A Menina Olinda
Há muitos anos, talvez mais de cinquenta, aluguei um apartamento num prédio, então, ainda quase novo, na zona do Largo da Graça, em Lisboa. Casa não muito grande, mas dentro do comum de uma certa "classe média" com posses financeiras contadas... Eu estava a iniciar a minha carreira profissional e o soldo de oficial era baixo.
O prédio tinha cinco pisos e, por isso, possuía dois elevadores e porteira. Era uma mulher, então, um pouco mais velha do que eu a quem nos habituámos a tratar, como ainda era costume, da forma carinhosa dos velhos bairros de Lisboa: "Menina" Olinda.
Por lá vivi vinte anos e a "Menina" Olinda continuou, já mulher dos seus quarenta e tal, a ser "Menina". Há mais de trinta anos que a não vejo, mas, se a encontrasse, jamais seria Olinda, D. Olinda ou Senhora Olinda... Menina continuaria a ficar-lhe bem.
E vem isto a propósito do despropósito dos tratamentos de hoje.
Quando as "meninas", que eram senhoras, eram carinhosamente meninas, os cavalheiros eram tratados por senhor Fulano de Tal, ou seja, pelo sobrenome e jamais pelo nome de baptismo. As senhoras casadas e com quem não se tinha qualquer confiança eram as Senhoras Donas ou, em alternativa, somente Senhoras Qualquer Coisa.
Não sei como apareceu esta moda de eu ser o senhor Luís para qualquer "gato sapato" que me liga não sei de onde, em vez de ser o senhor Fraga, nem a de se tratar a damas por senhora Maria ou senhora Antónia.
Havia cortesia onde hoje há aspereza no tratamento. Aspereza que chega a rondar a falta de educação ou, como se dizia, de polimento.
Se foi a democracia que trouxe "isto" é bom que se veja como é o tratamento pessoal nas velhas democracias europeias, porque a dos EUA não pode servir de exemplo a ninguém. Para mau exemplo chega o bronco Donald Trump.