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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

23.04.19

25 de Abril, ontem e amanhã


Luís Alves de Fraga

 

Estive a ver o programa da RTP-1 “Prós e Contras” transmitido ontem da Praça do Município, em Lisboa.

Lá estavam seis capitães de Abril e uma pequena – comparada com as habituais – plateia de jovens (a maioria, simples espectadores).

 

Em síntese, muito magra de palavras, direi que os meus camaradas militares se limitaram, salvo um ou outro momento, ao “discurso politicamente correcto” e os jovens à “crítica sonhadora” própria da idade e, aqui e além, à manifestação de um desejo de partilha na vida política e ou em eventos de destaque social.

 

Ainda que com cautelas, os coronéis Vasco Lourenço, Sousa e Castro e Matos Gomes, fugiram à crítica aberta e declarada dos governos que geriram os destinos de Portugal contra as linhas programáticas e as directivas norteadoras do Movimento das Forças Armadas: democratizar, desenvolver e descolonizar.

 

Na verdade, se por democratizar se entende a existência de partidos políticos, então, houve e há democracia em Portugal. Mas, democracia será isto? Se não é, como julgo que não é, então alguém falhou, lá muito atrás, pouco tempo depois do Abril de 1974.

Isto mesmo devia ter sido denunciado, ontem, pelos meus camaradas. O “regresso aos quartéis”, imposto pelo Conselho da Revolução, deixando terreno livre para a manobra partidária, impossibilitou dois objectivos nunca equacionados: a “dessalarização” da sociedade portuguesa e a aprendizagem da democracia de base.

Países como a Alemanha, com poucos anos de nazismo, tiveram programas de reaprendizagem da vida em democracia; nós precisaríamos de, pelo menos, uma década para aprender o que é, realmente, viver livre, com direitos e, acima de tudo, com muitas obrigações e responsabilidades.

A ânsia de entrada na CEE protagonizada, em especial, por Mário Soares e, em parte, pelos líderes do PSD, foi o veículo para uma democratização “coxa”, pois, logo à partida, foi-nos imposta a adesão sem qualquer consulta popular, nem qualquer respeito pelos eleitores, conduzidos para a Comunidade como carneiros para o matadouro.

O futuro do 25 de Abril de 1974, como se vê, começou a ser atraiçoado logo em 1977 e concluiu-se em 1985.

Em 1982 o Conselho da Revolução deu por cumprida a sua missão. Um erro que devia ser denunciado neste quadragésimo aniversário da data libertadora.

 

Sousa e Castro recordou, e bem, a distorção social provocada pelas entorses salariais existentes entre nós e em constante crescimento. Esqueceu, contudo, com a autoridade que lhe advém de um protagonismo revolucionário, de evidenciar o papel desempenhado pela política “desvairada” de Cavaco Silva, enquanto Primeiro-Ministro, durante o regabofe dos recebimentos provenientes da CEE a fundo perdido ou quase! Foi nessa época que os abismos salariais ganharam raízes, abriram os caboucos, para despontar, com toda a força, nestes tempos de agora.

 

Era isto que eu esperava dos meus camaradas presentes no programa. Tinham, têm, autoridade para serem juízes dos tempos passados, abrindo perspectivas para os tempos futuros.

Os jovens, na sua inocência de vida e com a inexperiência própria de quem se está a preparar para o futuro, apresentaram algumas ideias e sugestões críticas, mas eu, no lugar deles, esperaria que os “pais da Revolução Democrática” fossem os primeiros, porque distanciados dos maiores erros e dos mais significativos desvios políticos, críticos do passado e do presente.

Perdeu-se uma excelente oportunidade para, abandonando a atitude paternalista de quem já nada tem a ver com os pretéritos erros, alcandorar-se ao lugar de magistrado supremo e condenar quem deve ser sentenciado.