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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

25.03.22

Duas espreitadelas


Luís Alves de Fraga

 

1.ª A Defesa Nacional e as Mulheres

Esta coisa de Forças Armadas, militares e mulheres, em Portugal, só começou a “mexer” quando uma grande investigadora, falecida há muito pouco tempo ‒ refiro-me a Maria Carrilho ‒, ousou atirar-se de cabeça para a compreensão da relação entre o 25 de Abril de 1974 e as origens sociais dos oficiais do Exército. Foi mexer e remexer nos arquivos escolares da Academia Militar e descobrir “coisas do arco-da-velha”! Foram alguns anos de trabalho, mas valeram-lhe a pena, pois, de repente (desculpem-me, não posso deixar de o referir, era uma mulher bonita, elegante, com porte distinto e os militares são ‒ pelo menos eram ‒ sensíveis a esses “pormenores”) abriram-se-lhe todas as portas para ficar a saber muito sobre a “tropa”. De repente, “fez escola” no nosso país, tanto mais que vinha de Itália onde se exilou na fase final do fascismo português e se aproximou do Partido Comunista italiano que, como se sabe, não “alinhava” pelo diapasão moscovita. Naturalmente, por cá, acabou por ser socialista do PS.

Ao “fazer escola”, Maria Carrilho despertou vocações ‒ será que devo dizer oportunismos? ‒ entre as suas alunas no ISCTE para se lançarem na mesma senda da Mestre, mas procurando novos caminhos. Uma, pelo menos, conseguiu agarrar-se bem a um nicho deste novo saber universitário: Helena Carreiras, a actual ministra da Defesa Nacional.

 

Era eu professor na Academia da Força Aérea, andava às voltas com a minha tese de mestrado, eis que sou contactado por uma jovem ‒ bastante jovem ‒ licenciada, em fase de preparação da dissertação de mestrado sobre “as mulheres nas Forças Armadas”. E o contacto deu-se, porque a Academia da Força Aérea havia sido a pioneira, ao admitir mulheres para fazer delas oficiais.

A jovem Helena Carreiras trazia as perguntas bem preparadas e recebeu respostas que a satisfizeram. Concluiu o mestrado e soube avançar para o doutoramento aproveitando o balanço do pioneirismo. Pena foi que o tenha feito no estrangeiro!

Encontrámo-nos, depois disso, mais três ou quatro vezes, em circunstâncias diversas e sempre de âmbito académico. Dedicou-se, depois, ao ensino e foi sendo “empurrada” para comissões e cargos (por exemplo, no Instituto de Defesa Nacional) onde não só teve oportunidade de lidar com alguns dos mais candentes problemas dos militares, mas, acima de tudo, com a Estratégia e com a Defesa e Segurança aos mais altos níveis. Dos últimos cinco ou seis ou sete ministros da Defesa Nacional é, de certeza, a que melhor está preparada para dar respostas a questões internas e a questões externas. Resta saber se lhe dão os meios para poder encontrar soluções e, se, por outro lado, não lhe espartilham o pensamento de modo a fazer não o que sabe, mas o que deve.

 

2.º A “Ilha Ibérica”

Provavelmente, alguns dos meus leitores desconhecem que o preço da electricidade está indexado ao preço do gás. Isso acontece porque em Bruxelas se determinou para manter regulado o mercado da energia. Coisas que a preocupação com a possibilidade concorrência impõem.

Pois bem, há dias foi notícia que haveria uma cimeira entre chefes de governo ou primeiros-ministros mediterrânicos para tentarem forçar certas alterações em Bruxelas, de modo a que houvesse a adaptação possível às realidades geográficas.

 

Hoje, logo de manhã, ao ler “newsletter” de Berna González Harbour, publicada todos os dias da semana, no “El País”, deparei com este trecho da autoria do jornalista espanhol Carlos E. Cué:

 

«Pedro Sánchez procura uma saída para tentar fazer com que a União Europeia lhe permita dissociar o preço do gás do da eletricidade em Espanha, evitando a resistência dos países mais duros, sobretudo Holanda e Alemanha. O presidente vai tentar salvar a reunião decisiva sobre energia com um pedido muito claro, tendo em vista que, neste momento, chegar a um acordo aplicável a todos os países da UE, parece quase impossível: assim, vai lutar para que os vinte e sete permitam que Espanha e Portugal, os dois países da Península Ibérica, actuem como uma "ilha de energia" — quase não existem interligações com os outros, ao contrário do que acontece na maioria dos países da UE — e apliquem fórmulas diferentes dos restantes sem quebrar os princípios do mercado comum de energia. Uma espécie de exceção temporária ibérica com a justificação desse isolamento.

Sánchez explicou muito claramente à imprensa à entrada para a cimeira de Bruxelas: “Agora é importante ter uma fórmula que se adapte à realidade geográfica da Península Ibérica. Espanha e Portugal estão praticamente isolados do resto, temos algumas interligações que não chegam a 2,8%. Essas peculiaridades prejudicam-nos, porque estamos isolados, mas todas as normas comuns aplicam-se a nós. É por isso que propomos uma solução para a Península Ibérica”, assegurou o presidente.»

 

Ao fim da tarde, chegou-se a cordo e a proposta luso-espanhola venceu! Claro que é uma vitória dos dois proponentes, mas fica-me atravessada na garganta a pergunta:

‒ E se fosse só o primeiro-ministro António Costa, em nome de Portugal, a bater-se em Bruxelas, haveria vitória?

 

Hoje, fico-me por aqui.

11.03.22

Parábola do nosso tempo

(contada por um comerciante)


Luís Alves de Fraga

 

Algures, no planeta Terra, havia um imenso edifício, tão imenso que a vista não lhe conseguia alcançar o fim, que servia, em simultâneo, de armazém e de lojas de muitas mercadorias, algumas delas com montras para a rua. O edifício pertencia a vários (muitos) donos.

Quem olhava de frente para a planta desse imenso edifício percebia que o lado esquerdo tinha muitas lojas com montras viradas para as ruas que o circundavam e que, a partir de certa altura, do centro para a direita, as lojas diminuíam em número, havendo um grande, muito grande, espaço, virado para o lado da serra, que era só armazém de bens importantes e essenciais, mas quase não tinha nem lojas nem montras. Contudo, um vizinho, virado para o lado da planície, também com um bom armazém de artigos de excelente qualidade, tinha lojas e boas montras.

 

Acontece que os donos dos armazéns do lado esquerdo da planta do imenso edifício haviam feito uma sociedade entre aqueles que melhores condições tinham de venda dos seus artigos, excluindo o proprietário do armazém do centro virado para a serra e o seu vizinho virado para a planície.

O dono deste, que era esperto e acomodatício, começou a ter reuniões com os donos dos armazéns do lado esquerdo da planta, com o intuito de entrar, também, na grande sociedade comercial que os unia e cujo negócio ia de vento em popa.

 

Ora, o dono do imenso armazém, que ficava virado para a serra e com poucas, muito poucas, lojas e montras, começou a sentir-se enganado, pois, se o vizinho virado para a planície se associasse aos donos dos armazéns situados lado esquerdo da planta do imenso edifício, ele, independentemente das grandes quantidades de preciosos artigos guardados e cobiçados pelos seus concorrentes, ficaria completamente dependente da sociedade e, caso se concretizassem as negociações do seu vizinho, os produtos do seu quase infinito armazém valeriam aquilo que os outros quisessem que valesse e não aquilo que ele sabia que valiam.

Avisou o vizinho, cujas montras estavam viradas para a planície, dando-lhe a alternativa de os dois fazerem uma sociedade para evitarem a concorrência dos outros. Mas, o avisado continuou a aproximar-se dos comerciantes do lado esquerdo da planta do edifício, fazendo ouvidos de mercador aos avisos recebidos.

 

Depois de muito pensar o dono do armazém virado para a serra tomou uma resolução: juntar os seus empregados e assaltar as lojas e as montras do seu vizinho virado para a planície, porque, como diz o povo, “quem o seu não olha, o diabo lho leva” e farto de diabos estava ele.

Com varapaus, cacetes e toda a qualidade de objectos contundentes foi-se, e mais os seus empregados, ao armazém do vizinho e, para além de escaqueirar-lhe as prateleiras, apoderou-se das lojas e das montras com vista para as ruas da planície.

 

Todos os armazenistas do lado esquerdo da planta do edifício barafustaram contra esta acção pouco comercial e mais própria de ladrão, mas o dono do imenso armazém central virado para o lado da serra fez-lhes um manguito e mandou-lhes cartas com uma simples frase:

«Ladrão que rouba ladrão, tem cem anos de perdão!»

 

10.03.22

A Estratégia e o Estrategista


Luís Alves de Fraga

 

Nos tempos conturbados que correm, face a uma guerra que os nossos órgãos de comunicação social exploram em muitos aspectos emocionais e pouco militares, acho que não fica mal tentar explicar alguns conceitos para que, ao menos, os meus leitores, possam separar o trigo do joio.

 

Já por várias vezes aqui deixei explicações sobre o que deve ser compreendido pela palavra “estratégia”, mas, nem por isso, me eximo a voltar ao assunto.

Em primeiro lugar, só há estratégia quando há conflito (declarado ou latente) e, porque vivemos numa sociedade onde o que mais impera é a concorrência (forma larvar de conflito) podemos afirmar que estamos rodeados de estratégias e de estrategistas. Contudo, nem todas as estratégias são boas e nem todos os estrategistas sabem sê-lo da maneira mais correcta.

 

Quando a Pasta Medicinal Couto (o produto para lavar os dentes) quer destronar, no mercado, a pasta Colgate, os decisores da primeira, rodeiam-se dos seus técnicos de marketing (afinal, não são mais do que estrategistas comerciais que aprenderam a impor marcas no mercado) e pedem-lhes que estudem o processo para alcançar o objectivo estabelecido.

Uns estrategistas vão estudar as vulnerabilidades da Colgate e as da Couto enquanto outros avaliam as invulnerabilidades de uma e de outra; depois haverá uns quantos que vão estudar o mercado (ou seja, a “área de operações”) com todas as suas variantes e todas as suas vertentes, todas as suas sensibilidades e insensibilidades; outros pensam na forma de influenciar as mentalidades dos “combatentes” (ou seja os potenciais compradores das pastas dentífricas em questão) agrupando-os segundo critérios pré-estabelecidos (classes sociais, capacidades financeiras, localização de residência, etc., etc.). Nada pode ser deixado ao acaso.

 

Depois do estudo concluído, ele tem de ser aprovado pelo decisor. Mas, cuidado! Se o estudo não foi bem feito, ou algo ficou esquecido ou se esconde alguma vulnerabilidade própria no acto da apresentação dos resultados, quando a “operação” for posta em execução e não se atingir o objectivo, o culpado não vai ser o decisor, mas o chefe do seu staff (estado-maior) de marketing ou alguém para cima de quem este atira as culpas!

Ora, para evitar percalços, quando não há a certeza absoluta de se conseguir atingir o que se pretende, o melhor é propor ao decisor uma mudança de objectivo ou redução do mesmo até valores que sejam viáveis e estejam contemplados nas análises e planos dos estrategistas.

Note-se que, no plano final, estão previstas todas as hipóteses possíveis: quando se “mexe” a peça de A para B, estão avaliadas todas as hipóteses do oponente “mexer” as suas peças de K para L, Z, X, Y e W e, consequentemente, as respectivas respostas a serem dadas, com a avaliação das vantagens e das perdas de parte a parte. Isto é Estratégia.

 

Como se vê, pelo exemplo dado ‒ e não foi por acaso que escolhi a pasta Couto e a Colgate ‒ o decisor do dentífrico Couto, só se fosse demente se lançava numa campanha de destruição da pasta Colgate! Mas, se o fosse, os seus “homens do marketing”, sabendo todos os riscos que corriam ‒ chegando até ao desemprego e fome ‒, saberiam como “dar a volta ao texto” para acabar com as veleidades do decisor. E um dos processos, quiçá o mais fácil, seria mostrar o grau de loucura do decisor a todos os trabalhadores da fábrica Couto. Ora, não o fazendo, mas deixando que essa imagem de “loucura” passe para fora da empresa, e seja reprimida com despedimento dentro da empresa, isso só quer dizer que também a “loucura” faz parte da estratégia de marketing para alcançar um objectivo que não é aquele que se anunciou, mas outro diferente e, talvez, mais reduzido, mas mais compensador.

Depois, há um aspecto que se tem de levar em conta: os loucos não chegam a cargos de decisão, porque ou são esquizofrénicos ou psicopatas. No primeiro caso, não são capazes de traçar as suas próprias estratégias para chegar aos cargos de decisão, na maioria das vezes eles, na sua imaginação desregulada, já são decisores de acções só existentes na sua cabeça; no segundo caso, têm ideias fixas, são metódicos na execução das acções que os levam à concretização da ideia fixa, mas tornam-se notados, muito cedo, por causa da sua fixação, e isso é, nas grandes empresas, um dos requisitos para excluir o esquizofrénico da senda capaz de o levar ao cargo de decisor.

Numa palavra, os decisores são estrategistas que se sabem rodear de outros como eles, frios, calculistas, metódicos, com sentido do ritmo e das oportunidades e, mais do que tudo, clara noção dos limites até onde podem ir.

Hitler não era um estrategista; era um líder que emocionava as massas e era adorado por elas. Mussolini não era um estrategista; era, tal como o seu parceiro germânico, um líder com carisma para se fazer seguir por massas populares. Estaline, Salazar e Franco eram estrategistas que lideravam, com frieza, os seus estados-maiores, pondo em execução os seus objectivos bem calculados e bem ponderados. Eram frios como qualquer psicopata, mas mal vai o estrategista que, deixando-se dominar pelas suas emoções, se fixa nos “danos colaterais”.

 

Cuidado, não nos deixemos enredar pelas várias formas de desenvolvimento de estratégias psicológicas que nos manipulam até sem darmos por isso.

09.03.22

O incompreendido


Luís Alves de Fraga

 

Se não existissem ‒ como não existiram durante séculos ‒ psicanalistas as pessoas sofriam as suas dores “sentimentais” (capazes de levar a actos loucos ou suicidas) sem qualquer forma de os ultrapassar. Quantos séculos os doentes mentais foram considerados “agentes possuídos do demónio”? Quanto séculos foram tratados como seres a excluir da convivência social?

O “problema” resolveu-se, ou atenuou-se, quando alguém olhou para as psicopatologias com olhos científicos e admitiu serem passíveis de ter solução. O que esses “cientistas” tiveram de fazer foi despir-se dos preconceitos sociais, que etiquetavam a doença e o doente e, fazendo uma abordagem distanciada, procurar causas para justificar os efeitos para, logo de seguida, buscarem caminhos que apontassem para a redução do tormento patológico.

Paremos por aqui.

 

Relações internacionais ‒ com este ou com outro nome ‒ sempre existiram, tal como a diplomacia e a guerra.

Ora, só já no século XX se começaram a estudar, com carácter científico, os entendimentos e desentendimentos entre grupos sociais que podiam ser nacionais ou nem a tanto chegarem. Foi um pouco diferente da Psiquiatria e da Psicologia, pois houve que “desmontar” os várias componentes que concorrem para a existência de uma situação conflitual, começando-se por estudar a Ciência Política para poder compreender e definir a cientificidade das Relações Internacionais, para o que concorreram os estudos da Geopolítica, da Geoestratégia e, por fim, os da Estratégia ao mais alto nível, que assumiu várias designações desde Grande Estratégia até Estratégia Nacional.

Teve de se compreender que os povos de um território específico, independentemente do tipo de poder político que os governa, têm Necessidades e Objectivos, que são organismos vivos dominados, por um lado, pela Geografia e, por outro, pela Cultura. Assim, para se estudar Ciência Política ‒ nas componentes internas e externas das relações grupais ‒ tem de se estudar Antropologia Cultural, para se perceber as condicionantes mais estruturantes dos comportamentos dos grupos sociais, que podem ser nações ou não. Naturalmente, no meio de todos estes “ingredientes” determinantes ou condicionantes das relações conflituais (declaradas ou latentes), há ainda um outro estudo que tem de ser feito para, em perfeita conjugação com todos os restantes, nos ajudar a perceber a relação internacional, e esse é a História.

 

Julgo que, da amálgama de saberes antes enunciados, para estudar com matriz científica as relações entre entidades sociais não iguais, se percebe que o mais importante é ser capaz de identificar os objectivos, as estratégias e as políticas que estão em confronto. Assim, percebemos que num conflito qualquer análise não pode reduzir-se a uma observação superficial, instintiva ou empática, porque esse objectivo simplista é uma das armas que está no arsenal das partes conflitantes: reduzir todo o conflito a emoções primárias, que as massas populares aceitem como verdades inquestionáveis.

 

Quando cada um dos meus leitores escuta ou lê um comentador esclarecido ‒ repito, esclarecido ‒, nos meios de comunicação social sobre a guerra que existe entre a Rússia e a Ucrânia, pode estar a ser influenciado por alguém que, dominando uma só parte ou uma ou duas partes dos saberes necessários para interpretar as relações internacionais, não faz a análise equidistante e científica do conflito, porque, no caso vertente ‒ como em quase todos os outros ‒ ambos os contendores têm razão segundo os objectivos que prosseguem, não devendo ser olhada a guerra como o fruto da vontade de uma só parte (por isso, a guerra é um acto dialéctico) mas, pelo contrário, como a resultante de duas ou mais vontades em jogo, pois nem todos os objectivos se resumem ao que foi enunciado, havendo-os inconfessáveis e indizíveis.

 

O grande desafio para o internacionalista (designação assumida para identificar o cientista social que estuda as Relações Internacionais) é, quase sempre, ser incompreendido pelos “adeptos” dos “jogadores” (players) em confronto, porque ele não tem como intuito agradar seja a quem for, pois o seu interesse é determinar todas as razões justificativas da guerra. Todas, se possível.

05.03.22

A guerra


Luís Alves de Fraga

 

Estamos, na Europa, a viver um estado de guerra… isto toda a gente sabe, mas será que este conflito está a seguir os trâmites normais das chamadas “guerras convencionais”?

É para responder a esta pergunta que vou escrever aqui meia-dúzia de linhas carregadas de interrogações.

 

Primeira falha. Que eu saiba não foi divulgado o “casus belli”, ou seja, o motivo suficientemente forte determinante do ataque da Rússia à Ucrânia. Decorriam negociações e negações por parte dos ministros russos sobre a possibilidade de guerra e, de repente, Putin declara que tem de proceder à “desmilitarização e desnazificação” da Ucrânia. Porquê? Qual foi a manifestação agressiva ou passível de identificar-se com um acto nazi feito pela Ucrânia? O que correu mal nas diferentes conversações?

Putin mandou invadir e, sem aviso, nem declaração de guerra ou, até mesmo, ultimato irresolúvel, atacou e matou.

Tudo isto sai fora dos cânones do “classicismo” da guerra convencional.

 

Fora da “normalidade” saem também as imagens que por cá são passadas nas televisões. Porquê? Vejamos.

São repetidas, até causar náuseas, as mesmas cenas de filas de refugiados ucranianos, os mesmos apoios a estes infelizes, as mesmas casas destruídas pelos ataques russos, uma ou outra intervenção pública dos presidentes dos respectivos países e nada mais.

A “normalidade” da correspondência de guerra não é usualmente esta. Comummente, podem ver-se e ouvir-se à distância os disparos, às vezes, as intercepções de mísseis, chegando, certos correspondentes a estar nas linhas de fogo. O que nós vemos de mais semelhante com as primeiras linhas são os inúmeros postos de controlo nas estradas que conduzem às fronteiras vizinhas e nada mais.

Onde estão os soldados ucranianos? E os seus abrigos? E os seus generais a darem explicações sobre a evolução das operações militares?

 

A sensação que se colhe ao ver as diferentes televisões é a de que a defesa da Ucrânia está entregue a uns voluntários que, de guerra, nada percebem, sem hospitais ou postos de socorros, sem gente competente, para além de um presidente que quer (ou faz passar para o exterior essa imagem) sacrificar uma população inteira face a um inimigo que não se vê, com meios que não se adivinham, nem infraestruturas capazes de serem filmadas, mesmo que à distância. Onde estão os generais ucranianos? Quem dá a cara pelo Exército e pela Força Aérea? Não há um ministro da Defesa? Não há uma conferência de imprensa?

Por onde andam os correspondentes e as imagens, sejam fotográficas sejam de vídeo, das grandes cadeias televisivas e dos seus notáveis correspondentes de guerra? Este é um “fenómeno” exclusivamente português, europeu ou abrange também mais países no mundo?

 

Se é nacional ou só europeu, estamos a ser altamente condicionados na informação e, quase de certeza, manipulados por alguém ou por interesses conjuntos.

Estão-nos a preparar para aceitar o quê?

Não é retórica a minha anterior pergunta! É muito pertinente, porque quando nada se sabe dos combates, das manobras militares, das apreciações dos chefes dos combatentes, aceita-se com grande passividade tudo o que vier a acontecer, porque estamos a viver no escuro!

Quem está a desinformar quem? E porquê?

 

Recordam-se do que se vê dos combates entre Israel e a Palestina? E das guerras dos EUA no Médio Oriente? E do Afeganistão? Qual o motivo de ser diferente agora?