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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

28.05.23

Visões da Guerra e das Independências 1961 1975


Luís Alves de Fraga

Há alguns dias dei conhecimento aos meus amigos de que ia fazer uma conferência, organizada pela Comissão Portuguesa de História Militar, nas instalações da Biblioteca do Exército, integrada no ciclo de palestras subordinadas ao tema "Visões da Guerra e das Independências 1961 1975".

Foi gravada e posta no You Tube. Deixo-vos aqui o enderenço onde a podereis ver e ouvir.

Espero que tenham paciência para me ver e ouvir.

https://www.youtube.com/watch?v=6ScaZkz6bEA

25.05.23

Inteligência Artificial ou o fim da imaginação?


Luís Alves de Fraga

 

Estamos a começar a viver o fim da imaginação com esta coisa nova a que se chama Inteligência Artificial (IA). Apavora-me o que está para vir, porque qualquer ignorante pode passar por medianamente sabedor e inteligente. A fiabilidade dos valores é coisa morta e a avaliação de personalidade e de carácter são coisas que só cara-a-cara se poderão classificar. Tudo o que for escrito pode não valer absolutamente nada.

Não acreditam? Então, vou dar-vos um exemplo, através de dois textos: um, escrito por mim (à balda) a pedir a um programa de IA para escrever uma carta e, outro, a carta escrita automaticamente e em instantes pelo tal programa.

Vejam e pasmem.

 

«carta de amor para uma jovem de 22 anos que acabou o curso de biologia dando-lhe conhecimento de que tenho o curso de engenharia informática e quero ir para o estrangeiro, possivelmente os EUA ou para qualquer país que tenha programas aeroespaciais gostaria de que ele depois do nosso último encontro íntimo se dispusesse a casar comigo e acompanhar-me na aventura da vida não só por causa da sua beleza física mas também por causa da sua inteligência e ambição científica. Podemos casar em agosto porque já estou a ser contactado por empresas que me oferecem emprego a partir de setembro.»

Resposta:

Meu amor,

Escrevo esta carta para expressar o profundo amor e admiração que sinto por você. O momento em que você concluiu seu curso de biologia e compartilhou seu conhecimento comigo foi verdadeiramente inspirador. Fiquei encantado ao saber da sua conquista e perceber o quão brilhante você é.

Ao mesmo tempo, gostaria de compartilhar algo importante com você. Sou formado em engenharia informática e estou considerando a possibilidade de buscar oportunidades no exterior, principalmente nos Estados Unidos ou em qualquer país que tenha programas aeroespaciais. Acredito que essa experiência pode ser uma grande aventura para nós dois.

Após o nosso último encontro íntimo, fiquei ainda mais convencido de que você é a pessoa com quem quero passar o resto da minha vida. Não é apenas a sua beleza física que me atrai, mas também sua inteligência e ambição científica. Sinto que estamos conectados em vários níveis e compartilhamos sonhos e objetivos semelhantes.

Considerando minhas perspectivas de emprego, estou sendo contatado por empresas que oferecem emprego a partir de setembro. Com base nisso, gostaria de propor algo a você. Caso você esteja disposta, poderíamos nos casar em agosto. Isso nos permitiria iniciar essa nova fase de nossas vidas juntos e embarcar na aventura do desconhecido lado a lado.

Entendo que é uma decisão importante e que isso afetaria significativamente nossas vidas. Por isso, gostaria de discutir todas as possibilidades e preocupações que você possa ter. Quero que estejamos em sintonia e que nossos corações estejam alinhados antes de tomar qualquer decisão.

Meu amor, acredito que juntos podemos enfrentar todos os desafios que surgirem em nosso caminho. Nossa paixão e desejo de crescimento pessoal e profissional são um combustível poderoso para enfrentar os obstáculos que encontrarmos. Sei que com você ao meu lado, seremos capazes de superar qualquer dificuldade e alcançar nossos sonhos.

Espero que você considere essa proposta com carinho e que possamos conversar sobre nossos planos futuros juntos. Estou cheio de emoção e esperança para ver onde a vida nos levará. Você é o meu grande amor e estou disposto a enfrentar todas as adversidades para construir uma vida maravilhosa ao seu lado.

Com todo o meu amor,

[Seu nome]

 

Claro, saiu na versão portuguesa do Brasil. Agora era só adaptar para a língua que aqui usamos em Portugal.

Juro que as minhas crónicas vão continuar a ser o fruto do meu esforço intelectual. Contudo, nada me garante que as crónicas de alguns jornais e revistas não sejam, no todo ou na parte, resultado do “esforço” de um programa de IA.

Poderemos acreditar em tudo o que lemos?

22.05.23

Um computador, um doutoramento ou um segredo de Estado?


Luís Alves de Fraga

 

Bom, deixemo-nos de merdas e agarremos o boi pelos cornos: o que todos os partidos, com excepção do PCP, querem é que o Presidente da República dissolva o parlamento e acabe com o governo do Costa.

Mas, parece-me, nem o Costa quer deixar o governo nem Marcelo o quer mandar embora. Este, vingativamente, vai criticar com severidade as decisões do Executivo, mas vai aprová-las, nem que seja para chatear o seu antecessor, o ressabiado Cavaco Silva, que, contra a opinião circulante por causa da memória fraca, só fez trapalhadas e vigarices com o dinheiro da, então, CEE. Vamos recordar só o mais evidente? Entre uma boa rede ferroviária e autoestradas optou pelas segundas, porque ajudaram a encher os bolsos dos amigalhaços e não adiantaram nada para a economia; construiu a “mastaba” em Belém que não serve, em rigor, para nada; colocou corruptos à frente de ministérios e apoiou bancos trafulhas. Creio que chega!

 

Voltando ao assunto, tudo vai continuar até que se acalme a tempestade artificial que se gerou à volta de uma senhora que saiu do Governo por causa de uma indeminização principesca da TAP. E é aqui, ou seja, na TAP que bate a questão. Questão que já fez várias vítimas, sendo a mais mediática de momento um assessor do ministro das Infraestruturas, único homem que sabia dos negócios “TAPIANOS” dentro do Ministério.

Reparemos no ridículo da questão, pois parece que toda a gente neste país perdeu o tino ou o sentido do equilíbrio.

 

Na ânsia de encontrar caca para chafurdar e espalhá-la em frente da ventoinha, chega-se ao ponto de dar importância ao “despedimento” de um assessor do ministro, coisa que passaria despercebida se não andasse toda a gente desejosa de criar uma crise onde ela ainda não existe. Vejamos.

Sem saber o porquê de tudo isto, o ministro “desfaz-se” de um dos seus assessores (partidariamente independente) de um momento para o outro. E porquê? Simples: mais uma vez, o pessoal do Ministério, chamado a depor na Comissão Parlamentar de Inquérito, ia mentir. MENTIR. Mentir, porquê? Porque não se queria assumir que tinha havido uma ou duas reuniões com a francesa (que só fala inglês… Gaita, neste país já ninguém é capaz de articular o verbo “avoir”?) que mandava na TAP. E porquê? Porquê o quê? Porque é que se não queria que se soubesse que tinha havido reuniões preparatórias? Simples, porque está em causa, novamente, a reprivatização da TAP. E o que é que uma coisa tem a ver com a outra? Simples: é que desses negócios quem sabe tudo e tem tudo anotado no computador é o tal Frederico, assessor do ministro que não sabe nada, mas está disposto a fazer o negócio que alguém já imaginou e que vai render alguma coisa (pode ser dinheiro ou um belíssimo cargo internacional ou algo que alguém ou muitos alguéns quer receber no acto ou depois do negócio feito).

 

Será assim? Ou será que, afinal, é o tal Frederico que iria ganhar com o negócio por estar a dar informações a alguém a quem interessa muito ficar com toda a TAP ou com uma parte dela? O computador tinha respostas. Lá isso tinha. Tinha tantas que o Frederico até ia tirar fotocópias a altas horas da madrugada, no seu gabinete, no Ministério!

Mas nós somos parvos ou somos o quê? Então o “inteligente” assessor tirava fotocópias no Ministério! Não tinha uma porra de uns euros para comprar uma “pen” e copiar aquilo com que queria fazer negócio? Será que, antes de ser demitido ele não poderia sair livremente com o seu computador de serviço, trazê-lo para casa e “fazer a espionagem” no recato do seu escritório?

 

Volto ao início, deixemo-nos de merdas!

O assessor está a fazer o doutoramento e tem no computador de serviço toda ou uma grande parte da sua tese e do material de pesquisa para a mesma e quis, tão-somente, face ao inesperado despedimento, tirar do computador o seu riquinho trabalho académico. Por isso, ia fazer fotocópias, à noite, para o gabinete… Escusava de gastar dinheiro do seu bolso!

Claro que, face ao despedimento inesperado (podia lá ele imaginar que o ministro queria que se mentisse à Comissão Parlamentar e que, face à discordância de tal atitude, a chefe de gabinete fosse emprenhar o Galamba contra ele, que é quem mais sabe do assunto no Ministério?) havia que salvar também, para além da tese, alguns elementos que lhe pudessem servir de segurança futura, porque com Ali Babás destes nunca se sabe o que pode acontecer!

 

E a oposição, carregada de outros Ali Babás, toca de aproveitar e fazer de toda esta trampa, uma trampa muito maior que justifique perante o Zé Pagode a dissolução da presente Câmara Parlamentar, ajudando o senhor Presidente da República a afundar mais este pobre país!

 

Eu sou do tempo da ditadura, mas, também, das brigas das peixeiras nos mercados… Aquilo é que era um fartote de palavrões, de má-língua e de lavar de roupa suja! A velha Praça da Figueira transferiu-se para o vetusto palácio de S. Bento onde funcionam os deputados…

21.05.23

A água


Luís Alves de Fraga

 

É por causa do efeito de estufa, dizem os entendidos nas questões climáticas, que se faz sentir a falta de água em certas regiões da Terra. Pois seja.

Por cá, em Portugal, e, parece, por toda a Europa, ensina-se, logo nos primeiros anos de escola elementar, a poupar água e a combater a poluição. Que bom!

As nossas crianças chegam a casa e explicam aos pais e aos avós como se deve poupar água, como se deve lavar a loiça sem desperdiçar o precioso líquido, como se deve fazer a separação dos lixos para permitir a reciclagem e termos, no futuro, uma Terra para todos.

 

Tudo isto está muito certo, mas a verdade é que a água não se perde, porque não passa da camada atmosférica, nem das redes freáticas do subsolo. A água é sempre a mesma e foi sempre a mesma. Evapora-se, torna-se nuvem, depois em chuva, que pode ficar gelada ou líquida; uma vez líquida ou cai no mar ou cai em terra ou cai nos polos ou nas montanhas geladas. Ela está cá; pode é não estar nos sítios devidos e não servir onde deve servir. Assim, há que pensar num sistema que torne a água acessível a todos, sem termos de esperar que seja a Natureza a dá-la de borla como acontecia antes das chamadas alterações climáticas.

Os Homens têm de estudar processos de trazer a água de onde ela existe em excesso para as zonas onde falta, usando para isso ou a dessalinização da água salgada ou canais ou “águadutos” (aquedutos) enterrados, submarinos ou aéreos.

A par da campanha para se acabar com a poluição tem de haver a campanha de distribuição mundial da água, pois do modo que se propagandeia o consumo excessivo do precioso líquido não se vai chegar a lado nenhum e ficamos com a ideia de que a água, um dia, acabará.

A água só será um bem finito se for poluída de forma a não poder ser recuperada e, mesmo assim, tenho sérias dúvidas da sua finitude. Realmente, pode tratar-se a água, mesmo poluída para a tornar potável… Evidentemente, deixa de ser um bem quase gratuito para passar a ser um bem com elevado valor económico.

 

Acima de tudo, o problema da água é um problema de egoísmo e comodismo humano, nada mais.

12.05.23

Trabalho e imigrantes


Luís Alves de Fraga

 

Felizmente já levo oitenta e dois anos de vida e uma memória razoável. Não esqueci o Portugal de antes de 1974 e de como se vivia entre as classes pobres. Talvez um esquisso seja conveniente para recordar.

 

Em 1973 e antes, nos grandes latifúndios do Alentejo, quem fazia a monda do trigo, a ceifa, a apanha da azeitona e todos os trabalhos do campo eram os alentejanos, dos mais novos aos mais velhos, eles e elas. Era gente pobre que ganhava para comer no dia-a-dia. Era gente que nunca tinha provado um bife de vaca e raras vezes havia sabido o que era um bolo doce ou um chocolate e, muito menos um gelado. Gente que sabia ler mal e pouco ou nada, que vivia em tugúrios, que poucas vezes tinha ido a um médico.

Nas Beiras, em Trás-os-Montes, no Minho, no Ribatejo ou no Algarve, nas aldeias e vilas, era pouco diferente: os trabalhos braçais, pesados e mal pagos entregavam-se ao bom povo português, que andava de cerviz baixa a mando dos mais poderosos e ricos. Um soldado da GNR ou um guarda de polícia era uma autoridade, geralmente oriunda dos meios pobres que, vestida a farda e investido do poder, reprimia sem dó nem piedade os da sua origem. Ai de quem pusesse em causa as ordens do patrão; esperava-o o calabouço, o tribunal e a pesada acusação de ser comunista. Tudo o que se tinha ou não tinha devia-se à vontade de Deus Nosso Senhor e cada uma tinha de carregar com a sua cruz: uns gozando a vida sem preocupações e outros morrendo de cansaço e desalento.

Ser empregado de escritório era um excelente trabalho, aliás, qualquer trabalho, que não tivesse de exercer força braçal, era óptimo, ainda que mal pago.

Poucos, muito poucos, se atreviam a refilar, a dizer mal do governo, dos ministros, dos chefes, dos patrões, porque a força da autoridade do Estado era chamada para colocar ordem onde houvesse desordem. O poder não se discutia. Algumas vezes, embora raras, houve movimentos de massas contra a ordem imposta, mas muitos pagaram elevados preços por tais desafios: a prisão, a demissão de empregos, a constante perseguição. Alguns, e não foram poucos, desistiram de Portugal e emigraram para países onde podiam gozar de liberdade ou, pelo menos, de alguma liberdade; foram para França, para o Brasil e raros para os EUA e para Inglaterra.

 

Os únicos imigrantes que por cá existiam ‒ e começaram a chegar em quantidade ainda no século XIX ‒ eram os galegos, porque a Galiza era uma região de Espanha sobrepovoada e pobre, donde alguns, os que conseguiam arranjar uns cobres para pagar a viagem, demandavam as Américas e, quem não tinha mais do que braços e pernas para alugar (no dizer de Manuel Alegre) demandava o Minho e, depois, as grandes cidades em busca de qualquer trabalho, nem que fosse carregar mobílias às costas para fazer mudanças ou entregar em mão uma carta urgente; os galegos estavam cá para isso. Daí o dito popular, «trabalhar que nem um galego».

 

Pois bem, percebido, a traço bastante largo, o que era a vida neste país antes de 1974, há que olhar para o que é hoje.

São poucos ou nenhuns os jovens dispostos a, despois da escolaridade obrigatória, pegarem no cabo de uma enxada e disporem-se a cavar a terra para dela retirar alimento, ou apanhar azeitona como se fazia há sessenta anos. Procuram empregos considerados menos servis; elas já não estão para ser serviçais domésticas ‒ criadas, como então eram chamadas ‒, preferem o balcão de um supermercado ou cabeleireiros ou manicures, esteticistas, ajudantes de farmácia, enfim, outros trabalhos menos estigmatizantes. Portugal “europeizou-se”, saiu do poço do Terceiro Mundo onde esbracejou nos anos da grande industrialização e passou a ser procurado por gente das antigas colónias e por brasileiros, tentando a sorte de aqui encontrarem a plataforma que os poderia lançar para os grandes mercados de trabalho da Europa. Mas, agora, está a encher-se de gente mais pobre, que vem do Oriente em busca de melhor condição de vida.

 

Os “novos ricos” desta República de quase miséria, esquecendo que há cinquenta anos estavam no cu da Europa e por aqui só havia merda disposta a fazer os trabalhos mais humildes e grosseiros da França, da Alemanha, do Luxemburgo, reclamam contra a entrada daqueles que os tiram da enxada, da foice ou da posição de vergados perante o peso do trabalho; reclamam contra esta imigração de desgraçados que por cá quase nunca são respeitados como seres humanos.

Para esses, na minha opinião, o degredo com grilhetas nas pernas, é coisa pouca. Contudo, podem esperar ‒ eles e nós ‒ pois tempos virão em que, do Oriente, nos chegará a vingança da exploração imposta por um continente, o europeu, que já nada tendo como riqueza, se dedicou a explorar as riquezas alheias.

10.05.23

Marcelo e a praça pública


Luís Alves de Fraga

 

Já começou. Marcelo Rebelo de Sousa, após a aprovação de um decreto sobre o ingresso nos quadros do Ministério da Educação de uns milhares de professores, veio fazer críticas públicas à modéstia da solução encontrada pelo Governo, segundo diz o «Expresso curto» de hoje (reproduzo parte: «imbuído da sua nova faceta mais crítica das posições governamentais, apressou-se a explicar que também não foi ‘tido em conta’ na decisão final, abrindo assim mais uma fissura na relação com São Bento»).

O presidente da República parece estar a ser a voz da oposição. Não se julgue que se trata do cumprimento da promessa feita há dias. Não. Trata-se do começo de um acumular de dados que vão servir para derrubar a maioria e o Governo, numa dissolução da Assembleia da República, que encontre apoio na total insatisfação popular contra o partido socialista e contra António Costa.

Marcelo Rebelo de Sousa veio mostrar publicamente o que eu já tinha ouvido dizer centenas de vezes: é vingativo e adora intrigas (não me esqueço, alguns anos após o 25 de Abril, de ele ser acusado, na comunicação social, de «criador de factos políticos»; onde não existia nada, ele, como jornalista, «fazia acontecer» alguma coisa que punha a classe política a discutir e a opinião pública a tomar partido). Não foi só a sopa!

 

O presidente da República é um caso de estudo para os psicólogos, pois apresenta várias facetas comportamentais que são literalmente opostas entre si. Se a simpatia e a afabilidade não são «construídas», por conseguinte, fruto de uma personalidade cínica (julgo que não, pelo menos na grande maioria das vezes), com certas atitudes públicas percebemos quanto pode ser mesquinho e vulgar na antipatia.

Já aqui deixei dito, há anos, que Marcelo Rebelo de Sousa se deveria ter ficado pelo primeiro mandato, pois a fasquia da popularidade já estava tão alta que jamais alguém, no mesmo cargo, a poderia ultrapassar. Quis fazer o segundo mandato e está a degradar uma imagem que, tendo atingido o zénite, no meu entender, cairá à vertical, deixando à vista um presidente a quem ninguém vai querer colar-se.

Ele não tem o recato dos gabinetes onde se fala baixo, se olha de frente, onde se batuca com os dedos no tampo da secretária e se escolhem as palavras para definir posições e marcar terrenos. Não tem nada disso. Ele é o professor que diz o que pensa e lhe vem à cabeça na sala de aula onde se julga o mais iluminado de todos os seres presentes; o professor que «sacaneia» o aluno que o tenta encurralar com perguntas difíceis ou comprometedoras do seu saber; o professor que cumprimenta todos os alunos nos corredores, na esperança de ser considerado o mais «porreiro» dos mestres; o professor que, no meio dos seus pares, fala alto para dar nas vistas e o incensarem como o mais «seguro». Marcelo é tudo isto e mais comentador de todas as tricas, porque os professores, em especial os do ensino superior em Portugal e na nossa «melhor» tradição académica, são «sempre» os mais sabedores, os mais cultos, os mais bem informados, os menos contestados e os mais ouvidos dos homens, porque, no fundo, lá bem no fundo, têm um ego imenso só comparável ao dos grandes actores que se alimentam das palmas da assistência. Marcelo fez deste país uma grande sala de aula e de todos nós (governantes incluídos) os alunos atentos que lhe alimentam a vaidade do seu imenso saber e da sua inultrapassável sagacidade.

 

Marcelo vai acabar mal o segundo mandato, mas, pior, é que pode bem arrastar consigo o país já que, entre nós, não existe uma cultura política capaz de separar o trigo do joio e de escolher os mais capazes para nos governarem levando-nos a portos seguros.

Queira Deus que eu me engane.

04.05.23

De Belém para S. Bento


Luís Alves de Fraga

 

As tricas têm feito o prazer da nossa comunicação social, dos nossos políticos mais medíocres e de um povo que julga as relações institucionais semelhante ou iguais às relações pessoais.

Ontem vi no canal RTP 3 a entrevista, já tardia, com o Dr. Manuel Magalhães e Silva, advogado e assessor, durante dez anos de mandato, do presidente Jorge Sampaio.

Que extraordinária lição de política! Com uma calma olímpica, mostrou como foram e deviam ser os comportamentos dos presidentes da República: sem aparatos, sem exaltações públicas, com recato, sem vaidades balofas. Tudo o contrário de Marcelo Rebelo de Sousa.

 

Fiquei a pensar e revi hoje de manhã a entrevista. Sem papas na língua, o entrevistado caracteriza o actual presidente como sendo um populista e dotado de falta de recato político e de sentido de estado. O que se passa no palácio de Belém, entre presidente e primeiro-ministro, não é para ser comentado na rua. A política nacional e do Governo não é para ser chocalhada na praça pública pelo presidente da República.

Realmente, há sete anos, tudo começou pelas “selfies”, mas, decorrido todo este tempo, acabou na discussão de rua por parte de Marcelo. Foi, de facto, ele quem abriu as portas ao destempero da comunicação social, porque ele próprio não soube temperar-se através da chamada política de influência. Não, ele quis e quer ser a “estrela da companhia”, dar as novidades, comentar os actos, deitar os foguetes e, até, apanhar as canas.

 

Não votei nele em nenhuma das eleições, porque o achei sempre mais “homem de jornal”, mais professor, do que presidente. Algumas vezes já aqui, neste mesmo sítio, o tenho elogiado, mas, perante a exposição de Magalhães e Silva, que deu da forma como se faz a política e, em especial, a de bastidores, uma lição prática com exemplos passados, houve como que uma epifania e vi, com olhos de ver, o presidente Marcelo.

O que irá dizer logo, pelas oito da noite, não sei nem me interessa, mas não fará mudar o meu entendimento do presidente e do homem. Ele é perigosamente impulsivo e aterrador no caminho das distorções e enviesamentos das situações e, se todo o quadro presente é já de si muito delicado e complicado, vamos ver o que vai fazer perante a posição de força usada por António Costa no exercício das suas prerrogativas de primeiro-ministro.

Vamos ver.