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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

12.04.19

Da família às pensões


Luís Alves de Fraga

 

Continua na ordem do dia a questão das nomeações de familiares de governantes para cargos públicos. O Governo já legislou e o Presidente da República propõe-se “legislar”, agora, sobre a nomeação para cargos na Presidência.

Meu Deus, isto está tudo louco! Parece que a sensatez fugiu das mentes dos Portugueses. Já me cansei de dizer que isto é, como afirmava o almirante Pinheiro de Azevedo – os mais novos não fazem ideia de quem se trata! – só fumaça. Fumaça lançada pelo PSD para arranjar tema “fracturante” para as eleições que se aproximam. E está a resultar, o que é grave, pois evidencia o grau de preocupação “política” de todos nós.

 

Por uma vez mais, vou recordar que não há ética na prática política. O que pode e deve haver é bom-senso de modo a não colocar em causa a, cada vez mais fraca, confiança dos eleitores nos políticos, que se candidatam a ter um papel na condução da “coisa pública”. Ora, a primeira atitude de bom-senso tem e deve partir dos eleitores, desvalorizando o que não interessa e o que somente vem à praça para macular imagens pessoais. Que importa que o ministro nomeie o primo para um cargo em que ele – o primo – pode demonstrar a sua competência técnica? E a sogra?

Qual será a razão pela qual os grandes, médios e pequenos empresários dão trabalho a familiares nas suas empresas? Porque pretendem incompetentes ao seu serviço ou porque querem pessoas da sua confiança em postos que a requerem?

O que verdadeiramente está em causa não é o nepotismo; é a possibilidade de corrupção! É essa é que tem de ser combatida! Mas essa, parece, é o que quase todos os políticos recusam a batalhar.

 

E agora vem para a baila a incapacidade de a Segurança Social conseguir dar reformas aos actuais trabalhadores, por falta de fundos para se sustentar num futuro bastante próximo!

Isto é o regabofe, porque só se conta metade da história.

 

Quando o regime ditatorial caiu, em 25 de Abril de 1974, a Segurança Social e a Caixa Geral de Aposentações tinham fundos mais do que suficientes para pagar reformas aos cidadãos que trabalhavam e descontavam. Tinham, porque Salazar – com todos os muitíssimos defeitos que o caracterizavam – mandou que se fizessem reservas dos descontos e se aplicassem de modo reprodutivo. Ou seja, havia o capital recebido e o capital conseguido com a sua aplicação cautelosa. Como é que se estragou esta confortável situação? Com o regabofe! E eu explico.

 

Quem nunca tinha descontado um chavo para ter pensão passou a usufruir de chorudas pensões; aumentaram-se, sem régua nem esquadro, as pensões de baixo valor, as reservas da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações serviram para cobrir os sucessivos buracos orçamentais resultantes de má gestão dos dinheiros públicos. Assim, estoirou-se com os descontos de quem havia trabalhado para ter uma reforma e passou a tomar-se como verdade corrente a afirmação de que quem trabalha agora desconta para pagar as pensões de quem está reformado!

Esta é a mais leviana, traiçoeira, hipócrita, e descarada afirmação para colocar trabalhadores contra velhos reformados! E é tudo isto porque – isso sim – houve claro nepotismo para conquistar apoiantes e simpatizantes entre quem nunca ou trabalhou ou descontou! Contaram-se anos de “serviço” em certas funções a quem jamais esteve nelas nesses anos! Foi o tempo dos amigalhaços!

 

Como a memória dos eleitores é curta e o desconhecimento da História é grande, prendemo-nos a ninharias e não discutimos nem pedimos responsabilidades pelas malfeitorias de que fomos vítimas.

É o Portugal que temos!

10.04.19

Carvalho Araújo


Luís Alves de Fraga

 

Não tenho a certeza, mas creio que o meu pai foi voluntariamente incorporado na Marinha, com o posto de cabo-aluno de enfermagem (direito a farda de sargento) no ano de 1929 ou 1930. Sobre o fim da Grande Guerra teriam passado, mais ou menos, onze ou doze anos, o que – hoje, com a idade que tenho – era muito pouco tempo. Por certo, contactou com gente que terá sobrevivido ao “massacre” do “Augusto de Castilho” o navio comandado pelo 1.º tenente Carvalho Araújo, que travou combate com um submarino germânico, nas águas dos Açores, a duzentas milhas da ilha de S. Miguel. Contactou ou conheceu quem havia convivido com elementos da tripulação ou, pelo menos, ouviu relatos do acontecimento ainda muito fresco na memória de muita gente.

 

Chegou até nós a descrição “oficial” do relato da luta díspar entre o poderoso submarino e a frágil embarcação da nossa Armada – um navio de pesca transformado em caça-minas – equipado com pouca e fraca artilharia.

Com efeito, o “Augusto de Castilho” foi encarregado de comboiar o paquete “S. Miguel” na viagem entre o Funchal e Ponta Delgada para lhe garantir segurança num mar onde navegavam com grande impunidade submarinos alemães armados com torpedos e peças de artilharia capazes de fazer fogo com granadas de grosso calibre. O 1.º tenente Carvalho Araújo teve clara consciência de que a missão era, pelo menos, suicida, porque o navio comercial tinha uma velocidade de cruzeiro bastante maior do que a do improvisado caça-minas, facto que quase invertia a situação determinada.

 

Voltando ao meu pai e à versão que dele, sobre os acontecimentos, – por certo, relatada por camaradas mais velhos e mais antigos, – eu ouvi temos que, Carvalho Araújo, ao avistar o submarino, mandou que o navio mercante se pusesse em fuga rápida para Ponta Delgada, ficando o caça-minas a dar combate ao inimigo, usando, para tal, as suas quase impotentes peças de artilharia.

Até aqui as histórias são coincidentes, mas a diferença começa no momento em que, Carvalho Araújo, feitas as contas a velocidades e distâncias, concluiu que o “S. Miguel” já estava a salvo do ataque do submarino e mandou que se içasse a bandeira branca da rendição. Eram desnecessários sacrifícios inúteis.

 

O submarino deixou de fazer fogo e aproximou-se para fazer a abordagem usual nesses tempos. Foi então que um dos tripulantes do caça-minas, vindo lá debaixo, da casa das máquinas, demonizado pelo soar da artilharia e pelo esforço de levar a sua embarcação ao máximo de esforço em velocidade, apontou a pequena peça de 47 mm, da ré, ao navio germânico e disparou. Era inevitável a reacção. Um tiro certeiro destruiu aquilo que se podia designar, no caça-minas, por ponte de comando. Carvalho Araújo terá morrido inutilmente, pela acção tresloucada de um subordinado.

 

Verdade? Mentira? Versão romanceada?

Não sei. Relato-a quase, palavra por palavra, como a ouvi ao meu pai há muitos, muitos anos. Todavia, se for verdadeiro o que acabo de dizer, fica escondido pelo manto da necessidade de impor uma História épica, que transforma um militar comum no herói, que fazia falta! Quantos mais terão sido gerados deste modo?

09.04.19

As nossas Forças Armadas


Luís Alves de Fraga

 

Ao longo dos séculos, quando se olha para o Exército de Portugal percebem-se várias coisas: teve utilidade enquanto durou o estado de guerra, logo após foi desprezado e reduzido a uma insignificância confrangedora; serviu sempre, em tempo de paz, como adorno social para fazer passear fardas mais ou menos bonitas; foi, até há poucos anos, utilizado como força repressora ao serviço do poder político.

Da nossa Marinha, até ao começo do século XIX, pode dizer-se quase o contrário, na medida em que sempre esteve pronta para intervir na defesa dos interesses comerciais espalhados ao longo das costas do Brasil, de África e no Oriente. A grande machadada foi-lhe dada com a introdução da energia a vapor e a construção dos navios em ferro. Depois, nas centúrias de oitocentos e de novecentos, com a revolução industrial, acabou a nossa Armada por se equiparar à situação do Exército: valer pouco e para pouco servir.

 

Depois da descolonização, na sequência do golpe militar de 25 de Abril de 1974, mais uma vez se foi cumprindo a “sina” portuguesa: desinvestimento na defesa nacional. Começou-se por reduzir o tempo de serviço militar, depois acabou-se com o serviço militar obrigatório, criou-se um Exército permanente – muitíssimo mais caro, que, por isso, foi “encolhendo” – hoje completamente incapaz de ser um instrumento independente de defesa ou, sequer, de dissuasão. O investimento em material, pessoal e instrução é ínfimo para poder qualificar a nossa defesa, no mar, em terra ou no ar como algo credível. Até, pela natureza da evolução política, já nem como elemento de repressão interna as Forças Armadas têm qualquer tipo de valia. Neste particular, felizmente.

 

Então, com propriedade, poder-se-ia deixar a interrogação: “Para que servem as nossas Forças Armadas?”

Julgo que nem mesmo os políticos sabem dar uma resposta medianamente correcta e aceitável. Contudo, as nossas Forças Armadas continuam a existir por uma razão política, muito discutível, mas absolutamente imperativa: representar Portugal onde e como necessário!

 

São representativas as nossas Forças Armadas; representam-nos nas forças de paz organizadas sob a égide da ONU, nos conflitos de baixa intensidade sustentados pela União Europeia ou pela NATO.

Realmente, antes do começo da Guerra Colonial, em 1961, Forças Armadas serviam para abrilhantar as procissões mais importantes de algumas cidades do país, desfilando ao som das bandas militares. Era bonito! Hoje, as nossas Forças Armadas não entram em procissões religiosas, mas entram noutras “procissões”: as dos conflitos que impõem aos nossos governantes os governantes dos Estados mais importantes com interesses a defender lá por fora! Ou seja, as nossas Forças Armadas – na sua baixa eficiência – servem para “fazer as guerras” dos outros e onde, muito vagamente, Portugal recebe algum tipo de benefício.

 

Estas Forças Armadas são, como se vê, mero instrumento da política internacional portuguesa, para, como agentes “diplomáticos”, conseguirem as vantagens que alguns – muito poucos – vêem na sua minúscula intervenção.

Este facto leva-nos a cortar, por outro lado, com uma tradição diplomática secular: a não intervenção de Portugal nos conflitos europeus quando não estava em causa a defesa da independência e da soberania nacional ou a defesa do direito de posse de colónias.

 

Julgo ser tempo de inverter toda concepção de defesa nacional, dando mais peso e ênfase às Forças Armadas sem nos envergonharmos delas nem do serviço que prestam e prestarão a Portugal quando se tiver de defender os reais interesses da Nação.

07.04.19

A mentira e a efabulação


Luís Alves de Fraga

 

Há tempos, alguém me colocou a questão de o fabulador ser um mentiroso e vice-versa.

 

Bom, “tecnicamente” um e outro são a mesma coisa, todavia, na concepção corrente há grandes diferenças: o mentiroso é aquele que diz mentiras e o fabulador é um criador de histórias – como se diz, agora, “estórias”, indo buscar a diferença à língua inglesa.

 

O mentiroso, em geral, mente como forma defensiva ou com intenção de alcançar um qualquer proveito com a mentira. Estão entre os grandes mentirosos os políticos – raramente fazem afirmações com o declarado intuito de as cumprir – que mentem, dizem eles, por razões patrióticas ou para não gerarem pânico ou por motivos “estratégicos”. Não são únicos, como grandes embusteiros. Há os jornalistas a deturpar o que é vero para servirem interesses obscuros; de certa maneira, os advogados também são capazes de mentir para provarem uma “verdade” capaz de pôr a recato da justiça os seus constituintes.

O impostor tem uma mente e imaginação muito elásticas: a realidade assume formas variadas consoante as circunstâncias, os momentos e os seus objectivos.

 

O fabulador – o nosso contador de estórias – esse pobre coitado pode assumir o papel de pai, mãe, avó ou avô, nas circunstâncias mais corriqueiras, para entreter as crianças, inebriando-as com o relato de episódios fantásticos, descrições de nos deixar com a respiração suspensa. Está a mentir, claro que está! Mas a sua impostura envolve ternura e estimula a cândida imaginação das crianças.

Este é o fabulador “doméstico”, que, na ausência de ideação, se socorre de um livro e lê fantasias para os mais pequenos ficarem tranquilos ou adormecerem embalados em nuvens de palavras criadoras de sonhos plácidos distantes das realidades ásperas da vida, que um dia terão oportunidade de conhecer.

 

Há, contudo, o “grande” fabulador; aquele que conta estórias sob a forma escrita e se designa por ficcionista. É o autor de romances ou de livros infantis; é aquele que nos distrai e nos leva para o “seu” mundo fantástico. É aquele que cria personagens e enredos para nos obrigar a pensar, para nos libertar do nosso quotidiano, às vezes, tormentoso. É o “grande mentiroso”, que diz mentiras consentidas, que lhe dão prazer e nos agradam sobremaneira.

 

Ser fabulador é uma graça de Deus ou da Natureza; ser mentiroso é uma tentação de Lúcifer ou um aleijão da Criação.

Quando se nasce com a sublime capacidade do domínio da palavra escrita é um desperdício se não se desenvolve a possibilidade de efabular.

 

Tomaste nota do que te disse, meu Querido “Alguém”?

05.04.19

Palpites de uma “dama bem-comportada”


Luís Alves de Fraga

 

Vi e ouvi grande parte da entrevista de Christine Lagarde à uma nossa estação de televisão.

Esta senhora, que não come carne – é vegetariana – e pratica mergulho, parece estar a candidatar-se para a Comissão Europeia e, com o conhecimento que tem da economia mundial, lançou para o ar uns palpites sobre o “seu programa” de governo da comunidade. Necessariamente, por tabela, as linhas orientadoras aplicam-se, também, a Portugal.

 

Lagarde é uma mulher inteligente, sabedora, cautelosa, calculista, ponderada e ardilosa e, não por acaso, juntou dois temas aparentemente não muito conciliáveis: a taxa de desemprego e a luta pela igualização das trabalhadoras – em especial, as jovens com formação universitária – aos homens. O recado parecia dirigido a Portugal. Tentemos analisá-lo.

 

Não há dúvida, António Costa conseguiu reduzir o número de desempregados no nosso país, mas há ainda – em 2018, entenda-se – uma diferença entre homens e mulheres, sendo que o número destas sem trabalho é mais elevado do que o daqueles. Ora, antes do mais, coloca-se a questão de saber como reduzir o desemprego num país onde o fraco nível de investimento é endémico.

 

Na economia nacional o grande impulsionador do investimento é, e tem sido, o Estado, tanto através da chamada função pública como das empresas onde preponderam dinheiros colectivos. A nossa solução não passa pela desnacionalização, mas, exactamente, pela nacionalização, porque, no primeiro caso, de imediato se verifica um desinvestimento com o desemprego correspondente. Salazar, embora mais preocupado com as finanças do que com a economia, percebeu isso muito bem e nacionalizou tudo o que lhe foi possível. A razão de assim ser, resulta de algo muito simples: são raras as áreas onde se pode investir com garantia de sustentabilidade, continuidade, lucros chorudos e, ao mesmo tempo, bons salários para os trabalhadores. Digamos que a nacionalização, entre nós, corresponde a um processo de intercomunicação de impostos e salários.

 

Este equilíbrio, característico da especificidade económica portuguesa, conduz a uma outra necessidade: a de, no geral, pagar melhor aos trabalhadores do sexo masculino do que aos do feminino. E não se pense que se trata de machismo!

É que, também no geral, é o homem quem, tradicionalmente, sustenta os encargos familiares. Isto resulta da debilidade económica nacional conjugada com um atavismo cultural, que está tendencialmente a alterar-se. As mudanças são lentas, porque decorrem do apego a padrões herdados.

 

A senhora Lagarde desconhece esta idiossincrasia portuguesa, porque a análise económica não pode ser feita, em exclusivo, através de números, mas interligando estes à realidade social, à história, à educação e ao costume.

03.04.19

A moralidade dos velhos políticos


Luís Alves de Fraga

 

Quando eu era um jovem a começar para o mundo do trabalho e para a vida, ficava com grande suspeita ao ver um idoso, que sempre desprezara as coisas da religião, passar a frequentar a igreja, a comungar, a confessar-se e a rezar fervorosamente terços atrás de terços. Para mim, não se tratava de uma conversão ou reconversão, antes de uma tremenda crise de medo da morte e de um inferno interiorizado na infância através das palavras da catequista beata ou do sacerdote obscurantista e impositivo. A fé desses velhos – homens e mulheres – resumia-se à obtenção do “passaporte” para o céu, algures bem acima das nuvens.

 

Nos últimos anos tenho assistido a um fenómeno semelhante, contudo, já não de ordem eclesiástica, mas de natureza política. Desgastados tribunos – às vezes de fraca verborreia –, esquecendo pecados antigos, apregoam virtudes e soluções jamais praticadas quando roçaram o traseiro pelas cadeiras do poder. Não os assusta a descida aos báratros ardentes de um qualquer Lúcifer, todavia, pretendem ludibriar a História, através de enganarem a memória dos homens. Era mais fácil trapacearem Deus – sobre a existência do qual não têm certezas – do que tentarem iludir apaniguados ou opositores.

 

A este propósito vêm as declarações de Cavaco Silva sobre o como deve ser ou não ser a ética política tanto sobre familiares no Governo ou cargos públicos como sobre a prática dos “jobs for the boys”. E nem se coíbe de referir o que, sobre o assunto, publicou no livro da sua autoria, quando era Presidente da República, dando-se como exemplo de moralizador!

Julgará que, deste modo, fará desaparecer a lembrança do que foram os seus dez anos de governação e todos os favores e sinecuras distribuídos a eito por figuras ainda hoje bem instaladas ou a tratos com a justiça?

 

O medo do julgamento divino e do julgamento da História não ficam a dever nada um ao outro, como se vê!

02.04.19

Protecção Civil versus Protecção Militar


Luís Alves de Fraga

 

Fui alertado para e iminente aprovação de legislação que dá primazia à Protecção Civil, inclusive em termos protocolares, sobre a Protecção Militar ou, dito de outra maneira, o responsável máximo da primeira tem superioridade protocolar sobre os Chefes dos diferentes Estados-Maiores dos diferentes ramos das Forças Armadas.

 

Meus Amigos, para vós isto pode não ter importância nenhuma, mas, para quem é militar de carreira, isto é um verdadeiro desaforo! Isto corresponde a mais uma – talvez a maior – ofensa que feita pelo poder civil ao poder militar.

 

Vou tentar explicar a razão da minha indignação.

As Forças Armadas foram, são e serão sempre a “ultima ratio” – a última razão – da nossa Pátria, do nosso desejo de sermos quem somos – com toda a caterva de defeitos, mas, também, com toda a montanha de qualidades que temos enquanto povo único – porque, por mais voltas que se dê, nós somos únicos – por sermos irrepetíveis. As Forças Armadas são os “bombeiros” de Portugal para “apagar” qualquer “incêndio” que ameace a nossa soberania.

E não me venham dizer que não temos meios para cumprir a nossa missão, porque se tal acontece é por culpa dos sucessivos governos, que deixaram reduzir uma força armada com algum significado a uma pequena força armada já quase ultrapassada em efectivos pela GNR em conjunto com as polícias. Um Estado que privilegia a segurança interna e a segurança civil em detrimento da segurança militar externa não merece existir. Mas nós queremos existir como Estado… Ou será que só somos Estado soberano e independente nos jogos de futebol?

 

Senhores ministros, senhores deputados e senhor Presidente da República tomem boa nota na grave ofensa que estão a fazer às Forças Armadas, porque elas são, em todas as circunstâncias, a maior e mais potente organização capaz de gerar e gerir violência dentro das nossas fronteiras!

As Forças Armadas estão ao serviço da paz e da segurança da Nação; são um instrumento do qual o poder político LEGÍTIMO pode fazer uso para garantir a paz e a segurança, por isso não as amesquinhem, não as desprezem, não as ofendam retirando-lhes a dignidade que lhes assiste.

 

Este é o meu desabafo, o desabafo e o protesto de um coronel reformado da Força Aérea, que serviu onde e quando e como foi preciso, aceitando ver reduzidos os seus direitos constitucionais por fazer parte de uma Instituição que tem como objectivo primeiro defender Todos.

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