Foi há quarenta e três anos que ocorreu o "nosso" 11 de Março, aquele em que, uma facção minoritária das Forças Armadas, tentou um golpe de direita sobre a recente democracia nacional, comandado pelo general Spínola, o qual havia resignado do cargo de Presidente da República para onde tinha "saltado" na sequência do golpe militar de 25 de Abril de 1974. Spínola era, sem a menor dúvida, um militar de direita.
Ora, fazia falta o golpe de direita, porquê, estarão a pensar alguns dos meus leitores. E eu vou explicar.
Em 25 de Abril de 1974 havia-se derrubado a ditadura fascista, mas não se tinha feito mais nada do que isso!
- Mas o que deveria fazer-se mais?
Desmantelar o "edifício" que dava suporte à direita fascista. A finança estava toda na mão de gente altamente comprometida com a ditadura, a grande indústria — que a havia nessa altura — estava controlada pelos grandes grupos capitalistas, ou seja, por muito que se quisesse democratizar, a estrutura fascista poderia sempre boicotar a democratização. E era o que estava a fazer havia meses. Essa "travagem" foi dando origem a que os elementos mais aguerridos da extrema esquerda, minoritários, mas com grande capacidade de atracção das massas despolitizadas, se manifestassem, cada vez mais, agressivamente e, sempre, desorganizadamente, gerando um clima de instabilidade social, propício à entrada violenta da "ordem" de direita. O golpe de 11 de Março foi exactamente a ponta desse iceberg que, a sair vitorioso, faria regressar a Portugal a ditadura, agora, com fortes repressões a todos os níveis sociais e políticos. Ninguém, minimamente comprometido com os ideais democráticos de 25 de Abril, poderia aceitar uma tal reviravolta. A única forma de "quebrar a espinha" à direita reaccionária era "atacá-la" no seu ponto mais forte: a banca.
Assim, na sequência do falhado golpe de 11 de Março, em boa hora, se tomou a decisão de nacionalizá-la. Mas, o quase imprevisível, aconteceu: atrás da banca nacionalizada, porque devedora a esta ou integrada nesta, veio quase toda a indústria nacional, chegando, por vezes, a nacionalizações ridículas, porque não tinham peso específico na economia. Essa "desconformidade" impunha que se desnacionalizasse alguma coisa. Foi a "fenda" por onde passou a primeira alavanca que possibilitava a desnacionalização de tudo o mais... era, como foi, uma questão de tempo.
Logo após a nacionalização não bastava deixar tudo como dantes; era preciso que os proventos da banca estivessem clara e inequivocamente ao serviço do bem-estar da população em geral. Por outras palavras, impunha-se que se avançasse para a prática de uma social-democracia sem divergências. E foi nesse movimento, que o recuo do Partido Socialista, ao desvincular-se da esquerda partidária para se colocar ao centro, junto do, então, PPD (onde se acoitavam todos os receosos da progressão comunista influenciados, ainda, pelas teses antimarxistas do fascismo) que nasceu o germe do 25 de Novembro de 1975. Foi nessa altura que Mário Soares, para confirmar a teses de Kissinger, virou costas ao PCP, "guardou na gaveta" o socialismo marxista e se aliou ao capitalismo internacional e, mais do que tudo, europeu e alemão. Todavia, nada disto invalida a necessidade do 11 de Março de 1975. Pelo contrário, clarifica a sua necessidade e importância.
A História faz-se para contar e para explicar melhor do que foram capazes de o fazer os próprios protagonistas da mesma.