Da família às pensões
Continua na ordem do dia a questão das nomeações de familiares de governantes para cargos públicos. O Governo já legislou e o Presidente da República propõe-se “legislar”, agora, sobre a nomeação para cargos na Presidência.
Meu Deus, isto está tudo louco! Parece que a sensatez fugiu das mentes dos Portugueses. Já me cansei de dizer que isto é, como afirmava o almirante Pinheiro de Azevedo – os mais novos não fazem ideia de quem se trata! – só fumaça. Fumaça lançada pelo PSD para arranjar tema “fracturante” para as eleições que se aproximam. E está a resultar, o que é grave, pois evidencia o grau de preocupação “política” de todos nós.
Por uma vez mais, vou recordar que não há ética na prática política. O que pode e deve haver é bom-senso de modo a não colocar em causa a, cada vez mais fraca, confiança dos eleitores nos políticos, que se candidatam a ter um papel na condução da “coisa pública”. Ora, a primeira atitude de bom-senso tem e deve partir dos eleitores, desvalorizando o que não interessa e o que somente vem à praça para macular imagens pessoais. Que importa que o ministro nomeie o primo para um cargo em que ele – o primo – pode demonstrar a sua competência técnica? E a sogra?
Qual será a razão pela qual os grandes, médios e pequenos empresários dão trabalho a familiares nas suas empresas? Porque pretendem incompetentes ao seu serviço ou porque querem pessoas da sua confiança em postos que a requerem?
O que verdadeiramente está em causa não é o nepotismo; é a possibilidade de corrupção! É essa é que tem de ser combatida! Mas essa, parece, é o que quase todos os políticos recusam a batalhar.
E agora vem para a baila a incapacidade de a Segurança Social conseguir dar reformas aos actuais trabalhadores, por falta de fundos para se sustentar num futuro bastante próximo!
Isto é o regabofe, porque só se conta metade da história.
Quando o regime ditatorial caiu, em 25 de Abril de 1974, a Segurança Social e a Caixa Geral de Aposentações tinham fundos mais do que suficientes para pagar reformas aos cidadãos que trabalhavam e descontavam. Tinham, porque Salazar – com todos os muitíssimos defeitos que o caracterizavam – mandou que se fizessem reservas dos descontos e se aplicassem de modo reprodutivo. Ou seja, havia o capital recebido e o capital conseguido com a sua aplicação cautelosa. Como é que se estragou esta confortável situação? Com o regabofe! E eu explico.
Quem nunca tinha descontado um chavo para ter pensão passou a usufruir de chorudas pensões; aumentaram-se, sem régua nem esquadro, as pensões de baixo valor, as reservas da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações serviram para cobrir os sucessivos buracos orçamentais resultantes de má gestão dos dinheiros públicos. Assim, estoirou-se com os descontos de quem havia trabalhado para ter uma reforma e passou a tomar-se como verdade corrente a afirmação de que quem trabalha agora desconta para pagar as pensões de quem está reformado!
Esta é a mais leviana, traiçoeira, hipócrita, e descarada afirmação para colocar trabalhadores contra velhos reformados! E é tudo isto porque – isso sim – houve claro nepotismo para conquistar apoiantes e simpatizantes entre quem nunca ou trabalhou ou descontou! Contaram-se anos de “serviço” em certas funções a quem jamais esteve nelas nesses anos! Foi o tempo dos amigalhaços!
Como a memória dos eleitores é curta e o desconhecimento da História é grande, prendemo-nos a ninharias e não discutimos nem pedimos responsabilidades pelas malfeitorias de que fomos vítimas.
É o Portugal que temos!