Famílias e governos
Propositadamente não tenho querido entrar na polémica, mais que pública, de haver muitos familiares de governantes em cargos de nomeação ou de escolha dentro do aparelho do Estado. Não quis, porque acho a discussão absolutamente pueril, própria de quem desconhece a história social e política portuguesa do século XIX, a partir do ano de 1834, data da vitória do Liberalismo.
Com efeito, desde a data em que se passaram a escolher por votação os representantes políticos do “Povo”, em Portugal, o “negócio” de votos a favor do partido B ou C, em troca de lugares “à mesa do orçamento” tornou-se a coisa mais vulgar e corriqueira na prática política nacional.
Nesta nova “fase” da democracia nacional – fase iniciada em 25 de Abril de 1975, data das primeiras eleições livres – começaram a chamar-se para a “mesa do orçamento” os boys e, quase ao mesmo tempo, os familiares próximos ou distantes.
Qual é, por conseguinte, o actual espanto?
Os “espantados” – e não são poucos – não percebem que todo este burburinho resulta da falta de “assunto” da oposição à direita para fazer campanha?
Eu sei, eu sei, nem tudo está bem na acção governativa de António Costa, mas dois argumentos de peso têm de ser levados à conta do Governo: saber juntar toda a esquerda para governar com relativa tranquilidade e reduzir o deficit orçamental com a consequente liquidação de dívida.
Também sei que não satisfez as reivindicações dos professores, dos enfermeiros, nem fez investimentos nos caminhos-de-ferro e nem fez… um grande número de coisas! Sei isso tudo, contudo, os meus leitores já perderam a capacidade imaginativa para poderem vislumbrar o que seria se estivéssemos a ser governados pelo PSD de Passos Coelho? O que é que já teria sido vendido “ao preço da uva mijona” a empresas estrangeiras? Como estaríamos de salários e de desemprego?
Meus Amigos, o que tem sido feito de mais ousado em política salarial e económica pelo partido do Governo resulta da acção conjugada do PCP e do BE, porque cada partido tem a sua matriz de acção; por isso mesmo, estaríamos em muito maus lençóis se na governação estivessem o PSD e o CDS.
Vamos passar a discutir o que é importante e deixar de lado os assuntos que só favorecem a oposição de direita?