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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

30.12.15

O Banif, as falências e o Direito


Luís Alves de Fraga

 

Não vou perder muito nem pouco tempo a explicar o que já foi explicado por toda a gente, isto é, qual a razão da falência de mais um banco. Todavia, vou tentar, em poucas palavras, explicar porque é que não se pode deixar ir à falência um banco, ainda que o tenhamos de pagar sem nunca dele termos beneficiado directamente.

 

Os bancos são parte fundamental da mecânica produtiva, logo, económica, de um Estado; são eles que fazem circular o dinheiro de onde existe para onde faz falta. Mas os bancos são empresas intermediárias cuja mercadoria é tão-somente o dinheiro.

Os bancos não têm o papel do simples prestamista usurário, que vai extorquindo o lucro a quem empresta dinheiro. Não. Os bancos são empresas e, como tal, também se financiam, ou seja, também pedem dinheiro emprestado. E a quem é que o pedem? Naturalmente, a outros bancos. Ora, deste modo é fácil perceber que o negócio do dinheiro é, como todos os outros, sistémico. Isto quer dizer que, quando um elemento do sistema entra em ruptura, arrasta todos os outros para a mesma ruptura, podendo alguns salvarem-se e outros não.

Mas como os bancos são a "cabeça" do sistema produtivo, se um entra em incumprimento não só arrasta outros bancos como, pior do que isso, arrasta todo o sistema produtivo consigo, porque o fenómeno do incumprimento se desdobra e se multiplica em ondas de choque umas vezes muito grandes e noutras muito pequenas - pode levar à falência uma grande empresa com todos os dramas pessoais e institucionais daí resultantes ou levar à falência uma pequeníssima empresa familiar.

Assim, os bancos não podem falir.

 

Mas para que um banco não entre em falência pura e dura é necessário que o Estado - entidade invisível, mas omnipresente na vida de todos nós - tome conta do circuito e injecte capital de modo a que nem só o banco em causa não impluda, como também não impluda todo, ou parte, do sistema produtivo.

Julgo que isto se compreende facilmente. Julgo que isto só pode ser contestado por quem entende a banca como um organismo do Estado, numa perspectiva da socialização dos meios de produção (e, se for necessário, também sei fazer o discurso que defende essa tal perspectiva!). Ora, como não estamos numa sociedade socialista, a banca tem de continuar privada, mas "segura" pelo Estado.

 

E, agora, mais um mas!

Mas, se o que acima é verdade dentro do sistema de economia de mercado, isso não pode, não deve, não é admissível, que sirva para ilibar os gestores da banca do crime de má gestão!

E deixemo-nos de Direito garantístico, ou seja, de Direito que dá todas as garantias ao presumível delinquente! Quem gere um banco e o leva à falência não merece garantias de presumível impunidade! Esse malandro é sempre culpado! Culpado de gestão danosa, de gestão descuidada, de gestão do raio que o parta! É culpado, ponto final! É culpado, porque a "mercadoria" dinheiro é extremamente sensível e com ela não se brinca, nem se arrisca! O mau gestor bancário tem sempre culpa! E não pode haver igual tipo de artifícios jurídicos para o isentar de culpa como existem para outro qualquer tipo de réu.

É neste ponto que o nosso Direito se torna num empecilho da Justiça e é aqui que se gera a revolta social. E a culpa é do legislador, pois deve legislar de modo a evitar o conflito social!

 

Revoltemo-nos no sentido certo!

25.12.15

A minha carta de Natal


Luís Alves de Fraga

 

Em casa dos meus Pais, quando eu era garoto, não se falava em Pai Natal. Fazia-se um presépio, pequeno e pobre, e as prendas, enquanto acreditámos em histórias de Natal, quem as dava era o menino Jesus.

Hoje fala-se no Pai Natal e as crianças escrevem-lhe a pedir prendas. O comércio floresce nesta altura, porque quem pode gasta dinheiro, e mais dinheiro, a comprar ofertas, que já se não põem no sapatinho, mas na árvore de Natal, compra-se tudo o que faz falta e tudo o que é inútil. E o menino Jesus fica relegado para segundo plano e só é lembrado em lares tradicionais. Cresceu, já não é menino, e trabalha atrás de um balcão a vender, se calhar numa loja cujos proprietários são chineses.

Tenho saudades do menino Jesus da minha infância. Assim, hoje, resolvi escrever-lhe uma carta. Não vai para o Pai Natal, não! Vai para o menino Jesus. E vou escrevê-la já e aqui.

 

Menino Jesus,

 

Não te escrevo em tom cerimonioso, nem usarei as habituais maiúsculas ao mencionar-te. Vou tratar-te como um igual a nós. Não devia ser assim, eu sei! Mas apetece-me sentir-te só um menino capaz, depois de ter crescido, de fazer milagres — gostei sempre do das bodas de Canã e do do cego e o do do morto. Olha, acho que gostei de todos os milagres.

 

Eu sei, aos trinta e três anos, morreste pregado numa cruz, segundo a tradição romana (dizem que não pregavam, mas amarravam… a ti pregaram-te e saibamos nós a razão dessa diferença!). Mas, sempre me fez confusão o facto de nenhum historiador do Império te ter referido nas crónicas de Jerusalém! Nem uma palavra… Contudo, outros historiadores, os que te seguiram, deixaram relatos da tua vida pública. Se calhar, só contaram o que lhes interessou, deixando no vazio histórico muitas mais coisas interessantes de se saber. Por isso, há anos atrás, começaram a ficcionar a tua vida e a reescrevê-la. Acho que não perdeste nada com isso… só ganhaste, pois, cada vez que falam de ti, prova-se que não estás esquecido.

 

Não te escrevo para contar coisas que, quase pela certa tu já sabes! Não. Escrevo-te para te interrogar sobre tudo aquilo que tu sabes, mas não nos explicas. Deixas, simplesmente, que aconteça.

A minha opinião sobre isso não te interessa para nada, todavia, permite que te diga algo de que não vais gostar:

Mesmo sendo quem és, às vezes, comportas-te como um grande sacripanta!

Eh, tem calma! eu explico-me melhor.

 

Mas que raio de diferença estabeleces tu entre a falta de vinho nas bodas de Canã e a miséria de água em tantas terras do interior de África e a fome sentida por trabalhadores explorados, que “dão no duro”, por esse mundo fora?! E já não falo nas mortes provocadas por uns fanáticos que, em nome do teu pai, mas invocado em árabe, acontecem em tantos pontos do Médio Oriente e, também agora, na Europa e, parece, em 2001, nos Estados Unidos da América?! Porque é que foste curar o filho do centurião e deixas que morra sem tratamento tanta gente?!

 

És, ou não és, um sacripanta quando não usas de todos os teus poderes para demonstrar que existes ainda e, de combinação com o teu pai, salvares agora, como podias ter salvo, no passado, uma porrada de malta?!

Na minha opinião és um sacripanta — sim, como diz o dicionário, pessoa de mau carácter, desprezível, hipócrita — pois podias fazer alguma coisa por todos nós e não fazes!

 

Ah, já sei! Queres que a malta aprenda com os erros, para nos emendarmos!

Também não está mal pensado!

Mas, diz-me lá, achas que esta cambada de gananciosos, de “vendilhões” iguais aos expulsados por ti do templo, são capazes de, por amor de ti, entenderem-se entre eles para que não nos matemos, não morramos à fome, de doenças desnecessárias, de sede, de explosões e de guerras?! Se tu achas tal, és muito mais ingénuo do que eu pensava!!!! E à pala da tua ingenuidade vamos morrendo sem sabermos, quase sempre, porquê! E, assim deixas-me na dúvida se és sacripanta ou ingénuo.

 

Olha, menino Jesus, eu sei que sou um Zé Ninguém ao pé de ti — se eu acreditar nos historiadores que contaram a tua história —, mas, neste Natal, com esta carta, quero fazer-te um só pedido: Cresce e Aparece.

Se cresceres, passas a ser muito mais poderoso do que és e se apareceres há por aí muitos, mas mesmo muitos gajos que se vão borrar pelas calças abaixo e desatam a fazer o bem em vez da merda que sempre fizeram!

 

Menino Jesus, porra! Cresce e Aparece!

Um grande abraço, porque, cá no fundo, pensando bem, acho-te, não um sacripanta, mas um ingénuo que tem passado a vida a lixar-nos para ver se aprendemos.

Um grande abraço e até qualquer dia — vê lá se não é assim tão cedo depois de te ter dito algumas verdades que muitos pensam, mas não escrevem —, pois gostava de continuar a ver no que tudo isto vai dar!

Não ponho no correio, porque, segundo dizem, tu já sabias que eu ia escrever o que acabei de escrever!

23.12.15

O excesso de atrevimento


Luís Alves de Fraga

 

O Prof. Doutor Cavaco Silva para além de se mostrar ignorante em variadíssimos campos do saber — o que não envergonha ninguém, quando se admite ter falhas, enganar-se ou ter dúvidas — é profundamente atrevido em bastantes das afirmações que faz. Hoje, lá veio mais uma. Ora atentemos.

 

Algures, numa das suas derradeiras andanças pelo país, disse, numa descarada crítica ao actual Ministério, que não se pode governar durante muito tempo em concordância com as ideologias políticas, porque, mais tarde ou mais cedo, se tem de cair na realidade dos factos e governar com pragmatismo.

 

É dos pensamentos mais absurdos por mim ouvidos ou lidos! Tão absurdo que, arrisco-me a dizer, se um aluno do curso de Relações Internacionais, da minha universidade, o expressasse eu imediatamente o reprovava com nota muito baixa!

Então o homem atreve-se a admitir que um Governo exerça a sua actividade fora de uma ideologia política! Mas que cavalidade é esta?

 

Se toda a actividade de qualquer ser humano adulto e consciente, por muito isenta que seja, por muito neutra que se afirme, está sempre engajada a uma ideologia política, porque, objectivamente, ela se encaixa num padrão de comportamento definido numa atitude identificável como sendo matricialmente própria de um ideal social, como é que o Presidente da República se atreve a fazer a afirmação que fez? Só um ignorante a pode expressar! Nunca um professor de Economia doutorado na Grã-Bretanha! O que é que ele estudou de Economia Política? O que é que ele estudou de História das Ideologias Políticas? O que é que ele aprendeu de Sociologia Política? O que é que ele aprendeu, afinal?

 

Será assim tão difícil perceber que a “realidade dos factos” é determinada e tem por trás uma ideologia política?! Ou ele pensa que só há ideologias políticas quando se fala da metade esquerda do hemiciclo parlamentar?

Eu não quero acreditar que este homem deu aulas em universidades com renome nacional!

 

Claro que estou a tentar imaginar alguns dos meus leitores a interrogarem-se sobre essa história de todos nós estarmos engajados a uma ideologia política! Muitos dirão, jurarão a pés juntos, que não estão nem nunca estiveram ligados a nenhuma, qualquer que ela fosse. Pois, é verdade o que dizem, mas é, também, e paradoxalmente, mentira!

Um Homem em sociedade não é o que diz que é, nem pertence àquele grupo que diz que pertence! Um Homem em sociedade é aquilo que faz independentemente daquilo que diz que é! Essa é a objectividade política!

 

No meu passado militar eu fiz parte, objectivamente, de um aparelho repressivo do fascismo e integrei um dos pilares de sustentação do Estado Novo e fiz a guerra colonial do lado dos colonizadores, só porque optei por ser oficial das Forças Armadas do Portugal de então. Mas eu declarava-me oposicionista ao Estado Novo! Até agia como se fosse, todavia, servia uma das máquinas que o mantinha de pé. Mas quando, conscientemente optei por aderir ao Movimento das Forças Armadas e assumi comprometimentos que me identificavam como um militar democrata eu fui democrata e, ao sê-lo, eu escolhi comportar-me de determinado modo que me passou a identificar perante os outros militares e a sociedade.

É assim que podemos dizer que o Presidente da República se pode afirmar democrata e isento, mas, na prática, ele não é nem uma coisa nem outra!

Assumamo-nos naquilo que somos através daquilo que fazemos e não por aquilo que dizemos que somos. E, assim sendo, temos um Presidente da República profundamente ignorante.

21.12.15

A implosão a Leste


Luís Alves de Fraga

 

Muitos dos críticos da governação de Passos Coelho e também anti-comunistas ainda não perceberam que o desaparecimento da URSS foi uma dupla vitória da alta finança apátrida e mercenária.

 

Realmente, com o sumiço da Internacional Comunista apoiada e conduzida por Moscovo, os Partidos Comunistas do mundo ocidental perderam a força estratégica que possuíam, por serem tidos como a ponta de lança da revolução no seio do capitalismo feroz e incontido. Essa foi a primeira vitória do capitalismo apátrida.

É tão verdade a afirmação anterior que o capitalismo do século XX, especialmente o da segunda metade, só foi capaz de se expandir, na sua máxima potência, enquanto multinacional e, às vezes, transnacional, Os termos "neoliberal" e "neo-liberalismo" surgiram uma dezena de anos depois da implosão da URSS e quase em simultâneo com o conceito de "globalização" aplicado ao fenómeno de expansão do capitalismo a nível planetário. Nada disto foi por acaso!

 

O processo de afirmação do capital financeiro fez-se seguindo o caminho inverso do da implantação do socialismo marxista. Com efeito, enquanto Marx preconizava a globalização do comunismo, plasmada, podemos dizê-lo com algum atrevimento pessoal, na frase «Proletários de todo o mundo uni-vos!», o capitalismo financeiro do século XIX passou por ser fundamentalmente nacionalista para, hoje, ser globalista. Foi Lenine, em 1917, quem mostrou ser possível a revolução socialista num só Estado. Essa prova, que se queria definitiva, teve, afinal, uma longevidade curta, porque na dialéctica capitalismo-socialismo o primeiro derrotou o segundo, talvez por este ter tentado vencer etapas, "queimando-as", com excessiva rapidez. E esta foi a segunda vitória do capitalismo. Contudo, tal facto não anula nem a revolução socialista, nem o caminho para o socialismo. Somente prova a necessidade de deixar o capitalismo esgotar-se nas suas próprias contradições, sendo que a globalização é, talvez, a última fase do seu crescimento e aquela que o vai levar ao fim.

Depois de exaurida a "economia do petróleo" abrir-se-ão outros horizontes para a sociedade socialista como nova fase da vida da humanidade. A implosão do bloco de Leste era uma questão de tempo e, para além do mais, uma inevitabilidade, visto, na economia do sistema soviético, terem de coexistirem dois sistemas económicos: internamente, o de economia planificada, e, externamente, o capitalista de alta concorrência pautado e determinado pela guerra-fria.

 

É conveniente que os politólogos nacionais e, quiçá, os estrangeiros comecem a olhar para o actual quadro político português como a hipótese de ser uma janela para os alinhamentos partidários do futuro, os quais, no longo caminho da evolução da economia, da política e da sociedade, constituirão os "entraves naturais" para pôr a descoberto a contradição capitalista global, provando que a soberania não reside na finança, mas, como foi gritado na Revolução Francesa - ela mesma uma erupção da luta de classes -, no Povo.

17.12.15

Uma "borla"


Luís Alves de Fraga

 

Ontem, numa das turmas a quem dou aulas, a maior parte dos alunos faltou e, assim, tomei a decisão de não explicar nova matéria. Fiquei a conversar com os presentes. Foi, como eles classificaram, uma espécie de "borla".

 

Falei-lhes da economia do petróleo e da sociedade criada por causa não da gasolina, nem do gasóleo, mas do crude que, depois de refinado, está na origem de quase tudo o que tocamos com os nossos dedos e com os nossos pés. E falei-lhes nas contradições ambientalistas: sacos de plástico a serem substituídos por sacos de papel feitos à custa de árvores - eucaliptos, que secam a terra onde crescem e a matam para qualquer outra produção - ou sacos sintéticos que continuam a ser feitos de produtos cuja origem está no crude. E nos aviões que são meios de transporte altamente poluentes; e no voltarmos a andar de barco à vela, e de regressarmos às matérias-primas do final do século XIX, e deixarmos de ter computadores e telemóveis, e, e, e...

 

Falei-lhes do "fardo do homem americano", no começo do século XXI, que "tem de impor" a democracia nos Estados onde há crude em abundância e regimes autoritários, comparando este "fardo" com o do "homem branco" (leia-se, inglês), no último quartel do século XIX, que tinha de "civilizar" os povos negros de África para lhes vender a produção têxtil da sua grande indústria onde se explorava barbaramente a mão-de-obra!

 

E falei-lhes das alterações que estão a ocorrer no modelo democrático herdado (e mal compreendido e pior executado) da Revolução Francesa, fundamentado no princípio da soberania popular, o qual hoje, ilusoriamente, dá a cada cidadão o direito de escolher governos, sendo que estes não obedecem aos eleitores, mas à grande finança que comanda a "democracia".

 

E falei-lhes de nós, sem receios e se sem propagandas, sem partidarismos, tal e qual como se estivéssemos num laboratório onde não contaminamos nem deixamos que nos contaminem.

 

Falei-lhes do Natal, da publicidade, de antropofagia e da Igreja Católica e da comunhão como momento mágico de aquisição das qualidades e virtudes do "sangue" que se bebe e da "carne" que se come.

 

Gostaram e eu gostei, porque a universidade é o único lugar onde se devia obrigar as mentes a estarem abertas e atentas a tudo o que faz parte de nós, da vida e das sociedades onde no inserimos. Ensinar mais a pensar e a utilizar conhecimentos do que a papaguear sebentas, livros, artigos, manuais. A liberdade académica existe para ser usada em benefício de quem julga ensinar e de quem efectivamente aprende.

 

No fim, desejei-lhes um Bom Natal e um Feliz Ano Novo.

Gosto muito do que faço e cada vez mais faço o que gosto.

12.12.15

Marcelo


Luís Alves de Fraga

 

Aproximam-se as eleições presidenciais e tenho de começar a definir o perfil do candidato em quem vou votar e, o primeiro que me salta à vista para ser "vítima" desse estudo tão isento quanto possível, é Marcelo Rebelo de Sousa. O inefável Marcelo que deliciava metade da população de Portugal na televisão com as suas "análises" "palpitantes" (porque, em quase cinquenta por cento dos casos, não passavam de "palpites" com tanto valor como os dos comentadores desportivos... que ele também era!).

Quem é Marcelo Rebelo de Sousa? É preciso começar por aí!

 

Marcelo foi um protegido do fascismo português. Cresceu dentro dos meios sociais e políticos que serviam de esteio ao Estado Novo, a Salazar e, depois, ao seu quase padrinho de baptismo, Marcelo Caetano, o ditador "lógico" e "popular". Era um predestinado a "ser alguém" na ditadura ou fora dela, mas sempre nos meios conservadores. Mas Marcelo foi - é, ainda - um "enfant terrible", por ter percebido ser o irrequietismo a mais simpática forma de estar "na crista da onda" e, ainda por cima, a "comandar" ou, no mínimo, "influenciar" o seu movimento.

 

Marcelo é inteligente, mas, mais do que tudo, é esperto, vivo, bem falante, simpático e, aparentemente, quase humano, isto é, quase acessível à "humanidade" comum a cada um de nós. Ele "anda lá por cima", contudo, parece "andar cá por baixo" nos mesmos planos onde todos nos movimentamos. Soube "deíficar-se" e "desce ao povoado" quando lhe convém! É um "pavão" carregado de grande e bonita plumagem capaz de impressionar estes miserandos "fraganotes" com penas "raquíticas" e descoloridas, que somos todos nós.

 

O Marcelo jornalista era o "menino" que forjava "factos políticos" para gerar instabilidades... Construía e destruía "conspirações" só pelo prazer de ver os condutores da "coisa pública" a "desculparem-se", a "justificarem-se" do que não tinham feito, mas poderiam ter feito se o Marcelo tivesse razão! O Marcelo jornalista "brincou" com todos nós!

 

O Marcelo político foi demagogo, quando se candidatou à Câmara Municipal de Lisboa: atirou-se ao rio para nadar nas águas poluídas. Era ainda um Marcelo cheio de vigor juvenil sabedor da parolice eleitoral. Mas o Marcelo "cresceu" e tornou-se comentador televisivo de tudo e mais alguma coisa!

 

É este Marcelo que Portugal inteiro conhece. E ao conhecê-lo na sua simpatia, na sua agilidade mental, na sua capacidade interpretativa, no seu "contorcionismo" argumentativo, Marcelo tornou-se "um de nós" que nos fazia companhia, ao domingo à noite, mostrando dezenas de livros como quem mostra cartões coloridos e sobre os quais nada diz para além de banalidades; falando dos actos do Governo, criticando, alertando, explicando... dando opiniões, até, sobre futebol. E dando notas, como qualquer professor que se preza, a este e àquele personagem e a este e àquele acontecimento. Mas, tudo aquilo era cenário, era diversão, era "conversa fiada" para "boi dormir", no dizer dos Brasileiros. Marcelo queria visibilidade, popularidade.

 

Marcelo é daqueles tipos que faz tudo para estar permanentemente na "ribalta da vida", como "actor principal", a receber aplausos pelo desempenho de um "papel" sem conteúdo, mas "lustroso" e "brilhante". Marcelo depende da "admiração" de todos, de uma "corte", podendo ser de alunos, de papalvos, de espertos como ele ou de políticos medíocres. Marcelo não toma banho de água para se lavar! Essa serve para lhe tirar a sujidade do corpo... Ele toma banho de "admirações" e nada sobre as cabeças dos "admiradores". Esse é o "banho" vivificante que lhe "lava" a alma e lha dá forças para continuar a pantomima de todos os dias. Marcelo tem um ego imenso! Uma vaidade incomensurável. Um sentido de superioridade a estalar e a escorrer de cada ruga do sorriso constante.

 

Não é um Presidente da República assim que eu quero para mim e para os meus concidadãos. Marcelo seria, como Presidente, o "positivo" do "negativo" Cavaco Silva! Com ele em Belém saímos do "mundo das trevas e da hesitação malévola" para o "mundo das luzes e das decisões malévolas". E tudo porque, tanto Cavaco Silva como Marcelo Rebelo de Sousa, são medíocres, só variando a aparência e o modo de se expressarem; um, veio do Poço de Boliqueime (lugar desconhecido algures no Algarve), sem cultura erudita, sem maneiras e sem "berço"; o outro veio de Lisboa (Cascais), com uma aparente cultura erudita, com maneiras e requintes de salão, com "berço" bem fincado no solo fascista; ambos têm dentro de si o ferrete do salazarismo, todavia, um não disfarça e o outro disfarça e muito bem. Ambos são professores, mas um não se sabe que tenha ensinado alguma coisa de jeito e o outro ensina catrefadas de juristas todos os anos.

Por tudo isto e por muito mais que não cabe nesta análise, Marcelo não é, de certeza, o meu candidato a Belém.

03.12.15

Presidentes da República


Luís Alves de Fraga

 

Não pensei ainda séria e profundamente no perfil do “meu” candidato à Presidência da República. Assaltam-me nomes com mais frequência e outros menos vezes. Para ser fiel a um raciocínio científico, devo começar por uma análise genérica sobre o que quero de um Presidente da República. Vou, em tom ligeiro, lançar aqui as bases desse “estudo”, para, ajudando-me, talvez vos poder ajudar na vossa escolha.

 

Sendo que o Presidente tem funções bem delimitadas na Constituição, começo por me colocar uma pergunta:

— Convém tratar-se de um político experimentado, saído de um aparelho partidário, manhoso, inquinado dos vícios dos bastidores, cheio de ideias feitas e manobrador entre os compadrios existente nas antecâmaras dos gabinetes ou, pelo contrário, alguém que, sendo mero cidadão comum, transporta somente a força das suas convicções, a sensibilidade pessoal adquirida em sociedade e a inteligência e conhecimentos aprendidos?

Vejamos.

O político tem todas as “artes” e toda a “manha” para descobrir os alçapões lançados no exercício da Presidência, mas se possui tais “virtudes” transporta consigo, também, todos os “defeitos” que lhes são inerentes, sabendo usar as “contra-armadilhas” para se não deixar “laçar”. Quem nunca foi político terá de ter, a menos que seja um insensato, a inteligência de reunir na sua Casa Militar e Casa Civil um conjunto de assessores de várias tendências ideológicas capazes de lhe darem perspectivas e criarem cenários onde possa fazer escolhas e tomar decisões ditadas pela afectividade, inteligência e saber de coisas práticas.

 

Olhando o passado, desde 25 de Abril de 1974 até hoje, vislumbro este tipo de Presidente somente em duas figuras, por sinal, militares arredados da prática política: o marechal Costa Gomes e o general Ramalho Eanes. Os restantes foram manhosos políticos capazes de se posicionarem com maior ou menor isenção perante os problemas que lhes foram colocados. E, se de um lado “choveu” do outro “trovejou”. Mário Soares foi o “grande rato velho” da política; Sampaio foi o político discreto, equilibrado, mas nem sempre “fiel da balança” dos poderes em confronto; Cavaco Silva foi o político intelectualmente desonesto, porque, nas suas práticas raivosas, sempre demonstrou as tendências que o animavam.

Deste passado, a melhor imagem vem-me dos militares inexperientes da política (e não se recorde Costa Gomes como um militar e político, pois, na ditadura ninguém “fazia” política para além de Salazar… o resto sobrevivia às intrigas entre apaniguados e opositores!).

 

Julgo ter sido isento nesta análise.

Dirão alguns: “Está já a definir um perfil!” Claro que estou, porque se o não definisse não me valia a pena fazer a análise! Admito ter de fazer a minha escolha no seio dos candidatos sem prática de política partidária, mas sabedores suficientes para se rodearem de conselheiros com conhecimentos bastantes para lhes darem o que lhes falta, sendo que o meu preferido só precisará de ponderação na decisão. Para manhoso chegou-me o Presidente em fase de fim de mandato.

 

Cada um dos meus leitores terá o seu critério, mas espero desse critério uma honestidade estrutural para que o futuro não seja uma repetição maquilhada com cores diferentes, mas sempre uma repetição.