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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

28.04.24

Três pinceladas ao acaso


Luís Alves de Fraga

 

O Senhor Presidente

O Professor Marcelo Rebelo de Sousa, tal como eu disse e escrevi há mais de cinco anos, devia ter feito um só mandato. Teria saído em ombros como o único Supremo Magistrado da Nação que, em democracia, havia conseguido articular um Governo feito com o apoio de bocados parlamentares e levado a bom termo uma administração sob os efeitos de uma pandemia. E teria a vantagem de ter sido ”o Presidente dos Afetos”. Mas optou por recandidatar-se e ganhou. Ganhou, mas não ganhou tento nos comentários e nas atitudes. Tê-lo-á incomodado a maioria absoluta do PS? À oposição incomodou e toca de fazer tudo e mais alguma coisa para descobrir casos e casinhos que desgastassem o Governo ao ponto de Marcelo falar em “instabilidade das instituições democráticas”.

Ora, os jornalistas tanta “rede mandam ao mar” que alguns peixes hão de apanhar e nem sempre da “qualidade” que desejam. Um dia houve que lhes caiu no prato um “peixão”: o caso das gémeas! Caso que, esse sim, punha em causa as instituições democráticas.

Marcelo não teve culpa! Aqui d´El-Rei, pois limitou-se a fazer o que o Presidente faz sempre: despacha o requerimento, a queixa ou o email para os serviços de apoio da sua Casa para estes encaminharem para os ministérios ou entidades convenientes! Claro, desta feita, a sua rapidez e distracção foram tais que nem reparou que o email com o pedido era assinado pelo seu filho Nuno!

Dois ou três dias após, situação estranha e quase nunca vista, sai de uma gaveta do Ministério Público mais um caso ‒ e grave, muito grave ‒ que leva o primeiro-ministro à apresentação do pedido de demissão, que é aceite após um Conselho de Estado onde as opiniões se dividiam exactamente ao meio. Estranho, não é?

E abriu-se a crise que iria durar tempo suficiente para esquecer as gémeas, o email, o Brasil e mais o Dr. Nuno. Quando a poeira assentasse depois de meses de lutas partidárias, já pouco haveria a dizer da instabilidade da instituição Presidência da República e, se houvesse, Marcelo encarregava-se de gerar novas confusões. Aí estão elas: as recompensas aos países colonizados, o primeiro-ministro “rural” e o outro lento, lentinho, “oriental” e, coitado, cortou relações com o filho Nuno (dizem as más línguas que não gosta da nova nora).

Mas o que é que Marcelo não faz para gerar a confusão à sua volta?

Olhem, o que já fez, foi perder o epíteto de “Presidente dos Afetos”. Esse já foi para o galheiro!

Senhor Presidente aprenda a pôr um adesivo nos lábios para não entrar mosca ou sair aquilo que não deve!

 

O ministro da Defesa Nacional

Ora viva, temos um ministro da Defesa que foi miliar… Segundo parece, chegou a alferes e comandou um pelotão. Dizem que foi Polícia Militar ou seja, pertenceu ao regimento de Lanceiros. E toda a gente fica contente com esta novidade de ter na cadeira de ministro um antigo alferes! Até os militares de carreira ficam contentes! Que parvoíce. Um alferes tem uma visão da tropa a partir do primeiro degrau da escada de um prédio com vinte ou mais andares. Por muito que tenha lido nunca chegará a ter a visão de um general.

Diz-nos Nuno Melo que Portugal não tem condições para voltar ao serviço militar obrigatório (SMO). Claro que não. Portugal não precisa de umas grandes Forças Armadas… isso já foi tempo, mas um almirante, Melo também, por acaso Chefe do Estado-Maior da Armada (ramo que foi o primeiro a ter praças profissionais) lançou a ideia para o ar, afirmando ser necessário o SMO. Quer-me parecer que este almirante, pelo hábito de andar submerso, desceu a tal escada até ao patamar do rés-do-chão e por lá ficou qual guarda-marinha inexperiente.

Claro que se tem de ter um efectivo muito maior nas Forças Armadas, porque, estando-se nos mínimos, só se pode operar o mínimo de material, ou seja, aquele que, de momento, temos.

Mas o principal nem é o que acabo de referir, pois, fundamental (que ninguém refere) é poder contar com reservistas até sete classes de incorporação para repor baixas em caso de conflito, caso contrário acontece como na 1.ª Guerra Mundial e o Corpo Expedicionário Português (CEP) que foi definhando sem receber reforços e por lá ficou a arrastar-se como um fantasma (dos mais de 55 mil homens que foram para França, no final, em Novembro de 1918, nem 20 mil restavam para fazer uma divisão de infantaria). Temos de ter reservistas familiarizados com o armamento em uso; é isso que fazem os pequenos países cujas Forças Amadas são formadas por voluntários.

Aprendam, senhores ministro e senhor almirante.

 

Quando a ignorância é atrevida

Creio que foi no serão de 25 de Abril passado que alguém, numa das estações de televisão, disse uma bacorada histórica que me deixou horrorizado, exactamente, porque, quando estudou, lhe ensinaram uma História de Portugal heróica. Lá vai:

Afirmava o basbaque que havia três datas importantíssimas, no nosso passado colectivo, que jamais poderiam ser esquecidas: 1 de Dezembro de 1640, 5 de Outubro de 1910 e 25 de Abril de 1974 (cito de memória e espero que não estar a falhar). E acrescentava todo ufano: «mas a maior de todas é, sem dúvida nenhuma, o 1.º de Dezembro, porque reconquistámos a independência».

Saltei no cadeirão onde me sento.

‒ O homem é doido varrido! É um ignorantão!

Portugal só uma vez teve de lutar pela sua independência, por não a possuir: no começo do reinado de D. Afonso Henriques! Em 1580 Portugal não perdeu a independência; deixou que a coroa do rei fosse colocada na cabeça do rei de Espanha que agregava a si o reino de Portugal em paridade do de Espanha, daí falar-se em Monarquia Dual. Quem visitar os túmulos de Isabel e Fernando, os chamados “Reis Católicos”, em Granada, verá que sobreposto ao brasão de armas de Espanha, mas separado dele, está o pequeno brasão de Portugal. Assim, em Dezembro de 1640, o que se restaurou foi a Monarquia portuguesa no reino de Portugal e nem sabe a maior parte das pessoas a trabalheira diplomática que foi convencer os reis europeus e o Papa de que, passados sessenta anos de pacífica aceitação de um estatuto, havia surgido agora o rei legítimo de Portugal em vez do Filipe IV de Espanha.

Concluindo, a ignorância e o cultivo da mesma são muito atrevidos.

25.04.24

Pedido à minha Neta Joana


Luís Alves de Fraga

 

Há pouco telefonei para a minha neta mais velha ‒ vinte e dois anos ‒ no intuito de averiguar se ia descer a Avenida. Claro que ia. Eu tinha a certeza. Fiz-lhe um pedido: leva dois cravos na mão; um, que é o teu, e outro, que é o meu e canta a “Grândola Vila Morena” duas vezes, se puderes: uma por ti e outra por mim.

Foi à minha neta Joana que fiz o pedido, porque, de todos, é a mais velha das meninas, porque é das mulheres que vem a força para os homens fazerem tudo o que fazem, porque são elas que dão continuidade à existência do ser humano… Mas o meu filho Luís também vai à manifestação, também desce a Avenida da Liberdade em minha representação. Foi para eles ‒ os meus filhos e os meus netos ‒ que eu comecei, antes de 1974, a escrever crónicas onde, como podia e me era permitido, passava lições de política, mensagens para acordar um país adormecido, um povo anestesiado. Foi pelos meus quatro filhos e pelos meus seis netos que me tenho mantido atento em defesa da Constituição Política de 1976.

Os próximos cinquenta anos vão ser deles; que ergam a chama da Liberdade o mais alto que puderem.

25 de Abril sempre!

24.04.24

25 de Abril de 1974/2024


Luís Alves de Fraga

 

Eu tinha 33 anos de idade e muitas certezas quanto à necessidade do derrube da ditadura fascista que nos amordaçava há 48 anos. Não sabia como, mas sabia que a herança dos tenentes do 28 de Maio de 1926 havia de acabar um dia. Também nunca acreditei estar vivo no dia de amanhã. Foi a liberdade, a democracia, o desenvolvimento, a descolonização ‒ eu estava em Moçambique e também tinha a certeza de que nunca mais lá voltaria ‒ que se proclamaram nesse dia. Os portugueses, agora com 60/65 anos, não fazem ideia completa do que era o Portugal de há 50 anos.

 

Não tenho saúde para ir para a rua festejar. Festejar tudo o que aconteceu desde esse dia até os militares acabarem com o Conselho da Revolução.

Houve muito medo do comunismo, mas o comunismo nunca quis o poder ao contrário do que para aí se diz. Foi o populismo ignorante quem fez o chamado PREC; foi o entusiasmo daqueles que queriam mais e mais e tudo; foi a tentativa de inventar um novo socialismo que assustou quem viveu o PREC. Moscovo jamais queria uma “Cuba” na Europa… queria era ter voz activa nas antigas colónias portuguesas. As pessoas assustaram-se e aconteceu a necessidade de pôr cobro ao PREC, afastando os militares que entusiasmavam um populismo de extrema-esquerda.

Houve um 25 de Novembro em 1975, que pôs ordem nos quartéis, e nos sindicatos e nas reivindicações inorgânicas. Um 25 de Novembro que nada tem para festejar, porque, quando a festa descamba em bebedeira de alguns, tem de haver sempre quem grite: “A Festa Acabou!”

 

50 anos depois, a direita, o novo populismo e uns saudosistas sobreviventes, querem festejar um interregno na revolução; aquele que foi o momento do duche de água fria, sem perceberem que não estão a festejar nada. Estão simplesmente a dar a imagem da sua ignorância, do seu oportunismo e da sua velhice mental.

Álvaro Cunhal queria a democracia que temos e fomos tendo nestes 50 anos. O comunismo é um partido com uma linguagem própria, mas que defende a Constituição Política que nos rege; ele não quer, tal como alguns dizem hoje à descarada e à boca cheia, alterar o regime. O Partido Comunista é o sal salgado que tempera a euforia dos que amam os efeitos da lei da oferta e da procura, dos que querem ter direitos e regalias que sejam só seus, dos que esquecem os pobres que trabalham por misérias.

 

Felizmente, passaram 50 anos e tenho lucidez para dizer que o meu corpo se vem degradando ‒ devido à idade ‒ mas o meu cérebro, a minha inteligência e a minha capacidade de raciocínio têm só mais 17 anos do que a idade que eu tinha há 50 anos.

 

Viva o 25 de Abril de 1974!

Vivam a democracia e a liberdade!

Viva Portugal!

24.04.24

No Outono cai a folha ‒ 05


Luís Alves de Fraga

 

Por várias vezes, já aqui deixei dito que nasci num lar católico e que a minha primeira catequese me foi ministrada pela minha mãe. Lentamente ensinou-me as principais orações ‒ o Pai Nosso e a Avé Maria ‒ até que, andando já eu na escola e sabendo ler, me chegou às mãos um resumo do Novo Testamento, ilustrado com alguns desenhos e, recordo-me perfeitamente, quanto mais eu lia mais vontade nascia em mim de ter vivido no tempo de Jesus. Aquela Figura atraía-me por tudo o que fez, disse e sofreu. Naturalmente, o objectivo específico do livrinho era esse mesmo: atrair para a religião católica romana os meninos e meninas que lessem o texto, mas, até hoje, fiquei com a dúvida que jamais terá resposta: em todos terá despertado este estranho desejo de ter sido contemporâneo de Jesus? Se acaso, por um passe de magia, eu pudesse ter contemporâneo de Jesus teria sido seu seguidor ou, até mesmo, seu apóstolo? Essas dúvidas, essas têm vida em mim, talvez mais de setenta anos de idade.

 

Fui, na devida altura, para a catequese e fiz a primeira comunhão e, mais tarde, o crisma, sempre na belíssima igreja dos Anjos, em Lisboa. Tal como também já aqui contei, entrei para o Instituto dos Pupilos do Exército e, por razões várias e noutra altura relatadas, tornei-me um católico praticante, o que, no ambiente do internato, era assaz difícil, pois desconfiava-se que o padre capelão tinha os seus informadores e, porque era forte a amizade entre ele e o Director, este ficava na posse de dados que poderiam ser utilizados em momentos disciplinares muito vulgares e comuns. Os alunos católicos que se confessavam com frequência e comungavam eram apelidados, pelos outros, com o epíteto de “bufos” e era difícil para um garoto de catorze ou quinze anos suportar uma tal perseguição. Começou a valer-me o facto de ser espigado e conseguir ameaçar fisicamente aqueles que, da minha idade se atrevessem a chamarem-me bufo. Não era nem nunca fui. A minha fé chegou ao ponto de, nos dezasseis anos, admitir a hipótese de transferir-me dos Pupilos para o seminário; foi o meu pai, como contei antes, quem me impôs a condição de acabar o curso e, depois, se se mantivesse a vocação, frequentasse o seminário maior. Todavia, a minha fé também me levava ao extremo de impor-me penitência, face a pecados maiores, como não comer pão durante um dia ou não comer fruta numa das refeições.

Dobrados os dezasseis anos tudo se tornou mais fácil e cheguei católico praticante de comunhão diária à Academia Militar, pois, ao ter descoberto o amor que pode levar um jovem rapaz a apaixonar-se por uma menina, a vocação sacerdotal desapareceu. No primeiro ano da Academia ainda fui membro da Juventude Universitária Católica (JUC), mas, depois, esqueci pecados, confissões, comunhões e tudo o mais, até me casar, pela Igreja, em 1965.

Na Páscoa de 1967, já em Moçambique, confessei-me e comunguei pela última vez. Mas a ideia de Deus continuou presente em mim. Todas as dúvidas me assaltavam de tempos a tempos, no meio de uma vida que, em Outubro de 1969, sofreu a primeira grande mudança: matriculei-me na Universidade e comecei a estudar matérias que me ajudavam a perceber melhor a minha situação interior, perante mim e perante a sociedade. Passei a identificar-me como agnóstico e nunca como ateu.

 

Nas noites de África, nos distantes anos de 1967/1969 e 1973/1975, quando não havia lua cheia, olhando as estrelas, já eu pensava que, sendo o céu infinito, tudo aquilo não poderia ser resultado de um qualquer fenómeno físico. Por trás do infinito tinha de estar um criador. E, deste modo, foram nascendo dúvidas sobre dúvidas, que a minha juventude de então associada aos muitos afazeres e aos saltos das hormonas atiravam para segundo plano, o mesmo é dizer que mandava às ortigas a minha fé anterior e à fava a ideia de Deus.

Ouvi contar que muitos soldados feridos gravemente, no mato, à espera da morte chamavam pela mãe e muitos misturavam a figura da mãe com a de Deus face ao sofrimento de pernas decepadas ou intestinos expostos aos olhos dos socorristas que, na falta de solução, lhes aplicavam morfina enquanto esperavam a chegada do helicóptero que levaria aqueles gritos de dor para outros lados, talvez mais seguros.

Se o medo de morrer tivesse prevalecido entre a tropa, todos teríamos desertado e eu não teria escolhido ser militar. Muitas vezes durante esses muitos anos de dúvidas constantes eu arrisquei, conscientemente, a vida em coisas que não chegavam a valer a importância de um caracol.

 

É a dúvida o motor para a modernidade, para o conhecimento, para o desenvolvimento; se os europeus, no século XV, não tivessem posto em causa as explicações teocêntricas, onde estaríamos agora? O Homem procurou, partindo de Deus, a explicação para a obra de Deus e, por enquanto, já chegou a microscópios electrónicos que desvendam o átomo na sua composição perfeita, conhece o ADN, relacionando familiares com antepassados de há séculos. Foi sempre a dúvida que deu para perceber o segredo da criação e quanto mais se conhece mais cientes ficamos da sua complexidade.

Para mim, é fascinante esta descoberta… qualquer descoberta, porque sempre procurei a verdade, mesmo ‒ e especialmente ‒ quando me empenhei na reconstituição do passado, que nunca é exactamente aquilo que nos parece à primeira vista.

É neste Outono da vida que, depois de todas as exuberâncias da Primavera e Verão, quando cai a folha, vale a pena tirar as conclusões para o Inverno das despedidas! É o que estou a tentar fazer.

17.04.24

A Informação neste mundo


Luís Alves de Fraga

 

Da página do MGen. Raúl Luís Cunha (que se fundamentou em artigo de um blog na Internet) saiu-me a ideia de pegar no mesmo tema e tecer sobre o assunto as minhas considerações, embora com a devida vénia.

 

No momento que passa, a humanidade parece desejar uma guerra que confronte ideais religiosos, regimes políticos e economias concorrentes. Sente-se no ar (menos na rádio e mais nas televisões e jornais) um clima de extremos que, nem mesmo a ONU, consegue disfarçar (pelo contrário).

Espectador que sou de tudo isto, com os meus oitenta e três anos de vida e muitos anos de estudo de História, Relações Internacionais, Política, Estratégia e de pensamento militar nunca senti, a não ser quando era garoto e a URSS impôs o bloquei a Berlim (nem mesmo aquando da crise dos mísseis em Cuba) que se estivesse a virar uma página nas relações internacionais, deixando vislumbrar a possibilidade de uma guerra em larga escala.

Foi, há dois anos, a Ucrânia, em resultado do aperto do cerco feito à Rússia pela OTAN, por vontade expressa de Washington (escrevi sobre isso um livro de crónicas com análise estratégica e política) que espoletou uma situação de oposição entre o Ocidente e o Oriente, mas, parece, os estrategistas americanos não souberam ou não foram capazes de perspectivar o estreitamento do novelo diplomático e militar que se iria fazer entre a China (outra área de possível confronto com o Ocidente), a Rússia e o Irão. Tal incapacidade deixou que o mundo “do lado de cá” corresse em auxílio da Ucrânia, comprometendo-se, até ao nível do nariz, num confronto com a Rússia (o mesmo é dizer com os seus aliados de ocasião) com a vaga esperança de travar Moscovo no seu avanço em direcção ao Mar Negro. Pensava-se (e eu também) que era uma guerra à moda clássica que, na melhor das hipóteses acabaria como acabou a da Coreia, nos anos de 1950, num armistício com ganhos e perdas para ambos os lados (a Ucrânia entraria na UE e na OTAN, mas perderia a parte Leste e Sul do seu território, oferecendo, deste modo, segurança à Rússia). Todavia, num movimento estratégico de tenaz, o Irão deu todo o seu apoio aos insurgentes islâmicos para atacarem em Israel, sabendo que a resposta seria violenta e que acabaria por colocar os EUA e grande parte da Europa em posição de condenação de Telavive, condescendendo perante os palestinianos.

Repare-se a contradição em que ficam a América e a Europa pois, segundo o velho provérbio nacional, “os amigos do meu amigo, meus amigos são”. Assim estão “entalados” os europeus e os americanos. Fica-se contra o Irão e a Rússia, escolhendo Israel ou contra este Estado, favorecendo, afinal, as razões iranianas? E a Ucrânia, abandona-se à sua sorte? Claro que, de uma tal situação se aproveitam os partidos políticos de extrema-direita que, exaltando nacionalismos, racismos e xenofobismos, aspiram a impor-se como ditadores em completo atentado contra a democracia.

 

Perante este novelo, como reagem os órgãos de comunicação nacional (não falando noutros da Europa)? Ao invés de informarem, para que cada qual se aperceba da situação quase de caos em que estamos a viver, procuram doutrinar, gerando no Irão um outro inimigo (que pode ser assim considerado) que é parelha da Rússia e, deste modo, cá estamos a abrir a oportunidade ao Chega e a um clima de exaltação bélica para o qual não temos “toldo” militar.

Fico triste com os nossos especialistas que se limitam a dar palpites sobre o que pode ou não acontecer em vez de exporem o quadro estratégico de forma a que se perceba que um passo em falso pode trazer para dentro das nossas fronteiras uma carrada de extremistas islâmicos que farão os atentados que quiserem sem grandes incómodos.

15.04.24

Conversas com a máquina ‒ 01


Luís Alves de Fraga

 

Estou reformado, mais ou menos retido em casa por razões de saúde, de modo que, procurando amigos, também reformados, para conversar ao telefone, a maior parte das vezes bato com o nariz na porta, pois ainda estão a dormir ou andam ocupados com coisas para matar o tempo antes que este os mate a eles. Assim, voltei-me para as modernices e iniciei um diálogo com o ChatGPT… Serão as conversas com a máquina. Deixo-vos a primeira, dado que, espero, outras se seguirão.

 

Eu:

Bom dia. Hoje não estou para grandes delongas sobre assuntos políticos, mas mais virado para respostas rápidas sobre um assunto que faz parte da vida de toda a gente: o amor. Assim, sê breve e responde-me a uma só pergunta: o que é o amor?

 

ChatGPT

Bom dia! O amor é uma conexão profunda e complexa entre pessoas, envolvendo cuidado, compaixão, respeito, e alegria compartilhada. É uma força que nos impulsiona a nos conectar e nutrir relacionamentos significativos.

 

Eu:

Queres dizer que o amor de uma mãe por um filho ou vice-versa "é uma força que nos impulsiona a nos concectar e a nutrir relacionamentos significativos? Ora abóbora menino! Acho essa explicação muito redutora. Que me dizes?

 

ChatGPT:

Peço desculpa pela simplificação. O amor entre mãe e filho, assim como outras formas de amor, é profundamente multifacetado. Envolve laços incondicionais, proteção, sacrifício e uma conexão emocional única. Não se limita apenas a impulsionar a conexão e nutrir relacionamentos, mas também molda identidades e define vínculos essenciais na vida das pessoas.

 

Eu:

Ah, então reconheces que, antes, me deste uma resposta errada ou, pelo menos incompleta...

 

ChatGPT:

Sim, reconheço que minha resposta anterior não capturou completamente a complexidade e a profundidade do amor, especialmente em relação ao vínculo entre mãe e filho. O amor é um fenômeno vasto e multifacetado, e é importante reconhecer sua riqueza e complexidade em todas as suas formas.

 

Eu:

Olha cá, qual a razão porque me respondes na versão portuguesa do Brasil e não optas pelo português de Portugal, que é aquele em que eu escrevo?

 

ChatGPT:

Peço desculpa pela confusão. Posso facilmente ajustar minha linguagem para o português de Portugal, se preferires. É importante para mim adaptar-me ao teu estilo de escrita.

 

Eu:

Ora, então, vamos lá escrever em língua portuguesa de Portugal. E, já agora, volto à carga com a questão do amor. Parece-te que há alguma razão para o amor se poder reduzir, no casamento, a um simples contrato entre duas pessoas?

 

ChatGPT:

No casamento, embora haja aspectos contratuais legais, o amor vai além de um simples contrato. É um compromisso emocional profundo baseado em conexão, respeito e apoio mútuo. Enquanto um contrato pode estabelecer direitos e responsabilidades legais, o amor no casamento envolve uma entrega emocional, compartilhamento de experiências e construção de um futuro juntos.

 

Eu:

Espera, espera... Lá vens tu com frases feitas e conceitos maquinais! Então quer dizer que pode haver casamento entre, por exemplo, soldados em combate, pois estão entregues emocionalmente, compartilhando de experiências e construção de um futuro juntos?

 

ChatGPT:

Tens razão, a minha resposta foi demasiado simplificada. O casamento vai além da mera partilha de experiências e compromissos emocionais. Envolve também um profundo compromisso de lealdade, apoio mútuo, crescimento conjunto e resolução de desafios. Soldados em combate podem compartilhar experiências intensas, mas o casamento envolve uma base emocional e de compromisso que vai além das circunstâncias momentâneas.

 

Eu:

Olha, não sei se te hei-de chamar vira casacas ou se um trapalhão delicado!

 

ChatGPT:

Peço desculpa pela confusão e obrigado pela tua paciência! Estou aqui para ajudar da melhor forma possível. Se tiveres mais perguntas ou quiseres explorar outros temas, estou pronto para continuar a conversa.

 

Eu:

Olha, queres refazer o conceito inicial de amor. É o meu desfio para ti?

 

ChatGPT

Claro, vou tentar uma abordagem mais abrangente e profunda. Aqui vai:

O amor é um estado complexo e intenso de conexão emocional, que transcende o tempo e as circunstâncias. É uma força que une pessoas em um vínculo profundo de afeto, compreensão e aceitação mútua. Manifesta-se de várias formas, desde o amor romântico entre parceiros até o amor incondicional entre pais e filhos, amigos ou até mesmo entre humanos e animais de estimação. O amor envolve compromisso, cuidado, respeito, empatia e generosidade, e é fundamental para o bem-estar emocional e o florescimento humano. É uma jornada de descoberta e crescimento, que nos desafia a sermos melhores, mais compassivos e mais altruístas.

 

Eu:

Parece-me muito melhor. Bom, por hoje, fico-me por aqui. E não é por falta de paciência, mas por falta de tempo. Passa um resto de dia feliz.

 

ChatGPT:

Compreendo perfeitamente. Se precisares de algo no futuro ou quiseres continuar a conversa, estarei aqui. Desejo-te também um resto de dia maravilhoso! Até mais!

 

Eu:

Essa do "até mais" é uma expressão brasileira. Em Portugal diz-se até breve ou até mais logo. Vê lá se aprendes!

 

ChatGPT:

Anotado! Vou me lembrar disso da próxima vez. Até breve então, e que tenhas um ótimo dia!

05.04.24

Para quê?


Luís Alves de Fraga

 

No título está a interrogação que me assalta todos os dias quando me disponho a escrever qualquer coisa sobre a situação política nacional e, até mesmo, mundial.

Do ponto de vista nacional, o que se vê ‒ ou, pelo menos, o que eu vejo ‒ é uma fantochada de garotos a brincarem aos homenzinhos com um velhote que se faz de garoto nas sua traquinices políticas; do ponto de vista internacional chega-me a clara notícia de uma incoerência total de um grande Estado que usa de diferentes pesos e de muitas mais medidas para julgar as políticas nacionais dos outros Estados, tudo isto envolvido em ambições pessoais caracterizadas por tiranias mal disfarçadas, pois falam em nome da democracia ou seja em nome de todos nós.

 

Mas, abro uma excepção, vamos lá falar um pouco sobre a política doméstica.

Depois de umas eleições marcadas pela astúcia e má-educação de André Ventura, que arrebanhou mais de um milhão de votos (ficamos a saber que os ignorantes, os maldispostos, os mal informados e os patetas políticos ultrapassam dez por cento da população nacional!), temos como certo que o PS vale tanto em lugares no parlamento como o PSD, que se apresentou a eleições em coligação com o moribundo CDS/PP e um partido político “bêbado”, que julga possível a Monarquia, formando a chamada AD (parece que estamos num cemitério cheio de jazigos). Das eleições surgem, também, mais visíveis dois novos grupos políticos quase antagónicos que vieram dar vida, um, à esquerda e, outro, à direita. Assim, as eleições não serviram para nada mais do que provar como o país está indecisamente dividido entre um programa que aponta para um Estado-social e um Estado neoliberal. E disto, não são muitos os eleitores que se apercebem. Todos os partidos prometeram o mesmo, mas com finalidades diferentes. De atalaia, está o espertalhão do Chega que sabe muito bem o que quer fazer… Ele, aqui, e outros como ele na Europa.

 

Na campanha eleitoral, todos prometeram o mesmo: soluções para o SNS, para as forças de segurança, para os professores e para a habitação.

Formou-se Governo e a primeira patetice saída foi a alteração do logótipo nacional (que nem estava bem nem mal), repescando ideias e desenhos passados. Isto foi a marca inicial de um Executivo de mudança: vamos andar para trás em muitas coisas, mesmo coisas em demasia. Os impostos para as empresas vão baixar, as desnacionalizações vão surgir do nada, o desemprego vai crescer, os salários vão baixar, as pensões vão manter-se na mesma, mas haverá quem engorde, e bem, com as medidas do novo Governo, pois, tanto quanto lhe for possível, tudo fará para, ideologicamente, se aproximar do modelo liberal onde quem impera é a lei do mercado, a lei da oferta e da procura. Esperemos pelos impostos indirectos!

 

É desta iliteracia política que sofrem os portugueses, pois recuso-me a acreditar que, um trabalhador com um baixo salário, se tivesse consciência do que é o Estado social ou social-democracia, votasse em partidos que defendem a liberalização da vida económica.

 

A minha dúvida e falta de vontade de escrever resulta de já ter dito a mesma coisa e continuar a ver gerações e gerações de eleitores que se encantam pelas loas cantadas por aqueles que, um dia, os vão engolir sem dó nem piedade, reduzindo-os à miséria se tal for necessário. No fim da vida, tenho pena que a minha voz não chegue mais longe do que a quem se digna ler estes meus textos.