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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

30.09.21

Vamos entender-nos?


Luís Alves de Fraga

 

Terá o actual ministro da Defesa Nacional uma política de destruição das Forças Armadas?

Julgo que não! É um pau-mandado do Governo, da classe política (com raras excepções) ou/e de Bruxelas.

 

Comecemos pelo início.

A tutela exercida pelo Conselho da Revolução, ou seja, os militares que substituíam um tribunal constitucional e político, que não existia no momento, não foi perdoada pela classe política ‒ e aqui destaco, com bastante ênfase, o PS, o PSD e o CDS ‒ e, por trás da desculpa de sustentar a democracia por receio de uma volta à ditadura fascista ou fascizante, foram-se tomando medidas para desmantelar, pouco a pouco, pedaço a pedaço, as Forças Armadas. Chegou-se à realidade actual que, em traços largos, se traduz por os efectivos dos três ramos serem iguais ou já inferiores aos dos da GNR com os da PSP.

Neste momento, reduzir mais as Forças Armadas atinge as raias do escândalo castrense e, até, nacional.

 

De repente surge uma reorganização dos comandos superiores das Forças Armadas; uma reorganização que não faz sentido na realidade nacional, nem se justifica para aumentar a eficiência das nossas forças.

É aqui que entram as minhas desconfianças, as minhas hipóteses e as minhas teses não provadas, embora, parece-me, verosímeis.

Vejamos.

 

O que é que falta à União Europeia para ser uma unidade política federal?

Duas únicas coisas, já que a soberania dos parlamentos nacionais foi fortemente amputada pelos tratados existentes, e que são: uma política externa uniforme e umas Forças Armadas verdadeiramente europeias.

Portugal, como “bom aluno” que é nesta “escola” de união de nações, está a preparar o caminho para a entrega das suas Forças Armadas às Forças Armadas da UE, fazendo-as depender de Bruxelas e da política que ali se traça. Em troca, aumenta as forças de segurança interna, que passarão a funcionar como a polícia militar no Brasil ou como a guarda nacional nos EUA (forças dependentes dos governos federais).

Assim, na suposição da verdade desta tese, percebe-se que os Chefes dos Estados-Maiores dos ramos deixam de ter papel relevante em toda a organização das Forças Armadas da UE, bastando para isso um único general, o CEMGFA, que será o interlocutor privilegiado no seio da defesa da União.

 

Ora, face ao que sugiro, digam-me se os ministros da Defesa Nacional dos últimos anos têm sido inaptos ou, pelo contrário, têm sabido cumprir o “dossiê secreto” de Bruxelas? Digam-me se a duplicação de meios navais entre a nossa Marinha e a GNR não encaixa na perfeição neste projecto?

 

Claro que, quando o “projecto” estiver quase completo em todos os Estados da União, só faltará decretar o fim dos Ministérios dos Negócios Estrangeiros para os tornar em engrenagem de transmissão de uma política externa da União.

 

Pensarão os mais cépticos que eu estou a delirar ou que sou um inventor de “conspirações”, mas creiam, a carapuça não me serve. E não serve por um só motivo: desde 1982 dediquei-me ao ensino superior militar e civil e, por consequência, a “abrir todas as janelas” da minha desconfiança científica sem desprezar as mais absurdas, pois só assim podia ajudar os meus alunos a pensarem sem preconceitos, sem barreiras prévias que lhes cortassem os caminhos da verdadeira investigação. Já não lecciono, mas não me dispenso de prestar um serviço comunitário que poderá ajudar quem o quiser aproveitar.

27.09.21

Câmaras, partidos políticos e mudança


Luís Alves de Fraga

 

Pronto, acabaram, na prática, as contagens de votos das eleições autárquicas de ontem.

Em alguns casos ‒ quase todos ‒ foram lutas partidárias nas quais os eleitores alinharam, noutros foram escolhas de personagens que parecem vir a beneficiar as populações. Os analistas fazem análises, os líderes partidários tiram conclusões. Toda a gente olha para o passado, para outras eleições e baseia os seus raciocínios na comparação entre o agora e o ontem, seja este mais recente ou mais longínquo. Estou a exagerar? Vamos ver.

 

Reparem na forma como se analisam as perdas de municípios onde governou o PCP e as daqueles onde tradicionalmente estiveram outros agentes de diferentes quadrantes políticos durante largos anos (Lisboa pode servir de exemplo).

A observação é feita, tomando como miradouro os partidos, fazendo-nos crer que tudo gira à volta deles. Querem que acreditemos na permanência de uma ideia ao longo do tempo. Ora, nada pode ser mais falso!

O PPD/PSD de Rui Rio nada tem a ver com o de Sá Carneiro nos anos imediatamente a seguir a 1974 ou ao início da década de 1980. O PSD de Cavaco Silva, Primeiro Ministro, não é o PSD de Passos Coelho nem o do actual líder. E o mesmo acontece com o CDS de Freitas do Amaral e o do “Xicão”. O PS de António Costa não é o de António José Seguro e, menos ainda, o de Mário Soares, em 1975. O PCP, no seu imobilismo tradicional, não é o partido de Álvaro Cunhal e do proletariado, porque Jerónimo de Sousa, e outros antes dele, deixaram de falar de vanguardas revolucionárias e outros princípios marxistas-leninistas, invoca os trabalhadores, indo do operário ao intelectual. O BE não é o somatório da UDP com quase todos os pequenos partidos de extrema-esquerda.

O que cada partido defende hoje, no plano ideológico e prático, não é igual àquilo que defendeu no passado distante e, mesmo, no passado recente. Assim, tirar conclusões com base nas posturas de cada partido, quanto a mim, parece-me um tremendo erro.

 

Mas, acresce que os eleitores do presente já não são os do passado, pelo menos na sua maioria. Assim, longe vai o tempo em que o Alentejo era povoado de trabalhadores agrícolas, votantes incondicionais no PCP, tal como a gente do Norte era apoiante do PSD e do CDS. Os bastiões de ontem são um mito de hoje!

Agora, a grande fatia dos eleitores está na casa etária dos 40 aos 50 anos e de ditadura, de fascismo e prisão política já só sabem o que vagamente ouvem aos familiares mais velhos, quando ouvem.

Se é verdade que um Francisco Louçã tem a clara certeza do que acabei de expor, já nada me garante que um José Miguel Júdice, um Luís Marques Mendes e outros que proliferam nas televisões a dar “opiniões” tenham plena consciência destas mudanças, porque se fixaram em estereótipos do passado e jogam com eles, agora, no seu argumentário enganado e enganador.

Os cidadãos de 40 e 50 anos (para não me fixar nos mais jovens) vivem o tempo do capitalismo global, do consumismo, de uma abastança relativa, mas abastança, comparada com a dos tempos das ceifeiras no Alentejo e dos comboios “rápidos” que levavam uma noite inteira a chegar ao Porto e quase doze ou mais horas a chegar a Bragança. Há um Portugal de ontem e um outro de agora!

Deste modo, cuidado com o que ouvem dito pelos comentadores… Há que saber quem são, que preparação analítica têm e que tipo de mensagem querem passar para quem os ouve. Há que saber do que é que cada líder partidário fala, quando perora, quando invoca o passado e quando fala do futuro. O futuro de quem está fincado nos anos de 1990 não é o futuro de quem olha o presente com os olhos e o entendimento deste começo de século (até porque esta centúria, quando estiver próxima do fim, nada se parecerá com os anos de agora!).

 

Não me lanço em adivinhações, todavia, o mais que posso fazer é alertar para os erros de quem só sabe entender o “hoje” à luz do “ontem”, porque o “amanhã” será completamente diferente de qualquer das anteriores realidades.