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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

31.10.18

Ainda o “efeito Cavaco Silva”


Luís Alves de Fraga

 

Na segunda parte da década de 80 do século passado tive sérias discussões com camaradas de armas sobre a adesão à CEE e sobre as primeiras medidas que se desenhavam no horizonte próximo. Era Primeiro-Ministro Cavaco Silva. O dinheiro caía a rodos e parecia que se vivia no país a nova descoberta de minas de ouro num qualquer Brasil.

A quantidade de projectos inúteis foi, de longe, superior aos de declarada utilidade. Havia a possibilidade de beneficiar amigos de longa data ou meros conhecidos de ocasião. Toda a gente quis deitar mão ao dinheiro europeu. Foi um fartar vilanagem.

 

E quem é que estava mais preparado para beneficiar do dinheiro vindo de Bruxelas? As indústrias mais estruturadas e que não estavam destinadas a serem desmanteladas e, de entre todas, as de construção civil eram as preferidas… mas nem todas! As de construção de auto-estradas foram contempladas com um estatuto de protecção excepcional. Cavaco Silva, Primeiro-Ministro, foi fechando os olhos aos favores que se estabeleceram logo desde a primeira hora. Haja em atenção a megalómana e quase inútil construção do Centro Cultural de Belém, que derrapou várias vezes no custo e na data de conclusão.

 

Qual a matéria das minhas discordâncias?

A desmedida construção de auto-estradas, privilegiando o transporte rodoviário, as pequenas e médias empresas de camionagem. Claro, não se podia continuar com as velhas estradas nacionais. Era necessário abrir uma nova via rápida para ligar Lisboa ao Norte e ao Sul de Portugal, mas, depois, havia que apoiá-la com estradas de bom piso e com uma ampla rede de caminhos-de-ferro, sem destruir a metalurgia nacional, nem a indústria de fabrico de carruagem – a SOREFAME – canalizando para estas empresas todos os apoios possíveis.

 

Nada disto se fez. Não se soube proteger a parte da indústria nacional que era estratégica. Pelo contrário, deixou-se que grandes capitais estrangeiros deitassem mão ao que era mais valioso para nós. E foi durante o Governo de Cavaco Silva que se tomaram as decisões mais desastrosas e menos equilibradas para o futuro de Portugal. A actual situação dos caminhos-de-ferro deve-se a essa “bomba” antinacional que foi a adesão à CEE com imperativos que não souberam acautelar os interesses produtivos portugueses, nem orientar os investimentos proporcionados pelo dinheiro de Bruxelas.

Enriqueceram alguns – muitos poucos –, ficara mais remediados muitos pequenos empreendedores, que aproveitaram o financiamento europeu a fundo perdido, e ficaram mais pobres todos os que dependiam e dependem do trabalho e do investimento.

 

Portugal é um país não de oportunidades, mas de oportunistas acobertados por políticos que não têm uma clara noção do verdadeiro sentido da honestidade e do patriotismo.

30.10.18

Orçamento e economia


Luís Alves de Fraga

 

Há muitos anos, quando foi eleito, no Brasil, o futuro Presidente Jucelino Kubitschek de Oliveira, antes de tomar posse, ele fez uma rápida viagem à Europa e passou também por Lisboa para cumprimentar Salazar.

Conta-se (alguém terá ouvido ou Jucelino cometeu inconfidência) que Salazar, arvorando-se em mentor financeiro do Presidente brasileiro, lhe terá dito, que, o mais importante para a sanidade do muito instável e inflacionado cruzeiro, seria procurar equilibrar o orçamento ao mesmo tempo que reduzia a dívida externa e arrecadava reservas de ouro no banco central do Brasil.

Jucelino ouviu com atenção e terá respondido com uma frase lapidar:

- Presidente, quando há uma moeda forte, quase sempre, há uma economia fraca; todavia, para haver uma economia forte pode haver uma moeda fraca. Eu prefiro, para o Brasil, uma economia forte!

Verdade seja que foi com ele, na Presidência da República Federativa do Brasil, que se deu o grande salto económico daquele país lusófono.

 

Ora, vem esta memória à colação por causa de hoje ter sido aprovado, na generalidade, o Orçamento do Estado e nele se procurar reduzir o défice a um valor quase insignificante através de um baixíssimo investimento do Estado em despesas estruturais e estruturantes. Ou seja, quer-se anular o saldo negativo, de certo modo evitar a dívida e evitar o crescimento do sector económico do Estado.

Há alguma diferença entre estes procedimentos técnicos e os de Salazar, que, nos momentos mais aflitivos da vida nacional, mandava reter nos cofres do Estado dez por cento das verbas atribuídas aos serviços de modo a conseguir superavit orçamental?

 

Pedro Ferraz da Costa, homem forte da indústria nacional, ainda ontem, na televisão, disse que o actual orçamento não favorecia a economia, e isso é, realmente, mau.

O Governo espera poder sustentar a economia com o esforço do investimento privado, com as exportações e o crescimento do turismo. O orçamento está feito para manter um baixo nível salarial na grande massa de trabalhadores e uma média capacidade de compra entre a média classe média. Nas grandes linhas, este orçamento não fica a dever nada a um orçamento de Salazar, nos anos 50 e 60 do século passado.

 

Como conclusão genérica posso dizer que as normas e regras da União Europeia, conjugadas com a adesão ao euro, vieram colocar-nos em situação idêntica à da política financeira e económica de Salazar e do seu Estado Novo.

É lamentável, mas é verdade.

30.10.18

Aeroporto da Portela e do Montijo


Luís Alves de Fraga

 

Acabei de ver mais um programa “Prós e Contras”, este sobre a transformação da Base Aérea do Montijo em prolongamento do aeroporto da Portela ou General Humberto Delgado.

Creio que foi dito o mais importante, mas ficou evidente que os maiores responsáveis pela apresentação do projecto ao Governo somente se baseiam em estudos técnicos sem olharem para além das regras estabelecidas e vigentes. Regras de impacto ambiental, regras técnicas de percursos de aproximação de aeronaves e de descolagem das mesmas, regras de tráfego aéreo, regras de ligação rodo e ferroviária a Lisboa, regras de o raio que os parta! Regras sobre a forma de nos enganarem e se desresponsabilizarem de tudo o que pode acontecer.

 

Dois pilotos presentes no debate levantaram a questão mais importante fora das regras enunciadas pela cambada defensora do aeroporto no Montijo: a segurança das populações residentes nos “corredores” de aterragem e descolagem dos aviões.

 

Em Lisboa, há duas formas de se fazer a aproximação para a aterragem: ou vindo do lado de Vila Franca de Xira ou entrando pelo lado da Fonte da Telha.

A entrada pelo lado de Vila Franca é, do ponto de vista do risco para as populações, aquele que oferece menor perigosidade; mas, quando se vem da Fonte da Telha, os aviões sobrevoam uma parte de Lisboa absolutamente horripilante se se tiver em conta um acidente aeronáutico: ponte 25 de Abril, palácio das Necessidades, hospital de Santa Maria, Biblioteca Nacional, Torre do Tombo, Universidade de Lisboa, Campo Grande, bairro de Alvalade, Areeiro e parte da avenida Gago Coutinho.

Ninguém pode imaginar a dimensão da catástrofe de uma aeronave que começasse a cair, por exemplo sobre o hospital de Santa Maria e se imobilizasse no bairro de Alvalade! Não eram só as mortes dos passageiros; eram todas as mortes devidas ao impacto no solo como as resultantes de todos os estilhaços feitos durante a queda e arrastamento, como ainda as provocadas pelos fogos ateados pela queima do combustível dos tanques. Não haveria meio de deitar mão a todos os acidentados. Não chegariam os bombeiros das corporações de Lisboa, nem as ambulâncias do INEM e restantes. A confusão no trânsito seria caótica. Os curto-circuitos seriam imensos, as explosões de garrafas de gás de uso doméstico dariam origem a intermináveis fogos, bem como a outros provocados pelo gás de cidade.

 

E um acidente destes pode ter lugar devido a uma falha de motor, ao impacto com aves de porte significativo ou com drones usados para divertimento pessoal ou uma outra causa inesperada.

 

É por causa destas situações de segurança que os mais modernos aeroportos do mundo se situam a largos quilómetros das cidades mais próximas. Mas, por cá, continua-se a discutir a fotografia dos criminosos apanhados em fuga, dos animais de estimação serem ou não abandonados ou entrarem em restaurantes, o cartão ser de cidadã e cidadão, haver ou não haver segurança nos paióis militares. Tudo isto é importante, menos o facto de estar iminente uma catástrofe de proporções incalculáveis, cada vez que se aproxima um avião do aeroporto da Portela.

Acredita-se, em excesso, nas maravilhosas e miraculosas capacidades de Nossa Senhora de Fátima… Até ao dia em que não vale a pena chorar sobre o leite derramado!

29.10.18

Fascismo no Brasil?


Luís Alves de Fraga

 

O capitão reformado Jair Bolsonaro ganhou as eleições presidenciais no Brasil. Ganhou com uma confortável margem sobre o candidato apresentado pelo PT, mas que, erradamente, na segunda volta, já não representava só esse partido, mas a alternativa ao opositor o qual continuou a usar um discurso e um comportamento fascizante em todas as suas vertentes. Isso não foi compreendido pelos eleitores brasileiros. Pelo contrário, continuaram a aceitar que a alternativa a Bolsonaro era o comunismo (?), realmente, nunca experimentado no Brasil nas últimas quatro décadas.

 

Interessa, agora, perceber os sinais indicativos da marcha para o fascismo. Perceber se a sociedade brasileira vai ou não vai virar.

Comecemos pelo discurso de vitória de Jair Bolsonaro.

Claramente não corresponde a dar o dito, na campanha, pelo não dito. Pelo contrário. Foi um discurso demagógico cheio de armadilhas para tentar adormecer os incautos. Disse: "liberdade de andar na rua, liberdade política e religiosa, de formar e ter opinião".

Mas esta liberdade poderá passar pelo endurecimento – se calhar, desmedido – da força policial reforçada pela acção do Exército. Esse será o caminho para o silenciamento de todos os órgãos de comunicação social que tentem criticar a acção exagerada das forças de repressão. Mas, antes disso, se neste espaço de tempo entre a vitória eleitoral e a tomada de posse, se começarem a verificar acções de retaliação contra personalidades destacadas da oposição a Bolsonaro ou contra organizações de trabalhadores, levadas a cabo por grupos de arruaceiros armados, que ficarão impunes por inacção da justiça, teremos a certeza sobre o futuro do Brasil.

Disse, também que governaria de acordo com a Constituição, admitindo-se como um enviado divino para restaurar a ordem na sociedade brasileira. Não há, à luz da História, melhor indício para o classificar como um rematado ditador fascizante. Ele agirá em “consonância” com a “vontade de Deus”!

 

A certeza absoluta da viragem para o fascismo só a teremos depois de Janeiro e começará pela caça à droga e à marginalidade, para obter a legitimidade necessária para pôr em execução o programa repressivo, que silenciará todos os dissidentes da sua posição. Depois, depois Deus nos livre do que se seguirá.

 

Tudo o que aqui vos deixo para reflectir é o mínimo dos sinais de imposição da força fascista. Todavia, são os sinais clássicos ensinados pelos autores dedicados ao estudo das ditaduras.

27.10.18

Curriculum Vitae e mentiras


Luís Alves de Fraga

 

Há dias, foi notícia uma jovem candidata à liderança da Juventude Socialista que se “enganou” no CV, dando um ano de nascimento errado e habilitações académicas inacabadas como acabadas.

Isto repete-se quase todos os dias, em todos os lugares, só que não se dá por isso, visto os autores destes CV “gralhados”, como agora se tenta justificar as aldrabices, não são “figuras públicas”.

 

Há muitos anos, conheci uma jovem, que ainda não tinha concluído o mestrado, faltando-lhe defender a tese, pretendente a um lugar num determinado Ministério. Com todo o desplante, para me pedir conselho, por eu ser muito mais velho do que ela, mostrou-me o CV bastante “compostinho”, dando realce às disciplinas com melhor classificação no ensino secundário, às da licenciatura e às do mestrado (parte escolar) e, depois, porque não tinha mais nada para dizer, porque mais nada tinha feito na vida, acrescentou, numa rubrica a que chamou CONFERÊNCIAS, os títulos de todas as palestras ouvidas nos últimos anos.

Ela não estava a enganar ninguém, é certo, pois não dizia ter feito aquelas conferências, mas, alguém mais incauto, podia tomar o “não dito pelo dito”.

Claro que esta jovem conseguiu o lugar no Ministério, concluiu o mestrado, fez carreira, obteve um doutoramento no estrangeiro – esta coisa de doutoramentos “lá fora” sempre me causaram engulhos intelectuais, porque há quem os consiga fazer em universidades de ensino a distância ou em universidades de qualidade duvidosa – e hoje tem a vidinha assegurada com mais de vinte e oito anos de serviço e uma posição de destaque no tal Ministério. E, note-se, não fazia parte de nenhuma “Jota”, embora soubesse insinuar-se bem junto de quem tinha competência para a poder ajudar, descartando rapidamente a ajuda anterior para se “pendurar” noutra mais “útil”.

 

Puxei este exemplo à colação para mostrar que os “enganos” nos CV não são “fruto” dos tempos que correm, mas já vêm lá muito de trás. Foi com um CV bastante “florido”, que Alves dos Reis – o grande falsário português, do século XX –, também fez carreira e, curiosamente, inventando um diploma de um curso de engenharia no Reino Unido. A diferença entre a menina que queria ser líder da JS, a menina minha conhecida e Alves dos Reis é tão ligeira que quase nada os separa uns dos outros.

 

“A mentira tem perna curta” diz a voz popular e, aprendi eu nos Pupilos do Exército, “A mentira é um manto curto e esfarrapado que não chega para cobrir a verdade”.

As pessoas são assim, quando os seus anseios não se contêm dentro das suas possibilidades. Mas são assim cá e noutros lados, porque tudo depende do carácter de cada um.

26.10.18

Tancos: Somos idiotas?


Luís Alves de Fraga

 

Confesso que a “novela” chamada Tancos me está a dar volta à cabeça! Tenho a sensação de que ou querem fazer de todos nós parvos ou a comunicação social é composta por uma cambada de inaptos intelectualmente ou anda aqui uma “revolução” feita à maneira do que é possível num tempo em que já se não sai para a rua aos tiros.

Vou tentar explicar o meu ponto de vista.

 

Querem que acreditemos que o director da Polícia Judiciária Militar (PJM) deu por encerrado o caso Tancos após uma encenação de devolução do material roubado?

 

Bom, ou estão a reduzir o senhor à condição de parvo ou querem fazer de nós parvos!

É evidente que a investigação deve ter continuado. E se continuou deve ter dado frutos. Que frutos? Pois é aqui que se põem duas hipóteses:

  1. Ou o roubo foi encomendado por alguém da área política para colocar em xeque o actual Governo, dando início à “revolução” que levaria (levará) à queda do mesmo, dando oportunidade de se formar um outro;
  2. Ou o roubo foi encomendado por alguém da área militar com igual finalidade.

 

No caso da primeira hipótese, “alguém” comprometido com o ou os mandantes terá tentado “desviar” a atenção do roubo do material para a centrar no “crime” praticado pela PJM de compactuar com um ladrão e encenar uma recepção de material deixado algures para ser recuperado. Deste modo a “revolução” pode continuar através desta nuvem de fumo, que vai colocar, na opinião pública, como “criminosos” tanto a PJM como os membros do Governo sabedores da prática levada a cabo pelos investigadores militares.

 

No caso da segunda hipótese, a PJM esteve sempre disposta a encobrir os “autores” militares do roubo e “obrigou” a Polícia Judiciária civil (PJ) e o Ministério Público a intervir para desmascarar o “crime” e a “revolução”.

 

Pois bem, se esta segunda hipótese tivesse pernas para andar nem haveria tantas fugas de informação nem os órgãos de comunicação social “embandeiravam em arco” como têm feito. Logo, parece-me, esta hipótese é completamente absurda, levando-me a aceitar como viável a primeira que enunciei.

 

Ora, assim começam a encaixar no puzzle determinadas “peças”:

Prisão imediata do director da PJM; declaração do major Brazão de completa admiração pelo seu anterior chefe; possibilidade do mesmo major, porque estava fora do país, ter tempo para, sem quebra do silêncio que lhe ia ser imposto, fazer declarações esclarecedoras e comprometedoras para o ministro – “morro” mas levo mais gente comigo; tentativa pública de descredibilizar o CEME, fazendo crer que havia obstaculizado a acção da PJ, impedindo-a de entrar no Campo Militar de Santa Margarida; orquestração condenatória da acção da PJM.

 

Alguém, em perfeito juízo, acredita que o director da PJM se contentava em reaver o material de guerra, dando cobertura a um ex-fuzileiro assustado com a dimensão e proporções que o seu acto assumira? Alguém acredita que um coronel do Exército se contentava em deixar impune um “pequeno” ladrão sem procurar deitar a mão ao “peixe graúdo”? Qual a razão de não se falar nas acções de investigação para chegar ao mandante do roubo? E aos auxiliares do roubo? Ou foi um só homem que carregou todo o material de guerra? E, acima de tudo, porque é que o “roubo” aconteceu no momento mais próprio para encontrar o Governo na sua situação mais frágil?

 

Nunca fui investigador de polícia nenhuma, mas tenho desenvolvido muitas investigações ou pesquisas no domínio da História e, desconfiado, desconfio das excessivas evidências.

24.10.18

Fim ou começo?


Luís Alves de Fraga

 

Bruxelas rejeitou o Orçamento de Estado da Itália e o Governo italiano declarou que não o rectificava, porque o orçamento é para os Italianos e não para a União.

 

É sabido que sou, desde sempre, um eurocéptico porque acho impossível resolver em dezenas de anos as rivalidades culturais (entenda-se por cultura aquilo que define um grupo social) entre Estados europeus. Não se trata de uma questão de direitas, esquerdas ou ultra-direitas. Trata-se de esquecer interesses nacionais, que foram defendidos durante séculos, em nome de uma "unidade" artificialmente criada. O máximo que se podia fazer - um mercado comum - foi feito e devia ficar por aí.

 

Dizer que é um Governo de extrema-direita quem se opõe a Bruxelas é simplesmente resultado de uma conjuntura. Aliás, o avanço dos nacionalismos são a resposta à globalização e ao domínio do capital apátrida sobre as pessoas com pátria e com tradições, idiomas e aspirações.

 

A globalização facilitou a corrupção, o desejo de "estar na crista da onda" a qualquer preço; veio alterar valores e conceitos morais. É natural que haja uma reacção popular e quase é "natural" o aparecimento de oportunistas políticos que explorem o sentimento de desengano dos povos, chamando-os para projectos ditos nacionalistas, mas que, realmente vão, na aparência, ao encontro dos desejos nacionais, porque ser nacionalista não constitui crime nem pecado político. O nacionalismo como ideologia política, esse sim, é perigoso.

 

Assim, a negação da Itália tem de ser olhada de duas maneiras distintas: uma, como reacção a um embuste chamado União Europeia; outra, como manifestação perigosa de uma tomada do Poder por tendências fascistas.

 

Até onde os tecnocratas de Bruxelas são capazes de evitar o descalabro, recuando para os termos possíveis de juntar o que não se pode misturar, ou caiem nos mesmo erros da esquecida Sociedade das Nações e encaminham inocentemente a Europa, outra vez, para o abismo?

19.10.18

Museu dos Descobrimentos ou Descobertas


Luís Alves de Fraga

 

Sobre a extraordinária acção marítima dos Portugueses há, agora, por aí quem deseje ver-nos a pedir desculpa do que fizemos no contacto com os outros povos.

Quem tal pretende, só pode estar a brincar com quem estudou a sério a História da Expansão Portuguesa! Só por brincadeira é que se pode aceitar tamanha ignorância!

Vou tentar debruçar-me, sinteticamente, sobre o assunto.

 

O grande mistério, que ainda hoje está por resolver, diz-se em poucas palavras:

⸺ Qual foi a motivação para a expansão?

Há várias teorias, desde a expansão da fé até ao desejo mercantil.

Julgo, têm-se de incluir todas e acrescentar uma outra muito mais subtil: a necessidade de conseguir o equilíbrio estratégico peninsular. Vejamos.

 

Na Península havia, em 1415, quatro unidades políticas: Castela, Granada, Portugal e Aragão.

Aragão estava “compensado”, em termos de poder na Península, porque se havia expandido para o Mediterrâneo; Castela era a “grande” potência terrestre peninsular com tendências hegemónicas sobre Granada e Portugal. O reino mouro poderia encontrar uma retaguarda no Norte de África… poderia. Mas, Portugal não tinha retaguarda nenhuma e, assim, estava em desequilíbrio perante uma imensa Castela. A única solução que lhe restava era proceder de modo semelhante ao de Aragão: ganhar peso específico fora da Península. Assim, nasce Ceuta, Tânger, Açores, Madeira, todas as conquistas no Norte de África na área atlântica e todos os descobrimentos na costa africana. Assim se justificam as bulas papais dando grandeza ao rei português.

⸺ Mas que grandeza? Territorial?

Não, a grandeza que D. Manuel I desvendou logo após a chegada à Índia: a comercial!

Essa estratégia de afirmação de poder está evidente na adopção do título que impôs a si próprio: «Rei de Portugal e dos Algarves […] senhor do COMÉRCIO e da na NAVEGAÇÃO […]». Era isso e só isso que lhe dava grandeza e poder! Era só isto que ele desejava para si e para o seu reino!

 

Os contactos com os povos de todo o mundo visaram simplesmente a liberdade de navegação marítima e a liberdade de comércio!

Se houve escravatura é porque ela existia já e era uma forma de fazer comércio aceite entre os povos. Portugal não escravizou; Portugal seguiu os ditames do comércio da época.

É anacronismo querer comparar os direitos do Homem medieval ou moderno (segundo as épocas tradicionais de dividir a História do Ocidente) com os direitos do Homem actual.

 

Que se faça o museu dos Descobrimentos Portugueses, porque ele terá de ser norteado pela verdade inequívoca, que acabamos de referir.

Eu tenho orgulho no passado histórico de Portugal e no de todos os Fernão Mendes Pinto que se espalharam pelo mundo fora e foram cativos e fizeram cativos.

17.10.18

Do eleitoralismo à pobreza


Luís Alves de Fraga

 

Comenta-se, à boca cheia, se o Orçamento de Estado é ou não eleitoralista, ou seja, se contem medidas financeiras feitas propositadamente para levar os eleitores a votarem no PS, no próximo ano.

 

Acho esta preocupação uma completa idiotice. Idiotice e falsa questão, pois todos os orçamentos de todos os Governos em fim de mandato são eleitoralistas, desde que há Governos no mundo e não só em Portugal. Até no Estado Novo, o fascismo português, havia eleitoralismo nos momentos de farsa eleitoral! Havia inaugurações, distribuição de lanches ao "pobrezinhos" e mais uma infinidade de pequenas merdas para convencer o pagode sobre a "bondade" dos governantes.

Claro que, desde o PS ao CDS, todos os Governos foram eleitoralistas, na vontade de conquistar votos para lhes garantir a governação, não pelo bem que nos estavam a fazer, mas pelo bem e comodidade que lhes davam as cadeiras do Poder.

 

A novidade é que este Governo tem de fazer política eleitoralista, satisfazendo o "caderno eleitoral" dos partidos que o apoiam no parlamento! Essa é que é a novidade!

A questão coloca-se em separar o que o PCP e o BE dizem ser as suas reivindicações "naturais" de esquerda e as suas manobras eleitoralistas para não serem engolidos pelo PS e pela política eleitoralista deste.

Claro que a direita aproveita-se deste facto para denegrir, de qualquer modo, toda a esquerda.

 

Hoje é o Dia Internacional da Erradicação da Pobreza. Dia que deveria ser tornado em ano, em Portugal, pois temos um índice de pobreza elevadíssimo, sendo que o abismo entre os que muito têm e os que nada possuem é, entre nós, cada vez maior e, se por um lado, os partidos de direita enchem a boca a falar da pobreza, mas nada fazem para a erradicar, os partidos da esquerda apontam medidas para a minguar. O problema está no simples facto de Portugal ser um país pobre e com uma muito fraca taxa de investimento em áreas capazes de mudar substancialmente a distribuição dos rendimentos.

 

Este é o país que temos e, mais do que tudo, é a classe política que possuímos. Virtude é o eleitorado não se deixar apanhar nas falsidades e avaliar bem as propostas honestas dos partidos. Depois, depois há que saber premiar os "bons" e "castigar" os maus. Isso é democracia.

14.10.18

Um pequeno país


Luís Alves de Fraga

 

Creio que ninguém terá dúvidas em aceitar que Portugal é um pequeno país; pequeno em área, em recursos e em população.

 

Ora, talvez por ser pequeno, os nossos órgãos de comunicação social saltam de assunto em assunto com a maior facilidade, tornando, em cada dia - e, às vezes, no mesmo dia - "notícia" de destaque e de primeira grandeza casos que, noutros países de grande dimensão, ocupam uma pequena parcela do "tempo" informativo.

 

Vem isto à baila porque a tempestade que ontem absorveu todo o começo da noite nas televisões.

A esta volubilidade noticiosa poderia, e, a meu ver, devia opor-se uma comunicação social que explorasse de forma educativa os acontecimentos, explicando origens e causas e, até, talvez, as possíveis consequências. Essa comunicação social desempenharia um papel pedagógico, ajudando os cidadãos a compreenderem tudo o que realmente poderia afectar-lhes a vida e a sua situação.

 

Mas ontem passou-se, num ápice, da demissão de ministros à força do vento de uma tempestade. A vida dos Portugueses ficou condicionada pelo "furacão", que afectou as populações da região de Coimbra/Figueira da Foz/Leiria. Havia que avisar e tomar precauções, mas o "massacre informativo" dispensava-se. Teria valido a pena continuar com o estudo da situação política, aprofundando-o, esclarecendo-o para contribuir para a formação de uma verdadeira opinião pública.

 

Nada disto tem remédio, porque somos um pequeno país, que quer continuar pequeno, e, preferencialmente, medíocre no plano do conhecimento e da informação.

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