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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

16.07.07

Partidos e Políticos


Luís Alves de Fraga

 
Não vai ser novidade o que vou hoje deixar aqui escrito, pois quase todos os jornais e analistas políticos afirmaram coisas idênticas logo de manhã e, ontem à noite disse-o, pelo menos, o José Pacheco Pereira, na televisão.
 
O acto eleitoral decorrido em Lisboa vem confirmar um sentimento que pairava já sobre todos os que estão atentos à política nacional: entre nós, o descrédito nos e dos partidos políticos está implantado.
 
A grande massa anónima dos eleitores já se desligou da política, já se alheou da coisa pública, já descrê do que os políticos dizem ou prometem… Já nada disso interessa. É comida requentada. Isto quer dizer que os partidos políticos e os políticos que os integram já perderam a legitimidade. Com a devida salvaguarda temporal, os Portugueses olham para os partidos políticos e para a política com a mesma indiferença com que olhavam para o regime do Estado Novo quando este foi deposto em 25 de Abril de 1974.
 
Os Portugueses estão outra vez mobilizados para discutirem futebol, rezarem em Fátima, lerem os jornais desportivos, alguns pseudo romances (os quais estão para os dias de hoje como as memórias da Beatriz Costa estiveram para os últimos anos do Estado Novo) que figuras conhecidas da televisão vão publicando e que substituem, junto da classe média, a revista Maria.
A crença, a fé, o entusiasmo pelos assuntos que a todos interessam morreram, porque foram sendo mortos pelas sucessivas classes políticas que se renovaram na sociedade nacional. Diria, sem receio de errar, que o terreno está preparado para uma mudança que não pode ocorrer, pois os condicionalismos contextuais e conjunturais se alteraram profundamente nestes últimos trinta e três anos.
 
O fundamento das minhas conclusões está nos números: abstenção igual a 62,61%. Isto é brutal! Corresponde à ausência de resposta que Marcello Caetano teve nos últimos actos eleitorais com que quis legitimar o que já não tinha legitimidade. Quer dizer, as eleições foram decididas por 37,39% do eleitorado! Os quais tiveram de se repartir por doze candidaturas! Esta eleição está deficitária de legitimidade. Lisboa é governada por uma minoria dentro de outra minoria.
 
Mas se dermos — e não devemos dar — de barato este facto, o que se apura é que o presidente da Câmara, apoiado na estrutura de um partido — o partido que tem a maioria parlamentar absoluta — consegue eleger, para além dele próprio, mais cinco vereadores; é somente o dobro do resultado do candidato dissidente do segundo partido com maior representação parlamentar, embora com uma percentagem de votantes menor (Costa com 57 907 e Carmona Rodrigues com 32 734). Logo de seguida vem o candidato apoiado pelo PSD com igual número de vereadores (três para 30 855 votantes). Depois, segue-se Helena Roseta — outra candidata sem apoio partidário — que se elege a ela e mais outro (20 006 votantes). Em seguida surge Ruben de Carvalho que, embora tenha o suporte do PCP, teve igual resultado que Helena Roseta (com 18 681 votos) e, por fim o candidato do Bloco de Esquerda, que se elege a si próprio, com 13 348 votos.
 
O CDS/PP, que há décadas tinha conseguido eleger, por vários anos, um presidente da edilidade de Lisboa, ficou pulverizado e os restantes candidatos «desapareceram», mas deixaram uma mensagem: todos juntos totalizam 7 607 votantes ou seja, mais do que os do CDS/PP (7 258) e quase tantos como os votos em branco ou nulos (7 645).
 
O eleitorado lisboeta representa — posso dizê-lo sem necessidade de confirmação — o sentir de Portugal; no mínimo, o do Portugal urbano e litoral; quer dizer, ainda se acredita em pessoas (Carmona Rodrigues e Helena Roseta) e já se não acredita em partidos políticos.
 
Qual o motivo?
As pessoas trazem projectos, falam ás outras pessoas — os que os hão-de eleger — acalentam esperanças que se propõem realizar.
Os partidos e todos os que são por eles apoiados esgotaram os discursos, ninguém pode acreditar que um candidato suportado por este ou aquele agrupamento político se lhe oponha, seja capaz de contrariar o que disciplina cega e obediente dita e impõe. Já ninguém acredita que o Partido Socialista seja ideologicamente socialista; ainda há militantes que o são, mas a máquina é igual à do PSD ou à do CDS. A máquina já não faz frente ao capitalismo globalizante, à descarada extorsão dos trabalhadores. O único partido que ainda se matem coerente com a ideologia que defende é o comunista, mas é uma postura que, certamente, terá de ser revista, pois ninguém, nos dias que correm, nem nos tempos mais próximos, crê que o regime socialista-marxista consiga implantar-se na Europa (essa, provavelmente, a razão que leva o PCP a, cada vez mais, se colocar ao lado da CGTP na luta pelas prorrogativas dos trabalhadores, virando-se para o único campo onde pode garantir a sua sobrevivência como partido coerente).
 
É importante que saibamos interpretar os resultados destas eleições intercalares sem os desculpar, aceitando justificações menores e que, evidentemente, só procuram enganar quem quer ser enganado. É importante fazer a interpretação correcta dos resultados para remediar o que pode ter remédio. Deixar morrer a luz da esperança em cada cidadão eleitor é condenar a democracia a ficar mais pobre e, pior do que tudo, mais adulterada e distante dos seus verdadeiros fins: a felicidade dos povos.

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