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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

30.12.16

Viver bem e morrer melhor


Luís Alves de Fraga

 

Mário Soares, clinicamente, já se ausentou de todos nós. Um coma profundo é uma antecâmara da morte, mas não é a morte. No entanto, se Mário Soares sair do coma, na sua idade, apresentará lesões profundas ao nível da mente e da comunicação. Jamais será o mesmo. Igualmente, jamais será o mesmo se tiver de ser ligado a máquinas de suporte vital. A Família, provavelmente, seguindo instruções do próprio, já recusou esse prolongamento da vida. Das duas uma: ou há um milagre ou cumprir-se-á a lei inexorável da Vida até chegar ao momento da morte.

 

Nesta decisão extrema está a grandeza de um homem e dos seus familiares, que sabem o valor de Vida com dignidade. É a luz de uma vela muito fraca que se está a apagar, mas, atrás de si, deixa uma lição de grande honorabilidade. É o combatente a viver o derradeiro combate. E a Família a dar-lhe a oportunidade de morrer de “armas na mão”, combatendo sozinho.

 

Neste momento todas as raivas, todos os ódios, todos os mal-entendidos, todas as discórdias se devem silenciar perante a luta de um combatente contra a morte. Esse combatente, pese embora tudo o que se possa dizer dele, já ganhou o seu lugar na História.

Se outra coisa não formos capazes de fazer para honrar Mário Soares, ao menos calemo-nos. Respeitemos a dor dos que esperam um desenlace que nos vai deixar tristes.

28.12.16

Há esperanças no ar


Luís Alves de Fraga

 

O Governo fez maravilhas? Não, o Governo não fez maravilhas!

O Governo tem-se limitado a cumprir, dentro de limites estreitos, as promessas de um programa. E fá-lo com a "ajuda" constante dos seus apoiantes no Parlamento, pois lembram-lhe o que é necessário para o bem-estar mínimo social. Lembram, exagerando um pouco para conseguir chegar ao razoável. Tem sido a parceria mais equilibrada de há muitos, muitos anos em Portugal.

 

O Presidente da República, com a disposição optimista e realista que o caracteriza mostra-se um precioso auxiliar para dar confiança aos Portugueses. E os resultados têm estado à vista.

 

 Portugal está a viver, dentro do possível, com ânimo. O balanço deste ano, não sendo excepcionalmente bom, não é mau, aproximando-se do que agrada a todos nós.

O discurso catastrófico do PSD/CDS já lá vai e não é ele que nos governa. Face aos factos, podemos perguntar-nos:

- Teria sido necessária tanta malfeitoria como a que se viveu nos anos passados?

Claro que não, se se tivesse começado por evitar a vinda da Troika, mas isso ia fora dos planos neoliberais do PSD/CDS.

 

 Esperemos pelo próximo ano, que vem aí a caminho.

26.12.16

Famílias Grandes


Luís Alves de Fraga

 

Um fenómeno dos nossos tempos é o das famílias grandes.

Percebi no leitor o espanto face a esta afirmação:

— Mas agora que, cada vez mais se reduz o número de filhos, como é que se fala de famílias grandes?

Pois, o problema não está já nas famílias tradicionais, mas nas famílias que resultam da desestruturação da família. Ou seja, das múltiplas famílias que os divórcios fazem surgir, pois, por exemplo, de um casal com dois filhos podem “nascer”, pelo menos, mais dois casais onde, também pelo menos, podem nascer mais dois, três ou quatro filhos, dando origem, então, a famílias de três, quatro, cinco ou seis irmãos, porque filhos de um dos progenitores. Essas são as grandes famílias da actualidade.

 

O grande desafio dos pais não é o de lhes “encaixar” na cabeça a ideia da família tradicional, mas a da “nova” família alargada. A família dos muitos irmãos!

Os filhos têm de perceber que a liberdade dos pais é fundamental para a sua realização como pessoas e que eles, os pais, não se podem nem devem sacrificar em nome de uma família tradicional desfeita. Eles, os pais, têm direito a refazer a vida quantas vezes for necessário, e em cada uma dessas tentativas podem, responsavelmente, trazer ao mundo mais filhos, mais irmãos dos filhos já tidos. Isso, em vez de algo errado, é uma sorte para todos, pois representa a “nova família” horizontal contra a velha família tradicional vertical.

 

É um desafio difícil? Claro que é! Mas, se fosse fácil, nem desafio constituía.

26.12.16

Crime de lesa-pátria


Luís Alves de Fraga

 

O texto que se segue foi publicado na minha página do Facebook neste mesmo dia, mas em 2011. Tem já só valor histórico, mas achei que, mesmo assim, valia a pena republicá-lo aqui, agora já só para podermos comprovar como era acertada a antevisão tida.

 

O Natal está a acabar. Faltam pouco mais de três horas para a rotina de todos os dias voltar ao normal… ou quase. Quase, porque a semana que entra é a última deste ano de 2011. De hoje a sete dias já teremos entrado no fatídico 2012. Fatídico não por causa das histórias que correm um pouco por todo o lado, por causa do célebre calendário Maia que acaba no ano que vai começar, mas devido à carga de alterações financeiras que o Orçamento do Estado prevê.

A crise vai iniciar-se, efectivamente, no ainda próximo ano, em consequência das reduções das despesas do Estado e dos aumentos fiscais que se vão fazer sentir. Os bolsos de todos nós vão ficar mais vazios e o nosso poder aquisitivo vai reduzir-se drasticamente.

Salvo raras excepções, os economistas internacionais condenam em absoluto as prescrições dos técnicos do Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional. Os pontos mais focados por todos eles giram à volta da impossibilidade de pagamento das dívidas soberanas e do empobrecimento a que estão condenadas as fracas economias dos Estados periféricos da União Europeia.

Para se perceber o absurdo da situação nada como reduzir a uma escala pequena o que se passa com os Estados. Vejamos, então.

Uma família está endividada e, para poder viver, tem de se socorrer de mais empréstimos para, por um lado, satisfazer ao défice entre o que ganha e o que gasta e, por outro, pagar os juros do capital que já foi pedido há mais tempo. Que soluções se podem colocar?

Por um lado, os credores obrigarem a família a comprimir as suas despesas, colocando em causa a sobrevivência da totalidade dos membros ou de uma parte deles, pois terão de deixar de adquirir bens essenciais, tais como vestuário, medicamentos e alimentos para limitar o consumo ao absolutamente restrito. Deste modo, a família pode baixar o nível dos empréstimos para sobreviver e conseguir algumas sobras que chegarão mal para pagar alguns juros. O futuro do agregado familiar passa a estar condicionado pelas necessidades e pelos baixos salários que auferir no mercado. Os seus membros venderão a força de trabalho por qualquer preço e em quaisquer circunstâncias. Os credores são, afinal, os donos dos seus destinos.

Outra solução, os credores reformularem a dívida, alongarem o seu pagamento no tempo e continuarem a emprestar dinheiro para que a família possa satisfazer as suas necessidades e ampliar as fontes e formas de aumentar os seus rendimentos.

Na primeira solução, impera a ganância financeira e o desejo de exploração até aos limites da exaustão familiar; na segunda, domina o desejo de manter o devedor com capacidade de liquidez de modo ao credor auferir lucros por tempo indeterminado. Em qualquer dos casos, o devedor está sempre sujeito à vontade do credor, contudo, na primeira situação este é um predador social e, na segunda, um ganancioso inteligente.

Se ampliarmos o exemplo para a dimensão de um Estado temos, de modo simples — naturalmente, redutor — o retrato dos comportamentos da banca perante a situação actual. Mais ainda, percebemos o papel nefasto das companhias de notação, pois actuam como claque junto dos credores para os incentivar na ganância do lucro, levando-os ao absurdo de imporem aos devedores taxas de juro incomportáveis. O efeito é devastador, assemelhando-se ao de um conflito armado. Realmente, na guerra todos os esforços financeiros e económicos viram-se para o apoio às forças combatentes, desprezando-se as consequências colaterais. Foi isso que aconteceu na Grande Guerra e na 2.ª Guerra Mundial: os vencedores acabaram com as suas economias tão destroçadas como os vencidos (excepção dos EUA que souberam, por um lado, afastar a guerra do seu território e, por outro, mantiveram altos padrões de emprego devido ao número de homens mobilizados para as frentes de combate, resultando daí uma economia interna florescente).

O Governo português, tal como o grego, ao aceitar as condições que a troika lhe impõe admite o efeito devastador da guerra no seu território. Toda a economia está a atrofiar-se tal qual como se estivéssemos a viver um conflito armado. O “inimigo” é o défice e, em nome dele pedem-se todos os sacrifícios aos Portugueses e aos Gregos (amanhã, aos Italianos e aos Espanhóis). Os mercados encolher-se-ão e, consequentemente o desemprego irá aumentar, mas os desempregados não vão ser incorporados nas Forças Armadas para combater, todavia vão “morrer” num “combate” que se não trava. Daí que o Primeiro-ministro e o Governo os “incorporem” no “exército” da emigração. Fora do país “morrem” para o mercado e para o Estado. Os que ficam são destroços humanos que terão de viver com “senhas de racionamento” fisicamente inexistentes, mas, na verdade, reais, porque não terão dinheiro para comprar os produtos que se vendem. E este panorama vai atingir todos nós! Não se pense que por ter hoje e agora um excelente emprego se vai, amanhã, conseguir mantê-lo… Todos os esforços vão canalizar-se para a “frente de batalha” onde se “combate” a dívida e o défice.

A desonestidade e inabilidade do partido e do Governo de Passos Coelho levaram Portugal a esta situação.

Desonestidade, porque agora, enche-se a boca a dizer que foi o Governo Sócrates quem negociou o acordo com a troika, omitindo que essa negociação foi imposta por força do PSD não ter aceite o PEC IV e ter conduzido o Governo de então a apresentar a demissão, gerando novas eleições; inabilidade, porque, ao invés de contraditar as imposições da troika, tentando negociar um amplo acordo com credores, levando os poderes centrais da União Europeia a subsidiar a economia nacional, aceitou o “combate” nos termos em que a alta finança o ditou, arrancando para a “frente de batalha” já vencido, já derrotado, já em situação de traição ao Povo português a quem vai exigir sacrifícios inúteis em nome de nada e de nenhum valor, por muito pequeno que ele seja.

O Governo está deslegitimado, porque incorre, em cada dia que passa, no crime de lesa-pátria, no crime de genocídio moral e económico de um Povo. Se é certo que todos os Governos de Portugal, desde o de Cavaco Silva até ao de Sócrates, deveriam responder em tribunal por crimes de má gestão, o Governo de Passos Coelho deveria, se tal fosse possível, responder no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, porque, fruto da sua conduta, está a lesar profundamente os direitos fundamentais dos Portugueses.

25.12.16

Por que escrevo aqui


Luís Alves de Fraga

 

Às vezes perguntam-me, os mais amigos e atrevidos, qual o motivo por que escrevo aqui em vez de acumular umas crónicas e publicar, depois, por junto, um livro. A resposta é, invariavelmente, a mesma:

— Porque aqui tenho imediatos leitores e imediatas reacções, ainda que esta escrita seja efémera e não fique guardada em bibliotecas. Escrever aqui está de acordo com o consumo imediato do nosso tempo; escrever um livro está em consonância com um tempo que passou, mas que persiste para memória futuro.

 

Assim, aqui vou deixando crónicas, reflexões, dúvidas, anseios, devaneios, contos, minicontos e, em cada linha, sempre dois desejos: o de intervir civicamente para o bem-estar da res publica e o de criticar para provocar outras reflexões em quem me lê.

 

Se calhar, o livro ia só interessar uns poucos e aqui interesso poucos que, no conjunto, serão mais do que os compradores do(s) livro(s)…

Talvez, um dia, haja não um, mas vários livros com a compilação do que por aqui fica.

18.12.16

Para Que Serve a História?


Luís Alves de Fraga

 

Esta foi a pergunta, se a memória não me falha, feita pelo filho de Marc Block ao pai. Afinal, posso continuar a inquirir:

— Para que serve a História?

Pois bem, na síntese das sínteses, eu diria que a História serve para contar e explicar o passado. Mas servindo somente para tal, parece, a História bastaria ser contada uma vez e jamais deveria ou poderia ser contada de novo! Nada mais errado.

A História pode e deve ser contada, não para alterar os factos, mas para os explicar à luz de um novo entendimento, uma nova visão, que os explique melhor, sem, contudo, os deturpar. É neste “sem” que está o busílis da questão!

 — Como é que se explica sem alterar os factos?

Quando se consegue trazer uma nova luz para compreender o passado à luz desse mesmo passado, ou seja, quando se é capaz de, sem cometer anacronismo, se explicar o que nem os intervenientes nos acontecimentos foram capazes de perceber. É que o historiador é um observador privilegiado! Está de fora do contexto e já sabe como tudo vai acabar! Então, ele pode relacionar o que os actores não foram capazes de relacionar e, deste modo, explicar o que nem eles explicavam. E a luz faz-se.

É assim que, ano após ano, podem nascer novos relatos mais explícitos sobre velhos acontecimentos. Todavia, importante é manter a explicação dentro dos limites do tempo dos acontecimentos. Assim, o historiador não pode “pôr a pensar” os actores da História como se eles se deslocassem do “seu tempo” e viessem para a actualidade “fazer” o que nunca fariam lá atrás.

Quantas vezes nós agimos no nosso quotidiano sem sermos capazes de explicar uma acção que está condicionada pelo contexto que nos rodeia? No entanto, optamos por fazer X em vez de Y! Pois caberá ao historiador, passados muitos anos, explicar o que nos moveu na nossa escolha, porque ele “pode ver” aquilo que nós somente intuímos. E esse é o extraordinário ofício de historiador! “Ver”, sem distorcer, aquilo que nós só pressentimos.

 Nesta dimensão, o historiador tem de ser mais do que honesto, se tal é possível! Honesto, porque tem nas suas mãos os instrumentos para poder branquear o passado, quando, por “deslize” põe um actor histórico a “ver” o contrário daquilo que ele “viu”.

Temos, em Portugal, tanta História para explicar! E, infelizmente, os poderes públicos dão tão pouca importância ao estudo e investigação da História! Esquecem que o conhecimento do passado ajuda a compreender os fios condutores do presente que, necessariamente, apontam para o futuro.

17.12.16

Garantias


Luís Alves de Fraga

Finalmente, parece, a acusação de corrupção está a cair sobre indivíduos com cargos significativos na vida pública e política portuguesa!

Finalmente! Contudo, como o nosso sistema judicial é tão garantístico, tão garantístico, parece-me, toda esta gente vai acabar sem julgamento ou com julgamento decisivo quando já ninguém se lembrar da causa do mesmo.

Por que raio não há julgamentos sumários! Condenava-se, prendia-se e depois logo se ia demorar o tempo necessário para rever a decisão judicial. A Justiça errava? Pois, mas uma Justiça que é feita muito depois do crime não tem efeito disciplinador... pelo contrário, convida à corrupção e à mentira constante.

E chamam-lhe brandos costumes.

17.12.16

O Papa Francisco


Luís Alves de Fraga

Faz hoje anos o papa Francisco, aquele que tem muitas dúvidas e bastantes certezas, sendo que as primeiras incomodam altos dignitários da Igreja. Faz anos e eu mandei-lhe um e-mail a desejar-lhe parabéns e felicidades.
Não me interessa se me responde ou não. Basta-me saber que lhe dei os parabéns pelos seus oitenta anos.
Acham mal? Meus Amigos, tenham paciência, mas eu sou assim!
Ah, estão a pensar que sou incoerente?

Olhem que não me sinto assim tão incoerente ou mesmo nada! Admiro os Homens de coragem e o papa Francisco tem dado largas provas de coragem.

Bom fim-de-semana para todos.

16.12.16

O Irrequieto Presidente


Luís Alves de Fraga

 

Marcelo Rebelo de Sousa continua a estar em todo o lado (eu não queria ser responsável nem pela agenda do Presidente da República nem pela chefia da sua segurança pessoal) e continua a responder a tudo o que pode e acha que deve. Mas… olhem para as fotografias de há um ano e olhem, com olhos de ver, para as de agora: está cansado, embora a energia pareça ser a mesma!

 

O Presidente, um pouco ao contrário daquilo que muitos imaginavam, tem-se mostrado uma força de equilíbrio para o Governo, sensato, equidistante, equilibrado e justo.

Deu ontem, ao que me parece, resposta, sem o dizer declaradamente, à antiga ministra das Finanças, apoiando a acção governativa de António Costa. Contudo, na minha opinião, não se julgue que vai ser sempre assim! Se fosse, estaria “comprometido” com o Governo e perderia qualidades. O Presidente, quando achar que deve dar razão à oposição, vai dá-la e isso, aos meus olhos, faz dele um homem livre e descomprometido e não um trafulha ou vira-casaca!

 

É importante que não se confunda a postura do Professor Marcelo Rebelo de Sousa. Ele está a mostrar que, para além de ser o Presidente de todos os portugueses, procura desbloquear o que pode desbloquear. Com ele, tem de se ser inteligente e cauteloso. Prudente, porque está atento aos pormenores e às grandes linhas definidoras dos caminhos convenientes a trilhar. Já deu provas disso.

Sem dúvida, posso dizer, é o meu Presidente.

15.12.16

Rezei... à minha maneira


Luís Alves de Fraga

 

Há anos, estando agonizante o papa João Paulo II, eu dei comigo a, à minha maneira, rezar para que Deus - esse Deus sobre o qual tenho muitas dúvidas - o ajudasse a fazer o trânsito desta vida para a eternidade da nossa memória. Não me arrependo nem um pouco do que fiz. Eu sei - julgo - separar o que me separa das ideias e do respeito que devo aos meus semelhantes. Eu fui velar, por minutos, o cadáver do General Vasco Gonçalves e, contudo, não fui gonçalvista. Na morte e na agonia respeito os grandes lutadores, mesmo que não tenham estado do mesmo lado da minha "barricada" e, principalmente quando não estiveram desse lado. Lutaram; isso é que me importa.

 

Era menino e ensinaram-me, no Instituto dos Pupilos do Exército, a que, à passagem de um carro funerário transportando um ser humano já cadáver, devia postar-me em sentido e saudar com uma correcta continência esse morto anónimo. Continuo a, à vista de um veículo desses, em transporte dessa natureza, a dizer de mim para mim: «Paz à sua alma». É a minha saudação de velho reformado das fileiras militares. É a minha saudação cívica a alguém que já não pertence ao mundo dos vivos.

 

Abro excepções neste comportamento. Claro que as abro! Mas não hostilizo! Salazar, na morte, mereceu o meu silêncio e não o passei de besta a bestial! Na morte de Pinochet fiquei silencioso! A morte é a última porta da vida que se cruza antes de se entrar no amplo salão do tribunal da História. Depois da morte, que se faça o julgamento, mas quando ela está a ocorrer, mas quando ela acabou de ocorrer, na falta de elogio, façamos silêncio.

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