Por natureza, sou teimoso! Sou teimoso nas discussões, tal como na minha vida pessoal e profissional. Teimoso e persistente. Poucas coisas me fazem desistir seja do que for. É um defeito? É uma virtude? Não sei. Ao longo dos tempos, tem sido um defeito e uma virtude. Tudo depende das circunstâncias, do momento e do assunto.
Quando sinto que a minha teimosia está a rondar a estupidez, o bom-senso fala mais alto e recuo. Deixo de teimar e, embora tenha dificuldade em reconhecer a impossibilidade de impor a minha vontade, abato a teimosia e conformo-me perante as evidências.
Raramente adio uma discussão e, se a adio, é para ganhar argumentos e poder voltar a ela e sair vencedor. Vencedor ou, pelo menos, melhor colocado.
E a que propósito vem tudo isto?
Tudo isto vem à liça, por causa da "Operação Marquês".
Sócrates foi preso sob suspeita, com indícios fortes, de fraude. Investigou-se, ouviu-se, enxovalhou-se-lhe a imagem pública, deixou-se que fosse condenado no tribunal da opinião pública, arrastou-se tudo e todos para dentro do processo na esperança de encontrar uma linha à qual se pudesse agarrar Justiça para o levar a tribunal e, passado todo este tempo, ainda é preciso mais um adiamento!
Gaita, o que é que querem descobrir!? Se têm fortes indícios e não têm meios para provar, tivessem mobilizado mais gente para investigar; se têm fortes indícios e têm falta de tempo tivessem trabalhado 25 ou 30 horas por dia, mas acusavam!
O que tudo isto demonstra é que há uma terrível teimosia em vê-lo sentado na cadeira dos réus, mas não há como fazê-lo.
O bom-senso aconselha a que se pare para evitar meter mais a ridículo a Justiça. Eu rio-me dessa ficção!
Tenho vontade de rir quando penso no processo de aquisição dos submarinos, que na Alemanha levou à condenação de, salvo erro, um indivíduo e por cá nem novas nem achadas!
Tenho vontade de rir quando me recordo da vivenda do ex-Presidente da República no Algarve e das acções que lhe deram um lucro fantástico e da negociata na Parque das Nações e, e, e,...
Só Sócrates é que foi corrupto? Se é que foi?
Julgo que é tempo da Senhora Procuradora-Geral da República evitar que o ridículo, provocado pela teimosia de uns, lhe caia em cima e a arraste para uma situação em que lhe retira toda a dignidade de Alta Figura da República.
Não se "caça" um corrupto ou vários? Não, não se caça! Mas restitui-se dignidade ao Ministério Público, ensina-se que se tem de ser célere e mais seguro nas suspeitas. Não se caça um corrupto, mas deixa-se manchada para todo o sempre a imagem pública de uma série de gente.
Bom-senso, julgo eu, é isto! Bom-senso é colocar na mesma situação pública um juiz que colocou um político nas bocas do mundo! Bom-senso é ser capaz de, sem o dizer, chamar incompetente a todos os agentes do Ministério Público que não foram capazes de, em tempo dilatado, cumprir a sua obrigação: acusar ou arquivar.