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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

06.05.20

Da guerra à paz


Luís Alves de Fraga

 

Há coisa de dois meses o novo vírus havia declarado guerra à humanidade e foram tomadas medidas apropriadas ao estado de guerra nos diferentes países.

Ora bem, eu passei mais de duas dezenas de anos a estudar a Grande Guerra e o papel de Portugal nesse conflito, para além das consequência do mesmo nosso país; estudei durante vários anos a 2.ª Guerra Mundial e como Portugal sofreu os efeitos de uma guerra onde não foi combatente; o mais evidente nestes estudos foi o tempo de duração dos conflitos e, logo de seguida, o descalabro económico e social subsequente.

Ambos duraram anos a resolver-se e anos a reencontrar sentido para as economias nacionais. As perdas humanas foram brutais.

 

Discordo ‒ já o escrevi ‒ que se chame à pandemia uma guerra, mas se os poderes políticos assim a querem qualificar, têm de ser coerentes e assumi-la na íntegra. E se o fizerem, estamos a viver, com toda a propriedade, a 3.ª Guerra Mundial.

Pela dimensão global desta guerra, pela forma como o inimigo se comporta, pela falta de armamento apropriado para o derrotar, esta guerra não é um conflito de curta duração nem é, falando a linguagem militar que querem adoptar, um conflito clássico simétrico; pelo contrário é completamente assimétrico. Foi assim tratado em todos os territórios por onde tem aberto frentes de combate: resguardar a retaguarda e combater na linha da frente com os meios humanos possíveis e usando o arsenal mais provável para minimizar os danos directos.

Mas, ao fim de uns poucos meses, inicia-se a dança dos números da economia e da finança.

 

O combate assimétrico começa a perder importância face aos danos colaterais e a estratégia tem de mudar, passando, agora, a serem danos paralelos a infecção, as mortes e o esforço da primeira linha de combate, assumindo-se como campo de batalha privilegiado a reafirmação da economia!

Ao retomar a economia ‒ com todos os avisos contra o inimigo deste conflito assimétrico ‒ escancaram-se as portas a todos os desleixos dos combatentes ‒ somos nós, evidentemente ‒ que, por não verem o inimigo, por não sentirem a ameaça, ficam entregues a si mesmos, podendo deixar-se dormir no seu posto na trincheira.

 

Olhando desta forma para a actual guerra, comparando-a com os dois conflitos mundiais passados, não sou capaz de compreender nem os políticos nem os generais! Não os compreendo, porque mudaram tudo do avesso! Ou, talvez, não tenham mudado…

Realmente, em ambas as guerras mundiais, as vidas humanas passaram a valer zero! Morria-se tanto nas trincheiras como nos campos de batalha, como nas cidades bombardeadas sem se levar mais em conta as baixas entre civis e militares; importante era, foi, derrotar o poder económico do opositor para, deste modo, levá-lo à derrota!

Pensemos na tal mudança de estratégia ‒ evidente com a abertura das actividades comerciais e industriais menos essenciais ‒ e comparemos: o inimigo não é o vírus e não interessam, de facto, as baixas que ele faz; o inimigo, nos diferentes países em luta, é a falência das economias, a dívida e o deficit orçamental.

 

Não tenhamos dúvidas: os poderes políticos, em todos os Estados, estão a seguir a mesma estratégia! O que varia é o modo como a anunciam: uns, abertamente, declaram qual é o objectivo principal e outros, criticando aqueles, dissimulam, lamentam as perdas de vidas humanas, ensinam meios de luta, mas querem salvar a economia e a finança, porque sabem que os generais, mesmo em guerras assimétricas, estão mais salvaguardados do que o resto da tropa.

Que venha a paz!

05.05.20

Poesia com métrica


Luís Alves de Fraga

 

Quanta poesia anda escondida por entre páginas de jornais velhos, revistas e outros periódicos esquecidos? Quanta ficou em gavetas carcomidas pelo bicho da madeira? Quantos poetas não viram ou não quiseram publicada a sua poesia?

 

Houve tempo em que poetar implicava usar uma rigorosa métrica silábica a par de uma rima elegante. Foi, segundo estas balizas, que Camões escreveu toda a lírica e, também, Os Lusíadas. Foi assim que Garrett, António Feliciano de Castilho, Antero de Quental, Guerra Junqueiro e tantos, tantos outros passaram à memória literária portuguesa. Foi sobre o silêncio de muitos, que bastantes fizeram ouvir os seus versos.

Claro, há muito má poesia metrificada que merece o olvido geral, mas nem o mau justifica o silêncio sobre o bom, nem este deve servir para enterrar mais fundo aquele.

Arrisco-me a dizer que os Portugueses têm ‒ será melhor dizer, tiveram? ‒ a poesia no sangue. É ‒ foi ‒, talvez uma manifestação da característica saudade ou da melancolia nacional. De certeza é/foi a marca dos sentimentos à flor da pele.

 

O meu pai, como os jovens da sua época, açoriano ‒ motivo mais do que suficiente ‒, também versejou com métrica. Publicou em revistas da ilha Terceira, quando era seminarista, e muitos anos mais tarde voltou à poesia, quase no fim da vida, quando percebeu que poderia mostrar-se por dentro sem que tal fosse um acto de fraqueza.

Estão esquecidos, até pela família, os poemas que fez. Guardo-os nos manuscritos e não recuperei os publicados em jornais.

Há, contudo, um soneto pelo qual nutro especial carinho, por vários motivos: foi escrito já depois de ter completado sessenta anos, quando sentia não ir viver muito mais; mostra o sonhador que foi e não se permitiu ser ou expor como era; evidencia uma ternura que não lhe estava no hábito.

 

Como acordei hoje com a memória dele ‒ do meu pai ‒ bem presente e mais a dos seus esquecidos poemas, deixo aqui o tal soneto dirigido ao cuidado dos netos ‒ a Helena Teixeira, o Luís Fraga Jr., a Inês Tavares Rodrigues Fraga e a Sofia Fraga ‒ e de um bisneto que gosta de poesia ‒ Carlos Tiago Robalo.

 

«Os meus sonhos, como nuvens, vão dispersos

‒ São pombas que fugiram de um pombal –

Seguindo rumos vários, já imersos,

Na senda de inclemente vendaval…

 

Sonhos loucos, criados nos reversos

Da cunhada medalha do Irreal,

Procuram, em tropel, mundos diversos

Em longa caminhada sideral.

 

Gótica catedral, por mim erguida,

Em cada ogiva pus, como em guarida,

Um sonho, uma ilusão, uma quimera.

 

Desfez-se a catedral – era de espuma,

Das minhas ilusões ficou só uma,

Incerta da Certeza que eu quisera!»

 

Em tempo de isolamento, também nos isolamos sobre memórias e lembranças de outros tempos.

04.05.20

Fases da minha vida ‒ 8

(Uma grande paixão)


Luís Alves de Fraga

 

Quase a fazer dezoito anos, nas férias do Natal de 1958, encontrei, por mero acaso, na praça Marquês de Pombal, em Lisboa, aquela jovem loira que tinha sido minha colega nas explicações quando me preparava para o exame de admissão ao liceu e aos Pupilos do Exército. Em abono da verdade, por morar muito próximo da casa dos meus pais, nunca a havia perdido de vista e já havia, uma ou duas vezes, tentado formalizar um namoro ‒ porque, naquele tempo, tinha de ser tudo dito com declaração de amor para garantir que não se tratava de um devaneio de momento ‒, mas sem qualquer resultado efectivo. A desculpa era sempre a mesma: «Somos muito novos».

 

Dessa vez, nas tais férias de Natal, fui mais persuasivo, já estava com dezassete anos (ela com dezoito), e não éramos dois meninos! Telefonema para lá, encontro mais tarde, e vá que ela me impõe a condição máxima: «Namorar sim, mas com autorização da mamã» (era órfã de pai).

Lá fui eu, em fato domingueiro, pedir autorização à mamã. De agora em diante podíamo-nos encontrar na rua e conversar e ir lá a casa quando fosse conveniente. Saiu-me a sorte grande!

Se há anos andava desejoso do namoro, naquela altura os meus sentimentos viraram em autêntica paixão. Ela era, ainda, estudante, tal como eu. A mim, feitas as contas, faltavam-me dois anos escolares para acabar o curso e, habilitado, iniciar uma boa carreira como contabilista em qualquer empresa. E, verdade seja, não faltavam colocações no mercado, em grandes firmas…

A paixão fez vacilar o meu sonho de infância: ser militar. É que, para realizar esse sonho, teria de frequentar a Academia Militar e só poderia casar, no mínimo, aos vinte e quatro anos! Nem ela, nem eu, queríamos esperar tanto tempo! A paixão era mútua, nesta fase do namoro.

 

Como disse, frequentava o equivalente ao décimo ano de escolaridade, que já ia avançado um período.

Acabadas as férias de Natal voltei aos Pupilos, agora com imensa dificuldade, pois o meu desejo era estar no bairro da Graça, perto da minha amada.

A vida do internato, com todos os rigores de então ‒ nem uma cabine telefónica tínhamos para comunicar com o exterior ‒, limitava-me os contactos à simples carta, a longas epístolas amorosas escritas ou na hora de estudo ou nos momentos livres após o jantar.

Nesse ano os resultados escolares não foram afectados, embora a carga lectiva fosse enorme para o tempo de estudo disponível: por dia, duas horas e meia (uma logo de manhã, em jejum, das seis e trinta às sete e trinta e uma hora e meia ao fim da tarde, das dezoito e trinta às vinte). O número de disciplinas era brutal, porque, para além das inerentes ao curso de contabilista, juntavam-se as do correspondente ano do liceu (para termos condição de integração nas armas do Exército, sem ficarmos limitados ao Serviço de Administração Militar).

 

A apresentação formal da minha namorada aos meus companheiros de Escola e, até aos oficiais e professores, foi feita no baile de finalistas.

A notícia do meu namoro correu célere até aos ouvidos do Padre Ruy Corrêa Leal, mas ele não viu nenhuma fotografia! Isso, de certa forma, foi tranquilizante, pois não se apercebeu de como era brasa a minha namorada!

 

Com as férias de Verão o namoro aprofundou-se ‒ poupo os leitores a pormenores desnecessários ‒, deixando-me ainda mais louco quando, em Outubro, regressei à vida de internato. E esse ano era verdadeiramente trabalhoso. De memória sou capaz de repetir os nomes das disciplinas: Contabilidade, Cálculo Financeiro, Matérias-primas, Direito Comercial, Direito Civil, Inglês, Francês, Física, Química, Matemática, Filosofia, Organização Política e Administrativa da Nação, Geografia e História (creio não ter esquecido nenhuma, porque, no ano seguinte, às contabilidades juntavam-se as cadeiras em falta da alínea f) do liceu).

Em rigor, estudava na hora da manhã e no tempo de estudo da tarde escrevia longas cartas apaixonadas para a mulher da minha vida.

Pouco antes do final do ano teve lugar o baile de finalistas (1959/60) e, novamente, fiz-me acompanhar de namorada e mãe da mesma. Mas, desta vez, a fotografia foi vista pelo padre capelão e fui excomungado (já tinha tido lugar um certo desaguisado entre nós os dois).

Excomungado e reprovado foi o que aconteceu no final do terceiro período! O aluno suficiente e bem-comportado caía redondamente do pedestal! Deixei de ser vice-presidente da mesa da Conferência de São Vicente de Paulo e passei a soldado raso!

 

Mas, como um mal nunca vem só, em Setembro, o namoro acabou-se!

E compreende-se a razão… Já empregada e a trabalhar, mais um ano de distância do sonhado casamento gera a possibilidade de descobrir defeitos no apaixonado! Além disso, bons rapazes havia-os aí aos montes!

Comecei o ano lectivo de 1960/61, aquele que ia ser o último de Pupilos, desfeito e, em simultâneo, renovado. Reestruturei o meu futuro.

03.05.20

Maio, entre 1 e 13


Luís Alves de Fraga

 

Não me quis pronunciar sobre as comemorações do 1.º de Maio, porque o fiz sobre o 25 de Abril, concordando com o formato adoptado.

 

Para mim, o 1.º de Maio teria sido comemorado com um encontro dos dois responsáveis pelas organizações sindicais (CGTP e UGT) numa das duas sedes ou noutro local isolado e, cada um, discursaria sobre o que quisesse discursar. E estava feito o Dia do Trabalhador..

Mas a CGTP quis fazer, em miniatura, o que faria em grande se não estivéssemos confinados.

 

Claro que isto abriu, de imediato, a questão do 13 de Maio, em Fátima!

Já sei, dizem-me os de sempre:

- Não é a mesma coisa!

Claro que não é! Todavia, abriu-se um grave precedente, já que até houve autocarros com gente que veio de fora para o 1.º de Maio.

 

Julgo que uma insensatez não se apaga com outra insensatez.

Deste modo, se eu fosse autoridade na Igreja Católica, não levaria para a frente qualquer tipo de festa no santuário, o mesmo é dizer, não seguiria o exemplo da CGTP.

Evidentemente que daria uma bofetada com luva em todas as autoridades e não exporia os crentes à possibilidade e à tentação de desrespeitar o que se deve respeitar.

 

Mas isto sou eu, que sou um impenitente opinador com a vaidade de ter sempre, ou quase, opinião sobre quase tudo, não é?

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