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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

29.10.21

Culinária política


Luís Alves de Fraga

 

Vamos fazer uma experiência culinária?

Comecemos.

 

Ponham ao lume, para cozer, uma posta de pescada e batatas, mas sem qualquer pitada de sal.

Depois de cozidos estes alimentos, sentem-se e comam.

Sabem-vos bem?

Claro que não, porque lhes falta sal.

 

Passemos, agora, a outra experiência.

Uma posta de pescada coberta com 20 gramas de sal e duas ou três batatas com mais 20 gramas de sal.

Ponham a cozer e, quando pronta a refeição, experimentem comer.

Sabe-vos bem?

Claro que não, porque tem sal em excesso.

 

Os extremos culinários são sempre maus, por serem doces, quando deviam ter um pouco de sal, ou por serem salgados, quando não precisavam de tanto tempero.

 

Pois bem, na política acontece o mesmo: não devemos nem puxar para um extremo nem para o outro, mas carecemos de reconhecer a importância e o valor dos grupos e ideologias que dão tempero à democracia.

Se o partido Chega (por enquanto sem significado de qualquer natureza) ou o CDS são um extremo e o BE ou o PCP são o outro, podemos, então, compará-los à falta de sal ou ao seu excesso e, deste modo, aceitar que a boa democracia é aquela que os admite simplesmente para "darem sabor" à disputa política, beneficiando-nos com "pitéus" que variarão em consequência dos "comensais" ou, se preferirem, dos eleitores.

 

Do mesmo modo que não aceito a comida insossa e também não a quero salgada, assim, não aceito os primarismos políticos que excluem os extremos da democracia... em liberdade, controlam-se e usamo-los para benefício de todos nós.

24.10.21

Tradições


Luís Alves de Fraga

 

Há boas e más tradições.

Más serão as que ofendem as pessoas, os costumes, a moral pública aceite, a integridade física de seres humanos ou, até, de animais. Boas são todas as outras.

 

A forma típica de marchar das tropas pára-quedistas vem desde a sua criação, tal como a mística da boina verde e a do seu cântico "Pátria-Mãe". Nada disto faz mal a ninguém, pelo contrário, estimula o espírito de corpo numa tropa especial com quem convivi, em Moçambique, diariamente, vinte e cinco meses seguidos. É gente de uma abnegação acima do normal das tropas comuns.

 

Não compreendo a razão de lhes ser vedado, no desfile de hoje, em Aveiro, dia do Exército, o uso da marcha típica e de entoarem o seu cântico de guerra e de honra.

 

Talvez, rebuscando na parte mais recôndita da minha mente, eu saiba a razão sobre a qual aqui já deixei alguma coisa escrita. Aí vai, como mera hipótese, que se enquadra naquilo que já tenho dito.

 

O cântico "Pátria-Mãe" evoca o quê, afinal?

Como se percebe, a Pátria. É um cântico que vem de antes da CEE e da UE. É um cântico que exalta Portugal e os seus valores históricos.

Ora, se admitirmos que as recentes reformas feitas na estrutura orgânica das Forças Armadas se enquadra numa futura criação de umas Forças Armadas da União Europeia (em que os Chefes dos Estados-Maiores dos ramos passam a ser meros executantes de um Estado-Maior muito superior ao das unidades políticas que formam a UE) então, menor sentido fará invocar uma Pátria que está a transformar-se numa unidade estatal menor dentro da unidade federal maior.

Fiz-me entender?

Tem lógica ou não tem?

17.10.21

O porquê das coisas…


Luís Alves de Fraga

 

Um velho e querido Amigo meu, companheiro do Instituto Militar dos Pupilos do Exército, um digníssimo Contra-Almirante, da nossa Armada, fez-me chegar às mãos ‒ usando, está claro, o correio electrónico ‒ a introdução aos apontamentos da cadeira de Economia Política, leccionada por um Mestre de excepção ‒ o Dr. Luizélio Saraiva ‒ que, para além desta, ministrava a Contabilidade Geral, o Cálculo Comercial, o Cálculo Financeiro e todos os outros “cálculos”, que, para mim, eram uma densa e impenetrável floresta por onde fui traçando um caminho muito junto ao mínimo de sustentação.

 

Ora, aconteceu que, no final de um determinado ano lectivo o Mestre ‒ também antigo aluno dos Pupilos, mas muito significativamente mais velho do que nós ‒ me disse, depois de me anunciar a rasteira nota obtida num dos “Cálculos”: «Para o ano o meu amigo terá comigo uma disciplina de que vai gostar muito e, se calhar, até conseguirá ter boas notas».

Calei-me, pois, se das Contabilidades eu não tinha medo (nunca estudei uma linha que fosse, porque tudo aquilo era absolutamente intuitivo, daí que, não sendo bom aluno, era suficiente) já dos Cálculos eu fugia a sete pés. Qual seria a matéria de que eu iria gostar assim tanto?

 

Esperei até ao começo das aulas e foi quando o Dr. Luizélio Saraiva nos deu os apontamentos de Economia Política por si elaborados. Encantei-me desde as primeiras linhas. Daquilo sim, daquilo eu gostava! E ele punha tudo tão claramente exposto que era difícil não perceber. E já citava Paul Samuelson ao mesmo tempo que explicava certas leis da Economia com base na obra A Situação da Classe Trabalhadora em Inglaterra, da autoria de Engels.

Foi este primeiro e grande contacto com uma visão da Economia Política fora dos estafados conceitos clássicos, que me permitiram, dez anos mais tarde, compreender a maior parte das teses de Karl Marx e de Engels, levando-me a aceitar significativo lote do pensamento marxista, sem fazer de mim um comunista (coisa extremamente difícil de admitir por parte de quem só vê em Marx o revolucionário, sem lhe descobrir as facetas de sociólogo, de economista, de filósofo e de historiador).

 

Foram os apontamentos de Economia Política desse Mestre e antigo aluno do Instituto dos Pupilos do Exército que me abriram as “frestas” por onde o meu pensamento político começou a tomar forma. E, para contrabalançar ou reforçar (ainda estou para descobrir), foi um outro grande Mestre, o Professor Adriano Moreira, quem me ajudou a perceber que o marxismo tem virtualidades inestimáveis quando se quer estudar muitos dos fenómenos sociais de agora e de ontem (talvez, até, do futuro).

Foi assim que, ao elaborar a minha tese de mestrado em Estratégia, debruçando-me sobre a História de Portugal e, mais exactamente, sobre toda a negociação que conduziu a Grã-Bretanha a solicitar a nossa beligerância, percebi que, aquilo que Marx chamou “luta de classes”, estreitando uma visão que, no meu parecer deve ser muito mais ampla, se traduz por uma realidade de todos os tempos: as relações sociais ‒ sejam entre homens singulares ou entre Estados ‒ são sempre conflituais, podendo o conflito estar latente, adormecido, levando a acreditar que até existe cooperação, ou, ao revés, estar bem vivo e aceso, manifestando-se na sua máxima expressão: a violência bélica.

 

Afinal, o Professor Dr. Luizélio Saraiva acertou em cheio quando me vaticinou maior apetência para as Ciências Sociais e Humanas do que para as Ciências Contábeis e Matemáticas.

10.10.21

Que mundo!


Luís Alves de Fraga

 

Recebo, todos os dias, pequenos resumos de notícias publicadas pelo jornal espanhol "El Pais" e hoje fiquei estarrecido perante este título: «Em 17 capitais espanholas não se consegue alugar um andar para habitação abaixo de um terço do salário mínimo nacional».

 

Sei, mais ou menos, sem fundamento em qualquer pesquisa, o que se passa entre nós. Não deve andar longe deles ou, talvez, pior. Donde, a pergunta que se me coloca é:

- Para onde querem mandar este mundo?

 

E a pergunta tem toda a razão de ser, pois, tendo eu "um pé no passado e outro, forçosamente, no presente", por fazer História e procurar conhecer como foi o mundo ontem, vejo que, de uma outra maneira - como não poeria deixar de ser -, há certos aspectos que tendem para uma perigosa aproximação.

As rendas de casa impossíveis para gente com fracos salários colocam-nos perante um panorama que, com as mutações próprias, recordam a forma de viver dos operários ingleses, no século XIX, habitando tugúrios insalubres e impróprios já nesse tempo.

A loucura consumista, à custa de preços ou exageradamente altos ou exageradamente baixos, leva-me para os "loucos anos 20" do final da Grande Guerra.

A corrupção generalizada em todos os Estados do mundo conduz-nos aos tempos da permissividade do roubo sem outro castigo que não fosse o proclamado pelos sacerdotes, também eles, venais.

 

Roma caiu, o Império desfez-se, quando as leis favoreciam uns, os ladrões bem sentados no senado ou em cargos de elevada importância no aparelho do Estado, e condenavam outros que não tinham como se defender. Mas Roma caiu, acima de tudo, porque perdeu a força e se deixou corroer pelos "bárbaros", nome dado a todos aqueles que não eram naturais da Península Itálica.

 

Como vamos cair nós? Não só os Portugueses, mas todos os que vivemos neste mundo tão cheio de "loucuras" (faz-se turismo indo ao espaço estratosférico… O que é isto?) mas, tão hipocritamente defensor do planeta e da sustentabilidade da humanidade. Qual humanidade?

02.10.21

Vamos ser estúpidos?


Luís Alves de Fraga

 

A situação criada pelo ministro da Defesa Nacional ao tornar pública a vontade de exonerar o almirante Calado, Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), para o substituir pelo vice-almirante Gouveia e Melo, no dia em que este cessou funções à frente do destacamento de controlo da vacinação, pode ter resultado de uma precipitação e de um acto insensato ou mesmo estúpido do ministro e até do Primeiro Ministro.

 

Como sempre, lanço hipóteses para ver se têm alguma verosimilhança de modo a serem explicação de dúvidas que me surgem. O que disse acima é a ponta de mais uma que passo a equacionar.

 

Gouveia e Melo cumpriu de forma exemplar a missão para a qual foi nomeado. Na hora da despedida, o Governo não sabe como agradecer-lhe. Um louvor era mais um na folha de serviços do almirante, uma condecoração teria de ser tão elevada que, se calhar, ultrapassava a competência dos governantes, nomeadamente do ministro da DN e, atribuir-lhe mais uma medalha de serviços distintos era outra entre tantas que ele já possui. Em face do problema, “sai” uma solução “à político”, uma daquelas que é hábito usarem para premiar quem se “porta bem”: arranjar-lhe um “tacho”!

 

Mas Gouveia e Melo demonstrou a sua verticalidade castrense e um “tacho” teria de ser bem escolhido, pois ele poderia recusá-lo. «É fácil» ‒ terá dito o ministro da DN ‒ «faz-se dele CEMA e terá as quatro estrelas que merece».

Terão batido palmas os ministros distraídos, terá concordado António Costa, enquanto despachava coisas mais importantes, e a “solução” (talvez soprada pelo CEMGFA) do ministro da Defesa ganhou pernas para se tornar pública. E foi nessa altura que começaram a aperceber-se da merda que haviam parido! É que militares ‒ embora os políticos estejam a tentar a transformação ‒ não são “boys” a quem se dão prémios chorudos à conta do orçamento e, por conseguinte, de todos nós! Os militares regem-se por princípios éticos que a tradição vai conservando (não sei até quando, mas, por enquanto, ainda mantêm).

 

Que grande “bronca”, porque quem, em última análise e instância, nomeia e destitui os chefes militares é, por proposta do Governo, o Presidente da República. Desta vez, Marcelo Rebelo de Sousa, com o sorrisinho sacaninha que lhe conhecemos, e aquele movimento de cabeça que pontua as frases que deseja fiquem bem esclarecidas, deu um “chuto nos tomates” do ministro e uma forte palmada nas costas do Costa! Pura e simplesmente desautorizou, em público, o ministro e recordou ao Governo que ele, Presidente da República, não é um “verbo de encher”. E não venham os habituais comentadores televisivos dizer que Marcelo está a “deitar as garras de fora” depois das eleições autárquicas! Não está, porque, gaita, o ministro, o Governo e António Costa serviram-lhe em bandeja de ouro o motivo mais do que excelente para ele os “pôr na ordem”.

 

Não sei o que se passou em Belém para que a Presidência da República considere esclarecidos os equívocos gerados, mas, quase apostava que quem saiu do palácio com o rabo entre as pernas foi António Costa e o ministro da Defesa a chamar pelo irmão de Abel, que, recordo, dava pelo nome de Caim (ou seja caim, caim, caim…).

 

Tem pernas para andar esta hipótese que vos coloco?