Em princípio, não gosto de dizer que “sou do tempo em que…”, porque “ser do tempo em que…” corresponde a dizer que se é velho e eu não gosto de ser velho! Mas, de facto, há circunstâncias em que se tem mesmo de dizer que se é do tempo de qualquer coisa!
Ora, acontece que sou do tempo em que se tratavam os homens pelos seus sobrenomes: o senhor Pereira, o senhor Fonseca, o senhor Almeida, o senhor Ferreira, o senhor Sousa, etc.. Agora a coisa mudou.
Aconteceu há cerca de uma hora, telefonar-me para casa um cavalheiro que me identifica pelo meu primeiro e último nome, desejando saber se era comigo que estava a conversar. Disse-lhe que sim e ele, que vinha para me vender um qualquer serviço ao qual nem prestei atenção, começa, logo de seguida, a tratar-me por sr. Luís! Sr. Luís para aqui e sr. Luís para acolá! Confesso que engalinhei, tal como sucede em qualquer lugar onde ocorra o mesmo fenómeno – nas Finanças, no consultório do médico, na loja onde faço compras, na farmácia, etc. Se sabem o meu sobrenome, qual o motivo por que me tratam pelo nome? É uma confiança que não dou a toda a gente. Dou-a, até, a muito pouca!
A forma republicana de tratar um cidadão é pelo seu sobrenome. Essa coisa do nome em primeiro lugar é para os que se encontram muito ligados à Monarquia e às coisas da fidalguia: o Senhor D. Duarte, o Senhor D. António, o Senhor D. Manuel… Ou, mais raramente, às coisas da Igreja Católica, referindo-se aos bispos… Senhor D. Januário, por exemplo. Pessoalmente não faço questão de ser tratado pelos títulos académicos ou pelo posto militar. Claro que não vou ao extremo de aceitar intimidades como as do ministro das Finanças que era Álvaro para aqui e Álvaro para acolá! Não. Senhor e sobrenome é o modo correcto de se tratar qualquer homem! É uma questão de boa educação! E a verdade é que, cada vez mais, do ponto de vista educacional, estamos a viver num país de labregos. Parece que se tem vergonha de ser educado!
Mas, mais grave do que senhor Luís, é quando me tratam por você! Aquele você bronco que nada tem a ver com o brasileirismo que, por sinal, muito raramente usa o você e com grande vulgaridade diz senhor.
Não estou velho! Estou é a debater-me com uma camada de gente que não foi educada, que não bebeu chá na infância e juventude, que tem vergonha de usar de correcção, que se espoja na falta de educação como os burros na palha para se coçarem.
Quando será que na escola primária – a do 1.º ciclo – se passam a ensinar boas maneiras? Que se escolhem textos didácticos para colocar em relevo a boa educação no trato social?
Já é tempo de deixarmos de ser grosseiros para ganharmos algum polimento!
Desculpem o desabafo. Se calhar estou mesmo velho e não o quero reconhecer!