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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

19.10.17

Não sou troca-tintas, mas mudei de opinião


Luís Alves de Fraga

 

Sempre procurei ser fiel a princípios políticos, não mudando de opinião conforme sopra o vento, mas agora, agora sou obrigado a mudar uma opinião: o Presidente da República, o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa, afinal, porque continua igual a ele mesmo, obriga-me a dar o dito por não dito e afirmar que, sem dúvida, é um oportunista.

 

Não mudei por mero acaso! Mudei porque ele mudou de atitude política logo depois de ter visto os resultados eleitorais de há pouco, de a Cristas começar a cantar de galo e do Passos Coelho anunciar a sua retirada de cena. Com um golpe político de mestre, Marcelo põe em xeque o Partido Socialista ao obrigar que os grupos parlamentares de esquerda se demarquem dele ou se afundem com ele e, de tudo isto, recebe dividendos o novo líder do PSD e a associação com o CDS.

 

Cidadão Marcelo, o senhor desiludiu-me, porque me iludiu durante este tempo todo, até agora.

12.10.17

Termas, um local democrático


Luís Alves de Fraga

Durante sete anos fui frequentador assíduo — em certas circunstâncias, duas vezes na mesma época — das termas de Caldelas.

A vila, erguida a essa categoria por obra e graça do Espírito Santo, pois não passa de um lugarejo, na rua/estrada principal, tinha pensões de um lado e do outro quase em todos os prédios. Pensões para todos os preços e para todos os gostos. Ali, os doentes dos intestinos, procuram alívios para os seus males, bebendo as águas e tomando banhos e clisteres.

Fui por recomendação médica — médico da especialidade — no recuado ano de 2000, o primeiro do século e do milénio, e por lá andei. Conhecia muito mal o Minho e a sua gente. Pela Internet escolhi uma pensão, por, dizia o anúncio, ser a maior. Era, realmente, a maior em número de quartos, mas também em simpatia de proprietários e pessoal. No segundo, ano o quarto já não era “o quarto”, mas “o meu quarto”. E lá se punha a pequena mesa, tipo secretária, para eu poder escrever e trabalhar. E havia os “mimos” alimentares da época: se era tempo ainda de cerejas, coziam-se com açúcar, para meu deleite.

Se tudo tinha um tipicismo a que não estava habituado, o mais curioso era o largo onde se bebiam as águas. Era o mais democrático de todos os locais da localidade — talvez a igreja o fosse, também, mas, como não vou a missas, disso não posso dar testemunho —, porque havia gente de todas as condições: desde o professor universitário ao pequeno e pobre proprietário agrícola do Norte; desde quem era culto e lia livros eruditos até quem se pegava de conversa fiada com o companheiro mais próximo do banco onde estava sentado; desde o velhote com dificuldades de locomoção até ao jovem desempenado, mas com intestinos revoltos.

Os dias passavam lentos, quase iguais, embora eu fosse, entre as refeições, depois dos tratamentos, dar uma volta pelos arredores: Braga, Vila Verde, Terras do Bouro, S. Bento da Porta Aberta, Amares, Guimarães, Ponte de Lima e o mais que se podia ver e parar. Mas Braga fazia os meus encantos! No “centro” da cidade, para além de alguns “cafés”, onde me sentava a gozar da simples vista das pessoas a passar, a quantidade de lojas e o seu fulgurante comércio eram um atractivo para quem gosta de andar lentamente a cuscar montras. E uma livraria, com jardim, inimaginável numa cidade de província! Perdia horas a olhar e a consultar livros.

 

Depois de ter gozado, muitos anos seguidos, as exaustivas férias de praia, chega-se a uma idade que apetece a tranquilidade do campo e dos passeios de carro, descobrindo recantos sempre novos! Tão novos que deu para descobrir, à beira da estrada, num larguinho minúsculo, o busto do António Variações! A terra dele não o esqueceu. E sabeis que era de Caldelas o famoso Chefe Silva, que tantos e saborosos pratos ensinou nos programas de culinária, na televisão, há muitos anos?

Nunca me entediei de ou em Caldelas, mas havia quem achasse excessiva aquela “democracia” de doentes intestinais parolos e demasiado “populares”! Meus conhecidos foram lá uma vez e nunca mais voltaram. Eu tenho saudades…

11.10.17

Os "cafés"


Luís Alves de Fraga

 

Ontem fui à "baixa" de Lisboa e sentei-me num "café"... a tomar um chá.

Olhei à minha volta e vi, felizmente, um grupo de jovens portugueses (porque a "baixa" está a rebentar de estrangeiros!) em amena cavaqueira à volta de várias chávenas de café e sem nenhum telemóvel à vista.

Rejubilei! Aleluia! Finalmente, vejo gente a conversar (conversa que me pareceu, por força das frases que fui ouvindo, interessante).

Fiquei a olhar para eles e a recordar os "cafés" da minha juventude... os de "bairro" e os da "baixa".

 

Os "cafés" eram locais onde se bebia a "bica" por um preço acessível, se lia o jornal e se conversava. Havia horas para os frequentar: no fim do dia de trabalho, antes do jantar (comia-se lá para as 20h30) e depois do jantar. No "café" escrevia-se, estudava-se e falava-se. Por lá se contavam as histórias do dia-a-dia, discutia-se futebol e política. Esta sempre em surdina por causa dos "bufos" (havia-os ao serviço da polícia política, mas eram mais ou menos conhecidos dos frequentadores assíduos dos "cafés" de "bairro"). Na "baixa" lisboeta, entre os mais velhos cidadãos, os que haviam vindo do tempo da 1.ª República, traçavam-se planos de revoluções e de golpes de Estado que, normalmente, "morriam" na mesa do "café" quando esses velhos saudosistas se levantavam e iam a caminho de casa, alquebrados ao peso dos anos e das dificuldades da vida consequência das magras reformas.

 

Tenho saudades dos velhos "cafés" da minha Lisboa ainda sem esta chusma de turistas, que fotografam tudo e todos com os seus pequenos telemóveis ou as suas potentes máquinas digitais.

Era uma Lisboa de ronceiros "eléctricos" apinhados à hora de regressar a casa.