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Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

Fio de Prumo

Aqui fala-se de militares, de Pátria, de Serviço Nacional, de abnegação e sacrifício. Fala-se, também, de política, porque o Homem é um ser político por ser social e superior. Fala-se de dignidade, de correcção, de Força, de Beleza e Sabedoria

14.03.15

Economia, livros e Europa


Luís Alves de Fraga

 

Há livros que compramos — pelo menos, eu — por termos, no momento, verdadeira intenção de os ler, mas, ao chegar a casa e ao olhar para o monte dos que foram adquiridos com o mesmo propósito, colocamo-los no sítio certo e aguardamos, com mais ou menos tranquilidade, a altura correcta para entrar dentro do conteúdo que nos atraiu no instante da aquisição.

Claro que há livros, e, para mim, não são poucos, que adquiro, em primeira ou segunda mão, somente para os poder consultar quando tal for preciso. E nem fico com peso na consciência por ter gasto dinheiro com o fim de ter à mão a informação que me valerá no momento oportuno.

 

No mês de Maio do transacto ano adquiri um livro que, tal como outros, foi para a pilha dos destinados a leitura futura. Tem um título muito sugestivo: Portugal na Queda da Europa e o autor — Viriato Soromenho-Marques — deu-lhe um subtítulo ainda mais apelativo, na minha opinião: «A Europa está em queda, mas ainda não se despedaçou».

Acabei de lê-lo há alguns dias. Fi-lo quase de um fôlego, porque o raciocínio que lhe dá forma, exposto com uma clareza linear, assim mo impôs. Sendo um excelente ensaio de política e de economia, sentiu-o como sentia quando, em jovem, devorava um grosso romance em dois dias e duas noites. Com uma actualidade bem fundamentada, põe a nu os mecanismos da mais profunda inconsciência política e da mais inqualificável falta de rigor técnico dos centros decisórios da União Europeia. Explica como e porquê os Estados europeus, a maioria e, em especial, os que adoptaram a moeda única, se deixaram amarrar à rédea condutora da finança e da política alemã. Deixa-nos antever a queda da Europa dita federal, que de federalismo pouco ou nada tem! Abre uma nesga de esperança quando admite que a União poderá salvar-se se adoptar uma linha de orientação política e económica semelhante à que fez dos Estados Unidos da América (EUA) um exemplo de federação. E é aqui que entro em discordância com o autor. Aqui, e um pouco antes, quando desvaloriza, quase ridicularizando, a questão das profundas diferenças culturais que se pretendem conciliar na União Europeia. Tentarei ser breve nestes dois pontos, até porque, sobre um deles, o segundo, já escrevi, em tempos, uma ou duas páginas que, julgo, estão bem fundamentadas.

 

A assunção do paradigma de construção da União Federal Europeia com base no modelo dos EUA é, na minha opinião, uma falha do autor e professor destas matérias.

Na verdade, tem de se ir às origens do nascimento dos EUA quando ainda eram uma colónia inglesa e enquanto foram um território em crescimento.

Tal como todas as colónias, também aqueles territórios tornaram-se num pólo de atracção de homens e mulheres de toda a Europa e é necessário perceber o alicerce onde se apoiava (em certas circunstâncias, não continuará a ser tal e qual como vou descrever?) o processo emigratório: a renúncia para sempre à terra de origem para aceitar como destino a aventura da terra para onde se vai. Todavia, se é certo que há um corte sentimental com o rincão de saída não é menos certo que na terra de chegada o imigrante está disposto a mesclar a cultura que transporta com todas as outras que se cruzam nesse local idealizado como terra prometida. O colono guarda a sua origem cultural somente na quantidade necessária que lhe possibilita o entrosamento com outras culturas de outros povos oriundos de outras regiões. Por vezes, as comunidades de proveniência tendem a guardar princípios que lhes recordam a terra de partida, mas têm sempre de abdicar de outros para poderem reconstruir uma vida nova na nova morada. E o tempo encarrega-se de amalgamar a mistura de diferenças, porque há uma esperança num futuro. E é nessa esperança de futuro que se pode encontrar a disponibilidade para a formação de uma federação de Estados.

 

Como se vê, não é, nem nunca será, esse o “mecanismo” de formação de uma federação na Europa! Para que tal fosse de alguma forma semelhantes havia que deslocalizar grandes massas de populações das suas terras de origem para as enraizar noutras de destino. Ora, esse movimento é impossível na Europa das Nações e dos nacionalismos; na Europa das culturas centenárias separadas, muitas vezes, por guerras com efeitos traumáticos de longa duração. Os Europeus não vão partir para lado nenhum se quiserem construir uma federação! Essa não é a via da “construção” europeia! O modo correcto de amalgamar os Europeus foi aquele pensado pelos Pais fundadores do Mercado Comum: o da abundância para satisfação dos cidadãos, o da partilha e circulação de bens, pessoas e capitais. E tem de ser um processo lento, partindo essencialmente dos cidadãos e nunca das cúpulas políticas.

 

É este o ponto em que discordo de Soromenho-Marques, pois ele, incompreensivelmente para um professor de Filosofia, despreza as diferenças culturais que dividem os povos. É essa diferença que justifica a existência de violência na Europa tal como justificou a Guerra Civil Americana — a intolerância, o preconceito étnico, o racismo, pesaram muito mais do que as diferenças económicas entre os Estados do Norte e os do Sul da América. Para mim, não ver isto é tapar o sol com a peneira e, por outra via, continuar a sonhar com uma utopia europeísta.

Volte-se ao Mercado Comum e, talvez, a muito longo prazo, possamos imaginar para os nossos netos, quiçá bisnetos, uma União Europeia… mas, até lá, muita água terá de correr para o mar!

10.03.15

Educar


Luís Alves de Fraga

 

Perguntava-me, há dias, um jovem amigo o que entendo eu por educar e como é que se educa um filho.

Tentei perceber o alcance daquelas perguntas e se eram um teste à minha experiência de pai ou um genuíno desejo de saber.

 

De facto, não há escolas de pais! Não se aprende a ser pai (e, aqui, incluo a também mãe) como se aprende um ofício! Dizia-me uma psicóloga, há muitos anos, que estes profissionais do conhecimento da mente cometem tantos ou mais erros educacionais do que todos aqueles para quem as nebulosas do cérebro são insondáveis buracos negros. Podem escrever-se tratados sobre educação de filhos, mas, bem na verdade, o alicerce que serve de fundamento àquilo que se ensina aos nossos descendentes é uma de duas coisas: ou o que nos foi exigido pelos nossos pais ou, por simples movimento de discordância, o contrário disso mesmo. Em regra, ensina-se tal e qual se aprendeu! E, até, com os mesmos “tiques”.

 

Há, contudo, um elemento moderno na educação das nossas proles: a nova forma de vida que a sociedade nos impõe. Tudo é diferente do tempo em que havia amas, educadoras e criadas de servir que cuidavam dos mais novos no seio das famílias abastadas ou, até mesmo, um pouco mais do que remediadas. Hoje, a pressão que o consumo e o suposto bem-estar exercem sobre os progenitores leva-os a transferir para o infantário e, depois, para a escola a acção pedagógica que era desenvolvida, noutros tempos, pelas mães e avós.

 

Mas, e afinal, o que é educar?

Se eu quisesse dar uma resposta com laivos científicos diria que educar é inculcar na criança os valores nobres da sociedade em que vai crescer e viver e, assim, respondia de forma a ser correcto. Contudo, não quero ser correcto e, por isso, digo que educar é antes do mais, impor a capacidade de viver harmonicamente de acordo com os padrões tidos como normais na sociedade onde se está e se vai viver. É dizer a verdade, sempre que for conveniente dizê-la, e mentir ou omitir, sempre que com isso não se traia em excesso a consciência, ou seja, a capacidade de chegar à noite e dormir tranquilo. É ser honesto, sempre que o grau de desonestidade não for passível de ser descoberto. É ser coerente, desde que, da incoerência, não venham mais vantagens. É, numa palavra, ser um ente cheio de aparências capazes de esconder todas as incorrecções e distorções que pululam à nossa volta ou, se se preferir, é ser capaz de se tornar num excelente actor neste teatro de faz de conta onde vivemos. É saber deixar-se ir na corrente determinada pela sociedade sem se arriscar a remar contra a maré a não ser quando daí lhe venha algum proveito.

 

Estou a ser cínico? Estou a afirmar que educar é tudo menos aquilo que supomos que é educação?

Estou, caro leitor, a dizer aquilo que poucos ousam dizer! Porque, sempre que eduquei, o valor mais importante que procurei transmitir foi o de cada um ser capaz de não mentir a si mesmo! Ter plena consciência crítica dos seus actos, sabendo que pode enganar toda a gente à sua volta, mas a única pessoa a quem não deve enganar é a si próprio!

Procedendo assim, quando cada um de nós, sozinho, se olha ao espelho tem na frente a figura horrenda da verdade. E essa horrorosa figura sê-lo-á tanto mais quanto melhor for aceite pelos seus semelhantes. Tanto mais quanto menos a sociedade o criticar. Porque de uma coisa se pode ter a certeza: os heróis tiveram medo, os honestos também roubaram e os santos também pecaram!

08.03.15

Farmacêuticos


Luís Alves de Fraga

 

Discutem-se, agora, algumas alterações relativas ao acesso ao ensino superior, fazendo deste assunto uma questão quase menor, quando, realmente, é de elevadíssima importância para o futuro de Portugal e do progresso do Saber no nosso País.

 

O erro básico que se gerou há mais de trinta anos foi o da definição das limitações de acesso às universidades. Numa primeira fase, teve razão de ser, porque as estruturas e infra-estruturas públicas não tinham capacidade para suportar a corrida que, quase sem contenção, se deu ao ensino superior nos anos oitenta do século passado. Todavia, numa segunda fase, o Estado errou por falta de visão estratégica do futuro. Expliquemo-nos.

 

Isto de habilitar estudantes com licenciaturas não pode ser o mesmo que preparar atletas de alta competição! Quando se quer descobrir um que garanta sucessos desportivos tem de se generalizar a prática a uma massa gigantesca para encontrar esse vencedor por excelência. Mas o investimento que se faz neste tipo de busca é bastante reduzido. O Estado, através do dinheiro dos contribuintes, não tem meios financeiros para gastar com uma enorme massa de estudantes para “descobrir” os “génios” do futuro!

Assim, teria de ter montado um sistema que fosse altamente selectivo para só permitir a entrada nas universidades aos alunos que dessem garantias de elevado sucesso e, a esses, fornecia-lhes bolsas de estudo – se não tivessem meios para os custear – de modo a levá-los até onde pudessem ir intelectualmente. Era com esses que assumia um compromisso!

Um sistema público montado nestes princípios não ia gerar excessos de licenciados, mestres e doutores, porque rentabilizaria os gastos orçamentais. E, tal como se abriam cursos onde houvesse carência de profissionais de alto gabarito, também, quando eles fossem em excesso, se encerravam os mesmos. Isto seria um sistema educativo planificado para evitar o desperdício.

Uma tal gestão poderia conviver com universidades privadas que seriam frequentadas por todos aqueles que, tendo disponibilidades financeiras, as quisessem frequentar. No entanto, o Estado não deveria alienar a sua capacidade de proibir a existência de cursos cujo mercado já estivesse saturado com licenciados na área respectiva.

 

Democracia na educação e no acesso ao ensino não corresponde a anarquia, caos e liberdade para cada um fazer o que deseja!

 

É porque nada disto foi estabelecido que as farmácias, local onde se vende a retalho os produtos dos laboratórios onde se faz – ou devia fazer – investigação de ponta estão cheias de licenciados, cujo destino deveria ser o da indústria e o da pesquisa, que mais não são, afinal, do que balconistas com igual valor prático ao dos velhos técnicos boticários! Tanto investimento para se acabar desqualificado a vender pílulas ao desbarato!

 

Portugal é um país pobre?! Não! Portugal é um país mal governado e muito desgovernado! Não aprendemos lições com os Estados ricos onde as finanças públicas são geridas como se se vivesse em miséria!

08.03.15

Ser político


Luís Alves de Fraga

 

Só há uma maneira de ser político: desejar, por ter vocação, servir o Povo, a Nação. É impensável que alguém queira ser político pela ambição de se tornar uma figura pública, por gostar de exercer o poder e, muito menos, para enriquecer. O desejo de ser político tem de passar pela existência de uma ética – auto-imposta ou socialmente imposta.

 

Quando, depois de ter feito os meus estudos no Instituto dos Pupilos do Exército, onde a regra comportamental se cruzava com os regulamentos de disciplina militar e as normas de vivência interna, assentei praça, como cadete-aluno, na Academia Militar, um dos primeiros avisos que ouvi aos oficiais instrutores traduziu-se nesta frase singela, que recordo: «Ninguém imagine que vai enriquecer na profissão castrense!».

E era, é, verdade! Ser militar, optar por servir a Pátria nas fileiras das Forças Armadas, é aceitar que se tem vocação para servir a troco de muito pouco! E para aprender isso há escolas próprias: para os postos mais baixos da hierarquia militar, chama-se escola de recruta, ou simplesmente recruta; para os postos intermédios, Escola de Sargentos; para os postos superiores, designa-se por Academia Militar, Academia da Força Aérea e Escola Naval. Nas diferentes escolas aprende-se, com programas de extensão variável, a ética castrense! É por isso que uma vez militar, fica-se militar para sempre.

 

Os políticos, cuja responsabilidade pública, de formas diferentes, se pode assemelhar à dos militares, não chegando, contudo, à obrigação do supremo sacrifício da vida em prol da sociedade nacional, não têm escola nenhuma de formação! Não têm escola e, por isso, não aprendem a ética da sua actividade, que tem de existir. Os políticos constroem a sua maneira de estar na política através de uma aprendizagem resultante de duas únicas vias: a que lhes impõe a honestidade aprendida no seio familiar e social e a cópia do comportamento dos políticos que lhes servem de padrão moral e cívico.

Eu, depois de concluída a minha formação militar, quis aprender política para a poder estudar, analisar e compreender e, assim, matriculei-me num Instituto – o único – que transmitia, à sua maneira e dentro dos condicionalismos de então, as matérias que me levaram a perceber o fenómeno político. Mas esse Instituto não era, ou não devia ser, uma escola de formação de políticos!

 

O que se assiste muito, por esse mundo fora e não só aqui em Portugal, é que, com exclusão de alguns partidos onde o sentido de serviço está indissoluvelmente ligado ao tecido social por beber nele a razão da sua existência — os chamados partidos políticos de massas —, todos os políticos “assentam praça” na vida pública em função de valores que só muito raramente se cruzam ou se tocam tangencialmente com a noção de serviço social e nacional. Porque se as motivações fossem semelhantes às dos militares a comunidade política rejeitaria aquele que manchasse a ética comportamental do grupo. O cobarde, o traidor, o homem indigno não tem lugar nas fileiras militares, porque o código de conduta castrense o repele. Mas o político indigno, por não ser um exemplo de idoneidade social e cívica, fica nas fileiras e é-lhe remoçada a face para continuar a servir desonestamente a sociedade que nele acreditou, porque a prática política, cada vez mais, vem aceitando a mentira, consentindo-a. Para eles e para quem neles vota não se aplica a máxima “A Pátria honrai, porque a Pátria vos contempla”.

 

E das minhas considerações anteriores conclua-se, em relação à actualidade portuguesa e às trafulhices e mentiras que pululam a atmosfera que respiramos, dizia, conclua-se o que cada um for capaz de concluir.