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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

28.02.23

Preconceitos


Luís Alves de Fraga

 

A vida em sociedade está cheia de preconceitos. Rodeiam-nos sem que tenhamos plena consciência da sua existência. Fazem parte do nosso quotidiano e não damos por eles.

Cresci absorvendo alguns, talvez muitos, mas, foi depois de ter frequentado, no Instituto de Ciências Sociais e Políticas, nos já muito distantes anos de 1970, a cadeira de Antropologia Cultural, que, em breve tempo, fui perdendo os mais significativos daqueles que me tolhiam. É que, estudando a fundo como eu estudei, percebemos como havemos de desmontar os preconceitos, que são o fruto da cultura que interiorizámos ao longo da vida.

 

O mais terrível de todos os preconceitos é aquele que opõe homens contra homens, sociedades contra sociedades: o racismo, ou seja, o julgar que há grupos humanos que são superiores ou inferiores a outros por causa da cor da pele.

Na espécie humana não há diferenças nenhumas, porque “funcionamos” todos da mesma maneira: o coração bate de forma igual seja branca ou amarela a cor da nossa pele, sejamos naturais da Austrália ou de Nova Iorque, do Quénia ou da Amazónia. O ser humano, como “recipiente”, é igual em todas as latitudes. A única coisa que varia no Homem é “o que lhe metem dentro”, é o que reside na sua cabeça sob a forma de ideias.

Ora, esse conteúdo não vem da Natureza, pois é proveniente da sociedade onde o ser humano cresce e aprende os princípios comportamentais. Um indígena australiano não pensa nem age como um natural de Nova Iorque, nem como o do Quénia e menos ainda como o da Amazónia, porque cada sociedade tem os seus padrões de comportamento, o mesmo é dizer, os seus padrões de cultura. Um nova-iorquino da classe social mais educada e afortunada não pensa nem se comporta como um rico agricultor da Índia. É à forma de pensar e de fazer os objectos que usa, bem como à forma de se comportar que se chama, em Antropologia, Cultua.

 

Aquilo que para a maioria das pessoas marca diferenças entre os seres humanos resulta, afinal, do meio e dos princípios que lhe foram inculcados pela sociedade onde cresceu ou onde se inseriu. A religião, os alimentos que se comem, a maneira de os comer, a forma de se sentar, a altura da voz quando se conversa, a atenção que se presta aos outros, a caridade, a urbanidade no tratamento com o seu semelhante, o modo como se anda vestido, a atenção que se dá ao mundo exterior, os conhecimentos que se adquirem na escola e nos diferentes graus de ensino, os objectos que utilizamos no nosso dia-a-dia para fazer tudo o que fazemos são manifestações da nossa cultura. Tudo isto varia de localidade para localidade, de país para país. Assim, pode dizer-se que toda a cultura é um preconceito, ou seja, resulta de ideias e comportamentos pré feitos que nos são impostos pelos nossos pais, pelas nossas famílias, pelas nossas escolas, pelos nossos amigos, pelas nossas igrejas, pelos livros, filmes e músicas que lemos, vemos e ouvimos, enfim, pela ambiência onde estamos inseridos.

Deste modo, o racismo resulta de se admitir que o aspecto do “recipiente” determina o seu “conteúdo”. Daqui resulta que uma criança negra criada no seio de uma família branca e alentejana, no Alentejo, quando atingir a idade adulta não é igual a um adulto negro nascido e criado numa cidade de Angola, por exemplo; um, será alentejano e o outro será angolano.

Percebe-se, por conseguinte, que o racismo existe, porque temos receio da cultura do outro. O corolário lógico desta dedução é que, quanto mais as diferentes culturas se conhecerem mais percebem que não têm que se temer, não têm que se recear nem têm de se opor.

 

A História está cheia de preconceitos, porque está cheia de lutas entre culturas diferentes; culturas que não se querem entender, que não querem cooperar, mas preferem opor-se.

Quando formos capazes de perceber que comer gafanhotos fritos é tão bom como comer camarões cozidos somos capazes de perceber que as diferenças entre os povos são meramente culturais e que podemos “deitar fora” toda ou parte da nossa cultura original para absorvermos a cultura que mais nos agrada ou podemos, simplesmente, estar abertos ao convívio com aqueles que possuem uma outra cultura, se a soubermos respeitar, dando-lhe valor igual à nossa. Nessa altura deixará de existir racismo, homofobia, xenofobia e tantas outras fobias cujo fundamento é somente cultural.

22.02.23

Vai fazer um ano


Luís Alves de Fraga

 

Faltam dois dias para chegar à passagem de um ano sobre a data em que a Rússia invadiu a Ucrânia. O chamado mundo ocidental, cada vez mais assimétrico, neste período rendeu-se, em absoluto, à absolvição do invadido, tornando-se inimigo do invasor. Mas fê-lo, conforme pudemos ir vendo, através de uma intoxicação monumental que ofuscou a visão dos mais perspicazes com uma nuvem de fumo que impediu de descortinar a verdadeira Ucrânia, os seus oligarcas e a sua “democracia” super musculada a ponto de, nos círculos de Bruxelas, se saber que uma adesão à União Europeia levará muitos anos, se é que alguma vez se verifica.

 

Mas, o curioso é que Bruxelas tem consciência da distância a que Kiev está de integrar a União, mas pratica uma política, para fora, que vai ao arrepio daquilo que constituem as suas linhas vermelhas para adesão. Isto só pode ter uma leitura: a Ucrânia anda a ser enganada.

Biden foi a Kiev e à Polónia, o Secretário-Geral da OTAN anda a fazer discursos mobilizadores que iludem os ucranianos, pois nem chegam as munições nem os carros de combate, nem os aviões. Tudo é cedido a conta-gotas. Isto tem uma leitura: deixar exaurir a Ucrânia até chegar ao momento de ter de aceitar factos consumados, ou seja, um cessar-fogo ou uma paz com perdas.

 

A situação está definida desde há uma ano, quando se percebeu que a Rússia não tem umas forças armadas clássicas tão fortes quanto se julgava (se não conseguiu ocupar toda a Ucrânia como é que alguma vez ocuparia a Europa? Como é que seria um perigo para o mundo em termos de armas convencionais?). Assim, os EUA só têm de deixar cair a Ucrânia tal como deixaram cair a Coreia do Sul, o Irão de Reza Pahlavi, o Vietnam, o Afeganistão e o Iraque, para além de todos os outros Estados onde semearam a desordem e, depois não foram capazes de impor a ordem. Mas isto tem um objectivo: afirmar-se como primeira potência militar mundial, colocando a Rússia cada vez mais distante de lhe disputar a primazia. A desordem mundial é o estado político mais conveniente aos EUA (alimenta a sua indústria de guerra), pois segue o velho adágio popular português: “Desunir para reinar”! E assim, reina mesmo.

 

No espaço de um ano a guerra já fez deslocar o eixo de peso militar da União Europeia da Europa Central para a Europa do Norte e do Leste. Também a guerra está a trazer a desorganização à União, porque põe a nu fissuras que passavam despercebidas e não interferiam com o regular funcionamento da mesma. Mais uma vez, Washington, apelando aos aliados, está a semear a desconfiança no seio desta aliança.

Quando se diz que depois da guerra acabada o mundo não vai ficar na mesma não se está a construir uma imagem retórica; está-se a dizer uma verdade ainda mal definida nos seus contornos, mas, sem dúvida, uma verdade.

 

O grave de tudo isto é que, depois de um ano de luta e de perda de vidas e bens, a Ucrânia está a ser enganada por todos os Estados em quem julgava poder confiar.

O Professor Adriano Moreira disse, no Instituto de Altos Estudos da Força Aérea, em 1981, perante mais de cinquenta oficiais, entre os quais estava eu, uma frase que me ficou a martelar no cérebro: «Se os nossos soldados não se deixaram matar no Rovuma (rio a Norte de Moçambique) será que alguma vez morrerão no Reno?»

Pois, recordando o velho Mestre, será que o mundo ocidental está para morrer nas margens do rio Dniepre por uma causa regional da Ucrânia?

Na política, a hipocrisia anda de braço dado com sorrisos e falsas promessas, não tenhamos dúvidas.

18.02.23

Carnaval


Luís Alves de Fraga

 

As minhas crónicas não têm a pretensão de fazer História (nem pequena nem grande); são meras e breves passagens pela memória para deixarem a minha visão de um “ontem” que recordo e vivi, isto, está bem de ver, quando não me debruço sobre outros assuntos, aos quais poderia colar o epíteto de “mais sérios”.

Estamos em pleno Carnaval e ontem à tarde fui até Lisboa a um grande centro comercial, que estava quase “às moscas”, enquanto a ponte 25 de Abril, no sentido Norte -Sul se encontrava encravada de automóveis que, percebia-se pelo tipo de passageiros, iam de viagem… Viagem aproveitando as férias de Carnaval. É sobre isto que hoje me vou debruçar.

 

Quando eu era criança, até mesmo quando os meus pais eram jovens, viajar em tempo de férias para “fazer férias” era algo que não estava ao alcance das bolsas comuns, nem as bolsas comuns tinham meios de transportes para se deslocarem de um ponto distante para outro. Deste modo, férias tinham-nas os estudantes, porque, para os restantes o trabalho era como o pão nosso de cada dia. Talvez, não sei, não me lembro, na minha juventude, alguns empregos do Estado e grandes empresas fizessem feriado na terça-feira de Entrudo. As festas tinham lugar no sábado à tarde e à noite, no domingo e, depois, na noite se segunda para terça e na terça à tarde, porque quarta-feira já era dia de trabalho para quem não era estudante.

 

O “povo”, e quando digo povo refiro-me às classes sociais mais baixas, divertia-se à sua maneira, vestindo-se de forma trapalhona, fazendo barulho nas ruas e sempre por lá apareciam os “xexés” ou também designados por “chachas” figuras típicas da minha infância.

Para grupos mais dados à paródia organizada, havia um corso (ainda vi uns dois) no Campo Grande, com carros onde umas meninas se exibiam tão “descascadas” quanto a moral fascista permitia, atirando serpentinas e saquinhos cheios de serradura à cabeça dos basbaques que retribuíam com piropos mais ou menos decentes.

Os cinemas (alguns) faziam matinés para a garotada se divertir a atirar os papelinhos e as serpentinas mais os tais saquinhos, que, por norma, não magoavam a não ser aqueles que vinham cheios de bagos de grão de bico.

Havia, também, para as famílias que se conheciam, os chamados “assaltos” quando uma série de foliões, mascarados ou não, batiam à porta carregados de garrafas de vinho, cerveja ou, até, nos casos mais “finos”, de champanhe. A balbúrdia estabelecia-se quando se criava um espaço para dançar, e jogar montes de papelinhos (confetis) que representavam o grande problema de limpeza da dona da casa no dia seguinte, tudo isto ao som de música brasileira tocada em qualquer gira-discos posto em qualquer lado. E, pessoas antes desconhecidas, dançavam e divertiam-se como se fossem velhos amigos de há muito tempo.

Nos cinemas (alguns) também se organizavam bailes, à noite, mais refinados levando um filme de hora e meia a durar uma noite até às seis da manhã. Era um tempo em que, em Lisboa, porque só de Lisboa eu falo, se procurava uma boa disposição saudável e indiferente ao que viria nos dias seguintes. O Carnaval eram três dias!

 

Para mim, as diversões mais acessíveis eram os bailes nas chamadas “Casas Regionais” (dos Açores, da Beira Baixa, da Beira Alta, de Trás-os-Montes ou na Cooperativa Militar) onde se dançava sem parar ao som de conjuntos musicais que tocavam sambas e marchinhas até à exaustão. Eram momentos para arranjar namoricos, que podiam morrer no fim da noite ou durar a quadra carnavalesca.

Eram tempos muito diferentes dos actuais, porque o Carnaval constituía, realmente, um escape para as agruras e dificuldades do dia-a-dia. As ruas pejavam-se de crianças mascaradas e as dificuldades deitavam-se para trás das costas, pois havia forma de diversão para todas as idades e para todas as bolsas. Jornais como o “Diário de Notícias” criavam uma página para os papás levarem os seus rebentos mascarados colocando-lhes a fotografia, vindo, assim, a ser “importantes” por saírem nas colunas desse diário de grande tiragem.

 

Claro que o progresso tecnológico, uma maior abastança monetária e uma mais notável tendência para o isolacionismo individual ou familiar, levou a que já nada se repita do mesmo modo. Creio que, segundo julgo, mesmo igual ao passado, só o Carnaval no Rio de Janeiro… mas lá faz calor e cá está frio.

17.02.23

Injecções nas veias


Luís Alves de Fraga

 

Um bom e grande amigo tem por hábito elogiar-me a imaginação, porque, julga ele, arranjo sempre assunto para escrever uma pequena crónica neste tempo em que já pouco tenho para fazer além de ler, ver televisão (como eu gosto de um bom filme de guerra, de “suspense”, de humor e de grandes cenas de pancadaria!), dormitar sentado no meu cadeirão e escrever. Ora a verdade é que, muitas vezes, à noite, na cama, antes de adormecer, fico a matutar no tema da crónica do dia seguinte e sucede-me como quando tenho prisão de ventre: não sai merda nenhuma! Foi o caso da noite passada…

Em consequência, aqui estou em frente do meu velho (para a idade relativa destes objectos) computador portátil a espremer as meninges e lá me veio, das entranhas dos também já velhos neurónios, uma ideia. Tentarei dar-lhe forma que possa satisfazer os meus leitores habituais ou de ocasião.

 

Como já várias vezes disse, o meu pai era enfermeiro da nossa Marinha de Guerra e, como não podia deixar de ser, dava injecções intravenosas ou não. Nas que não, eu não via, pelos motivo que são bem de perceber: é um assunto entre o enfermeiro a agulha e as nádegas do paciente, que pode ser do sexo masculino ou do feminino; das intravenosas fui frequente juiz da habilidade paterna para enfiar a afiada agulha em veias que mal se viam. O meu pai tinha especial paciência para esse efeito, paciência que lhe escasseava para enroscar um parafuso ou pregar um prego. Neste último caso, creio que a habilidade era bem maior para martelar as cabeças dos dedos do que para acertar na cabeça do dito. Nestas ocasiões, era bom não andar por perto, pois alguma coisa podia sobrar para a assistência. Voltemos às seringas e ao garrote para falarmos das injecções intravenosas.

Creio que passei a dar mais atenção a estas formas de combater a doença quando eu próprio, acometido de febre tifóide, com a idade de seis anos, tive de, todos os dias, suportar a picada da agulha (que o meu querido pai jurava sempre ser mais fina do que a da véspera) nas veias dos bracitos, que estendia entre lágrimas por já estar cansado de ser esburacado ora no sangradouro da direita ora no da esquerda. Mas resistia, só para ouvir no final o meu pai dizer ufano: «Este rapaz é forte, é um valente!»

Não sei se foi à custa de escutar tal afirmação tantas vezes ou se me resta alguma costela de herói, o certo é que injecções deixaram de me impressionar… e agora, de quando em vez, lá vai uma espetadela no pulso para apanhar a artéria e analisar o sangue, por isso chamado arterial. Fico impávido e sereno.

 

Mas em garoto, depois da febre tifóide, muito eu me ria (era melhor do que uma boa cena do “Bucha e Estica” que eu tanto admirava) quando a minha irmã, uma linda morena nos seus quinze, dezasseis e dezassete anos, tinha de levar a picadinha no braço e andava a correr à volta da mesa da casa de jantar, dizendo: «Ai papá, agora não! Deixe-me ganhar coragem!» e o meu pai, com a seringa em punho numa das mãos e na outra a segurar o garrote de borracha, fazendo uma cara de imensa ternura para a sua menina (ai se fosse eu… era logo: «Senta-te aí e fica quieto!»), dizia: «Vá lá Detinha, não custa nada e já sabes que o papá não te magoa». Eu ria, ria quase até às lágrimas. Parecia que à Detinha o nosso pai lhe ia arrancar o coração pelas costas! Hoje é uma velhinha corajosa e cheia de força para suportar todas as dores que tem!

 

Depois de em criança ter sido mais picado do que uma salsicha antes de ir para a panela, cheguei, no Hospital Militar da Estrela, a tirar sangue sem carecer de garrote, pois eu mesmo apertava o braço e as veias saltavam prontas para a picadela que eu via com indiferença.

Actualmente, garanto-vos, caros leitores, doem muito mais as espetadelas da saudade dos meus tempos de jovem, mas, que remédio, cá continuo a suportar com estoicismo as injecções, agora, com agulha e cateter, para a picada ser só uma!

 

E, assim, partindo de coisa nenhuma, cá está a crónica do dia.

16.02.23

O Elefante e os cornos


Luís Alves de Fraga

 

Há cinquenta anos não era vulgar o que, na actualidade, é frequente: oferecer envelopes com dinheiro aos noivos aquando do casamento; ia-se a uma boa loja escolher uma boa prenda que ficasse bem na nova casa ou fosse útil ao novo casal. Era sempre uma dor de cabeça, em especial para as famílias da média classe média para quem o dinheiro era contado e recontado antes de se chegar ao fim do mês. Muitas vezes, lá se tinha de ir às poupanças, normalmente parcas, para se procurar fazer a melhor figura possível. É que, para além da prenda ainda havia os trajes das senhoras, em especial, que tinham de mandar fazer ou vestido ou fato completo e mais abafo, se o acontecimento tivesse lugar no Inverno ou numa Primavera menos quente. Era sempre uma dor de cabeça para as mulheres e um “aperto de calos” para os cavalheiros que tinham de abrir os cordões à bolsa para fazer face a tanta despesa. Mas faltar a um convite de tal natureza isso nunca! Passar por pelintra e de forreta, isso jamais. Que se fossem os anéis, pois ainda haviam de ficar os dedos.

 

A minha santa mãe todos os anos rezava aos seus anjinhos para que não houvesse casamentos no decurso dos doze meses, pois lá se iam os cobres para a prenda, que tinha de ser boa, e, depois, mais outro tanto para tecidos e costureira em vestidos novos, porque ir com um que já havia servido noutra ocasião “não ficava bem” e nunca se sabia se entre os convidados não se repetiam as caras. O que se iria dizer! E, com os sapatos, a mesma cena se passava.

Eram assim as preocupações de uma pequena burguesia urbana, que, sendo pequena, não gostava de o parecer. E foi assim que, tinha eu, talvez quatro a cinco anos, dei origem a uma cena que me ficou gravada na memória até sempre, dadas as razões que passarei a explicar.

 

Havia (não sei se ainda por lá está) uma loja de porcelanas, peças de vidro, candeeiros e outros adornos caseiros, na Rua da Palma, em Lisboa, chamada “Vicrilana” (se a memória não me está a atraiçoar… acabei de verificar no Google e continua a existir, embora bem diferente do que era há quase oitenta anos), onde a minha mãe comigo e a minha irmã, mais velha sete anitos (o que a fazia, por essa altura, uma jovem menina atinada e muito bem comportada, aliás, como sempre foi, pelo menos desde que tenho memória dela) se deslocou com a intenção de comprar uma boa peça de cristal para oferecer a alguém que se casava por essa época.

Diga-se, em abono de todas as verdades, que eu era uma criança super traquina, cheia de vida e com um espírito de observação fora do vulgar para aquela idade, por isso, fui avisado, à entrada da loja, para ter muito cuidado e não fazer gestos bruscos, eufemismo para dizer qualquer coisa do género: «Não se corre dentro do estabelecimento, nem se mexe em nada e anda-se com cautela para não partir objecto nenhum, pois não estou para pagar os estragos que faças e se os fizeres ainda apanhas uma sova quando chegarmos a casa!»

 

Entrámos e, lembro-me muito bem, pisava o chão como se por lá estivessem cascas de ovo para não serem partidas, mas, eis que algo de muito estranho me chamou a atenção, a mim, que já vira fotografias e estampas de elefantes: uma muito grande (pareceu-me na altura) estatueta desses paquidermes, mas exibindo dois aguçados dentes brancos ao lado da tromba erguida para os céus.

‒ Mamã, este elefante tem cornos! ‒ disse eu em voz bem alta para ser ouvido por toda a gente.

‒ Está calado Luís Manuel (quando assim me chamava era porque a coisa não estava segura para o meu lado). Contudo, há evidências que não me calam, mesmo sob o efeito de uma forte ameaça e, o pior, é que já era assim na mais tenra idade…

‒ Mas tem cornos, eu estou a ver ‒ insisti, apercebendo-me do perigo, mas jogando com o factor geográfico (não estávamos em casa).

A minha querida irmã gesticulava moderadamente para eu me calar, mas fiz-me desentendido e continuei especado diante da estatueta de braço levantado e dedo estendido pronto a repetir a frase. A minha mãe, que tinha uma lindas unhas compridas e bem feitas, pintadas com verniz vermelho, aproximou-se de mim e, estendendo a mão para a minha coxa, deu-me um beliscão como só ela sabia dar… doíam que se fartavam, mas não faziam nódoa negra, e disse-me ao ouvido: «Aquilo são dentes e se voltas a dizer que são cornos vais ver a sova que apanhas em casa!»

Fiquei calado, embasbacado em frente do elefante, esfregando a coxa, e a digerir o ensinamento de que há cornos que sobem até à cabeça e outros que descem até à boca. Foi a mais inesquecível lição de zoologia que tive na minha vida!

Quem me dera poder voltar atrás para a aprender de novo.

14.02.23

Do Hino Nacional à Falta de Vergonha


Luís Alves de Fraga

 

Há umas semanas foi notícia o facto de se terem feito sugestões para a alteração da letra do Hino Nacional, por ser muito belicista. É tonta e balofa tal proposta, mas não deixou de, em qualquer momento voltar a ser retomada. Quem isto propõe não percebe o que é um hino nacional, não sabe ou não quer saber o que são e para que servem os símbolos dos povos e, mais do que tudo, das nações.

Um hino nacional (mesmo os eclesiásticos, os militares, os de agrupamentos sociais) é um elemento agregador de um todo, como se fosse uma rede que prende todos, que enleia o conjunto, que o canta e sabe cantar; é, acima de tudo, um símbolo de união, porque adquire a força de uma magia e dá a noção de pertença.

 

O Hino Nacional nasceu num momento muito específico, um tempo de revolta, de ira, de zanga e, por isso, de unidade, de coesão; um tempo em que a falta de força militar gerou o excesso de força anímica. Ele foi feito quando, traiçoeira e despudoradamente, a nossa aliada britânica enviou ao Governo, em Lisboa, um ultimato com ameaças de bombardeamento da capital. É um hino de revolta contra os britânicos, do mesmo modo que o é contra a Monarquia, que não soube acautelar a defesa nacional, nem militar nem diplomaticamente. É, por isso, um hino de revolta que aglutinou, ao ser feito e cantado, todos quantos viam na decadência nacional uma razão para bradarem às armas e correrem o risco de marchar contra os bretões (que a República transformou em canhões).

Mas, o simbolismo do nosso hino vai mais longe, pois recorda-nos que aqueles que se dizem nossos melhores amigos podem, afinal, ser os nossos piores inimigos. É um hino de alerta para quem lhe saiba a história.

 

Começou a ser tocado, no Porto, pelas bandas militares dos diferentes regimentos, logo no dia 5 de Outubro de 1910. Não se podia deixar continuar como hino nacional aquele que até então se cantava, pois nos versos ele era, em tudo, contrário ao novo regime: desde aclamar o rei e a religião, aclamava ainda a Carta Constitucional. Ao cair a Monarquia ela levou consigo os símbolos que eram seus, porque se aclamava a si mesma em vez de aclamar, tal como a Marselhesa, o Povo, a Pátria e os valores comuns a todos.

Pela mesma razão a bandeira nacional tinha de ser outra, abandonando-se as tradicionais cores azuis e brancas, porque eram as cores do rei e do reino e, por muito que aquele quisesse representar o Povo, a verdade é que estavam indelevelmente ligadas ao trono e jamais à totalidade dos portugueses.

A bandeira escolhida, nas suas cores, foi a do agrupamento que juntou de nobres a gente de pé-descalço para derrubar a Monarquia: as da bandeira do Partido Republicano Português e, em simultâneo, as da Carbonária. São cores de esperança e de luta ligadas pela História, porque não se desprezaram nem a esfera armilar nem o escudo da fundação nem os castelos, ou seja, não se cortou com o passado da gesta popular.

 

É por não se exaltarem estes símbolos de Portugal nem os explicar nem os homenagear que se ouvem sugestões cheias de uma ignorante maldade, plena de falta de vergonha, que não podem ficar sem resposta. Eu, à minha maneira, dei-a.

08.02.23

Da notícia ao martírio


Luís Alves de Fraga

 

Creio que temos três canais de televisão que são quase exclusivamente destinados a noticiários (SIC Notícias, RTP 3 e CNN, podendo acrescentar a CMTV, tão desconsiderada) que, de manhã à noite, não se cansam ou de repetir as mesmas notícias em cada hora que passa ou de não procurarem uma diversidade maior de acontecimentos. Assim, por exemplo, desde a ocorrência do sismo na Turquia e na Síria, os três canais antes identificados não se eximem de nos martirizar com imagens constantes e fraseado já intolerável sobre aquele triste acontecimento. Parece que há um gosto sádico em mostrar a destruição, a criancinha que foi salva, o recém-nascido que foi parido nos escombros e cuja mãe morreu no parto, o frio, a falta de comida e de água, as fogueiras e todo o ror de desgraças que um terramoto provoca.

Deste tema passam para a visita de Zelensky a Londres em catadupas de imagens e de pareceres de pseudo especialistas, que vão às estações de televisão simplesmente dar a sua opinião nada fundamentada ou, por vezes, fundamentada na opinião publicada e já conhecida.

 

Nada disto é noticiário! É simplesmente dar emprego a uns repetidores de continuidades, que montam um noticiário com alguns intervalos para permitir que outros digam umas larachas sobre coisas de que pouco sabem.

Se me pedirem a opinião, neste momento e em especial de há um ano a esta parte (desde que a Rússia invadiu a Ucrânia), acho muitíssimo mais noticiosa a desacreditada CMTV do que os restantes e por um só motivo: procuram notícias, correm atrás delas, sem fazerem, diga-se em boa verdade, a distinção entre o que é uma mera ocorrência e um acontecimento digno de nota como notícia regional, nacional ou internacional. Para eles não há triagem; exageram em oposição ao exagero das outras três que se cansam e nos cansam com os mesmos assuntos.

 

Não sou santo ‒ muito longe de tal ‒ mas, também os meus muitos pecados (e os de todos nós que queremos ser informados) não merecem um Calvário e uma cruz tão pesada.

Não creio (e aqui falo sem grande conhecimento de causa) que as grandes cadeias televisivas como a BBC, a RAI e outras tantas estações de televisão, a começar pela de Espanha, façam dos telespectadores uns idiotas chapados de forma idêntica às nacionais que venho citando. Que os idiotizam não tenho dúvidas, mas não pelo cansaço, até porque, certas estações, terão canais semelhantes à nossa RTP 2 que faz jus ao slogan que usa: “Culta e Adulta” (nem sei como a administração permite esta forma de identificar o canal, pois, basta pensar um pouco para se perceber que, em oposição, a RTP 1 e a RTP 3 serão incultas e menores ou prontas a menorizar).

 

Pronto, desabafei e disse mal daquilo que acho mal. Vou fazer a minha sesta, espreitando um filme de cowboys, pois, ao menos, já sei o que me espera e não fico nem mais esperto nem mais estúpido.

07.02.23

Quando a ternura se torna escola

(Para o meu Amigo José João)


Luís Alves de Fraga

 

Eu tinha seis ou sete anos e, embora fosse um miúdo bastante atento ao mundo à minha volta, não sabia ver as horas, num relógio, mesmo de sala, por muito grande que ele fosse.

Quase todas as semanas, no começo do Verão, ia brincar, uma tarde inteira para casa de uma família amiga dos meus pais. Tinham uma enorme selha de madeira para lavar a roupa, que eu aproveitava para brincar com os meus barquinhos de plástico. Claro que levava roupa sobressalente para mudar depois do grande festim.

 

A senhora mais velha, a mãe da amiga dos meus pais, era completamente analfabeta. Não lia uma letra do tamanho de um prédio. Numa tarde em que a brincadeira na selha não podia ter lugar, levou-me para a sala e, olhando o relógio de pêndulo, que estava em cima de uma grande cómoda, perguntou-me as horas. Fiquei a olhar para o aparelho e confessei a minha ignorância. Ainda por cima, a numeração era românica.

Ela, com aquela paciência dos velhos (no mínimo, os daquele tempo!) levantou-se e, levando-me até junto do relógio, foi-me ensinando a ler as horas através das diferentes posições dos ponteiros, grande e pequeno. Cheguei a casa, ufano e desejoso de mostrar os meus novos conhecimentos. À pergunta da minha mãe sobre quem me tinha ensinado, a resposta foi imediata: «A “mãe” Ircelina», forma carinhosa como eu tratava a velha senhora.

Foi a primeira vez que percebi que um cego pode ser guia de outro cego!

 

Há dias um velho amigo meu contou-me uma história extraordinária que, por a ter assim achado, não resisto a deixá-la aqui para os vindouros. Passa-se lá nos confins de Norte de Portugal em terras que foram calcorreadas por Miguel Torga.

O meu amigo, chamamos-lhe Zé, tinha seis anos e ainda não frequentava a 1.ª classe, não sabendo, então, os rudimentos da leitura e da escrita. Estando a passar férias em casa de uma avó, que não era nem professora nem lá por perto tinha feito vida, era uma senhora que, vivendo na sua quinta, frequentava a igreja local com devoção e seguia a missa e as celebrações eclesiais pelo seu livro de cabeceira: o missal.

Com a paciência das avós, com o amor de uma segunda oportunidade de ser mãe, tempo que a Natureza dá para redimir os “pecados” praticados aquando da primeira vez, ela, carinhosamente, ensinou o Zé a ler e a escrever, usando o seu missal como livro de iniciação. E o José aprendeu, tão bem que o pai determinou que ele não precisava de fazer a 1.ª classe, pois estava habilitado a entrar, de imediato, na 2.ª. E, perguntei-lhe eu: «Lias, mas e as contas, os algarismos?»

A resposta foi muito mais desconcertante: é que havia, na quinta, uma tia, já de idade, que todos os dias o levava a passear pela estrada, porque o Zé tinha, não só de comer bem, como de respirar ar puro e fazer exercício. Lá iam caminho fora andar umas léguas ora num sentido, ora no noutro e os algarismos ali estavam à mão de semear nos marcos hectométricos plantados nas bermas da estrada e a tia, com carinho e paciência, a cada cem metros levava-o a, com o dedito passar pelo baixo-relevo, identificando-os do 1 ao 9. Não só os fixou como aprendeu a desenhá-los.

 

Que história deliciosa, esta de duas velhotas, vivendo numa quinta perdida em Trás-os-Montes que, com os materiais mais simples e mais à mão tiraram das trevas, da total iliteracia, um menino que, sem as desiludir, acabou a vida de estudante como engenheiro electrónico, e viveu o resto como professor, ensinando Matemática e tantas outras coisas mais, porque, ao mesmo tempo que começou a ler palavras e números com apoio de um missal e de marcos hectométricos da estrada, aprendeu que o acto de ensinar é uma prova de amor que se dá aos outros com os carinhos das avós e das tias velhotas, que amorosamente o catapultaram para o mundo do saber.

Há quantas dezenas de anos se perderam os missais e os marcos hectométricos das estradas? E os meninos com desejo e humildade de ouvir e aprender com avós e tias velhas?

03.02.23

Uma vez mais o liberalismo


Luís Alves de Fraga

 

O liberalismo sem democracia é um pesadelo para os mais fracos e para os menos capazes, porque, o direito à propriedade e à livre expansão individual acaba por esmagar e roubar direitos.

Para se compreender o que acabo de afirmar basta pensar na independência dos Estado Unidos, na Constituição inicial, e ver que nem os negros nem as mulheres nem aqueles que não pagavam impostos tinham direitos. Foram as sucessivas conquistas democráticas que atenuaram a brutalidade do liberalismo. Até em Portugal, o direito de voto das mulheres foi negado e, na 1.ª República, que era liberal, os analfabetos e quem não pagasse certo valor de impostos não tinham direito a escolher os seus representantes. No liberalismo impera o indivíduo que tem possibilidades financeiras e propriedade.

Quando a democracia se impôs ao liberalismo o Estado passou a ser a figura reguladora da excessiva liberdade liberal.

Expostas estas ideias básicas, repetindo em parte o que em tempos já disse, olhemos para o nosso país e para a impossibilidade de se ter um sistema político liberal puro ou um sistema social-democrata semelhante aos existentes e resistentes na Europa.

 

Em Portugal imperou, pelo menos desde o século XVI o individualismo, a vaidade balofa, a inveja mesquinha, a arrogância sem fundamento e outros defeitos menores que o Tribunal do Santo Ofício se encarregou de cultivar através da manutenção da denúncia anónima (para confirmar basta consultar, na obra “Portugal Quinhentista” da autoria de A. H. de Oliveira Marques, o capítulo relativo ao retrato do nosso povo).

O português é invejoso e faz jus ao provérbio popular «Nunca o invejoso medrou nem quem ao pé dele morou». Demonstração do adágio? Basta ler Camilo Castelo Branco ou Eça de Queirós ou qualquer autor do século XIX que dedique algumas linhas ao comportamento dos chamados “Brasileiros de torna viagem” e à vaidade que tinham em esmagar, nas suas aldeias e vilas de origem, o maioral, a quem guardavam rancor desde quando embarcaram para a América do Sul; construíam uma casa maior e mais moderna do que a dele e arrebanhavam terras em maior quantidade do que as do proprietário mais rico da aldeia ou vila. Pura vingança, pura mesquinhez, pura vaidade. Não aplicavam as avultadas poupanças em indústria que as reproduzisse; importava-lhes a opinião alheia mais do que o espavento. Morriam, e rapidamente se desfazia a fortuna nas partilhas; ficava a casa que, muitas vezes, se degradava por falta de uso e abandono.

Daqui se conclui que, no geral, o português endinheirado apreciava mais possuir terra de lavoura do que buscar outros processos de ampliar o seu rendimento, nomeadamente, aplicando o pecúlio, ganho como “escravo” no Brasil, em indústrias que modernizassem Portugal. Ao contrário dos ousados pequenos capitalistas do Reino Unido, que ambicionavam construir fábricas, os nossos queriam ser donos de terras.

O século XIX, aquele onde se deu o grande salto para a industrialização na Europa e nos EUA, foi perdido em Portugal por causa da mesquinhez e da falta de visão: escolheu-se a agricultura tradicional ao invés de encontrar o nicho ou os nichos de produção que mais nos fossem rentáveis para nos colocarem ao lado da Europa. A paupérrima Suíça escolheu os relógios e as lentes enquanto a imponente Áustria continuava presa à tradição do império e se desvaneceu um século depois.

 

Em Portugal não havia capitalistas; havia agricultores absentistas que em Lisboa e no estrangeiro esbanjavam o suor do assalariado agrícola. E o único que ousou rebentar com a tradição, construiu um “império”: Alfredo da Silva. E vem este nome à colação para recordar que, na Europa e nas Américas, o capitalismo era nacionalista: o dinheiro aplicava-se no país de origem do seu dono. Foi esta a mola real para a definição da riqueza das nações. Foi este o princípio do liberalismo de um século e meio: o XIX e a primeira metade do seguinte. E foi esta a razão da pobreza nacional, que só no final da 2.ª Guerra Mundial buscou industrializar-se, a medo, para manter segura a ditadura retrógrada de um Oliveira Salazar, que aliava em si os dois fundamentos da cultura económica nacional: a educação clerical e a origem rural, bem rural de uma Beira onde ainda se mantinham os senhores da terra e os rendeiros que lhas arrendavam para melhor sustentar a família. Chegámos, com cento e cinquenta anos de atraso à fonte da riqueza dos povos. Quando chegámos já se praticava deslocalização das indústrias para melhor servirem os accionistas (veja-se “The New Industrial Estate” de John K. Galbraith). Daí à globalização foi menos de cinquenta anos.

Portugal é um país pobre e, hoje em dia, economicamente, quase monocultural (turismo e outros tipos de serviços), porque não avançou ousadamente para a industrialização e, ao mesmo tempo, para o liberalismo próprio do século XIX. Fontes Pereira de Melo, com a sua política de abertura de estradas e caminhos-de-ferro, viu mal o problema, porque o viu às avessas: havia que incentivar as indústrias para estas “exigirem” as estradas e os caminhos-de-ferro. O mesmo erro foi cometido por Cavaco Silva, no século XX, que abriu autoestradas em vez de preferir a ferrovia… São autoestradas que, do ponto de vista económico, vão para nenhures.

 

Creio que lendo atentamente os parágrafos anteriores se percebe que o liberalismo não existiu em Portugal, a não ser para derrubar a Monarquia absoluta, porque se privilegiou a democracia individualista e a tradição agrária e cultural.