecidos ao Correio da Manhã, relativos a oficiais e sargentos se referem a militares nesse tipo de situação (o que não é verdade, por estes serem menos), verificamos estar perante qualquer coisa como 16.172 homens e mulheres. Se quisermos, por aproximação, determinar o total de reservistas e reformados poderemos usar como factor de multiplicação o valor 3 (estou a fazer cálculos aleatórios e simplesmente baseado em indícios fundamentados no passado). Assim, chagaremos a 48.516. Adicionando a estes os efectivos militares (39.506) passamos a ter 88.022. Seria, talvez por excesso, este o número de militares beneficiários de algumas regalias dos antigos sistemas de saúde existentes até ao último dia do ano findo. Para maior rigor vamos multiplicá-lo por dois para considerarmos os agregados familiares (temos de contar que muitos são os viúvos, separados e solteiros) e obtemos 176.044 beneficiários. Convenhamos que se trata de uma fatia muito estreita da segurança social de um país com mais de dez milhões de habitantes. E, se o é, a vantagem que o Estado tira dos cortes que fez vai ser, ela também, muito reduzida. Esta conclusão leva-nos a outra: as Forças Armadas serviram de exemplo para depois se corrigirem assimetrias e abusos existentes noutros sectores do funcionalismo público. E foram exemplo, porque têm de estar caladas por força do seu código de conduta. Assim, o Estado, o Governo, não soube, não quis, não foi capaz de se impor sem o sacrifício de quem já anda sacrificado.
Deixando de lado com dor e pesar as injustiças feitas à Família Militar, atentemos, agora, nos números que compõem parcelarmente as nossas Forças Armadas.
Na categoria genérica de oficiais, o Exército tem 2.881, a Armada 1.512 e a Força Aérea 1.247; já em sargentos os números são, pela mesma ordem, 5.535, 2.649 e 2.321; ao nível das praças (cabos e soldados) surgem, sequencialmente: 13.900, 6.404 e 2.829.
Quem for minimamente perspicaz percebe aqui aparentes discrepâncias, contudo explicáveis. Assim, parece estranha a pequena diferença entre sargentos e praças no Exército um pouco mais do dobro. Isto justifica-se, porque devemos atentar que, sendo os sargentos os elementos que enquadram as praças, tem de haver um número capaz de, em caso de necessidade, face a uma mobilização extraordinária, «suportarem» o dobro ou, talvez, o triplo do contingente de cabos e soldados. Por outro lado, 13.900 praças é um número que poderá, no máximo, garantir a formação de duas brigadas e nada mais.
Na Marinha, deve descontar-se na classe de praças 1.692 que são fuzileiros navais o que faz baixar para menos de cinco mil as que vão guarnecer navios e postos em terra.
A especificidade da Força Aérea traz-lhe características muito especiais. Com efeito as maioria dos combatentes directos e envolvidos na acção de fogo são oficiais: os pilotos, que totalizam 200, faltando 90 para os quadros estarem preenchidos. Tudo o mais, são técnicos que garantem a operacionalidade dessas duas centenas. Deve acrescentar-se que, em terra, a Polícia Aérea oferece a segurança das infra-estruturas. Curiosamente, é neste Ramo que o número de pessoal em situação de alerta diário atinge um patamar muito elevado de empenhamento: 600. Este envolvimento operacional passa pelos destacamentos permanentes nas ilhas de Porto Santo e S. Tomé; e pela prontidão imediata na Base Aérea de Monte Real, Montijo e Lajes, na ilha Terceira. Os aspectos mais notórios da actividade aérea em alerta são, sem dúvida, os de salvamento, atribuídos aos helicópteros com base no Montijo, nas Lajes e em Porto Santo.
As Forças Armadas de Portugal, hoje reduzidas a uma dimensão quase exígua, apresentam um grau de prontidão que em nada fica atrás das de qualquer grande potência militar, salvaguardadas as proporções e as disponibilidades orçamentais. Ridículo é haver governantes a exigirem mais contenção, discutindo o pouco consumido por quem está apto a, numa situação de caos ou calamidade, manter a ordem e garantir serviços mínimos.
Portugal sempre foi ingrato para os Soldados, embora seja uma Nação que se construiu, chapinhando no sangue dos seus heróis anónimos.