2013 -2014
Esta coisa de ter a História sempre presente, embora sabendo que é irrepetível, leva-nos a perceber, no entanto, que ela é o “laboratório da Vida”, pois, “juntando” certos “ingredientes”, é natural que os “resultados”, não sendo iguais, se assemelhem. E é por causa dessa tendência social, dessa quase inevitabilidade, que hoje, no último dia do ano, vos venho aqui incomodar. Incomodar, preferencialmente, a consciência.
A Europa, esse continente sem características de tal, essa União onde todos andam arredios do entendimento, esse espaço que se queria de abastança e onde hoje coabitam a riqueza e a miséria, a Europa, dizia, enquanto unidade política, está moribunda. E nem outra coisa se poderia esperar! Há cem anos, faz em Agosto, ficou demonstrado que aqui imperam os maiores e mais poderosos desestabilizadores da ordem mundial. Há setenta e cinco anos, faz em Setembro, de novo se provou que era aqui que as mais ferozes calamidades artificiais eram capazes de se gerar, virando em morticínios impensáveis. A Europa é o continente dos desentendimentos, das separações, porque nasceu sob o signo de uma unidade forçada e dela se desprendeu à custa de lutas. Lutas de interesses, mas, também, lutas de modos de viver diferentes. O que Roma uniu, separou a vontade dos senhores da guerra, da terra e da cultura. E esse é o berço da Europa! Negar esse berço é contra-cultura! O Sul é diferente do Norte! E se alguma vez foi semelhante, foi-o somente, porque à Roma imperial se sobrepôs e a Roma espiritual, que tentou, através de uma religião, manter unido o que é diferente, porque assim o impõe a Natureza, a Geografia e, até, a Climatologia.
A Europa das nações não é uma invenção do século XIX, como o pretende Eric Hobsbawm. As nações pré-existiram ao conceito e ele só se definiu porque a realidade se lhe impôs. Era inevitável que assim fosse. E a primeira da todas as “revoltas” contra a “união” da Europa – a tal união espiritual que Roma continuou depois da Roma imperial ter caído – foi a protestante, a reformista, a de Lutero e Calvino. Não era só uma revolta contra uma prática religiosa; foi, acima de tudo, uma revolta de natureza cultural, uma revolta ditada pela consciência dos povos, pelas suas diferenças, pelas suas idiossincrasias.
O ano de 2014 vai entrar e com ele transporta o germe da separação, da derrocada de uma Europa de união. Os povos do Sul só estão à espera do “seu” Lutero e do “seu” Calvino que os leve ao protestantismo político, à consciência da diferença, da incompatibilidade com doutrinas que nada têm de comum com a sua prática meridional. Que os leve à consciência de que Berlim não pode ser a Roma do século vinte e um e, muito menos, a da primeira metade do milénio que agora está em começo.
Em 2014, prevejo, porque pressinto, vão cavar-se os fossos da diferença e da revolta e a na área de instabilidade também vai estar Portugal; de modo mais modesto, mas vai estar!
A mudança não nos vai trazer a paz e a tranquilidade, mas vai contribuir para a reafirmação da nossa personalidade enquanto Povo.
Sejamos dignos da mudança! Sejamos capazes de a suportar! Sejamos, uma vez mais, dos primeiros a mostrar que o Povo é quem mais ordena! E ordena, porque é nele que mora a estrutura primeira da Nação, da Cultura, da Diferença.