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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

22.08.16

Olimpíadas


Luís Alves de Fraga

 

Acabaram os jogos olímpicos. Viva os jogos olímpicos!

O que me ocorre de momento, depois do espectáculo mundial a partir do Rio de Janeiro e do "espectáculo" nacional, e triste, dos incêndios florestais, é tentar descobrir (sem a ajuda da bola de cristal de quase todos os comentadores de política nacional e ou internacional) qual será o grande "facto" que nos vai prender a atenção, desviando-a dos magnos problemas da humanidade e, em especial, da população portuguesa.

 

Para nós, cá dentro de fronteiras, o grande problema, que se continua a camuflar, é o da falta de investimentos massivos de modo a que a economia possa crescer e reduzir-se a taxa de desemprego. Para Portugal sair deste ramerrão em que nos fomos atolando precisávamos de um imenso euro-milhões para ser encaminhado para a produção continuada ou da possibilidade de o Estado assumir esse papel activo através da opção pelo desenvolvimento de sectores concorrenciais e capazes de dar emprego a muitos milhares  de trabalhadores, agora em casa e peso morto na máquina produtiva nacional.

 

Nada disto se discute, sem ser à porta fechada. Aos órgãos de comunicação social chega a notícia de mais uma nova empresa que deu trabalho a cem, duzentos, duzentos e cinquenta trabalhadores, como se tal fosse uma imensa vitória ou a notícia de uma empresa na área da electrónica, que consegue ser a primeira no seu género em Portugal atingindo elevadas margens de exportação e dando trabalho a meia dúzia de funcionários.

 

Somos uns tristes! E é triste, ao cabo de quarenta e dois anos de fim de ditadura, ver que estamos, em proporção e em sentido relativo, iguais ou, quiçá, piores do que há meio século atrás.

O defeito é estrutural... mas pode ter remédio!

06.08.16

2.ª Guerra Mundial


Luís Alves de Fraga

 

Ainda há dias me perguntaram se eu me lembrava de alguma coisa da 2.ª Guerra Mundial. Não me recordo de nada estranho ao meu meio familiar a não ser do dia em que acabou o conflito, julgo, na Europa, ou seja, quando a Alemanha se rendeu. Já aqui escrevi sobre esse assunto há bastante tempo.

 

Depois dessa memória distante, só me lembro dos medos da minha Mãe!

Adivinho a interrogativa dos meus leitores. Sim, os medos!

A minha Mãe era uma mulher de coragem, mas tinha medos terríveis. O seu grande pânico era que, de um momento para o outro — não sei bem como — os Alemães chegassem a Lisboa e nos fossem prender — não sei porquê, tanto mais que até nem somos judeus! — e, então, ela já tinha esconderijo para nós! Nada mais nada menos do que no forro da casa. É que, em algumas das divisões, havia clarabóias por onde se podia subir para o forro. Seria lá que a minha saudosa Mãe nos esconderia — a mim, a ela e à minha Irmã, mais velha do que eu sete anos.

Santa inocência! Para não dizer, santa ignorância!

 

Mas e onde estava o meu Pai? Pois, esse era o outro grande medo da minha Mãe! É que o meu Pai andava embarcado no único navio petroleiro que transportava ramas para a refinaria da Sacor, em Cabo Ruivo. Era um petroleiro da Armada e que nem uma miserável peça de artilharia tinha a bordo — era o S. Brás que acabou como navio "logístico" da Armada — e que se tocasse uma mina explodia em menos de um fósforo se acender! E a minha santa Mãe ensinava-me a rezar orações infantis ao Anjo da Guarda para que fosse a minha protecção e a dos que estavam doentes e a dos que andavam no mar. Os olhos enchiam-se-lhe de água e a voz tremia quando assim me instruía na doutrina católica. Que saudades dessa Mulher doce e lacrimosa que me obrigava, com suavidade, a olhar uma estampa de um Anjo da Guarda, que protegia uma criança, metida numa moldura, e que estava pendurada na parede de um dos quartos de nossa casa!

 

Depois vem-me à lembrança outra recordação desses tempos. Aí já não era o medo da minha Mãe, mas a sua tenacidade, a sua preocupação em arranjar para nós o que de melhor podia para pôr na mesa, às refeições. Recordo-me de estar nas filas do racionamento para comprar peixe, julgo eu! Não se vendia em todo o lado. Era preciso ir aos postos abastecedores e lá ficava eu, com o meu irrequietismo, preso na mão firme da minha Mãe, enquanto se esperava por ser atendido.

 

E no dia em que passam setenta e um anos sobre o lançamento da primeira bomba atómica, eis as minhas lembranças da guerra, que foi a grande companheira dos meus tempos de crescimento. Eu não tinha consciência, mas, quando fiz treze anitos só haviam passado nove sobre o fim desse tremendo conflito militar que deixou a Europa de rastos para sempre enquanto potência com comando mundial.

04.08.16

Eu e os aviões


Luís Alves de Fraga

 

É público que sou coronel reformado da Força Aérea, embora a minha especialidade não me obrigasse a voar como tripulante. Fui sempre passageiro, salvo raras vezes em que camaradas meus e meus amigos me quiseram pôr, por brincadeira, aos comandos de aeronaves ligeiras. Não tenho receio de espécie alguma em usar os aviões como meio de transporte, mas... Vamos ao mas.

 Desde sempre, quando entro num avião, não rara é a vez que acontece algum incidente, usando a terminologia aeronáutica. Não dou sorte aos voos ou tenho pouca sorte com os voos.

Logo no meu baptismo do ar o avião teve de voltar ao solo, porque o trem de aterragem, embora recolhendo, não bloqueava. Depois, desde viajar no Dakota que teve prestes a cair por ter entrado numa zona de alta turbulência entre cúmulos-nimbos de grande dimensão (acompanhava uma velha glória da Aeronáutica Portuguesa, o general Machado de Barros) e ir aterrar, pela primeira vez e em alternância a Luanda e Nova Lisboa, em Henrique de Carvalho com um Boeing 707, já me aconteceu de tudo.

Na terça-feira, foi mais uma para o rol. Pensava ir passar uns dias na Madeira, em casa de um velho Amigo, irmão quase colaço, e eis que, a poucos minutos do aeroporto de Santa Cruz, perto do Funchal, voltamos para trás, porque estava mau tempo - ventos de rajada - sem poder contar, como alternante, com a pista do Porto Santo. Pacientemente, ontem, mais de vinte e quatro horas depois, com voo marcado para as vinte e uma horas e quinze minutos lá vou para o aeroporto, agora chamado Humberto Delgado, esperar, esperar, esperar, até às vinte e três horas e quarenta. O Funchal estava fechado... aos voos da TAP (segundo informação de Santa Cruz, voos de companhias estrangeiras aterravam lá).

 Pronto, não tinha de ser e, como com questões de sorte, não gosto de "jogar", desisti das férias na Madeira, para grande tristeza minha e do meu Querido Amigo.

No meio disto tudo, resta-me saber se a causa determinante da situação:

  1. a) Foi a minha proverbial má "sorte" com aviões;
  2. b) Foi a incapacidade dos pilotos da TAP em aterrar em Santa Cruz, com rajadas fortes de vento;
  3. c) Foi o excesso de cuidado e zelo da TAP em não arriscar nada;
  4. d) Foi um "joguinho" politiqueiro da TAP com as autoridades da Região Autónoma por causa de questiúnculas às quais todos somos alheios, mas fomos vítimas.

 Adeus Madeira com banhos de mar a vinte e três graus de temperatura... pois, porque nesta idade e com este estatuto, já não entro nas salsas ôndulas que não estejam quentinhas e apropriadas à minha nívea pele de continental de secretária e gabinete!