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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

31.07.23

Outra vez, Francisco


Luís Alves de Fraga

 

O Papa vem a Portugal e gastam-se balúrdios de dinheiro para receber o homem que proclama a caridade e a virtude de dar tudo aos pobres. Os trabalhos executados fazem parte de um mau entendimento do dever de hospitalidade. Vamos olhar esta questão por esse prisma, está bem?

 

Quando eu era garoto e o médico ia lá a casa ver qualquer um de nós por estarmos doentes, recordo-me, a minha mãe, no fim da consulta, trazia sempre uma bacia com água morna, um sabonete e uma toalha de linho, que ia buscar às que estavam guardadas na gaveta do seu enxoval. Quando se fazia, lá em casa, um jantar de “mais cerimónia” saíam as bonitas toalhas de bom tecido com rendas ou bordados, vindas da mesma gaveta. Não se ia comprar nada de novo, usava-se o que de melhor havia e que não era comum utilizar no dia-a-dia.

Assim acontecia na minha casa ‒ casa de gente remediada ‒ como acontecia nas mais pobres e nas mais ricas: usar o que de melhor havia. E, provando esta regra de bem receber, conto para quem não sabe que nos jardins do palácio dos marqueses de Fronteira há uma parede repleta de cacos de boa loiça a recobri-la. Como e qual a razão de lá terem ido parar? Pois bem, foi a loiça que serviu, num almoço ou jantar, aquando da visita de um dos nossos reis ao palácio do marquês; se serviu ao rei, não podia servir para mais ninguém nela comer.

É uma extravagância a que se podia dar a nossa nobreza mais endinheirada. É que há tradições para pobres e para ricos! E não existe ninguém para perceber melhor isso do que o Papa Francisco. Deveríamos ter ido à “gaveta do nosso enxoval” buscar o que de melhor temos para fazer cá a Jornada Mundial da Juventude. Uma sólida colina de terra batida e consistente com um altar e sombra suficiente teria sido bastante para aquele que escolheu para nome papal o do santo para quem todos eram irmãos… até os burros! Depois, era necessário improvisar sanitários para os peregrinos e sombras onde fugir do dardejar dos raios solares, postos médicos para acorrer a doenças súbitas e segurança para evitar riscos desnecessários.

Dêem ao Papa oportunidades para sorrir, para poder soltar o seu sentido de humor, não lhe dêem aquilo de que está cansado: gastos inúteis a esconder misérias sociais. Quantos sem-abrigo se tiravam das ruas de Lisboa e do Porto se os milhões gastos fossem utilizados na construção de pequenos apartamentos para essa gente, esses irmãos de São Francisco?

 

Desde os nossos bispos aos nossos políticos ninguém percebe o gesto do lava-pés na Quaresma, esse gesto de humildade feito por Jesus, que beijou os pés dos apóstolos. Um gesto de humildade, mas também gentileza para com os hóspedes naqueles tempos. Coisas simples e sem aparato foi o legado de Jesus. Basta ler os Evangelhos. Foram os homens que encheram de poder, de riqueza e de soberba uma Igreja que se queria para os desprotegidos, para os perseguidos e para aqueles que acreditassem que um dia estariam ao lado de Deus.

 

Como militar, sempre embirrei com os comandantes das unidades que, aquando das visitas dos generais, mandavam pintar e alindar os quartéis. E nós, que lá estávamos todos os dias, não tínhamos direito a viver em sítios alindados?

Está tão mal sabida a lição de vida de Jesus!

24.07.23

Forças Armadas Portuguesas


Luís Alves de Fraga

 

Neste tempo de guerra na Europa, acho conveniente que sejamos capazes de perguntarmo-nos para que servem as nossas Forças Armadas e qual a credibilidade das mesmas em cenário de campanha.

Todos os dias, quando vou até ao Instagram, vejo referências e verdadeira propaganda às nossas Forças Armadas e, se calhar, tal como eu, muitos outros portugueses que as “seguem” naquela rede social, ficando com a sensação de que temos um aparelho militar de superior qualidade e com material, homens e mulheres suficientes.

Ora, estando afastado do serviço activo há muitos anos, mas mantendo contactos com quem ainda está nas fileiras, posso garantir que de pouco ou nada serve o que temos, se atendermos à finalidade de umas forças armadas. Comecemos por aí.

 

As forças armadas num qualquer país têm uma finalidade da qual decorre outra: garantir a soberania e defesa da nação quando sujeita a um ataque militar exterior. Para que possam exercer esta finalidade, as forças armadas devem ser credíveis através do exercício do poder de dissuasão, ou seja, de levar um possível atacante a pensar duas vezes sobre se valerá a pena o ataque.

As nossas Forças Armadas (o Exército, a Marinha e a Força Aérea) não satisfazem a nenhum destes requisitos: nem nos defendem nem dissuadem ninguém de nos atacar.

Desde que o serviço militar se tornou voluntário e profissional, o número de soldados nas fileiras é exíguo: desactivaram-se quartéis, outros estão em regime de ocupação mínima, atribuíram-se funções, antes entregues a militares, a empresas de segurança, deixaram-se envelhecer os sistemas de armas e os poucos modernos ou modernizados são insuficientes para cumprir qualquer missão de defesa ou de cooperação nas alianças a que nos obrigámos.

Sobre o número de efectivos, basta lembrar que o somatório dos elementos da Guarda Nacional Republicana (GNR) com os da Polícia de Segurança Pública (PSP) é maior do que o total das nossas Forças Armadas, facto que não satisfaz aos requisitos de qualquer lógica nem se justifica, porque, traduzido em palavras, isto quer dizer que os governantes em Portugal temem mais os seus concidadãos do que qualquer outra ameaça externa.

 

Se olharmos a existência das Forças Armadas do nosso país segundo uma perspectiva estratégica percebemos que os diferentes governos, depois de 1982, optaram por entregar a defesa nacional a dois tipos de aliança: à OTAN e à União Europeia, contando com a influência da ONU onde se dirimam certos conflitos. Assim, abandonou-se o sistema de recrutamento obrigatório (SMO), obrigando a uma presença nas fileiras da ordem dos vinte e quatro meses para, depois, se reduzir, primeiro para quatro meses de serviço e, de segida, para um sistema de voluntariado, integrando homens e mulheres.

Umas Forças Armadas deste tipo, em número reduzido, servem essencialmente como “artigo” diplomático, pois, são usadas pequenas parcelas para projectar Portugal no seio de alianças com efectivos militares exíguos ao serviço da ONU, da OTAN e da UE.

Admitindo que vou ser cáustico direi que tais forças armadas correspondem ao pelintra que, no Inverno, usa andrajos por baixo de um excelente sobretudo de marca internacional… Não lhe peçam para tirar o abafo!

 

Com a exigência da NATO para um aumento da quota do PIB destinado ao rearmamento dos países integrantes da aliança eu quero perceber como é que os nossos governos (presentes e futuros) vão “descalçar a bota” e, acima de tudo, como é que vão convencer os partidos políticos da oposição (seja ela qual for) assim como os portugueses quanto à necessidade de gastar dinheiro com aquilo que, vulgarmente se designa com certo desprezo, por “tropa”.

15.07.23

Quem beneficia?


Luís Alves de Fraga

 

Não vou ser longo nem exaustivo.

Recordando as minhas leituras de há sessenta e sete anos, da colecção Vampiro e dos mistérios sobre os assassinatos, ocorreu-me a frase de “arranque” de todas as investigações: quem beneficia com o crime? É por aí que vou seguir.

 

A descoberta de casos de corrupção, que envolvem políticos ou figuras a eles ligados e que o Ministério Público tem e deve investigar, altamente noticiados nos órgãos de comunicação social, que vivem essencialmente da publicidade e, por conseguinte, estão sujeitos às pressões capitalistas, politicamente a quem beneficia?

A resposta é simples: ao partido que se afirma por ser anti-sistema. Daqui teremos de concluir que a destruição da democracia resulta da própria democracia, beneficiando aqueles que a não querem. Isto implica uma acção democrática de primeira grandeza: descobrir todos os podres do partido que é anti-sistema para o desacreditar no momento das eleições.

Cabe aos líderes dos partidos políticos que aceitam e querem viver em democracia a definição de estratégias de ataque sobre aquele que é, de facto, o inimigo.

03.07.23

Jornalismo e verdade


Luís Alves de Fraga

 

Não creio que seja da idade, mas, ultimamente, tem-me cansado ver na televisão os telejornais e, em especial, os debates que se fazem sobre os assuntos da actualidade, na maior parte das vezes com pseudo especialistas (porque se os nossos especialistas em questões sociais e políticas têm aquele nível de conhecimentos, então muito mal vão as nossas Ciências Sociais!). Mas, parece-me, a insuficiência não está só no lado dos especialistas; ela atinge os jornalistas. É sobre estes que pretendo discretear um pouco.

 

Há muitos anos, o meu pai contou-me que, sendo ele repórter do jornal “Novidades” lá pelos anos 20 do século passado, o mandaram fazer uma entrevista a um professor que era, na altura, em Portugal, o mais conhecedor de física atómica e da teoria da relatividade. Ora, de física o meu pai, antigo seminarista, não percebia nada e, de átomos, menos ainda. Contudo, lá foi.

Claro que à primeira pergunta o professor imediatamente compreendeu que estava perante alguém completamente ignorante, mas como se havia comprometido a dar a entrevista, com a benignidade e a simplicidade dos que muito sabem, disse ao meu jovem pai: «O senhor não percebe nada do que me vem entrevistar, pois não? Vamos fazer o seguinte: empresto-lhe este livro, que é muito simples e explica muito bem o que é e do que trata a física atómica. Leia-o e depois venha cá, porque poderá fazer-me as perguntas com algum conhecimento de causa». O meu pai, em dez dias, “digeriu” o pequeno volume e lá foi fazer a entrevista, que correu lindamente e fez sucesso na redacção do jornal.

Hoje não há entrevistados assim, nem entrevistadores capazes de ter a humildade de dizer que nada sabem de determinado assunto. A velocidade a que se vive obriga os sabedores a não perderem a oportunidade de serem vistos e conhecidos e os ignorantes a terem tempo para aprenderem mínimos aceitáveis.

 

Há dias, já não recordo onde, vi um vídeo onde o velho jornalista Adelino Gomes falou sobre a ética da sua profissão e disse algo que achei muito interessante: o jornalista tem uma missão, procurar a verdade. Pelo menos, a verdade do momento.

É este princípio que parece andar muito arredado, nos tempos que correm, das redacções das estações televisivas, pois os condutores de entrevistas e de debates partem para a sua missão com opiniões formadas sobre aquilo que estão a fazer. Dito de outra maneira, não querem averiguar a verdade, mas desejam ver confirmadas as suas certezas.

Eu que vivi os meus primeiros trinta e três anos em regime de ditadura recordo bem que, nessa altura, era a censura quem não deixava dizer-se a verdade ou averiguá-la, porque os jornalistas, sempre que podiam, tentavam explorar os temas no sentido de esclarecer a opinião pública. Está claro que me reporto aos jornalistas que não estavam enfeudados ao regime, porque os que alinhavam com a ditadura tinham atitudes muito semelhantes às dos que hoje querem ver aprovadas as suas prévias conclusões.

Face ao que disse, só posso concluir que a grande maioria dos jornalistas de televisão, em especial os das estações que têm serviço noticioso, não fazem jornalismo, porque fazem propaganda, porque se deixam amarrar à vontade e à linha ideológica do capital que está por trás da estação televisiva ou dos directores e administradores no caso da estação estatal.

01.07.23

O que eu sinto


Luís Alves de Fraga

 

Nos seus sessenta e sete anos de idade Christine Madeleine Odette Lagarde pode ter sido bonita, mas hoje, para o meu gosto, é uma mulher que, como tal, não me desperta a mínima curiosidade. Vale como executiva, como “cabeça”, como política, mas, por mais que vista segundo a moda dos melhores costureiros do mundo e use os melhores sapatos e as mais caras malas que se fabricam, ela é a cara daquilo que é: alguém que marca objectivos e, por mais duros que possam ser para toda a gente, não transige nem se desvia do seu caminho.

 

Ora, é exactamente porque vive de excelentes remunerações (que pagam a sua capacidade decisória) que Lagarde tem uma postura de incapacidade de compreensão do que é a miséria, a pobreza e a vivência com dinheiro contado até aos cêntimos. Olho-a na televisão, nas fotografias de jornais e revistas e vejo a face de uma mulher seca, endurecida, empedernida nos seus princípios, nos seus axiomas, nas suas convicções qual general que dorme uma noite tranquila depois de dar ordem de marcha aos seus exércitos para uma sangrenta e mortífera batalha.

A senhora Christine Lagarde, advogada de formação, militante no partido “Os Republicanos”, de matriz neo-gaulista com vocação democrata-cristã e liberal conservador, personifica bem a figura do general Charles de Gaulle (recordo sempre a anedota que se contava, em francês, e traçava perfeitamente o perfil do militar e político, a qual, traduzida, rezava assim: «Francesas e franceses, vós tendes merda até ao pescoço, mas como eu sou mais alto do que vós tenho só até aos joelhos») cuja tendência autoritária o conduziu ao Maio de 1968, que o derrubou para sempre dos palcos da política francesa, europeia e mundial. E não é por acaso que estabeleço esta comparação. Realmente, o general de Gaulle queria a grandeza da França numa Europa em reconstrução, custasse o que custasse, tal como Christine Lagarde quer a grandeza do ideal liberal, defendendo as economias que praticam essa ideologia social e económica. Para ela, o mercado é o grande regulador da vida das sociedades, reservando ao Estado um papel insignificante no plano económico. A senhora Lagarde é coerente com os seus princípios e, por isso, não gosta de pagar impostos (enquanto foi directora do FMI recebeu anualmente trezentos e oitenta mil euros limpos, mais algumas regalias), donde, parece, dá pouca importância ou nenhuma ao estado social como metodologia política e económica.

 

Depois de ter passado pelo FMI onde deu boas provas do modo como vê o mundo (e nós, portugueses, sentimos bem o peso da mão dela durante o período da troika) Christine Lagarde, agora à frente do BCE, defende o aumento dos juros para combater a inflação, através da retracção da capacidade de compra. Numa frase simples: que morram de fome os mais débeis e sobrevivam os mais poderosos.

Esta mulher tem estampado no rosto, na postura e no andar aquilo que é: uma figura pétrea. É isso que eu sinto.