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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

24.08.18

Em Itália


Luís Alves de Fraga

 

Li há pouco, no Le Figaro, que a Itália fez um ultimato à UE sobre os emigrantes ilegais que estão algures num navio da Guarda Costeira, recolhidos no mar Mediterrâneo. Impõe que esses emigrantes sejam recebidos por países da UE ou, caso contrário, haverá retaliações, tais como a suspensão italiana para o orçamento da União.

 

Este é o quadro que se começa a esboçar na União: ameaças capazes de levar à falência esse projecto político de prosperidade e de paz na Europa.

 

Para mim, a posição italiana só me demonstra que não há, não houve e não haverá possibilidades de criar a proclamada União Europeia, porque o que prevalece são sempre os interesses nacionais, falando mais alto do que a unidade. A Europa nasceu das independências, de culturas distintas, de projectos políticos com fins diversos e querer esquecer as lutas, que duraram séculos, para cada povo se acomodar no seu território da maneira que mais lhe convém é, simplesmente, uma linda utopia e nada mais.

 

Não se trata de uma explosão da extrema-direita italiana!

Ela fala, porque dá voz ao que cada cidadão anónimo pensa sobre a UE. Ela arrisca afirmar desejos, porque sabe que está a expressar o sentimento mais íntimo dos Italianos (haverá, naturalmente, excepções, mas essas também defendem interesses próprios).

Continuo a dizer: a solução para a Europa era, é, a de se ficar por um mercado comum com livre trânsito de bens e pessoas. A história do euro transformou-se numa grilheta das vontades nacionais e vai conduzir à destruição de todas as outras soluções possíveis. A Itália está a dar o exemplo.

22.08.18

O valor da morte


Luís Alves de Fraga

 

Já aqui defendi que, perante a morte de alguém, me curvo e, respeitando a dor dos seus familiares e amigos, relevo os seus defeitos, sem os esquecer, para enaltecer as suas virtudes. É uma questão de boa educação e de bons princípios. Não se trata de cinismo ou hipocrisia; é tão-só recordar que há pessoas em sofrimento e nada adianta, para a sociedade ou para o leque restrito de amigos e próximos, calcar na imagem negativa do defunto.

 

Mas a minha postura é sempre igual quer se trate do falecimento de um expoente social ou de um Zé Ninguém desconhecido de todos.

 

E se eu tivesse responsabilidades políticas destacadas ou responsabilidades directivas num órgão de comunicação social como reagiria ou mandava reagir face ao falecimento de alguém com significativa notoriedade?

 

No primeiro caso, seria muito cauteloso e discreto na referência à morte desse notável, não esquecendo que, em sentido absoluto, o falecimento dele é tão importante como o falecimento daquele que não deu nas vistas e passou pela vida rodeado de sombras e esquecimentos.

No segundo caso, mandaria que, dando relevo relativo ao acontecimento, especialmente no que toca a dados biográficos e história de vida, se fosse comedido no destaque, ou seja, na colocação da notícia no jornal, revista, rádio ou televisão.

 

Pode inquirir-se sobre o motivo do comportamento que acima tracei. É fácil explicar.

O detentor de cargo político destacado tem de ter presente que ocupa um lugar para servir todos os cidadãos e não só alguns em particular; o responsável por um órgão de comunicação social tem por obrigação informar, dentro dos limites indispensáveis à compreensão da notícia, sem evidenciar simpatia ou antipatia pelo acontecimento.

 

Morreu, há dias, de uma queda no seu iate, em Ibiza, um grande empresário português. Foi noticiado o facto, em minha opinião, excessivamente. O Presidente da República deu destaque ao acontecimento, ainda segundo o que penso, com demasiada ênfase, exactamente por se tratar de um "homem de negócios" com, pela certa, comprometimentos políticos que, ao levarem o Chefe de Estado a referir-se-lhe, o comprometem de forma inconveniente.

Realmente, não é para todos a condição de "homem publico"!

17.08.18

Da cadeira para a Democracia


Luís Alves de Fraga

 

Ocorre neste final de Agosto o cinquentenário da queda de Salazar, a qual acabou por ser a culpada do afastamento do ditador. O almirante Américo Tomás, então Chefe de Estado, teve de o substituir por um dos delfins do regime: Marcelo Caetano, um outro professor de Direito.

 

Portugal respirou fundo quando uma nova figura de um velho sistema, apareceu na televisão a falar ao país, naquilo que chamou "Conversas em Família". Era um bafo de ar fresco numa ditadura carrancuda. Era a "mudança na continuidade", seja isso o que for. Há quem diga que só mudam as moscas e, na realidade, Marcelo Caetano mandou perfumar a trampa e fazer voar algumas moscas.

 

A "Ala Liberal", que alguns políticos do PSD querem, agora, fazer crer que foi a origem do partido, foi, na verdade, a "mudança de moscas" no meio da mesma porcaria, que era a Assembleia Nacional. O fascismo mantinha-se, mas com "rosto humano".

Salazar e a sua sombra continuavam a "fazer" gelo na política interna portuguesa. A solução da guerra colonial era a grande mudança que nem Caetano queria nem Tomás "autorizava". Era o abcesso impeditivo do avanço para a Democracia. Marcelo Caetano bem tentou, com sorrisos e simpatia, convencer-nos, a nós que vivemos com consciência esse período, que havia uma "Primavera" na ditadura, mas a ditadura persistiu.

 

Fui dos que aproveitou ao máximo a "abertura" da censura para escrever em jornais opiniões que podiam ajudar a pensar quem lesse os artigos, mas nunca me iludi: os censores mantinham-se alerta a cortar aquilo que achavam inconveniente para a "tranquilidade" dos leitores de jornais, fossem de grande circulação ou regionais... e estes eram ainda mais "perigosos", porque os liam as elites locais.

 

Salazar caiu da cadeira, mas não caiu a ditadura, nem a "Ala Liberal" de Sá Carneiro, Miller Guerra, Pinto Balsemão foi o ponto de partida para a democratização. Se querem fazer acreditar nessa história, então, sou obrigado a gritar bem alto, que se trata de uma mentira. Mesmo depois de fisicamente morto, Salazar continuou vivo na política de então e há quem o queira ressuscitar para "resolver" a política de hoje! Mera ilusão ou grande ignorância do que foi o Estado Novo.

Viva a Democracia que temos!

10.08.18

A importância de dizer


Luís Alves de Fraga

 

Ouvi de um amigo meu, com idade próxima da minha, uma história assaz interessante, que vos vou contar, por a julgar paradigmática quanto ao calar ou dizer certas palavras.

 

Os pais do meu amigo tinham uma pequena propriedade, com casa de campo, numa região do centro de Portugal. Era no tempo em que, passar o Verão no meio do nada, não representava perigo de espécie alguma. A casa distava da aldeia mais próxima cerca de três a quatro quilómetros; não tinha electricidade nem água canalizada... bebia-se a de um poço existente na propriedade. O meu amigo tinha uma velha e pesada bicicleta, que o pai lhe comprara, para ir todos os dias à aldeia fazer os recados necessários ao abastecimento, em géneros frescos, para a alimentação da família. Passou os Verões da sua juventude com os pais nessa propriedade perdida no centro de Portugal.

 

Casou com vinte e quatro anos e, no ano seguinte, seguiu para África. Lá, recebeu a notícia da venda da casa e terreno. Teve pena que a família se tivesse desfeito daquela propriedade com tantas memórias para ele.

Só muitos anos mais tarde se interrogou sobre a razão da venda. Não se justificava, dado o grande gosto que o pai fazia nas férias lá passadas.

 

Quando me contava isto, o meu amigo, deixou escapar a pergunta:

- Olha lá, és capaz de imaginar o motivo da trasacção?

Respondi-lhe que, se calhar, foram razões financeiras que a ditaram. Sorriu e disse-me simplesmente:

- Não, meu caro, faltava lá eu para ir fazer as compras, de bicicleta, à aldeia mais próxima!

Os olhos ficaram-lhe tristes e confessou com voz cava e num murmúrio:

- O que mais me dói é que o meu pai nunca me disse a importância que eu tinha nas férias da família. Não lhe custava nada e eu teria ficado contente e orgulhoso por ser útil!

 

Muitas vezes calamos palavras que devíamos dizer, elogios que afagam o nosso ego, sem contribuírem para uma balofa vaidade.

08.08.18

A banalidade


Luís Alves de Fraga

 

Toda a gente sabe que a banalização das coisas raras fá-las perder valor e importância. Isto é um conhecimento que os mais carentes de preparação intelectual conhecem desde sempre. Não dou novidade nenhuma.

 

Vem isto a propósito do diploma legal, aprovado e saído há pouco, que permite aos institutos politécnicos conceder o grau de doutor.

A legislação denominada "de Bolonha" veio facilitar a obtenção do mestrado e do doutoramento, comprimindo o tempo de duração da parte escolar para o primeiro dos graus citados e reduzindo o tempo de execução e tamanho da dissertação respectiva. Não é que eu sofra de algum complexo de superioridade, mas, o que me leva a tecer estas considerações é o facto de um mestre, que se "faz" em dois anos, não me dar garantias de especialização de espécie nenhuma, quando obteve a licenciatura ao cabo de três anos de curso. Com cinco anos, fazia-se a licenciatura há coisa de quarenta ou cinquenta anos atrás!

Não faço comparações de conteúdos; faço-as de tempo... E o problema tempo, no saber, é fundamental!

 

O doutoramento fica ao alcance de todo aquele que obtém o grau de mestre. E, agora, também, ao de todos os que são mestres pelos institutos politécnicos.

Para se perceber o que acho de anómalo nesta questão é necessário levar em conta aquilo que diferencia ou diferenciava - já não se isto se mantém! - o ensino universitário do ensino politécnico: no primeiro, aprende-se a solucionar problemas complexos numa determinada área do saber; no segundo, aprende-se a fazer, com base científica, em determinadas áreas técnicas.

Se esta definição foi alterada, então não vale a pena manter a distinção entre institutos politécnicos e universidades!

O doutoramento, por definição, habilita o doutor a fazer investigação científica de modo autónomo e responsável. E é aqui que reside o busílis da questão! A bota não bate com a perdigota!

 

Vamos vulgarizar o que não devia ser vulgarizado, perdendo competências.

Somos assim, com esta ânsia de obter títulos, mesmo que já não tenham conteúdo.

07.08.18

Mentir por necessidade


Luís Alves de Fraga

 

Pablo Casado, o líder do Partido Popular espanhol, mentiu sobre as suas habilitações académicas. Mentiu descaradamente, dizendo que possuía um mestrado e cursos de pós-graduação obtidos na universidade Juan Carlos. Esta desmente categoricamente tais afirmações.

 

Por que mentem, com tanta falta de decoro sobre as suas habilitações académicas, os políticos, em Portugal, em Espanha e um pouco por toda a Europa e, já também, nas Américas?

Eis a questão que me coloco.

 

Sem qualquer estudo com base científica, mas usando a mera dedução, arrisco-me a dizer que este tipo de mentira está intimamente ligado à descredibilização da actividade política, a qual se vem desgastando com o tempo e o "efeito de consumo" no "mercado".

O que é isto?

 

Bom, os políticos, em todos os tempos, foram homens com a necessidade de serem aceites por aqueles sobre quem querem exercer a sua acção propondo-lhes programas e modos de vida. Para tal, têm de apresentar um perfil de responsabilidade, honorabilidade e honestidade para imporem respeito, admiração e credibilidade. No passado, o seu próprio passado, respondia por eles e dava-lhes o que careciam. Dava-lhes, porque o "mercado" político, financeiro e social não lhes desgastava tão rapidamente a imagem. Hoje, esse tal "mercado", por força da força da comunicação social, ou seja, da capacidade de ir mais longe e mais rapidamente aos mais recônditos pormenores da vida de cada um, expondo-os na praça pública, não bastam os valores de ontem para ser aceite pela sociedade, são necessário "pergaminhos" e esses vão buscar-se à instituição universitária, que ainda - não sei até quando - mantém uma imagem de seriedade e honra.

 

Esta é a minha explicação para a necessidade de mentir, de alguns, muitos, políticos sobre os seus graus académicos. Se assim for, acho que as universidades, para não serem arrastadas na praça pública da desonestidade, devem acautelar-se, não deixando os políticos retirarem-lhes o que os académicos levaram tantos séculos a construir.