Os príncipes obstinados
Por norma, não sou tipo de perder tempo com questões do âmbito da vida social dos colunáveis da imprensa cor-de-rosa, mas, a recente decisão de um dos netos da rainha Isabel II de Inglaterra, ir “ganhar a vida”, virando as costas à fortuna real britânica, fez-me lembrar uma amigável discussão que tive com um velho camarada de armas cerca de um ano antes do dia 25 de Abril de 1974. Vale a pena recordá-la para que se perceba o que sinto perante o anúncio do príncipe inglês.
Estávamos em Moçambique, no início de mais uma comissão ‒ a segunda ‒ em tempo de guerra e discutíamos sobre ser esta a última vez que voltaríamos a África com missão de soberania. Ele, casado com uma jovem oriunda de família com fortíssimas ligações ao Estado Novo, afirmava-se decidido a tomar o partido da revolta contra o Governo ditatorial. Comungávamos da mesma intenção, mas recordei-lhe aquilo que era, para mim, uma verdade absoluta: se ambos conspirássemos e ambos fossemos presos eu ficaria a apodrecer nos calabouços da PIDE/DGS e ele seria solto em poucos dias. Indignou-se e quis saber o fundamento. Respondi de imediato: «Porque tu tens família que te solta da situação, porque, para os teus familiares, a tua atitude teria sido uma “tentação” do demónio e a minha um atentado à segurança do Estado».
O nosso Povo dizia, nos meus tempos de rapaz, “quem não tem padrinhos morre mouro”. Realmente, o peso do berço, das relações familiares, dos conhecimentos e das amizades antigas desiguala situações iguais; aqui e em qualquer lugar, em qualquer tempo e em qualquer circunstância. Tivemos prova disso na URSS, como nos EUA, para evidenciar dois tipos de democracias diferentes.
Essa a razão pela qual não acredito que o filho mais novo de Diana, a “Princesa do Povo”, venha a ganhar a vida na América de forma igual à do meu filho, se decidir emigrar para lá.
Acho tão ridículo estas notícias prenderem a atenção de leitores, que gastam os seus euros, adquirindo revistas e jornais, deleitando-se na doce ilusão de ser verdade as mentiras que se dizem. Por causa disso, fico-me por aqui.