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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

29.01.17

A Máquina


Luís Alves de Fraga

 

Donald Trump representa o lado mais obscuro do Povo americano (será que, no plano sociológico, há um Povo americano, quando falamos de um Estado com tão poucos anos de existência e "recriado" na base de um extraordinário genocídio dos índios autóctones, sendo, por conseguinte, "feito" por imigrantes?) mais primário e boçal, mais egocentrista e mais afeito aos valores de uma "liberdade" de oportunidades só existente para os que são capazes de "vencer".

 

Pouco se destaca, na comunicação social, a ascendência estrangeira de Donald Trump, pois, ao contrário do que afirma, o avô e a avó eram originariamente alemães. Do avô, segundo parece, herdou a característica de fanfarrão, normal em todos os naturais do vilarejo germânico onde nasceu. Do pai, herdou a tendência para a mentira, pois foi ele quem inventou a origem sueca da família, negando a germânica.

 

Da fanfarronice, saiu-lhe, como um raio no meio de uma trovoada, o cumprimento das promessas eleitorais e vá de atacar os imigrantes islâmicos. Mas, felizmente, a máquina estatal, nos EUA, ainda funciona na base da separação dos três poderes e uma juíza teve a coragem de cercear uma das tentativas do fanfarrão. Vamos ver como se comporta o resto da máquina quer formalmente quer informalmente.

Esperemos.

17.01.17

Obviamente, as contradições


Luís Alves de Fraga

 

Discute-se a Taxa Social Única (TSU) no Parlamento e o que aparece imediatamente à vista do observador atento e imparcial são as contradições partidárias. Vota-se e discute-se por causa dos partidos e não por causa de Portugal e dos Portugueses. Vão-se lixar!

Vejamos.

 

O Partido Socialista (PS) quer cumprir uma promessa eleitoral acordada com os seus parceiros de Parlamento: aumentar o salário mínimo. Acho bem. Concordo.

O Bloco de Esquerda (BE) não quer votar o acordo conseguido, porque isso é uma forma de beneficiar os patrões; o Partido Comunista Português (PCP) não vota, porque a medida, para além de beneficiar os patrões, faz baixar, dizem, os salários para o salário mínimo, levando a que todo o novo empregado seja contratado por esse  valor; o Partido dito Social-Democrático (PSD) e o dito Popular (CDS/PP) não votam porque não vão credibilizar uma medida, que aceitavam há meses, para não facilitar a vida ao Governo… Ele que se apoie na “sua” esquerda.

Este é o panorama!

 

Vejamos a realidade.

O tecido empresarial português, excluindo as grandes empresas, que pagarão sem discutir o salário mínimo ou até acima dele quando tal se justificar e for necessário, é miserável! Não aguenta, como se viu, abanões de média envergadura e está a sair de uma crise tremenda de falências em barda. Falta gente que invista em empresas pequenas e médias; o crédito ainda não é suficientemente barato para arriscar; o mercado não está ainda consolidado.

Pois bem, nestas circunstâncias, absolutamente reais, verificáveis e mensuráveis, o Governo, para poder satisfazer a “sua” esquerda, teve de negociar sem extorquir a quem pouco tem para extorquir; teve de encontrar uma saída equilibrada. E encontrou-a: baixar a TSU para quem pagar o salário mínimo! Repare-se que é baixar a TSU, temporariamente, para conseguir melhorar a vida dos trabalhadores, dando-lhes maior poder de compra, o qual se vai reflectir nas aquisições que, por seu turno, vão possibilitar a retoma da economia nacional! A isto eu chamo PENSAR EM GRANDE!

 

Ora, como é que pensam os partidos? Em pequeno! Em miserável!

Pensam em miserável, porque querem fazer crer que as grandes empresas se deixam influenciar pelo raciocínio do patrão do fraco supermercado de bairro, da retrosaria ou do pequeno restaurante! Esses, sim, vão nivelar pelo salário mínimo! Mas nivelam, porque é a forma de conseguir algum lucro que poderão reinvestir — ou não — nos seus negócios e, se o fizerem, estarão a dar mais emprego a quem não o tem!

Gaita, é difícil perceber isto?!

 

Que o PSD e o CDS tomem as posições que tomam, justifica-se. Se eu fosse militante e deputado tomava-as, com relutâncias, mas tomava-as, só para lixar o Governo! Mas o PCP e o BE recusam-se a  acompanhar o PS numa posição de visão larga para, acima de tudo, não perderem eleitorado entre os trabalhadores de vistas estreitas, que são os da grande maioria nacional!

Vejam lá os leitores se os operários de Autoeuropa não sabem negociar com o patronato? Porquê? Porque o patronato tem vistas largas e eles também… borrifam-se nas centrais sindicais!

 

Bolas, deixem de ser mesquinhos! Aceitem que para ter sol na eira tem de chover no nabal!

15.01.17

UMA FEIRA DE VAIDADES (Ainda na morte de Mário Soares)


Luís Alves de Fraga

 

Logo a seguir à notícia da morte de Mário Soares as televisões encarregaram-se de ouvir depoimentos deste e daquele, um pouco a eito e sem jeito. Gente que conheceu e conviveu com o falecido antigo Presidente da República e gente que nem a mão lhe apertou alguma vez. Todos tinham uma opinião, todos sabiam bem quem era o falecido, todos “botavam faladura” mesmo que nada tivessem para dizer. Mas tudo isto desculpei no meu julgamento, porque, embora as televisões tivessem tido tempo para preparar esse triste momento de despedida, — Mário Soares até nisso foi generoso! —, não tiveram cautelas ou, se as tiveram, não escolheram criteriosamente.

 

Mas o que me arrepiou, e arrepia ainda, é o triste espectáculo de alguns articulistas que, quais corvos ávidos de restos pútridos, vêm agora escrever sobre as suas relações “pessoais” com Mário Soares. São, sem sombra de dúvidas, — e alguns conheço-os bem —, os grandes coscuvilheiros, intriguistas e oportunistas da nossa Lisboa. Os que sabem tudo da vida de toda a gente e tudo comentam, sem escrúpulos, saltando de “amizade” em “amizade” conforme lhes é mais conveniente em cada momento que passa. São alguns que pouco privaram com Mário Soares ou se lhe impuseram quando o isolamento começou a apoderar-se do homem público retirado das grandes lides políticas.

Alguns, à custa de grande habilidade, acabaram por se introduzir nas relações pessoais de Mário Soares, frequentando-lhe a casa, jantando com ele, conversando com ele, bisbilhotando com ele a vida de gente que o antigo Presidente conhecia bem.

E são estes que, depois da morte de Mário Soares, vêm recordar quem eram os amigos do falecido, selecionando, a seu bel-prazer, este personagem em vez daquele, esquecendo aqueloutro para enaltecerem quem lhes convém.

 

É um triste espectáculo, porque, pelo menos no imediato, vão ser nestes “depoimentos” que a História se vai basear para traçar o retrato de Mário Soares. Depois, é sobre isto que se vão tecer especulações de matriz histórica e só muito mais tarde haverá a possibilidade — já firmada uma opinião — de refazer a verdade; mas essa será sempre à custa de uma luta entre o que já está definido como aceite e o que deve ser modificado.

É assim que nascem as lendas, as fantasias, e é assim que os abutres da História a distorcem para parecerem leões. Há sempre gente que gosta de se pôr em bicos dos pés, sendo alto ou baixo, para ganhar mais estatura, que lhe sirva a vaidade incomensurável.

07.01.17

Da Lenda à História


Luís Alves de Fraga

 

O Dr. Mário Soares morreu hoje à tarde. Virou-se uma página da História de Portugal para se continuarem a folhear outras, que virão dar mais crédito àquela que, agora, está prestes a figurar para sempre onde o tempo a vai deixar.

 

Do antigo Presidente pode dizer-se quase tudo, mas, o mais importante é que foi um combatente pela liberdade, no tempo do fascismo, porque há um “combate”, do qual se está a fazer grande alarde, que, por ser lenda, alguns querem transformar em História. Refiro-me ao “combate” contra o comunismo, em 1975. Refiro-me àquele célebre debate televisivo entre ele e o Dr. Álvaro Cunhal. Ambos sabiam que nunca esteve nos planos de Moscovo transformar Portugal na “Cuba europeia”! Isso foi lenda! Daí que Cunhal referisse com acentuada bonomia o também célebre «Olhe que não, Dr., olhe que não!».

 

Kissingir podia dizer o que quisesse; Carlucci podia avisar o que entendesse, porque, na verdade, o interesse primeiro de Moscovo era que fosse garantida a independência das colónias portuguesas e o seu Governo girasse na órbita da URSS, em especial o de Angola. Foi isto que nem o PCP podia dizer nem Mário Soares podia anunciar, pois, para revolta, já bastava a incompreensão da descolonização feita nos termos em que teve de ser lavada a cabo.

 

Havia conquistas democráticas que agradavam ao PCP? Claro que havia! Havia retornos que poderiam ser evitados? Claro que havia! Mas jamais Portugal esteve em condições de ser uma democracia popular soviética! Nem era isso que Moscovo queria nem era por isso que o PCP lutava! Poderiam imaginá-lo alguns ideólogos comunistas, mas não Álvaro Cunhal nem o Comité Central. E Mário Soares sabia disso, mas era preciso “dar pernas à lenda para ela andar”; era preciso encontrar o ponto que nem Mário Soares nem Álvaro Cunhal pudessem desmentir. E esse ponto tinha de se ficar por um simples «Olhe que não, Dr., olhe que não!», que o Secretário-Geral do PCP repetiu até à exaustão.

 

Mas Mário Soares foi um português que quis levantar Portugal para além do marasmo a que o haviam votado quarenta e oito anos de ditadura. E levantou! Levantou tanto nos diferentes cargos oficiais que desempenhou como nos que lhe couberam enquanto dirigente do Partido Socialista. Isso não se pode negar. Isso não se pode apagar da História.

Mário Soares foi um extraordinário político com uma dimensão muito pouco vulgar entre nós. Mário Soares deixou obra feita na perspectiva do seu tempo, pois não podia, como humano que era, descobrir as reviravoltas que os acontecimentos internacionais iriam provocar.

 

Portugal está-lhe agradecido. A História vai julgá-lo.

01.01.17

Afinal, é amanhã


Luís Alves de Fraga

 

Um Amigo meu, católico por tradição e educação, dizia-me, há tempos, que reza todos os dias, pedindo à Sua Mãe, falecida vai para muitos anos, que lhe dê mais uns tempos de vida, porque tem muito ainda para fazer ou acabar. Ele acredita que se a Mãe lhe deu a vida tem, de certeza, interferência para lha tirar. O raciocínio não é falho de lógica, se a lógica comandasse os destinos dos homens. Espero que seja atendido nas suas preces, sem eu cuidar do muito que ele diz ter para fazer.

 

Por mim, seguindo a linha de raciocínio do meu Amigo, acho que poderei ter ainda algumas coisas para “pôr em ordem”. Coisas que gostava de deixar feitas, mas que representam um imenso trabalho e não sei se terão valor para os outros depois do meu passamento. É que, essas “coisas”, não são mais do que escritos meus dispersos.

Há muita presunção nisso de querer deixar mais textos para serem lidos depois de eu já cá não estar. Isto de nos querermos perpetuar leva uns a deixar missas pagas, rezas, prendas, livros e propriedades.

Não há maneira de percebermos que nascemos nus e que só não voltamos nus, por mero pudor social!

 

Tenho de aproveitar o tempo fazendo somente o que acho que devo fazer, tal como se conta de S. Luís de Gonzaga! Se o mundo acabar dentro de duas horas, só devo desejar finalizar este texto e publicá-lo para poder servir a quem o quiser ler.

Afinal, tenho de viver um dia de cada vez e cada hora a seguir à anterior, fazendo o que a minha consciência me aconselhar.

 

Bem vistas as coisas, não tenho nada para fazer, além de tudo o que devo fazer como se a Vida não tivesse fim ou o fim fosse amanhã.

O Ano Novo está aqui à nossa espera. Vivamo-lo.