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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

24.10.19

Uma decisão que tardou


Luís Alves de Fraga

 

Em Espanha estão a ser removidos os restos mortais de Francisco Franco, generalíssimo, ditador e facínora perseguidor de espanhóis republicanos, assassino mandante de milhares e milhares de compatriotas, que lutaram pelos seus ideais políticos, que ele, como mero revoltado, combateu com ira e ódio. Estão a ser removidos da basílica do Vale dos Caídos para um cemitério mais ou menos comum, para ficarem ao lado dos da sua viúva.

 

Este homem ambicioso e cruel, ao mandar construir o monumental Vale dos Caídos estava a mandar fazer o seu próprio sepulcro para não ser esquecido na Espanha ensanguentada pelo ódio. E lá trabalharam os, então, prisioneiros políticos da guerra civil. Lá morreram muitos.

 

Isto devia fazer-nos pensar sobre a nossa História e o lugar que se reserva no Panteão Nacional a certas figuras. Mas será que os nossos políticos têm coragem para “rever” decisões passadas, como fizeram os Espanhóis?

Francamente, duvido.

23.10.19

Violências


Luís Alves de Fraga

 

Anda na “moda” a violência doméstica e, de quando em vez, fala-se “bravamente” da violência na escola. Na primeira, não vou deter-me, por agora, mas quero gastar algum tempo com a segunda.

 

Há três tipos de violência na escola: a dos estudantes entre si; a dos estudantes sobre os educadores ‒ professores e auxiliares; e dos educadores sobre os estudantes.

Curiosamente têm tratamentos diferenciados pelos diversos intervenientes e mais os órgãos de comunicação social. Ora vejamos.

 

O chamado “bullying” tem altos e baixos na comunicação social e, consequentemente, na atenção política que se dá ao assunto, porque estas coisas, como lhes chamei em cima, são coisas de modas… vão e voltam, mas sem grande seriedade, nem vontade de se resolverem de raiz.

Também, lá de quando em vez, ouve-se falar de um estudante que agrediu um professor, mas, rapidamente a coisa é esquecida, porque, hoje em dia, mau, mas mesmo muito mau, é um professor agredir uma “criancinha”!

 

Meus amigos, deixemo-nos de hipocrisias, de mariquices, de palermices e de outras coisas que a boa educação obriga a que cale em público e olhemos de frente para os jovens que temos na nossa sociedade.

A falta de respeito é generalizada. Perdeu-se, de todo e completamente, a ideia de que é em casa que se educa, porque na escola adquire-se instrução. Claro que, para educar em casa, é necessário que exista quem seja capaz de o fazer, porque os pais confundem instrução com educação e esperam que esta seja ministrada na escola, pelos professores, sem que exerçam qualquer tipo de autoridade violenta sobre as suas “deliciosas” criancinhas.

Não advogo a tareia como forma de educar, mas aceito que, às vezes, são necessários um “safanão”, um puxão de orelhas e um grito, alto e sonoro, acompanhado de um castigo mais pesado do que a simples “falta por indisciplina”. Mas, nada disto é possível quando os pais defendem a falta de educação para com aquele que, esperam, seja educador; quando os pais promovem e aceitam que os filhos se comportem sem regras em casa e na escola, na rua e nos estabelecimentos públicos, nos transportes colectivos ou em bandos arruaceiros.

 

Há meses, numa pastelaria perto de uma escola, entrou um gaiato de onze ou doze anos e disse, dirigindo-se ao funcionário:

‒ Pode dar-me um copo de água?

Este respondeu:

‒ Poder posso, mas não to dou enquanto não ouvir o pedido bem feito.

O menino repetiu:

‒ Pode dar-me um copo de água, se faz favor?

Foi prontamente servido pelo empregado.

ISTO APRENDE-SE EM CASA e não na escola nem no café! Tal como se aprende em casa que o telemóvel não se usa na sala de aula e, muito menos, depois de o professor ter mandado guardar o aparelho. É que, se há pais que perdem a paciência, em casa ou na rua, quando têm dois ou três filhos, que se comportam mal, imagine-se que qualidade de sistema nervoso tem de ter um professor para aturar três ou quatro turmas de alunos, compostas por vinte ou vinte e cinco jovenzinhos cada uma, durante um dia inteiro!

 

E um tipo, perde a paciência com a má educação de um cachopo e dá-lhe uma “caldaça” e cai sob a alçada da estupidez de uns pais que não educam, de um director de escola que não se assume como responsável e um Ministério Público que, por MERDAS, age com rigor e move célere um processo contra um professor já cansado de aturar maltosa que não vem para aprender, mas para se mostrar arrogante.

 

E dizem que há violência na escola! Claro que há, mas ela parte, cada vez mais, dos alunos e dos encarregados de EDUCAÇÃO dos alunos.

21.10.19

Rui Rio e o PSD


Luís Alves de Fraga

Ele vai assumir lugar nas bancadas do parlamento, vai candidatar-se à continuação no lugar dentro do seu partido, para o "recentrar" e evitar que se desfaça.



 



Desfeito já está o PSD e há uma deriva para a direita "liberal" e outra para o "centro social-democrata".



O problema está no facto de Rui Rio parecer não querer ver que o PSD foi sempre mais PPD do que SD. E, como PSD, foi sempre o lugar de refúgio de todos os que, vindos do salazarismo/marcelismo, nunca se quiseram chegar mais à esquerda nem confundir, à direita, com o CDS - partido de abrigo dos salazaristas -, jogando na imprecisão de um centro "mediano".



 



Acho que Rui Rio chegou à "chefia" do PSD com atraso de um ou dois mandatos... Tinha-nos salvado de Passos Coelho e da forte guinada à direita.



 



Coisas!

21.10.19

Catalunha


Luís Alves de Fraga

Não, não vou tomar, ainda, qualquer posição sobre o que se passa em Espanha e na Catalunha.
Acho que se não pode encarar a questão da mesma forma como se discute um "derby" futebolístico: com paixão e preconceito. Tem de se fazer uma leitura calma, desapaixonada, distanciada, comparativa, histórica, tão realista quanto possível. E, acima de tudo, Portugal não deve nada aos Catalães, porque, para perceber essa "dívida" inexistente tem de se estudar a História do século XVII, em especial entre os anos 1635 e 1648 e, também, a Guerra dos Oitenta Anos, cuja paz foi alcançada nesta última data com o Tratado de Vestfália e o Tratado dos Pirenéus, em 1659. Tem de se estudar toda a complexidade da Guerra dos Trinta Anos e a importância da França no seu desenvolvimento e apoio a Portugal e à Catalunha, em 1640, explicam muito melhor a nossa "Restauração" do que outros elementos emocionais, explorados pelo fascismo nacional.
Para mim, por enquanto, a Catalunha é um assunto interno da Espanha que tem de ser resolvido com os Espanhóis e pelos Espanhóis.

16.10.19

E a pensão mínima?


Luís Alves de Fraga

 

Não é a primeira vez que trato deste assunto. É que, com muita frequência ‒ frequência excessiva, até ‒ ouvimos falar, exigir, impor, a necessidade de aumentar o salário mínimo dos trabalhadores ‒ o que acho bem, pois a vida custa a todos ‒, mas não ouço falar da definição de uma pensão mínima, que não seja um subsídio de miséria.

 

A pensão mínima terá de ser regulada, claro que sim. Mas não poderá ser um valor a distribuir por todo o calão e vagabundo, que por aí anda. A pensão mínima será para quem descontou, por ter trabalhado e sido útil à economia e à sociedade. Terá de obedecer a critérios de justiça social não regulados pelos anos de desconto, nem cegos pela necessidade de se dar capacidade de compra a toda a gente.

A pensão mínima terá de levar em conta a idade, os descontos, o tipo de vida, a localização da residência e o custo de vida na região. Terá de ser variável, mas de atribuição célere. Não poderá ser obtusamente invisual como é o salário mínimo! O salário mínimo é passível de ser corrigido com despedimento por justa causa de quem não faz por o merecer, mas a pensão mínima terá de ser permanente, justa, equilibrada e suficiente.

 

Como se fará esta atribuição de uma pensão mínima? Será simples, se houver vontade para tal. Não carecerá de muita burocracia, mas de gente honesta que vá ver e organize um processo sumário, obedecendo a critérios bem definidos, com vários perfis de atribuição da pensão mais justa.

Se a responsabilidade da averiguação da pensão mínima ficar atribuída ao assistente social que a recomenda, no valor e na periodicidade, se for ele o primeiro réu em caso de falsas declarações e falsas averiguações, julgo que chegaremos a um sistema em nada diferente do que se faz em certos Estados da Europa do Norte. E, assim, talvez caminhássemos para a prática de medidas social-democráticas.

 

Haja ousadia para enfrentar propostas originais, entre nós, e de arriscar pô-las em prática. Ver-se-á florescer o mercado com maior procura de bens e, deste modo, florescer a produção para satisfazê-lo.

Importante é que não nos deixemos subjugar pelo espírito mesquinho dominante entre nós. Importante é ter vistas largas para poder ver resultados antes da obra concluída. Importante é acabar com pensões de trezentos, quatrocentos euros, até quinhentos, para gente idosa, doente, sem casa própria, sem apoios familiares, com elevadas contas de farmácia e necessidade de escolher entre comer, comprar medicamentos ou pagar o aluguer do domicílio na cidade, onde tudo é mais caro; gente que não tem quem lhe faça ou liquide o funeral digno de ser humano.

Importante é ousar e deixar que a imaginação possa passar pelas cadeiras do poder.

15.10.19

Quando um militar se queixa


Luís Alves de Fraga

 

Chegaram-me à mão os desabafos públicos do comandante da Base Aérea n.º 5 (Monte Real) sobre a falta de pessoal na sua unidade que, diga-se, é a base mais operacional da Força Aérea, pois a ela compete a defesa do espaço aéreo nacional através da imediata intercepção de qualquer ameaça.

 

Chegar a este extremo é chegar ao limite daquilo que é deontologicamente admissível. Daqui para a frente só falta a ofensa pública aos Governos, aos órgãos de soberania e aos políticos em geral. Ofensa, porque se está maliciosamente, ou em nome de um equilíbrio orçamental, a transferir as culpas de um colapso defensivo da Nação portuguesa para a incapacidade dos militares. Entre esta situação e a que o Estado Novo criou com o prolongamento da guerra colonial, colocando as Forças Armadas na contingência de poderem ser responsáveis por uma derrota frente aos guerrilheiros, não há diferença nenhuma. A única nota dissonante é que, agora, vivemos em democracia e não em ditadura, embora, quase pela certa, estejamos sujeitos à ditadura financeira imposta por Bruxelas.

 

Dirão alguns dos meus leitores e amigos que não estamos em guerra e ninguém nos quer atacar! É certo…, mas recordem o 11 de Setembro, em Nova Iorque, e digam-me com quem estavam em guerra os EUA, ou o 11 de Março, em Madrid, e interroguem-se sobre quem era o inimigo da Espanha.

Actualmente não se tem de estar em guerra para se ser vítima de um ataque de qualquer natureza. Basta que uma organização terrorista queira espalhar o pânico internacional e surge a investida inesperada. Preveni-la é a missão das Forças Armadas. Uma missão imposta pela vontade dos Portugueses e imposta por uma obrigação constitucional. Falhar no cumprimento dessa obrigação é colocar os militares perante o tribunal da opinião pública. E perante ele já estão as Forças Armadas, aviltadas pelo roubo de armamento em Tancos. Um roubo que se consumou ‒ até prova em contrário ‒ porque a segurança falhou por falta de pessoal e de material dissuasor de tal assalto.

 

Senhor Presidente da República, Senhor Primeiro-Ministro ‒ a indigitar ou cessante ‒ a responsabilidade moral e política da mísera situação a que chegaram as Forças Armadas de Portugal é do vosso exclusivo encargo! Assumam-na com igual coragem à dos militares, que, agora, vêm denunciar com tempo ‒ ou, talvez, já sem ele ‒ a impossibilidade de cumprir aquilo a que estão obrigados ou se cumprirem será à custa de esforços, vidas e perdas materiais, que vos devem ficar a pesar na consciência.

 

Basta de tirania financeira! Basta de cortes em orçamentos vitais! Basta de se esconderem atrás de eleições que, julgam, vos desculpam a responsabilidade perante o profissionalismo daqueles que juraram dar a vida por Portugal, se tal for preciso, mas, dar a vida depois de serem suficientes e estarem equipados com o necessário para cumprir essa obrigação. Só assim se poderá observar um juramento sagrado e irrevogável que não acaba após um ciclo eleitoral.

12.10.19

Causas da decadência europeia


Luís Alves de Fraga

 

Já toda a gente percebeu que, de há anos a esta parte, a democracia, tal como foi vivida no mundo durante os últimos anos do século XIX e no século XX, está em crise. O modelo está em fase de esgotamento, do mesmo modo que aconteceu no após Grande Guerra. Eu diria que, globalmente, o modelo dos anos cinquenta do século passado, está a viver as consequências do final da Guerra-Fria. E, na Europa, isso é bem notável com o reforço da direita parlamentar.

 

Se o aparecimento do “equilíbrio do terror”, centrado nas duas superpotências, foi um garante da tranquilidade e do bom desenvolvimento da democracia, o seu desaparecimento possibilitou um desenfreado crescimento de um capitalismo bárbaro capaz de explorar mão-de-obra em condições desumanas e, até, infra-humanas para aumento do consumo nas áreas onde o acesso ao mercado é fácil. Mas não se ficou por aí a acção do grande capitalismo: ele imiscuiu-se na política de uma tal forma que a colocou ao seu serviço de modo descarado.

 

Neste novo quadro, a Europa, que deteve, até ao fim da primeira metade do século XX, as rédeas da economia mundial, foi ultrapassada pelos EUA ‒ graças ao descalabro da 2.ª Guerra Mundial ‒ os quais, depois da implosão da URSS, estão a ser ultrapassados pela China, potência emergente de ideologia política sem contornos definidos segundo os padrões herdados do século XIX.

O centro de decisão da política mundial, depois de ter passado da Europa para a América, está em transição para o Oriente e, dentro deste, para a China. A luta desesperada e errática de Donald Trump é uma consequência de, nos EUA, para além de armamento, já quase nada por lá se produzir, no domínio industrial, capaz de estancar o franco desenvolvimento chinês. E se os americanos não conseguem tal desiderato, muito menos o são capazes de alcançar os europeus!

 

O que dividiu a Europa foi aquilo que nunca a manteve una: a existência de culturas nacionais distintas. Na ideia de unidade europeia, cada Estado procurou o seu próprio bem-estar, mantendo as desigualdades e não primando por estender a todos a política do “welfare” (prosperidade). A Europa caminhou, politicamente, no rumo que mais convinha aos grandes interesses financeiros: um mercado livre onde imperasse a livre concorrência. Falhou!

Não era por aí que deveria ter ido, depois de ter percebido as causas da Grande Guerra e as da 2.ª Guerra Mundial. O único caminho para atingir o fim desejado por quem queria a paz era ter avançado para uma política de intervenção do Estado ‒ o mesmo é dizer, dos órgãos comunitários ‒ na economia, levando a uma justa e equilibrada distribuição da riqueza ou do que ela proporciona pelas populações dos membros integrantes.

O erro foi ter permitido que os Alemães, Franceses, Belgas, Holandeses e outros vivessem financeira e socialmente muito bem e os povos dos Estados pobres vivessem muito mal, dentro da relatividade da comparação. Os órgãos centrais da CEE ou, depois, da UE só sabiam um caminho: o do mercado. Dentro deste, a intervenção política limitava-se ao controlo das taxas de produção de modo a evitar concorrências internas. Esqueceram a defesa dos “ataques” externos, provenientes da carência de matérias-primas não produzidas dentro do espaço europeu. Esqueceram a pobreza dos Estados mais pobres. Podiam ter praticado uma política social-democrata, mas praticaram a política capitalista.

 

Hoje, os Estados ricos não querem ceder nada aos Estados pobres e o paradigma político tende a modificar-se, dando lugar aos nacionalismos e aos populismos.

10.10.19

Vamos lá perceber...


Luís Alves de Fraga

 

O PSD está completamente esfrangalhado. Esfrangalhado, porque Passos Coelho o levou à exaustão, puxando-o o mais possível à direita - e, ao fazê-lo, encostou-se ao CDS, que teve de ir, ainda mais para a direita - retirando-lhe a possibilidade de parecer aquilo que nunca foi: um partido social-democrata.

 

O PSD de Rui Rio estava a recentrar-se, a procurar um espaço fora do espaço de Passos Coelho, mas tudo se passou já fora de tempo. Este já não é o tempo de nenhum dos "velhos" militantes, dos que vêm do passado, do tempo da "memória" do 25 de Abril. Aliás, este já não é o tempo de nenhuma das direitas "tradicionais". As direitas, agora, têm de ser populistas e, talvez, nacionalistas.

 

A social-democracia, em Portugal, está, agora, à esquerda - veja-se como as medidas económicas preconizadas pelo BE e, em parte, pelo PCP, se podem inscrever numa matriz keynesianista - mantendo uma "equilibrada" obediência aos ditames de Bruxelas. Assim, qualquer que seja a o arranjo "geringonçal" - desde que não se encoste ao PSD, facto que me parece impossível - as soluções tenderão para a social-democracia o que coloca, no curto prazo, um grave problema aos burocratas de Bruxelas e sobre o qual me debruçarei um dia destes.

 

De momento, só temos de aprender a viver com uma esquerda tendencialmente social-democrata e com uma direita em fase de esvaziamento para se transformar numa outra direita.

 

Espero que saibamos aguentar-nos estáveis no meio das transformações que se avizinham.

09.10.19

Depois de reflectir


Luís Alves de Fraga

 

No domingo, já tarde, soubemos os resultados quase finais das eleições legislativas. Nada do que se passou constituiu novidade para mim. Nem a queda vertical e vertiginosa do CDS, nem a do PCP, nem a estabilidade do BE, nem a maioria do PS, nem a radical descida do PSD, nem a espectacular subida do PAN. Nada disto foi novidade para mim.

Poderia, até, explicar algumas das mais estranhas mudanças ‒ descida do PCP, do CDS, subida do PAN e queda do PSD ‒, mas prefiro olhar para os efeitos da abstenção já esperada.

 

Todos nós sabíamos que a abstenção ficaria muito próxima dos 50%, o mesmo é dizer que, para metade dos cidadãos eleitores, a política nada vale. Contudo, criticam a política; a que foi feita pela “geringonça” ou a que foi feita, antes, por Passos Coelho ou a de Sócrates ou a de quem quer que seja. Criticam, porque, no essencial, não estão de bem com a democracia, o mesmo é dizer, com o regime.

Todavia, “não estar de bem com o regime” não corresponde a desejar uma ditadura ou uma governação de extrema direita; corresponde, antes de tudo o mais, a descrer da democracia e das suas virtudes, dos políticos e dos altos e baixos da situação nacional e internacional. Corresponde a dizer qualquer coisa como: «Venha alguém governar-nos sem nos pedir a obrigação de nos manifestarmos; governar para o “bem de todos”, possibilitando-nos uma vidinha capaz de ser equilibrada e descuidada». Este é o sonho dos abstencionistas, porque o seu “pesadelo” está em tudo o que desestabiliza a “tranquilidade” de um dia-a-dia imaginado sem preocupações, sem distúrbios, sem corrupção, sem nepotismos. Um dia-a-dia só existente num idílico sistema político próximo da utopia.

 

Uma utopia que se desenha já lá por fora, de diferentes maneiras, junto de diferentes eleitores, de diferentes Estados, na Europa e no mundo. Uma “utopia” que se pode “chamar” Trump, Bolsonaro, Salvini, Le Pen, Wilders ou Abascal. Uma utopia que se começa a desenhar em Portugal e já tem lugar no nosso parlamento. Tem um nome: Chega; tem uma cara: a de André Ventura.

 

Ventura, tenha sido o que foi, é o político onde se polarizam as esperanças dos silenciosos abstencionistas; é ele ‒ se o souber fazer ‒ quem vai abrir caminho ao “salvador da pátria” em quem sempre os silenciosos e preguiçosos cidadãos nacionais acreditaram; é ele que promete para daqui a oito anos uma viragem. Promete, porque sabe que oito anos é tempo suficiente para se desgastar toda a esquerda ‒ do PS ao PCP, passando pelo BE (porque o orçamento não vai chegar para satisfazer todas as exigências dos mais ambiciosos defensores dos direitos dos trabalhadores e dos Portugueses) ‒ por causa das reivindicações de rua, desorganizadas e inorgânicas ou organizadas e orgânicas, as quais vão “incomodar” os silenciosos abstencionistas. Ele sabe que, em oito anos, os burocratas da União Europeia vão rebentar com o projecto idealizado após o caos da 2.ª Guerra Mundial e o vão “enterrar” na “vala comum” da luta económica entre os EUA e a China. Ele sabe que a sua hora soará quando se reclamar por “tranquilidade na rua e paz nas consciências”, tal como foi sintetizado por Salazar.

 

E o mal do sistema democrático, com as suas liberdades, é que ou sabe “fazer riqueza bem distribuída” ou autodestrói-se, dando lugar a poderes autoritários, xenófobos e nacionalistas.

Quem estiver cá, daqui a oito anos, contará como foi…