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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

06.03.21

Uma questão de justiça


Luís Alves de Fraga

O Partido Comunista Português (PCP) faz cem anos de existência. É da mais elementar justiça saudá-lo por este aniversário.



Todos os portugueses, no passado distante ou no passado mais recente, devem qualquer coisa ao PCP, pois foi a única estrutura partidária que se manteve em funcionamento constante mesmo nos anos mais negros da perseguição fascista entre nós, mesmo no tempo da Guerra Civil de Espanha, mesmo no tempo das prisões e das torturas, mesmo no tempo em que discordar do poder político era um crime, mesmo no tempo em que dar ajuda a um comunista por se tratar de um ser humano levava à prisão, mesmo no tempo da Guerra Colonial. Foram largas centenas de homens e de mulheres perseguidos por se oporem a uma força política que nos calava, que nos metia medo. Eles não tiveram medo ou se o tiveram souberam lutar contra a inacção.



Posso não ter concordado com o que a ideologia comunista fez na URSS e noutros Estados ditos socialistas, posso não concordar com os métodos utilizados por quem, dirigindo Estados, se reivindicou como comunista, mas tenho de ter a coragem de, mesmo discordando, reconhecer que o PCP e os seus militantes foram, em Portugal, a única força política organizada que lutou pela liberdade de expressão, pela justiça social e pelos mais básicos direitos dos Portugueses.

Parabéns ao PCP e aos seus militantes.

03.03.21

Poetas e metáforas


Luís Alves de Fraga

 

Hoje, ao acordar, pondo os pés fora da cama, assaltou-me o pensamento uma só palavra, curiosa e inesperadamente, italiana: farfalla!

Atrás dela veio-me a lembrança dessa obra-prima do cinema italiano O Carteiro de Pablo Neruda. Ainda pegada, agarrada, pendurada no frágil corpo da farfalla chegou-me a figura da tia de Beatrice.

 

E como os pensamentos na nossa mente são rios caudalosos que saltam fora das margens e se despenham de alturas insuspeitáveis em cascatas cristalinas, associei essa quase analfabeta tia de Beatrice, mulher com os pés no chão, desejosa de ganhar dinheiro nem que venda a alma ao diabo, mas supostamente crente em Deus, através dos conselhos do pároco bacoco, obtuso, mas desleixado quando toca a comer e a beber, associei-a, dizia, ao Sancho Pança do Don Quixote de la Mancha.

Associação puxa associação e lá vem a do carteiro e Pablo Neruda, ambos, afinal, Quixotes de níveis culturais diferentes, mas iguaizinhos como duas lágrimas, em capacidade de sonho e de poetar. É que, lá no fundo, o poeta e a poesia têm uma fonte única: o amor.

Da mesma maneira que para o carteiro faziam sentido as borboletas do poeta, irmanados no mar da paixão, para a tia de Beatrice elas, as borboletas, eram tentações pecaminosas para roubar a virtude da sobrinha, protegendo-a, se necessário, de escopeta na mão.

 

Mais do que as metáforas saídas das bocas de Pablo Neruda e do seu carteiro, o filme é ele mesmo uma metáfora da vida. Uma metáfora, porque nos coloca o confronto existente entre a poesia, o belo, o sentimento suave, a inocência (até a do chefe da estação dos correios que acredita na salvação comunista) e a dureza da realidade onde só tem cabimento a luta pela sobrevivência, a mentira (o político que promete e não cumpre, porque não quer cumprir nem nunca o desejou fazer), a raiva, o desespero.

 

E, assim, de pensamento em pensamento, acabei de lavar os dentes e fui comer o pequeno-almoço, na cozinha, de janela aberta para deixar entrar o fresco desta manhã que anuncia a Primavera, ao mesmo tempo que o ar se enchia com os gritos das gaivotas do Tejo, que vêm aqui disputar restos de comida deixados por velhas senhoras que gostam de alimentar os gatos vadios.

O que fazem as borboletas quando se acorda com elas no sentido, mesmo que seja em italiano!

02.03.21

De Espanha vêm sinais de mudança


Luís Alves de Fraga

 

No jornal El Pais de hoje está publicado um longo artigo sobre o ensino superior, pondo em causa aquilo que entre nós se designa por sistema de Bolonha, ou seja, a formação segundo a fórmula 3+2 (a licenciatura e o mestrado). Querem voltar ao sistema antigo de 4 anos para a licenciatura e 2 anos (no mínimo) para o mestrado. E justificam a tomada de decisão da forma que transcrevo de seguida (para facilitar a leitura, socorri-me da tradução automática, feita por recurso a meios informáticos e ligeiramente corrigida por mim):

 

«Até à implementação do Plano de Bolonha (promovido pela Europa para padronizar o ensino superior) permitia-se que as instituições elaborassem seus cursos (auditados pelos governos central e regional). Então, uma guerra estourou para oferecer o título mais específico e atraente aos alunos: Videogames, Criminologia ou Protocolo. A Espanha passou de 116 graus e diplomas para 365 carreiras diferentes, enquanto os títulos totalizam 3.008 em toda a Espanha devido à sua nomenclatura diferente.

Toda essa evolução foi feita sem nenhuma proteção reguladora, de modo que o nome das carreiras de Humanidades se multiplicou por seis (de 20 títulos passou para 120) ou a engenharia por dois (de 50 a 104), segundo dados do Observatório do Sistema Universitário. Os reitores estão cientes de que essa febre de títulos deve ser interrompida e que deve ficar claro o que é ensinado e como.

Actualmente, cada curso está atribuído a um dos cinco ramos do conhecimento - Ciências Sociais, Ciências Naturais, Engenharia, Ciências Humanas e Ciências da Saúde - mas o novo decreto obriga a ser ainda mais específico: o curso deve ser classificado numa das 25 áreas de conhecimento específicas.

A ideia da Declaração de Bolonha era criar um “sistema de qualificações facilmente compreensível e comparável”, mas o tempo mostrou que é uma confusão. O Observatório do Sistema Universitário, que agrupa docentes das universidades públicas de Barcelona, é muito crítico no seu estudo sobre Licenciaturas: quantas e quais? A partir de 2019: “Há menos referências, o que pode implicar dificuldades na escolha de carreira ou na contratação de pessoal”.

Durante anos, as universidades “Pompeu Fabra” e “Carlos III” permitiram que os alunos escolhessem disciplinas de qualquer curso de Humanidades e Ciências Sociais ou dos diferentes programas de engenharia nos primeiros dois anos, mas sem obedecer a nenhum regulamento. O novo decreto estipula que apenas 10% das vagas com essa peculiaridade podem ser oferecidas, uma vez que é muito complexo equilibrar os horários desses alunos e os roteiros. “Os graus abertos devem combinar disciplinas de pelo menos três graus de um mesmo ramo do conhecimento”, diz o documento.

O perigo é cobrir tanto que no final nada se saiba. Cristina Gelpi, vice-reitora da Universidade “Pompeu Fabra”, afirma que “a transversalidade ajuda muito trabalhar para projetos de ensino para que o resultado não seja uma soma de peças desconectadas, [e o aluno se torne] num aprendiz de coisa nenhuma. Você tem que adquirir capacidades comuns e alguns fundamentos”.»

 

Se calhar, a nós, por cá, também não nos ficaria mal começar a repensar todo o sistema de ensino superior para corrigir esta ânsia de toda a gente ser licenciada e ou mestrada em coisa nenhuma. É que, quando se vêem as barbas do vizinho a ardem devem pôr-se as nossas de molho!

01.03.21

O Novo Normal


Luís Alves de Fraga

 

Perguntam-me, alguns familiares e amigos, o que será essa coisa do novo normal. Tento explicar o melhor que a minha imaginação me permite. Hoje, passando os olhos pelo jornal Expresso, topei com um método que estará muito próximo daquilo que poderá vir a ser o futuro daqui a um ano ou dois, no mundo inteiro. Está explicado numa pequena notícia, na página 28 do Primeiro Caderno, que transcrevo na íntegra, embora sem a fotografia:

 

«O Estado judeu já começou a recolher os frutos da rapidez com que está a vacinar a sua população contra a covid-19. Esta semana começou a reabrir o sector da cultura, após meio ano de confinamento. Mas só quem tem o “passaporte verde” (como esta mulher, à entrada de um concerto em Telavive), que comprova que o detentor já foi vacinado, pode voltar às salas de espetáculos. Lá dentro, o uso de máscara continua a ser obrigatório e o público senta-se espaçadamente.»

 

Temos de nos ir habituando ao usa da máscara, ao distanciamento físico entre estranhos e à ideia de ter um passaporte para poder cruzar todas as portas. E temos sorte, enquanto for assim, pois poderá surgir um vírus bem pior e mais agressivo do que este que provoca a covid 19.

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