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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

25.02.22

Conhecimentos oportunos


Luís Alves de Fraga

 

No momento que atravessamos - hoje, agora, ontem e há semanas - há conhecimentos que deviam estar ao alcance do comum dos mortais interessado no que se passa neste mundo.

São conhecimentos que se estudam (?) (estudavam) com alguma profundidade nos cursos de Ciência Política para ajudar os alunos a saber separar a "nata" do "leite" dos discursos políticos, evitando "comer gato por lebre".

Claro que estes saberes também variavam de professor para professor, pois, como é sabido, no ensino superior o responsável pelo programa de cada cadeira é o respectivo regente, daí a liberdade académica.

Ora, havia docentes decentes e impolutos que lutavam por deixar ao critério dos alunos as opções que deviam fazer e docentes indecentes que escamoteavam dos programas aquilo que eles achavam que os alunos não deviam saber.

Nos tempos que correm, com facilidades de pesquisa na Internet (esse imenso "caixote do lixo" onde se encontra do muito bom ao muito mau, daí que se tenha de ter critério na escolha) estão ao alcance de todos sínteses de conhecimentos que ajudam a formar opiniões.

Assim, e porque julgo oportuno, deixo para os meus leitores a ligação fácil a cinco textos que auxiliam sobre o essencial para se ter uma razoável opinião sobre quem são os principais actores nas ocorrências que nos assaltaram no dia de ontem, de hoje e vão continuar a fazer as delícias dos, algumas vezes bem informados e outras não tanto, comentadores televisivos da nossa comunicação social.

Aqui ficam os “caminhos” a seguir, pelos que se querem informar com conhecimentos medianos, mas rápidos:

Doutrina do destino manifesto (EUA):

https://pt.wikipedia.org/wiki/Doutrina_do_destino_manifesto

Cronologia das operações militares dos Estados Unidos:

https://pt.wikipedia.org/.../Cronologia_das_opera%C3%A7...

Império russo:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Imp%C3%A9rio_Russo

União Soviética:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Uni%C3%A3o_Sovi%C3%A9tica

Ucrânia:

https://pt.wikipedia.org/wiki/Ucr%C3%A2nia

Boas leituras.

22.02.22

Ucrânia, qual a verdade?


Luís Alves de Fraga

 

A condenação é total. Todos os Estados do Ocidente condenam a Rússia por terem sido reconhecidas por Moscovo as independências das regiões separatistas da Ucrânia. O acto é de uma agressividade extrema, mas, exactamente por esse facto deve ser altamente ponderado.

 

Alinhar na condenação é a atitude mais fácil, e, por isso mesmo, é aquela que não tomo. Tenho de me interrogar sobre quais foram as determinantes que levaram Putin a adoptá-la.

O homem de Moscovo é um louco varrido? Estaremos, de novo, perante um Hitler louro e sem bigode? Se as respostas forem afirmativas, então, eu curvo-me diante desta realidade sem a contestar, mas, se se der o caso de o Presidente russo ser simplesmente um estratega que, à semelhança de tantos outros, está à procura de defender, de modo conveniente, as fronteiras do seu país, como o classificar ou descobrir as suas verdadeiras intenções? Nesse caso, por uma questão de honestidade intelectual, teremos de equacionar a ameaça que ele vê e não nos é mostrada.

 

A Ucrânia é uma região rica em cereais e não só. Como é que está neste momento a economia russa? Precisará da Ucrânia para se salvar de um maior descalabro? Com quem quer a Ucrânia comerciar? Quem dá mais pelo que a Ucrânia tem a oferecer? É que as respostas a estas perguntas ou a outras que vão no mesmo sentido podem mostrar uma parte da ameaça que está a cair sobre a Rússia! E se a ameaça não é económica mas militar? Quem oferece o quê à Ucrânia para não se entender com a Rússia? Quem quer tirar o quê à Rússia?

 

Sempre tive para mim que não há nada pior para sermos enganados do que aceitar sem reticências a “verdade” que nos querem “vender”.

Sou assim, porque nasci e fui educado num país onde a “verdade” era aquela que nos impunham. Por isso, fui muitas vezes, enganado. Acreditar no que nos dizem sem estabelecer reticências é perigoso, porque nos esvazia o sentido crítico e nos torna em marionetas nas mãos de quem comanda a informação.

A democracia é o oposto da ditadura mas, porque vive da informação e opinião dos cidadãos, cabe a cada um de nós descobrir até onde vão os mecanismos manipuladores da política feita pelos que se dizem democratas, pois, em geral, são muito mais sofisticados do que os das ditaduras.

A ditadura é cómoda para quem não se quer incomodar, porque deixa “limpas” as consciências de todos aqueles que a aceitam; pelo contrário, a democracia é incómoda, trabalhosa e exigente para os cidadãos que o querem ser com plena consciência das escolhas que fazem.

Dá mais trabalho, mas vale mais a pena não alinhar de imediato naquilo que pode parecer óbvio. Se escolhermos o caminho do não óbvio, quase pela certa, seremos cidadãos livres e excelentes democratas.

Cuidado com os “pastores de rebanhos”.

21.02.22

Aqui ao lado… Em Espanha


Luís Alves de Fraga

 

Todas as manhãs recebo uma newsletter “El País de la mañana”, assinada pela jornalista Berna González Harbour, subdirectora do jornal, que faz uma síntese dos assuntos mais importantes de Espanha e do mundo.

É uma mulher muito inteligente, perspicaz e experiente. A síntese que todos os dias assina nada tem a ver com a newsletter que recebo, também, diariamente que dá pelo nome de “Expresso Curto”: a de Espanha é directa, concisa e explicativa ‒ sem espírito de negócio e de captar leitores, ao contrário da do nosso semanário.

 

Sabemos que a direita espanhola está a atravessar uma profunda crise de identidade, dando larga margem de manobra à extrema-esquerda. E, porque no país vizinho se viveu uma guerra civil que matou durante e depois muitos espanhóis pelo simples facto de pensarem de maneira diferente do fascismo de Franco, não resisto a transcrever, mesmo em castelhano (ponho entre parêntesis uma ou outra tradução de palavras menos comuns) o que escreve Berna González, para que se veja que, por lá, ou seja, mesmo aqui ao lado, não têm medo das palavras:

 

«Vox nos da miedo o nos preocupa a la mayoría de la población y qué hacer con este partido es un debate que no está resuelto (resolvido). Estos son los datos (dados):

  • El 21,4% siente miedo. Y el 37,5% está preocupado por la posible presencia de Vox en el gobierno de España.
  • El 47,6% de la población es partidaria del cordón sanitario, mientras (enquanto) el 42% prefiere que se les trate como a un partido más.
  • Entre votantes del PP, el 71% está a favor de tratarles como un partido más. Entre votantes de Ciudadanos, lo está el 65%.
  • La mayoría (66,7%) considera a Vox de extrema derecha, incluso los votantes del PP (el 59,5% lo cree así).
  • El 55% cree que no respeta los derechos de las minorías y el 51,5% considera que se atreve a decir lo que la gente piensa.

Y todo esto no importaría tanto si no fuera por el harakiri que se ha hecho el PP.»

 

Em Espanha há medo do Vox, mas em Portugal discute-se sobre o cordão sanitário que António Costa lançou em volta do Chega. Lançou e muito bem. Contudo, entre nós não há medo do Chega. Qual será a razão?

Vamos pensar ou teremos tido falta de uma guerra civil?

12.02.22

Um “judeuzinho para matar”


Luís Alves de Fraga

 

Este nosso país está demente ‒ ou será que sempre esteve e não damos por tal? ‒ pois de coisas de menor importância ou coisas a serem tradas com discrição se faz um tal alarido que me leva ‒ a mim e a outros cidadãos, pela certa ‒ até à náusea.

Vem isto a propósito do jovem, talvez desequilibrado, que, num repente, passou da condição de estudante da Faculdade de Ciências (pondo a comunicação social ênfase no facto de frequentar o curso de engenharia informática, logo no rescaldo de um ataque cibernético) à de “terrorista”.

 

Meteu-me nojo, como se estivesse a ser obrigado a olfatar um vaso repleto de fezes nauseabundas, o quase prazer que os pivots das diferentes estações de televisão punham na notícia e nas perguntas estúpidas que faziam a estúpidos e ignorantes “especialistas” em terrorismo. Foram horas de um tormentoso escalpelizar de hipóteses com infindáveis elogios à Polícia Judiciária e às autoridades que seguiram as indicações do FBI.

Tive vontade de contactar o inefável Fernando Medina e recordar-lhe o “crime” que ele havia cometido ao ter mantido um serviço na Câmara de Lisboa, que enviava aos diferentes países a lista dos insurgentes estrangeiros que se manifestavam na capital contra os respectivos governos nacionais (para esses é intromissão no direito à liberdade, mas, para o nosso estudante, foi prevenção colaborativa!... Ah coerência do catano!)

 

E, por falar em coerência, volto ao cerne deste apontamento: o prazer mórbido de incendiar os ódios nas multidões.

Condenar na praça pública, segundo a opinião pública, um jovem sobre quem nada se sabe, que não perpetrou crime de espécie alguma, que escreveu um “plano de ataque” (tão viável de o ser como eu estar, neste momento, a escrever sentado numa cadeira num deserto do planeta Marte), que tem em casa umas facas de cozinha e uma ou duas catanas, que até podem ter sido compradas na Feira da Ladra para enfeitar as paredes do quarto onde estuda, guarda uma ou duas garrafas de gás, uma besta, e, porque gosta de informática e de explorar a Internet, anda ou andou pela tal “Dark Net”, esse antro de criminosos por onde se movimentam as chamadas forças de segurança internáutica, a fazer perguntas e a dizer coisas, e tudo isto é, em tudo, mas mesmo tudo, IGUAL À INCITAÇÃO CONTRA OS JUDEUS, QUE LEVOU À MATANÇA DO LARGO DE S. DOMINGOS, só que no século XVI. Temos o “judeuzinho para matar”, tal como temos uma data deles à espera, em fila, para serem sacrificados pelos “frades” pressurosos das nossas televisões na ânsia de prender audiências, o mesmo é dizer, armar caceteiros rufias do pensamento ignorante deste país antissemita, por inveja e despeito, desde os tempos da Fundação. Claro, os Judeus de hoje não precisam de professar a religião de Abraão… Basta caírem nas malhas da inconveniência política!

 

Circunspecção, cautela nas acusações e nas deduções são virtudes que não moram neste país habituado a incomodar familiares de um suposto suspeito, condenando, ascendentes e descendentes, à memória infamante, porque se faz gala na cultura da maledicência, da calúnia, da denúncia impostas pelo Tribunal do Santo Ofício, pela Real Mesa Censória e, depois, pela Lei da Rolha e por todos os coronéis censores do fascismo nacional.

Não temos emenda e os nossos poderes públicos gostam deste espectáculo que, sendo triste, é digno de repúdio por parte de gente saudável e civicamente bem-formada.

09.02.22

Adivinha política


Luís Alves de Fraga

«Princípios ordenadores da Razão do Estado

[...] .

19. Princípio do equilíbrio. A Sociedade submete-se à autoridade tutelar do Estado para que este garanta dois princípios essenciais à sua sustentabilidade: a boa gestão dos recursos comuns e a solidariedade entre os seus membros.

[...].

21. Princípio da presunção da boa-fé do cidadão. Até prova em contrário, assume-se a premissa de os cidadãos agirem de boa-fé. Provado não ser esse o caso, a punição deve ser verdadeiramente dissuasora. A clareza e simplicidade do princípio é, por natureza, contrária à burocracia, esta sustentada na presunção de que o cidadão assume permanentemente a posição de tentar ludibriar o Estado.

[...].

23. Funções autorreguladoras e de gestão. Pelas primeiras, o Estado, a partir da vontade livremente expressa dos seus cidadãos, estabelece a origem e os limites do seu poder permanente de autorregulação; pelas segundas, o Estado recolhe e gere os meios financeiros e humanos que deverão ser apenas os estritamente indispensáveis à prossecução dos seus fins próprios.

[...].

25. Funções reguladoras. São aquelas que envolvem o poder, também ele soberano, de ditar as regras do jogo – na política, na sociedade ou na economia –, de regular e arbitrar os competidores nesse jogo com recurso aos poderes soberanos.

[...].»

Temos estado a falar do programa de que partido político nacional? Faz lembrar algum outro documento histórico português?

Não prometo prémio nenhum, mas aceito sugestões, através de comentários.

02.02.22

As garras das feras


Luís Alves de Fraga

 

Depois de passar a noite de domingo, dia 30 de Janeiro, e o dia de ontem, depois de deixar assentar todas as euforias partidárias dos diferentes comentadores políticos ‒ jornalistas, politólogos e outras coisas mais ‒ venho fazer a minha análise das reacções, e só das reacções, dos líderes partidários face aos resultados. Uma análise não política, mas, tanto quanto possível, psicológica e comportamental daqueles chefes de partido que se apresentaram a mostrar a cara depois de sabidos os resultados da votação.

 

Comecemos por António Costa, o grande vencedor da noite.

Trazia a alegria estampada no rosto, mas sem arrogância, sem aquele ar impante, que poderia ter, uma vez que alcançou o objectivo com que arrancara para a campanha eleitoral. As palavras usadas, sendo de satisfação, foram contidas, pensadas, procurando dar garantias ‒ que vai cumprir ou não ‒ de manutenção de diálogo com as forças políticas democráticas. Soube agradecer e festejar, com comedimento, os auxílios que lhe foram dispensados durante a campanha e usou de delicadeza para com os vencidos, não os esmagando com o peso da sua vitória ou, melhor, com a vitória do seu partido. Teve a atitude esperada de um político de sorriso fácil e de optimismo contagioso. Se estava a representar, a encarnar um papel de “bonzinho”, só o tempo o poderá dizer, depois de vermos o seu comportamento após a aprovação do Orçamento e o comportamento parlamentar dos deputados eleitos.

 

Rui Rio, já à entrada do hotel onde instalou o seu quartel-general, trazia um semblante quase fechado, indicador de abatimento moral ou físico. Talvez já tivesse, em traços largos, informações de que a vitória não lhe iria bater à porta. Mas, ao descer, para falar aos partidários presentes e à comunicação social, soube compor uma aparente boa disposição, que não chegava para esconder, por completo, a tristeza da derrota e as previsíveis consequências que advirão desse facto. Não escondeu a desilusão de ficar aquém dos valores esperados, não usou dos velhos estratagemas para transformar uma derrota numa vitória parcial. Soube agradecer a quem o ajudou e assumiu de uma forma velada, pouco transparente, a sua vontade de abandonar o leme da governação do seu partido, dizendo não ter agora condições para fazer oposição ao Partido Socialista. Este “não ter condições” quer dizer duas coisas: primeiro, face a uma maioria absoluta no parlamento, não há combate político possível, porque a vitória está sempre assegurada pelo partido maioritário; em segundo lugar, porque fazer oposição supõe conseguir arranjar conjuntos de argumentos que levem o adversário a aceitar mudar. Ora, face à conjuntura, mesmo que o oponente mude ou acerte o passo, momentaneamente, pelo ritmo da oposição, a vitória e os louros que daí advierem são sempre da maioria. Isto não é oposição, isto é colaboração sob a capa de uma desarmonia. A inteligência dos jornalistas presentes, pouco habituada ao uso de uma linguagem enviesada, levou Rui Rio a ter de, para não ofender a comunicação social, brincar, falando alemão. Foi a brincadeira de quem, já com mau sabor na boca por causa da derrota, quer escapar ao enxovalho público.

 

Catarina Martins, aparentando a boa disposição possível, assumiu, sem grande dificuldade, a derrota eleitoral mas, como é apanágio dos partidos onde o colectivo se impõe ao individual, não chamou a si a responsabilidade dos fracos resultados; deixou para os órgãos colectivos a decisão do estudo, análise e resolução de tal problema. Não se eximiu, contudo, a identificar a autoria de alguns avanços e conquistas que agora o PS chama seus como tendo sido exigências do BE. E foram-no! António Costa, como político hábil que é, transferi-os para o património do seu partido e, do ponto de vista da legalidade, não há dúvidas que pertencem aos socialistas, todavia, em termos de legitimidade, eles foram expostos e defendidos pelo Bloco. Catarina Martins esqueceu que as benesses conseguidas pelas massas populares perdem autoria depois de alcançadas… Passam a ser de todos e quem as propôs não interessa… É a injustiça popular!

 

Com humildade, a líder do PAN apresentou-se perante as câmaras e aceitou a derrota. Não sabemos se, no entanto, soube tirar dela a lição mais evidente: o seu partido é, politicamente, uma “invenção” que está a meio caminho da defesa ecológica, da defesa dos cãezinhos, dos touros e dos gatinhos e da defesa das pessoas, olhando muito pouco para as ideologias políticas que são comandadas pelos interesses sociais e económicos. Na minha opinião, politicamente, o PAN é um desperdício de votos! Assim, é um desperdício a liderança daquele grupito de gente que humaniza animais e animaliza os humanos.

 

Ufano, com alegria estampada no rosto, apareceu o líder do partido Iniciativa Liberal por ter ganho maior destaque no parlamento. Houve promessas de cumprir o programa eleitoral, de contribuir para um Portugal mais desenvolvido através de desenvolver e aumentar o investimento, de proteger empresas. Promessas normais, alegria e satisfação normais, nas circunstâncias, pois já se sabia que o CDS não elegera nenhum deputado e o PSD havia caído na confiança dos eleitores.

 

No rosto de Jerónimo de Sousa, em cada ruga, em cada sulco, estava impresso, como num livro carregado de palavras, a dor da luta contra a ditadura, os anos de prisão de todos os militantes durante cem anos de existência do Partido Comunista, mas mais do que tudo, o esforço feito, no rescaldo de uma intervenção cirúrgica, para dar notícia da perda de mandatos no parlamento. Não houve arrogância, nem desculpas com vitórias “morais”; a explicação de que muitas das propostas introduzidas nos diferentes Orçamentos, desde 2015 até ao presente, se ficaram a dever ao PCP para benefício dos trabalhadores e dos Portugueses foi dada sem arrogância, sem rancor, mas com firmeza, para que se saiba como os comunistas colaboraram com o partido detentor, agora, da maioria. Jerónimo de Sousa manter-se-á à frente do partido, como secretário-geral, enquanto o comité central o entender.

 

Quando o líder do Livre deu explicações sobre a sua eleição ‒ a única que conseguiu ‒ não houve euforia, nem excessivo rebuliço. Reafirmou tratar-se de um partido ecologista dentro da “família” dos que defendem a Natureza e que procuram soluções socialistas integradas na ordem europeia. Foi comedido e parco de palavras, mas inteligente e decidido nos propósitos norteadores da ideologia do seu partido.

 

Francisco Rodrigo dos Santos surgiu na sala de imprensa do CDS com aspecto patibular, sem qualquer vestígio da arrogância que usou noutros tempos. Era um líder vencido à frente de um partido em vias de extinção. Aceitou a derrota com estoicismo e arcou com as responsabilidades: apresentou a demissão ao Presidente do partido.

 

Guardei para o fim a entrada triunfalmente animalesca de Ventura na sala onde o esperava gente agitada, inquieta, irrequieta, tendo como palhaço da festa a inefável criatura que dá pelo nome de Maria Vieira. Só ela, por si só, poderia ser o logótipo daquele agrupamento de arruaceiros com ar caceteiro (bastava olhar para os “seguranças” do “chefe” para se perceber que o cacete dos frades miguelistas do século XIX era um inocente brinquedo nas mãos destes “gorilas”). Por aquela sala não se gritava, urrava-se a raiva de uma vitória a babar vingança, a pedir sangue e perseguições descontroladas de socialistas. E André Ventura ‒ aquele que eu conheci pacífico, apagado e silencioso nas salas do Departamento de Direito da Universidade Autónoma de Lisboa ‒, agora, ainda a um ano ou dois de atingir os quarenta de idade, avisava, usando o tu carroceiro e impudico, António Costa, vinte e dois anos mais velho do que ele, que o iria perseguir com verdadeira oposição, procurando amedrontar um político calejado nas pugnas da democracia, tal como se estivesse a discutir o resultado de um golo nos campos da grosseria de um futebol sem qualquer “fair play”. Este “chefe de fila”, que se julga líder, mais tarde ou mais cedo, engolido pelos tubarões da violência bruta do agrupamento a que chama partido e cujo programa eleitoral poucas mais páginas tem do que este comentário, este “chefe de fila”, dizia eu, foi a nódoa de um momento democrático clarificador da vontade dos Portugueses, porque trouxe para as urnas o lado mais sórdido do carácter da nossa forma de estar na vida e em sociedade: trouxe a violência ‒ por enquanto verbal ‒ própria dos analfabetos políticos e dos despeitados, daqueles para quem as palavras têm pouca ou nenhuma valia na resolução dos problemas.

Será que a raiva ululante da “rua” vai chegar ao hemiciclo da Casa da Democracia e da Liberdade ou Ventura e os seus deputados, como certos jogadores de luta livre combinada, imitam bem a raiva para exaltar o público e, na arena de trabalho, se transfiguram em gente civilizada?