Telavive e Jerusalém
Fui buscar, nas prateleiras da minha biblioteca, um velho livro de reportagens, da autoria de Jaime Brasil (já não vos diz nada este nome!), intitulado "Chalom! Chalom!...", editado em 1948 e que faz, com rigor, um estudo da situação que se vivia na época, na Palestina. Já ressaltava ele, logo nas primeiras páginas, o conflito, a luta, a guerrilha política e militar entre Judeus, Ingleses e Muçulmanos. Diz-se que a proporção, contestada por estes últimos, de Judeus na Palestina não devia exceder um terço da população islâmica local. Não pude deixar de sorrir! Nesses anos do final da década de 40 do pretérito século, as simpatias de quase todo o mundo iam directas para os Judeus, vítimas do Holocausto nazi. Mas percebia-se, então, a relutância de Londres em deixar o protectorado da Palestina: era uma área estratégica chave sobre o canal do Suez, sobre o equilíbrio de forças na região e sobre o oleoduto que despejava petróleo, trazido de Mossul.
Telavive foi a capital escolhida e imposta para o Estado de Israel. Jerusalém era uma cidade dividida, pelo significado religioso e cultural que tem para vários povos. Por Jerusalém combateu-se e morreu-se em cada metro quadrado da cidade desde que o Islão se impôs como religião dominante na zona, embora já antes a cidade tenha sido alvo de muitos e variados ataques.
Dar a um só povo e a um só Estado a cidade de Jerusalém e fazer dela capital é, em simultâneo, fazer tábua rasa da História, da Cultura e da Política da região.
Ora, quando Trump, o Presidente dos Estados Unidos, resolve transferir a embaixada para Jerusalém está a incendiar os ódios mal contidos entre Judeus e Palestinianos. E não acredito que o faça por ignorância histórica: ele pode ignorar tudo, mas tem conselheiros e assessores devidamente esclarecidos para o "ensinarem" e o que diz e faz têm neles e nas suas palavras e instruções o devido suporte. É demasiado simplista a ideia de que Trump faz e diz somente o que lhe vai na cabeça! A única margem que lhe é dada - e não é pequena! - é a de optar entre vários cenários que lhe podem ser colocados para escolher aquele que adopta e, ao fazê-lo, também está esclarecido sobre consequências e "ondas de choque".
Trump tem um objectivo e esse pode estar ou não no leque das hipóteses que os comentadores têm apresentado: desviar as atenções internas da "fraude" eleitoral ou gerar um desequilíbrio na União Europeia e na sua conduta externa perante o Médio Oriente. Tudo isso é um segredo que guarda bem guardado. Eu não tenho "bola de cristal" para "ver" o passado, o presente e o futuro como certos "internacionalistas" de meia tigela parecem ter, por isso, fico-me por cenários vagos e mal definidos onde tudo pode caber.